Reviravoltas críticas

     Por mais improvável e estranho que pareça, a "primeira etapa" da operação foi concluída facilmente. E não, não houve nenhum tipo de emboscada.

E o mais surpreendente não foi nada disso.

— 'Ceis 'tão de brincadeira com a nossa cara, né!? — questionou, desconfiado.

— Depois de pensarmos bastante ... chegamos à conclusão de que isso tudo é um caminho perdido e errado. — explicou o das cicatrizes.

— Tanto o do Shigaraki quanto o do Stain. — reforçou a loira.

— Queremos ajudar. Vamos p'ra trás das grades de qualquer jeito, e queremos fazer pelo menos uma coisa que preste enquanto isso não acontece.

— ... Red Riot, contate aos outros que temos mais aliados. — pediu a morena.

— Você vai confiar neles tão fácil assim!?! Sem provas!!?

Após um breve olhar mortal, a menor tocou ambas as cabeças deles e uma luzinha lilás saiu delas. Suspirou pesarosamente ao terminar.

— Estão sendo sinceros. Agora vai e fala que eles 'tão com a gente que eu tenho que explicar o plano p'ra eles!

Contrariado, o ruivo se afastou consideravelmente e fez contato. As coisas estavam tensas entre eles apesar dos acontecimentos da noite anterior. E ele tinha o pressentimento de que algo grande aconteceria e que teria o dedo da Yoshiaki em tudo. E estava certo.

— Gente ... lembra daquela sincronia que a gente inventou ano passado?

— Luisa ... você não- ...

— Himiko, todo mundo depende de nós agora! Caso as coisas se compliquem demais ... já sabem o que fazer.

— Luisa, você vai morrer se a gente fizer o "Go To Hell"! — lembrou Dabi, preocupadíssimo — Ninguém resistiria! O Endeavor poderia morrer naquilo!

Eu não ligo. A segurança deles é mil vezes mais importante do que um monstro que nem eu! E, se vocês não me ajudarem se a hora chegar ... eu vou fazer vocês se arrependerem pelo resto dos seus dias!!

A dupla trocou um olhar cúmplice. Yoshiaki nunca descumpria sua palavra. E, querendo ou não, era o melhor para a grande maioria. Uma vida por milhares. Suspiraram pesarosamente.

— Se é assim ... saiba que a gente te ama, Zaza. — sorriu a loira, triste.

— Você virou uma mulher incrível, sua pestinha. — abraçou-a, sendo seguido pela menor — Seus pais iam ter orgulho de você.

     "Não. E, mesmo que tivessem, eu não iria merecer", pensou.

...

     A segunda etapa consistia em deixar todos da Liga inaptos para o combate. O modo foi cômico: Toga fingiu que preparou um café para eles, entregou separadamente para cada um e a maioria desmaiou pelo sonífero potente. Mas nem tudo sai como planejamos ...

— Então vocês me traíram ...?!!

— Você é maluco, Shigaraki.

— Eu só quero acabar com tudo nesse mundo!! SE NADA EXISTE, A DOR TAMBÉM NÃO!!

— Você quer é achar uma justificativa p'ra sua raiva e rancor!! — rebateu a morena, sacando suas facas.

— Não!! Esse é o certo! É a pura verdade, mas vocês não conseguem enxergar ela!

— Eu passei 11 anos só justificando e mascarando a minha raiva, então eu sei exatamente como gente assim age! Como você age!

— CHEGA!!

     E, então, ele tocou o chão. Todo o prédio começou a se desintegrar. A única opção que tiveram foi escaparem e tentarem deixar o platinado para trás. No entanto, foram perseguidos pelo mesmo.

     Ao saírem, perceberam que Cimentos, Eraserhead, Ryukyu, Fatgun, Sunyeater, Nejire, Kendo, Midoriya e muito mais gente. Todos em posição de ataque.

— VOCÊS NÃO VÃO ME EMPEDIR! EU VOU DESTRUIR TUUUUDO!

