A lembrança.
Andei um pouco além e olhei o que restou de entrada do local.
Ouvia sons de pássaros sobrevoando, grilos e mais nada.
Não tem ninguém aqui, exatamente ninguém.
Foi quando parei exatamente onde as lembranças começaram, no centro do jardim de frente pra entrada, olhei pro lado esquerdo e era naquele ponto onde eu e a tal garota surgiam.
Segui como se fosse mais uma lembrança, e andando atento em tudo, avistei ao fundo a árvore!
A árvore que vi os dois, o tempo não foi bom pra ela também, não tinha folha alguma, a árvore estava seca, mal cuidada e alguns galhos caiam. O fogo atingiu ela também? Não! Ela foi posta fogo separadamente, e não foi no mesmo tempo do orfanato.
Andei até a mesma e estava certo como sempre, a mesma ainda está no decorrer da morte, o Orfanato já foi levado pelo tempo e o incêndio.
Notei exatamente o ponto onde as iniciais estavam.
Lembro que toquei e ouvia gritos, sentia dor, tinha súplicas e choros desesperados. Chovia cinza, e ao olhar o orfanato tinha chamas.
Tenho certeza que foi o incêndio que vi o causador desse estrago no orfanato.
Mas por que por fogo na árvore, a prova é o solo, o fogo não viria até aqui e não veio.
Lembrei de outra coisa na lembrança, a garota perguntou se eu prometia que ficaríamos juntos pra sempre, e eu disse que prometia. Que a marca na árvore é a prova do eterno amor meu, e dela.
Ela perguntou e se a árvore morresse, e eu disse exatamente essas palavras; ela tem anos e nunca mudou, as folhas mudam, ela não. Vejo que as flores são a maturidade chegando, nós amadurecemos como elas, intensificando o nosso amor.
Vejo que a árvore não amadurece mais, resumindo que o amor morreu.
Eu não lembro de estar aqui, morar aqui, e muito menos de queimar a árvore, ou foi a tal Bea ou alguém que queria exatamente queimar a árvore e pelo estado da mesma, tinha raiva suficiente pra fazer isso, como algo pessoal.
Ah como Beatrice faz falta nessas horas. Ela saberia com os sentimentos tolos dela, explicar melhor o que sente com tudo que vê.
O amor morreu com a árvore, não tem mais as marcas, o que resumi ser um falso e tolo amor.
Toquei onde lembro da marca estar, e assim como madeira velha e principalmente danificada ela soltou sua casca, afastei um pouco a mão e talvez dessa vez algo esteja diferente, a árvore está morta, mas a marca foi funda o suficiente pra ir além da primeira casca, está bem aqui. Um pouco mais fino do que dá primeira casca, mas se nota perfeitamente as iniciais.
__de que adianta marcas em uma árvore? Não me casei com nenhuma Bea, não lembro de nenhuma Bea. Casei com Liliana, lembro dos nossos momentos.__me agachei pra ficar na altura da marca.__acho que você amou sozinha, Bea.__ri e toquei a mesma de novo.
Novamente os gritos eu ouvia, as dores eu sentia. Choros e súplicas, desespero sem igual. Notei a chuva de cinza e olhei o Orfanato, as chamas! Elas ocorriam como nunca, devoravam cada ripa do piso de madeira, cada tijolo que mantém essas paredes.
Afastei a mão e tudo estava como cheguei, a árvore morta os restos desse lugar e o céu nublado.
__o que eu preciso ver?__encarei a marca e toquei novamente.
***
Estava naquele corredor, em um dos corredores do orfanato. Algumas crianças passavam desesperadas por mim e ao meu redor, caiam e se levantavam, outros caiam e eram pisoteadas por outras.
Cheiro de fogo, o Orfanato já está em completa chama, fumaça rodeava tudo.
O dia do incêndio que levou o orfanato ao fim.
__BEA, VAMOS!__olhei pra trás e o menino de cabelo ruivo e a menina estavam juntos.
Ele puxava ela pelo braço, corria e parecia desesperado.
Será que a tal Bea morreu nesse incêndio?
__CADÊ O DEK?!
__NÃO SEI! DEVE TER SAIDO JÁ.
A menina parou, ela não se moveu.
__eu preciso ter certeza.
__acha que ele faria isso por você?! Acorda é um incêndio. Vamos morrer se não sairmos.__ele tornou a puxa-la pelo braço.
__eu não ligo. Eu só saio quando tiver certeza. Se proteja Talon, nos vemos lá fora!__ela se virou e começou a correr trombando em algumas crianças que esbarravam nela.
Comecei a correr pra alcançar ela, ela morreu aqui, morreu por amor. Ela não sobreviveu e isso faria todo sentido.
__DEK!__ela gritava por mim em meio a uma tosse e outra.
Foram 3 corredores e ela tossia mais e mais. Porém tornava a gritar meu nome sem ligar.
__DEK!__ela parou com o antebraço na frente do rosto tossindo.__por favor, cadê você?
Algumas partes do teto e outras coisas começavam a desabar. Isso aqui estava um risco a vida humana.
__BEA!__era a minha voz!
Ela vinha de uma porta, porta essa que tinha um ferrolho.
A mesma correu tirando o ferrolho e o jogando rapidamente no chão por estar quente, a porta foi aberta e sai a abraçando.
