Mesmo sabendo que poderia ser perigoso abrir aquela porta, Ellie mesmo assim o faz. A sua curiosidade em saber o que estava acontecendo era maior que o medo que sentia daquele homem. Quando abriu devagarinho a porta, o misterioso homem estava sentado em sua cama à sua espera. Ele abriu um largo sorriso assim que a viu.

   — Já era hora, achei que iria se trancar lá dentro para sempre— ele levanta da cama. — Agora está disposta a me contar, o que está acontecendo com você? Ou vai continuar agindo de maneira  estranha?

   — Não se aproxime de mim! — falou, parando-o antes que ele desse algum passo.

   — Ellie… 

   — Não me chame pelo nome! Já disse que não te conheço! — Disse ela, o interrompendo.

   O homem se retrai, fazendo gestos de rendição com as mãos, no intuito de acalmá-la, deixando a garota acanhada. Após alguns minutos de silêncio, Ellie finalmente toma coragem e decide questionar o homem parado em sua frente. Encarando-o fixamente, ela fala:

   — Eu não sei quem você é, e nem como conseguiu as chaves da minha casa…— ela fez uma pausa, notando as mudanças súbitas nas expressões  do homem. — Eu só sei, que nada disso faz  sentido. Ontem quando eu fui dormir, eu era eu, e agora acordo, reparando que me tornei mais velha!? Como isso é possível? 

   O homem olhava estranho para Ellie, com a cara de quem não sabia do que ela estava falando. 

   — Eu não sou louca! — afirmou ela, após perceber as olhadas do rapaz. — Eu tenho apenas 13 anos, iria fazer 14 amanhã. Você tem que acreditar em mim! Eu sou apenas uma CRIANÇA!!!

   — Eu acredito em você, Ellie! — diz o rapaz, simplesmente levantando e abraçando-a. Um abraço forte e gentil, no qual a garota não conseguiu recusar. - Eu te fiz uma promessa, não se lembra? Eu sempre vou estar do seu lado, não importa as loucuras que faça! — ela o olha brava. — Ops, desculpe. Não quis dizer que você está louca e nem nada do tipo. 

   Ele a solta devagar, e encara o rosto da menina, deixando-a, corada pela atitude dele. Com os seus olhos fixando os dela, notou que eram os olhares de uma pessoa pura e ingênua, que só são encontrados em crianças inocentes. Os seus instintos geralmente nunca falharam e aquela que estava parada em sua frente, realmente não era a "Ellie'' que ele conhecia. Percebendo que a moça não estava mentindo, ele fala com um tom mais sério, porém, gentil:

   — Eu também não sei o que está acontecendo, mas você realmente não é a chatinha da Ellie que eu conheço! — ele abriu um sorriso, dando uma risadinha, e deixando o clima mais leve— Você disse que veio do passado, correto? — ela confirmou com a cabeça. — Deixa eu ver… você disse que amanhã completa 14 anos, então ainda não me conheceu.

   O homem parou de falar por alguns instantes, parecia pensar no que iria contar para a garota.

   — Você está bem? — perguntou Ellie, interrompendo os pensamentos dele.

   — Eu estou sim, não se preocupe— ele abriu outro sorriso. — Eu estou surpreso com essa sua viagem, não sabia que poderia existir viagem no tempo. É realmente possível?

   — Então, você realmente acredita em mim? — animou-se a menina.

   — Sim, Ellie, eu acredito! Você nunca foi capaz de mentir para mim. Você é uma péssima mentirosa! — ele riu e ela também. 

   — Você poderia me falar, quem é você? E onde está a minha mãe? 

   — A partir de agora, eu tenho que tomar muito cuidado com que eu falo com você, isso pode alterar muito o futuro, e o pior, pode fazer com que você não me conheça. Isso seria péssimo! — ele olha para a garota, e pôde perceber pela cara dela, que ela não iria desistir de saber a verdade. — Por hora, o que posso dizer é que eu não sou um estranho. Nós dois temos um vínculo muito forte! Entretanto, eu não posso te dizer o motivo.

   —  O que pode me dizer então? — perguntou Ellie, já impaciente com a enrolação dele.

   Ele pensou muito no que poderia contar para ela. O tanto de coisas que ele queria revelar para ela, como os problemas e os perigos que a estavam esperando, o terrível acidente que resultará em uma perda imensurável e o segredo que ele mais queria desabafar com ela, era a incrível relação que os dois tinham, ou terão, se ele não estragar tudo. Mas conteve-se em apenas se apresentar:

   — O meu nome é Nicholas! Nicholas Ben…me chame só de Nick — Ele estendeu a mão para cumprimentá-la. Depois que ela correspondeu, ele continuou. — Eu tenho 29 anos e sou de Libra, e… bom, você não quer saber dessas coisas não é? — ela negou com a cabeça. — A gente se conheceu há alguns anos atrás, mas não vou dizer quando e nem como. Entretanto, uma coisa que posso dizer, é que sentimos uma forte ligação logo de cara.

   — Nós dois por acaso somos…um casal? — deduziu a garota, ficando vermelha com a pergunta.

   — Oh, não! Não, não, não, não, não… a gente não é um casal, de jeito nenhum! — ele negou tanto que a garota ficou constrangida por ter feito tal pergunta. - Digamos que a nossa ligação é bem mais profunda que isso, mas não vou entrar em detalhes.

