O encontro destinado

   O homem de cabelos ruivos olha desconfiado para Ellie, não reconhecendo a garota encharcada que chamava por seu nome. 

   — E-eu não acredito que finalmente te encontrei! — sem esperar que o homem confirmasse a sua identidade, Ellie parte para um abraço, o agarrando enquanto libera mais lágrimas de seus olhos que percorrem o seu rosto.

   O homem sem entender o motivo da tristeza da garota, simplesmente retorna o abraço, esperando que ela ficasse mais calma.

   — Desculpe, não sei da onde nos conhecemos. Embora você me pareça um pouco familiar, eu não consigo me lembrar — falou calmamente, separando-se do abraço e fitando os olhos da menina — Não sei o motivo de estar chorando, mas vamos sair dessa chuva, antes que fique resfriada.

   A menina coincidiu, seguindo ele para dentro de uma casa que tinha ali perto.

   — Deixa eu pegar uma toalha para você se secar — disse o homem após adentrar a casa, indo direto a um cômodo que parecia ser o quarto.

   A casa era simples e pequena, com apenas a cozinha e o quarto que era ligado ao banheiro. Um cheiro estranho pairava no ar, que a garota deduziu estar saindo dos lixos espalhados pelo chão da cozinha ou do quarto que estava com a porta aberta, dando para ver algumas roupas espalhadas no local.

   — Pronto, achei uma toalha limpa. Pode usá-la para se secar — ele entrega a toalha para a moça e após ela pegar, continua a falar — Quem é você e de onde me conhece?

   Ellie o encara animada, ainda não acreditando que encontrou o seu irmão.

   — Nos conhecemos no…— ela pára para pensar no que dizer. Como falar para alguém que se conheceram em um futuro? Não ia dar certo.  Ele iria achar que ela era louca. — A gente se conheceu…como posso dizer?...em uma outra vida?

   Ele olha para ela sem entender nada, apenas a fitava com um semblante sério.

   — Você realmente está bem? — pergunta com o seu semblante ainda sério.

   — Eu sei o que vou dizer é loucura, mas nós nos conhecemos, ou vamos nos conhecer ainda — ela percebe que estava ficando enrolada nas palavras — Eu sei quem você é e de onde veio…Também sei os nomes dos seus pais e…

   — Quem é você? — ele parte para cima dela, agarrando forte o pescoço da garota — Quem mandou você?

   Ellie pega o braço dele, e aplica um golpe que aprendeu nas aulas de defesa pessoal, saindo facilmente do agarrão e desferindo um golpe na garganta do rapaz, o surpreendendo.

   — Nunca mais faça isso! Caso não queira se machucar feio — falou, arrumando a sua postura.

   — Desculpa! — disse ele se recuperando do ataque. — Você é mais forte do que aparenta.

   — Obrigada? — respondeu com um tom de deboche — Enfim, como eu ia dizendo, eu sei que seu nome é Nicholas Bennet de Roux, filho de Cláudia Bennet de Roux e Derek de Roux.

   — Como sabe esses nomes? — o semblante dele demonstrava a sua perplexidade — Você os conhece?

   — Sim, eu os conheço muito bem! Por que eu sou… — ela abre um sorriso — eu sou a sua irmã, Helena! — ela volta a derramar as lágrimas em seu rosto, que foi acompanhada com as do rapaz em sua frente.

   — E-eu não estou acreditando… é você mesma…? — ele a abraça, apertando bem forte o corpo da menina — Não estou acreditando que finalmente te encontrei, ou nesse caso, você me encontrou.  — ele a puxa para mais perto, deixando que a garota deposite sua cabeça no ombro dele — eu sonhei tanto com esse momento.

   — Eu também não acredito que consegui te encontrar — ela se separa do abraço — Precisamos conversar, temos muita coisa para pôr em dia.