     Tocou o chão novamente, que só não se desintegrou pela ação de Cementos.

— Estão bem!? — questionou a alaranjada.

— Temos que fazer alguma coisa! O Bad Ending pode ser solto a qualquer- ...

     Eijiro nem conseguiu terminar a frase. Um rugido assustador foi escutado. Um enorme vulto apareceu, voando pelo céu. Era ele.

— F*deu. — soltou Yoshiaki, aterrorizada.

...

Luisa lembra que houveram gritos.

     Os heróis profissionais se concentraram em Tomura – que destruiu boa parte da cidade, até algumas áreas ainda habitadas. Kendo, Uraraka, Midoriya, Todoroki, Sunyeater, Kirishima, Dabi e Himiko sofriam consigo para "controlar" o Nomu.

O lugar estava um verdadeiro caos. Não tinha como vencer ... a menos que ...

Milagrosamente, Cimentos foi ao encontro deles.

— Professor, eu tive uma ideia! — falou, tentando ficar firme — Eu preciso que você crie um tipo de caixote enorme sem uma das paredes. E ele tem que ser MUITO resistente ao calor.

— ... Ok. — concordou, obedecendo.

— Zaza, o que você- ...

— Todo mundo, atraiam o Nomu para o "caixote" de concreto do professor. Uraraka, você vai tirar o meu peso e o Midoriya vai me jogar para cima do bicho. Se afastem bastante e rápido ao meu sinal! Dabi, já sabe o que fazer. — indicou pelo comunicador, os olhos marejados e "preparando" suas facas.

— Zaza- ...

— Kirishima, me prometa que vai contar o que aconteceu comigo para todos, até para a polícia.

— Mas o q- ...

Prometa!

A expressão dela era séria, mas os olhos mostravam dor e medo.

— ... Prometo, Zaza.

— Ótimo. — pegou uma espécie de correntinha de algum lugar do traje e deu a ele, sorrindo tristemente — Obrigada por tudo. Você foi o melhor amigo que eu já tive.

— Zaza, o que voc- ...

Um selinho. Um rápido e doloroso selinho. Uma lágrima solitária desceu pelo rosto moreno.

— Eu te amo. Viva por mim, por favor.

Está na posição!! — anunciou Midoriya pelo comunicador.

Ela não disse mais nada. Foi rápido.

Yoshiaki saiu correndo sem olhar para trás. Ochaco e Izuku fizeram como mandou e, assim (por milagre), estava "montando" a criatura, que se debatia. Enrolou e prendeu as asas do acéfalo, quase "controlando" a direção do voo dele.

O ruivo só entendeu quando a morena gritou:

— QUEIMA, DABI!!

Labaredas explodiram desde o nomeado, que chorava. Os outros ficaram totalmente horrorizados. O professor ficou desesperado, mas não podia deixar sua tarefa – o calor derretia o concreto, fazendo-o ter que ficar reconstruindo o "caixote" toda hora. Não faria o sacrifício da sua aluna ser em vão.

Eijiro estava devastado. Havia perdido a crush. A sua melhor amiga. Perdeu a quem prometera proteger e ajudar a ter uma vida feliz. Não foi o suficientemente forte e perspicaz para evitar que ela morresse.

O sentimento de culpa foi crescendo velozmente. Corroía seu coração. Sua autoestima sumiu. A dor alastrou-se. As lágrimas começaram cair em cachoeiras.

     Havia falhado. De novo.

Falhou como pessoa. Como homem. Como herói. Como colega. Como amigo.

Quis matar Dabi. Quis matar Stain. Quis matar Shigaraki. Matar o doutor que criou o Nomu. Sinceramente, o mundo poderia estar ardendo em chamas que ele colocaria mais querosene no meio com gosto.

...

— Mas que p@rr@ é essa!!!?

