II

Tinha se esquecido a última vez que pisou em algum baile. A realidade era que ele não gostava de estar em lugares muito cheios. Ao contrário do que muitos pensavam, não estava fugindo das mães casamenteiras, apenas desagradava sair da sua casa para fazer as mesmas coisas que eram feitas em bailes anteriores.

Não fazia muito tempo que tinha herdado o título do seu pai. Ainda não tinha superado a perda repentina do duque, era muito ruim não saber que não poderia mais vê-lo, enviar cartas, cavalgar juntos na propriedade do campo, tudo estava acabado. E, para deixar a situação ainda mais complicada, seu irmão estava brigado com ele e seu pai. Thomas mudou-se para a Escócia com seu diploma de advogado e casou-se por lá, sem avisar a família sobre qualquer coisa. Por enquanto, Charles não se aproximaria dele, para evitar mais sofrimento a sua mãe.

— Distraído mais uma vez, Charles?

— Perdoe-me, Louis. — ergueu seu copo com conhaque, propondo um brinde. — Estava pensando em Thomas.

— Seu irmão não é um problema para ser pensado agora. — deu um sorriso, que continha uma ameaça com a seguinte mensagem: "Se você estragar minha noite com seus problemas, não sei se terei mais capacidade de ser seu amigo." — Observou ao menos as belas damas desse salão?

— Não. — respondeu com sinceridade.

— Pelo amor de Deus. — revirou os olhos. — Poderia ao menor olhar uma moça?

— Agora se transformou em um casamenteiro? — uma careta se formou no rosto de Louis. — Foi o que pensei.

— É errado querer que o meu amigo se divirta?

— Jamais disse isso. — Charles respondeu sarcasticamente.

— Irritante desde a universidade.

— Sempre fui mais ajuizado que... — avistou uma bela senhorita sendo convidada para dançar.

— Charles?

— Conhece aquela mulher?

— Quem? — seu amigo seguiu o olhar do amigo, dando um sorriso. — Conheço. Sophie Middleton.

— Ela parece bastante bonita.

— Parece? Ela é. Por coincidência, também perdeu o pai recentemente.

— O pai dela é o visconde de Severn?

— Sim.

— Ela tem algum irmão? Até o colégio, lembro que ele não tinha tido um filho homem.

— Não, o título do visconde passou para um primo dela. Ouvi minha mãe comentar que ele não é muito generoso com elas, e não sabe como a viscondessa ainda consegue manter tudo.

— Existem muitas maneiras, como vender joias. Aposto que deve ter várias.

— Sim, talvez seja isso.

— Vou chamá-la para dançar.

— Como? — Louis olhou para ele incrédulo.

— Algum problema?

— Nenhum. — um sorriso malicioso ficou estampado no rosto do amigo. — Ela é encantadora. O olho é azul-celeste, diferente de todos os azuis que já vi.

— Deve ser esse o motivo do vestido azul.

— Talvez. — olhou para o salão onde os casais dançavam uma quadrilha. — O par dela é péssimo.

— É o Sr. Duncan?

— Sim. — Louis deu uma pequena gargalhada. — Ainda insiste em dançar, sendo que é um péssimo dançarino.

— Ele precisa conquistar uma moça.

— Nunca vai conquistar alguém desse jeito.

— Não sou eu que vou comunicá-lo sobre isso.

— Certamente não, mas farei com que alguém diga.

— Louis!

Deram uma pequena gargalhada.

— Ainda não tinha percebido a falta que você me fazia.

— Ora, Charles, sou o melhor amigo que poderia ter achado em Cambridge.

— Convencido nem um pouco.

— Apenas a verdade. — deu de ombros. — Sinto saudades da universidade.

— Eu não.

Louis ficou boquiaberto com a declaração dele.

— Mas você era o melhor aluno da sala!

— Não é motivo para eu amar a universidade.

— Como eu odeio você. — resmungou.

Charles deu um tapinha no ombro do amigo.

— Eu sei que não. Essa quadrilha não vai acabar nunca?

— Vai demorar mais alguns minutos. Acalme-se, ela não vai fugir.

— Espero.

— Como vai seu primo?

— Refere-se à William?

— Sim, nosso futuro rei.

— Nunca mais eu me comuniquei com ele. Soube que a princesa perdeu o filho, deixando a rainha desolada. Ela teme que morra antes de conhecer os netos.

— Preferia que William nunca sentasse o traseiro dele naquele trono.

— É inevitável, Simon é mais novo. Violet está casada com o rei Marcus da Escócia. Resta apenas ele. Acostume-se com seu futuro rei, meu amigo. Não é muito bom ser inimigo da coroa.

— Ele não fará um bom governo.

— Entendo que gostava de Lauren, ela também gostava de você. Porém, os Smith sempre foram ambiciosos. A oportunidade de ver a filha se tornando uma rainha foi claramente tentadora.