__eu fiquei preocupado com você.__eu abracei a menina.
__eu também. Estava procurando você, vamos logo!__ela segurou minha mão e começaram a correr.
__eu não achei o Talon.
__eu estava com ele na fuga, mandei ele sair que iria procurar você.__ela avisou enquanto corria.
__isso me deixa melhor. Vocês dois são a minha família.
Familia? Eu quero ainda ver o rosto de ambos que não lembro, e a minha versão juvenil diz família?!
Eles corriam de mãos dadas, era ouvido a tosse de ambos, assim como a diminuição dos gritos das pessoas do local.
Foi quando chegaram na escada e uma pilastra foi empurrada na direção da menina. Eu a puxei de encontro a mim. Essa pilastra poderia sim ter caído pelo fogo a enfraquecendo, isso se meus olhos não notassem uma silhueta correndo dali.
Voltei a olhar os dois e ambos se abraçavam em choque e tornaram a correr.
No caminho eram pessoas caídas e mortas. Vários fatores, fumaça demais, alguma parte que desabou ou o próprio fogo que tomava muitos cantos aqui.
No hall o fogo vinha de todos os cantos, eles olhavam em busca de uma saída quando um estalo foi ouvido, ao mesmo tempo que cai tossindo e com dificuldade pra respirar.
Era uma viga que descia certeiro pra me matar, foi o suficiente pra menina me empurrar e não consegui sair.
__Bea!__eu estava caído sem força no chão, inalei fumaça demais no decorrer da fuga e nem imagino o quanto devo ter inalado naquele quarto onde o ferrolho me impedia de sair.
A fumaça tornava difícil enxergar, assim como a força do fogo.
Um grito sofrido e até dificultado foi ouvido e notei a menina rolando no chão e se debatendo em desespero.
Tentava chamar por mim e era difícil ouvir sua voz.
Quando ela caiu no chão de barriga pra baixo sua mão se estendeu na minha direção que já estava desacordado.
Ela tentou se levantar e falhou, novamente e ficou de joelhos e foi nessa hora que vi o estrago que a viga fez no rosto dela.
Aquilo nunca seria esquecido, marcada pro resto da vida.
Vale a pena tudo isso por amor? Eu acho que não. Não um amor tão infantil assim.
A mesma tem um terço do meu respeito, ela é corajosa, tem fibra. Pois se levantou e segurando meu braço ela me arrastou com dificuldade em direção a uma janela que acabará de se estilhaçar.
Ela parecia com dificuldade pra enxergar e não era só por tamanha fumaça, mas por conta do ferimento.
Caia, e levantava em meio a dores e a fraqueza.
Ao chegar na janela, ela talvez tenha usado toda força agora, pois passou meu braço pelo pescoço dela e me ergue do chão.
Ela me ajeitou nas costas e ignorando tudo nesse momento ela se jogou comigo pela janela, fez cortes e caiu no jardim como uma fruta estragada.
Ela se arrastava como um nada pelo chão puxando a manga chamuscada e destruída da minha roupa.
Logo tentou sentar e notei alguns vidros em seu corpo e a mesma manchada de sangue dos pés a cabeça.
Ela me puxou pra ela e me sacudia fracamente por não ter mais força nela.
__Dek.__a voz dela estava horrível.
__Dek, fala comigo.__nada.
__BEA, DEK!__o tal Talon corria olhando ao redor enquanto gritava.
Ao achar correu até eles, e ao olhar a menina gritou e caiu no chão em choque.
__Bea seu rosto!__ela negou enquanto ainda me sacudia.
__o Dek, ele não acorda.__o mesmo tentou entender e levou exatos 3 segundos pra entender.
O mesmo se aproximou e me sacudia chamando meu nome.
__Dek, anda logo cara. Acorda!__nada.
Ele deitou a cabeça em meu peito e levantou a cabeça em choque.
__ele...Bea ele...merda.__ele parecia buscar palavras.__Bea o Dek morreu.
Ela negou, negou desesperada só piorando seu estado e me sacudia batendo em meu peito e chamava cada vez mais baixo meu nome.
__você prometeu.__ela disse tentando gritar e gritou em meio a dor.
Parecia um som de animal quando é abatido e precisa sacrificar pra aliviar o sofrimento.
Não tinha mais gritos, nada. Só o som do fogo consumindo o final do orfanato.
__Deus, eu faço o que quiser.__ela olhava pra cima e vejo garra.
Ela não vai desistir sem lutar, está horrível, ferida e mal abrir os olhos consegue, mas não para de tentar lutar por mim.
Mas algo ocorreu, alguma coisa me salvou. Se estou onde estou, vivi bem e me casei com Liliana é por que algo me salvou.
Agora a questão é, quem ou o que?
__faço o que mandar, por favor salva ele!__sua mão apertava forte minha blusa.
__estão precisando de ajuda, crianças?__ergui a cabeça e era ele!
Benjamin Allen!
O tal Talon o encarou, a tal Bea tentava enxergar algo e parecia quase impossível.
__não!__Talon o encarou.
__sim!__Bea rebate nem olhando Talon.
Benjamin se agachou ao lado de Bea e olhou meu corpo.
__pode salva-lo?__ele olhou Bea.__eu faço o que quiser.
__você pode salvar ele. Isso depende do que está disposta a dar, e fazer em troca disso?
__eu faço de tudo por ele!
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