   — O que eu mais quero saber é, onde está a…

   —  Shhh!!!Por favor, sem mais perguntas! — Ele coloca o dedo na boca dela, a silenciando, pois sabia qual era a pergunta da garota, e com toda a certeza, seria uma pergunta que ele não poderia responder sem traumatizá-la. — Por enquanto, até a gente descobrir o que está acontecendo, e como iremos te mandar de volta ao seu tempo, deixa eu preparar o seu café da manhã, você ainda não comeu nada...

   Ronc…

   — Viu, até o seu estômago concordou comigo— ele aponta para a barriga dela, a deixando constrangida, depois segue para cozinha, pegando alguns ovos na geladeira. — Senta aí para comer! 

   Ronc…

   Outra vez o estômago dela decide se manifestar, fazendo com que ela obedecesse o homem.

   Assim que terminou de preparar o café da manhã dos dois, o Nicholas se sentou na cadeira para saborear a refeição que tinha feito, e antes que conseguisse desfrutar de seu alimento, ele percebe as várias olhadas constrangidas de Ellie, que comia em silêncio, mas estava estampado em seu rosto, que ela queria perguntar algo.

   — Eu conheço essa sua cara! O que você quer me perguntar?

   Ellie dá uma golada de suco, quase engasgando. 

   — Eu gostaria de saber, o que você acha de mim? Digo, o "eu" do futuro, ou seja, ela, digo, eu… enfim, você entendeu. O que eu me tornarei? — ela pergunta sem desviar o olhar.

   — O que eu posso dizer para você? Vejamos… — ele fingiu que estava pensando. — Você é a mulher mais forte e corajosa que eu já vi na vida! É uma exímia  lutadora, a mais formidável de todas. Eu só estou aqui hoje, vivo, graças a você. Então, eu não me  importo com o que os outros digam de você, pois você vai ser sempre especial para mim.

   — O que as pessoas falam de mim? — ela o indagou ainda mais curiosa.

   — Nada de mais, não é nada importante. Eu acho que já falei demais, termina o seu café! — ele tomou um gole de café preto, já que não gostava de tomar suco. — Só lembre-se de ser essa pessoa maravilhosa que você é, não deixe que nada e nem ninguém a mude. Você pode me fazer essa promessa?

   — Eu prometo! — disse Ellie, mesmo não entendo o motivo de tal promessa.

   — Ótimo! E nunca se esqueça dessa promessa,ok? — ele tomou outro gole de café, sem desviar o olhar dela. 

   Os dois continuaram tomando café em silêncio, apenas trocando olhares de vez enquanto. Logo após de terminar o seu café da manhã, Ellie decide voltar para o seu quarto para tomar um banho e trocar de roupa, afinal, ela ainda vestia o seu amado pijama de coelho, que foi alterado para ficar do seu tamanho atual. 

   Que bom que eu ainda continuo com os meus hábitos de sempre, pensou ela.

   Logo após banhar-se, ela vai até o seu guarda-roupa e vasculha as roupas novas que ela terá um dia. Passando as blusas curtas,as mini saias, os vestidos de renda curta, ela começa a pensar que ela vai se tornar uma pessoa muito indecente, desaprovando os gostos atuais dela. Por fim, ela escolheu uma blusa viscose verde estilo gravatinha, e uma saia preta longa, a mais longa que ela achou naquele guarda-roupa. Ela optou por  usar uma rasteirinha simples, pois já imaginava levar uma queda feia com aqueles saltos altos. 

   A fim de descobrir mais sobre o futuro, Ellie decide explorar o mundo afora. Caminhou devagarinho em direção a porta, fazendo o mínimo de barulho possível para o Nicholas não a impedir. O que foi em vão, já que ele já esperava por ela em frente a porta. 

   — Vai para algum lugar, mocinha? — disse ele, da forma mais sarcástica possível.

   — Eu pretendo tomar um ar fresco. - ela dá mais alguns passos para frente. — Você tem algum problema com isso? — falou, após o homem  esbarra-la de sair.

   — Tenho sim. É perigo lá fora. Você não pode saber sobre o futuro.

   — E por que não? Eu vou sair! Você não é ninguém para me impedir! — ela avançou mais rápido, mas foi esbarrada de novo, dessa vez, com um pouco mais de força.

   — Desculpa Ellie, mas eu já falei que não! 

   — SOCORRO!!! ALGUÉM ME AJUDA!!! — Ellie começa a gritar, na esperança que alguém viesse ajudar.

   — Não adianta gritar, Ellie, ninguém virá ajudá-la.

   — SOCORRO!!! — ela voltou a gritar, mas não obteve nenhuma resposta. — Eu vou sair sim! Saia da minha frente!

   Ellie volta a se dirigir para a porta, sendo esbarrada outra vez por Nick, porém, assim que ele entrou na frente dela, ela agarrou um dos braços dele, e girando o seu próprio corpo, aplicou um ippon nele, derrubando o homem no chão. Logo após isso, ela finalmente consegue  sair, mesmo não sabendo como foi capaz de fazer tal façanha.

   Após atravessar a porta, ela sai correndo pela cidade, mas o que descobre ao explorar o lugar, a surpreende. Com a cara de tremendo horror e espanto, ela fala:

   —  O que  está acontecendo aqui!?