— Fico imaginando se ele a trata bem.

— A rainha não admitiria que ele a maltratasse.

— Sua Majestade não pode ficar ao lado do filho sempre. — sua voz se tornou raivosa, fazendo com que Charles ficasse mais atento com as atitudes de Louis.

Não lembrava exatamente quando Louis e Lauren se conheceram. Tinha conhecimento da grande paixão que Louis nutria por ela, porque ele fazia questão de mandar cartas semanalmente para Lauren. Lembrou do fatídico dia em que ela comunicou seu casamento com William, pedindo para Louis esquecer qualquer sentimento que eles tinham sentido. Aquilo o devastou de uma forma assombrosa; Louis chorou diante dele como uma criança. Foi um ano difícil.

Um silêncio desconfortável se instalou entre eles. Louis sempre ficava tenso e raivoso quando lembrava desse assunto.

— A quadrilha está terminando. — Louis quebrou o silêncio.

— Finalmente. — tentou dar um pequeno sorriso.

— Certifique-se que ela não seja comprometida com Simon Windsor.

— Simon ainda é uma criança.

— Não tão criança assim.

— Essa paixão ainda vai acabar com você, Louis.

Louis não respondeu.

E ele foi atrás da Srta. Middleton.

☙☙☙☙

Estava nervoso, não podia negar. Não era a primeira vez que chamava uma mulher para dançar, no entanto, aquele convite seria diferente. Nem ele mesmo podia entender a diferença, porque não a conhecia. Mas, uma coisa dentro dele ganhou vida quando avistou a Srta. Middleton naquele vestido azul.

Ela estava conversando com uma mulher perto da mesa com bebidas e comidas. Aparentava estar aborrecida com alguma coisa, pela sua expressão. Então, a mulher que estava ao seu lado falou alguma coisa com ela, que a fez olhar em sua direção.

Foi um choque aquela troca de olhares. Algo que nunca sentiu antes.

Aproximou-se delas, fazendo uma mesura.

— Senhoritas. — ofereceu seu melhor sorriso.

— Vossa Graça. — ambas responderam em uníssono.

— Srta. Middleton, poderia me dar a honra de dançar a próxima valsa?

Observou ela olhando para a amiga, que parecia atônita.

— Sim, Vossa Graça.

Seu coração acelerou de felicidade. Lançou um sorriso ainda maior na direção dela.

— Espero que eu consiga ser um bom par para a melhor dançarina da noite. — precisava ouvir a voz dela.

— Não acredito que eu seja a melhor dançarina da noite.

— Oh, acredite em mim, observei atentamente a senhorita dançando, é graciosa em cada passo. — era mentira, pois havia conversado com Louis a maioria do tempo. Mas o pouco que viu, foi o suficiente para saber que ela era boa. — Uma lástima ter parceiros tão desajeitados.

— Infelizmente. — um pequeno sorriso se formou no rosto dela.

— Podemos? — ofereceu o braço para ela.

— Sim.

— Será minha primeira dança da noite. — aproximou-se mais dela para sentir seu cheiro, era um perfeito aroma de lavanda. — E espero que seja a última.

Não sabia o que tinha dado nele para falar aquilo, mas sentia-se completamente atraído por aquela mulher.

Sophie Middleton.

Esse nome soava tão bem, mas ele queria que fosse Sophie Harrison.

Poderia estar louco, não tinha outra explicação para o que estava sentindo por aquela mulher ainda desconhecida.

— Sr. Harrison?

— Sim?

— Escutou minha pergunta?

— Infelizmente não. Perdoe-me, estava distraído.

— Percebi. — murmurou.

— Se não for incômodo para a senhorita, poderia repetir a pergunta?

— Está gostando do baile?

— Agradável. — não queria admitir para ela que estava achando chato, até aquele momento. — E a senhorita, o que está achando?

— Chato. — colocou a mão no ombro dele.

Charles deu uma pequena gargalhada.

— Eu estava cheia de expectativas. Apesar das muitas tentativas de Daphne me alertar sobre isso.

— Criar expectativas? — apoiou sua mão na cintura de Sophie.

— Sim.

— Precisamos criar algumas vezes.

A orquestra começou a tocar a valsa, fazendo os dois deslizarem pelo salão.

— Sempre digo isso para ela.

— Ela é mais sensata?

— Sim.

Charles olhou nos olhos dela novamente.

Poderia não enxergar muito bem com aquela luz das velas, mas podia afirmar que era os olhos mais lindos que já tinha visto em toda sua vida.

— Alguma coisa de errado? — ouviu o sussurro dela.

— Seus olhos.

— Algum problema com eles?

— Muito pelo contrário, são lindos.

— Obrigada, senhor. — o rosto de Sophie ficou ruborizado.

— Eu poderia visitá-la amanhã?

— Cla-claro. — gaguejou.

De uma coisa ele tinha certeza: começaria a cortejá-la.

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