O coração de todos errou a batida:

A garota estava de pé, apenas com os machucados de antes de subir no Nomu. A única (e estranha) diferença foi que seu corpo todo cintilava em lilás.

     Ela sobreviveu. Por um milagre, ela sobreviveu ao calor mais do que infernal daquelas chamas.

O ruivo foi o primeiro a ir ao encontro dela. Praticamente se teletransportou. Ele nem tentava esconder o alívio e euforia.

NUNCA MAIS FAÇA UMA COISA DESSAS, LUISA!!! — berrou, apertando-a em seus braços — VOCÊ FUMOU O QUE P'RA TER CORAGEM DE FAZER ISSO COMIGO!!?! SUA DESNATURADA!!!

— EU DISSE QUE IA FAZER O QUE FOSSE PRECISO!! — rebateu, indignada — VOCÊ SABIA!!

— E EU LÁ IA SABER QUE VOCÊ PLANEJAVA SER CARBORNIZADA VIVA!!?

— EU NÃO PLANEJEI ISSO DESDE O INÍCIO, KIRISHIMA!!!

AH!!! ENTÃO ADMITE QUE VOCÊ CHEGOU A PLANEJAR!!!?

— O casal quer parar de berrar, por favor? — pediu Kendo, dando risada.

Coraram. Fizeram uma breve inspeção na morena e se dedicaram a vasculhar os locais destruídos da cidade.

...

     Luisa achou alguém que partiu seu coração. Uma menininha de uns quatro ou cinco anos, toda machucada, o cabelo desgrenhado e a roupa feita um trapo. Estava apavorada. Ela lembrou "da rua".

— Calma, princesinha. — pediu, a voz melodiosa — Eu vim te ajudar.

— Não! Ninguém nunca veio! Você só quer se aproveitar de mim! — choramingou.

— Ninguém te ajudou antes? — repetiu, e ela assentiu — Que bom que eu não me chamo "ninguém". Por favor. — agachou-se, preocupada — Eu sei como é estar assim.

     Foram segundos de hesitação para lágrimas caírem dos olhinhos púrpura. A maior simplesmente abriu os braços num convite silencioso. Sabia o quanto ela queria contato físico, mas não forçaria nada. E o abraço foi muito bem-vindo pela menor, que foi ao encontro dela. Soluçava, desesperada e com medo.

     Fez um leve cafuné. Usou seu dom para acalma-la e descobrir onde estavam os pais dela. "Eles morreram", descobriu. Quis chorar, mas se conteve. Devia passar confiança para a pequena.

— Não se preocupe. Eu estou aqui com você, princesinha. Não vão mais te machucar.

Aquelas palavras eram lindas, inspiradoras ... no entanto, mentirosas. O mundo é um lugar cruel, onde ferir-se é uma das poucas certezas que todos devem ter. Todavia, não era a hora de lembrar a criança daquilo. Ainda era muito jovem para entender a complexidade da vida.

Um dia entenderia e enfrentaria os males e dificuldades ao próprio modo. Por enquanto, podia continuar acreditando que nada é tão ruim. Só desejava que, quando descobrisse a verdadeira e dura natureza das coisas, escolhesse trilhar o caminho do amor.

Ou, pelo menos, um caminho longe daquele que ela própria escolheu trilhar aos seis anos, pois ele só lhe traria desgraça após desgraça à longo prazo.

...

— (...) Achamos quatro membros da Liga nos escombros do prédio, o doutor responsável pelo acéfalo, o Shigaraki, Toga e Dabi. — falou Hawks, sorrindo largamente — Sete presos e, milagrosamente, o máximo que aconteceu foi quebrarem alguns poucos ossos! — declaro, rindo.

     Midoriya pegou bem a indireta (bem direta).

— Na verdade, são oito presos. — contestou Luisa, sacando uma algema do traje.

— Não. Não falta ninguém, Roupe.

— Falta, sim. — respirou fundo, agarrando toda a coragem do seu ser — Falta eu. — declarou, algemando a si mesma.

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