   — Sim! — coincidiu, enxugando o seu rosto — Primeiro quero saber o motivo que a levou correr na chuva triste daquele jeito — enxugou as lágrimas do rosto da garota.

   — Eu vou te contar tudo! — respondeu abrindo um sorriso — Tudo começou com…

   Sem poupar palavras, Ellie contou a seu irmão tudo o que passou, tudo que teve que enfrentar até chegar a onde está. Inclusive, as viagens e os acontecimentos que presenciou no futuro, não se importando que ele a achasse que estava ficando louca, o que a propósito, ele não pensou isso dela, apenas ficou quieto, escutando com atenção, tudo o que a garota falava.

   Ambos trocaram histórias de seus passados e das dores que vinham suportando ao longo dos anos. Os dois tinham um passado maluco, cheios de acontecimentos estranhos e perdas inimagináveis, o que os deixaram felizes de terem encontrado um ao outro.

   Nicholas contou a sua irmã, o seu passado perturbado que seu tio lhe contou, antes dele sair de casa. Os seus pais, já falecidos, haviam comprado ele, quando tinha apenas 2 anos, de um amigo da família que não tinha condições de sustentar a criança. Percebendo que o casal estava querendo ter filhos, mas não conseguindo por problemas pessoais, esse amigo resolveu vender o seu único filho, alegando que a criança foi deixada na porta de sua casa por uma de suas antigas paixões, e  por  estar com problemas financeiros, não teria como cuidar dele sozinho. Entretanto, o que os pais não sabiam, é que a criança tinha sido roubada de seu lar verdadeiro e entregue a eles. 

   Nicholas não foi a única criança sequestrada naquele dia, houveram mais três casos de crianças desaparecidos na área, incluindo dois bebês recém nascido. Todos eles foram retirados de sua casa por esse mesmo homem, que aproveitava quando os pais dos menores estavam em um sono profundo causado por ele, que sempre se passava por vendedor e injetava algo nas vítimas, fazendo-os adormecer. Esse homem, conhecido como " o víbora", trabalhava nesses sequestros sozinho, apesar de fazer parte de uma das gangues mais influentes e perigosas que controlavam a vila Greenbow, os Caveiras da noite, onde que, secretamente, o Pai de Nicholas era o chefe da gangue, e seu tio, se tornou o atual chefe após assassinar o seu irmão e a mulher que o acompanhava. Entretanto, Nicholas não sabia dessa história, e nem que seu tio tinha colocado a sua cabeça a prêmio.

   Depois de colocarem os assuntos em dia, ou pelo menos o suficiente para que compreendesse  um ao outro, Ellie retornou mais calma para casa, feliz por finalmente ter encontrado alguém que a entendesse e que não a julgasse. Ela respirou aliviada por perceber que não estava mais sozinha e sempre que precisasse conversar com alguém, o seu irmão estaria ali por perto. 

   Os dois começaram a se ver sempre que possível, contando histórias de momentos divertidos ou mesmo perturbadores que presenciaram. Grande foi a festa quando eles decidiram revelar para dona Cláudia, que seu primogênito havia retornado são e salvo para casa, quase causando um ataque cardíaco na mesma, após ver o rosto de seu amado filho em sua frente. 

   Com o tempo, Ellie questionou o seu irmão sobre o conhecimento que ele tinha dos anciões, no qual, revelou que já apareceram uma vez para ele, dizendo que ele "não era o escolhido", e depois sumiram sem deixar rastros. Ele, logicamente, achou que aquilo não passou de sua imaginação infantil, assim como o caso do " monstro" que espiava os seus pais, enquanto eles dormiam. Ficou surpreso com a revelação da irmã, e pensativo sobre o assunto. Resolveu desvendar esse mistério junto com a Ellie, até que tudo estivesse às claras. Porém, esse caminho não seria nada fácil, e um acontecimento que ninguém estava esperando, resultaria em mais uma dor para Ellie. Talvez, a mais insuportável de todas.

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