Encurralados
Nenhum dos dois sabia se ficava assustado, chorava ou saia correndo daquele lugar. A última opção era a mais tentadora.
A poucos instantes, estavam no "quartel-general" do Esquadrão de Ação e Vanguarda. E Shigaraki estava bem diante deles.
— Os novatos são esses? — perguntou retoricamente, coçando o pescoço — ... Promissores.
— Chamou a gente p'ra que? — questionou Mr. Compress.
— Bom ... quero que vejam nossos novos peões. — sacou um pequeno rádio com apenas quatro dedos da destra — Pode nos mandar, Doutor.
Então, de repente, foram sugados por uma espécie de buraco que abriu-se logo abaixo de seus pés. Escuridão repentina. E, quando puderam enxergar novamente, queriam não poderem fazê-lo por hora.
Haviam tubos com Acéfalos enormes, que "boiavam" numa substância esverdeada e borbulhante. Cabos pretos estavam conectados a eles em diversas partes do corpo.
Copos de Becker, provetas e tubos de ensaio estavam dispostos por diversas mesas do amplo ambiente, com líquidos de cores e volumes variados. Tinham até medo de saber o que havia em cada um.
O chão era formado por azulejos que um dia foram brancos. Uma grossa camada de poeira o deixou cinza. Manchas de cores escuras e tamanhos diferentes se espalhavam pela superfície imunda.
Na extremidade oposta à que o grupo se encontrava, um homem baixinho com óculos de lentes verdes e armação cobre estava sentado confortavelmente numa cadeira giratória. Acariciava um pequeno Acéfalo sem muita atenção nas carícias. Tomura adiantou-se, uma risada diabólica brotando de sua garganta.
— Esperam que eu faça um largo e complexo discurso sobre o nosso plano? — perguntou o idoso (?), sério.
— Você teria que nos explicar de um jeito ou de outro. — rebateu Kirishima, engolindo todo o medo e surpresa para interpretar dignamente seu papel.
— Ou quer que nós não executemos tudo como planejaram? — reforçou Dabi, cruzando os braços.
— Essa educação de hoje em dia ... — resmungou, ligeiramente irritado.
— Relaxa, Doutor.
Aquela voz fez Kirishima gelar. Hawks apareceu com suas exuberantes asas vermelhas e sorriso de lado. "O que o herói nº 2 'tá fazendo aqui!!?", questionou-se.
— Finalmente, hein. — resmungou Tomura.
— Bom, é o seguinte: depois de perder a minha obra-prima, o Gigantomakhia, trabalhei intensamente para criar um acéfalo poderoso. — o homem virou em sua cadeira — No fim, tive pleno sucesso.
— Um acéfalo que possui oito individualidades. — continuou Shigaraki, surpreendendo a todos.
— Eu o chamo de "The Bad Ending". — sorriu diabolicamente o mais velho, rindo baixinho — Ele possui absorção de impactos, regeneração, super força, voo, controle sobre plantas, sonar, escudo de carbono e uma mente quase racional ... ainda que seja burro.
— Nós planejamos atacar a prisão de segurança máxima com ele. — disse Shigaraki — Vamos tirar o Kuroguiri e o Professor de lá.
— Estamos apenas esperando o Tomura se recuperar da última batalha.
— E, então ... — o sorriso do platinado foi horrendo — ... Eu finalmente destruirei tudo que existe!
Até o sangue de Himiko congelou. Esse era o fim da linha – se, é claro, não dessem um jeito naquilo. E tinham que dar.
Voltaram ao quartel general em instantes por conta do pequeno acéfalo de antes. E ...
— Damaho e Yari. — os dois se viraram lentamente para encontrarem um Hawks sorrindo sacana — Quero ter uma palavrinha com vocês no quarto de vocês.
O caminho foi silencioso. Ambos estavam ansiosos e nervosos. Era coisa demais para se digerir tão de repente.
Estando o trío dentro do cômodo e a porta de metal devidamente fechada, o herói profissional tirou seu sorriso do rosto. Aí que os estudantes quiseram entrar em pânico.
— Vocês que são os estagiários da UA, né?
— Sim, senhor.
— Bom ... pode parecer loucura, mas eu trabalho como agente duplo do governo para ficar de olho na Liga. Vim ajudar um pouquinho.
— Como assim "ajudar"? — questionou, sério e desconfiado.
— A Gaya e o governo quer que vocês "tirem a Liga da toca". — explicou, abrindo as asas e deixando uma mochila preta de tamanho considerável (que eles não souberam da existência até segundos atrás) cair com um baque — Estamos contatando outros estagiários e heróis com uma posição alta no ranking para o combate. Também estamos evacuando os civis aos poucos e os levando para um lugar seguro.
— Então ... será uma operação com uma escala maior do que a do resgate da Eri? — supôs o ruivo, nervoso.
— Muito maior. — confirmou, e o medo se refletiu nos olhos de ambos — Sei que a simples ideia é assustadora, mas ... somos heróis. Vocês serão os heróis que vão coordenar operações como estas se for necessário. Se preparem.
— Ok. — respirou fundo, tentando não surtar — Como devemos prosseguir? Qual o prazo?
— Amanhã, vocês vão colocar os trajes que estão na mochila, achar a localização do laboratório, mandar para a Spy, neutralizar o Esquadrão e manter ele aqui.
— Parece um plano bem complicado ...
— E muito jogado, também. — pontuou, pensativa — Há muitas possibilidades. Muitos cabos soltos. Muitas coisas que podem dar errado no meio do caminho.
— A informação é muito escassa. Não temos nem tempo, nem informações e nem recursos o suficiente para dar tudo pronto para vocês dois. — falou, seríssimo — O que podemos fazer é confiar em vocês. Precisamos de vocês. Por isso, ajam com bastante cautela.
— Sim, senhor. — sorriu com autossuficiência, como se o desafiasse — Eu vou cumprir tudo certinho ou vou morrer tentando!
— Gostei de você, garota! — deu pequenas palmadinhas na cabeça dela — Bom, escondam essa mochila até a hora de se prepararem. A operação tem início às 10 em ponto. Estejam preparados.
O mais velho saiu, deixando-os sozinhos.
— Que história é essa de "ou morrer tentando"!?
— Eu não ia me perdoar se eles machucassem os civis ou algo do gênero se eu pudesse pôr um fim nisso. — virou de costas — Mesmo se o único jeito seja eu morrendo no final.
— Você não vai morrer! Eu não vou deixar! É injusto com você!
— Eijiro, você não 'tá vendo como eu seria covarde e egoísta ao morrer em batalha? — olhou-o, a expressão doída — É muito fácil simplesmente morrer no final. Não é você que lidaria com as possíveis más consequências dos seus atos.
— Mas as consequências podem ser boas!
— Kirishima, não existe um final feliz p'ra mim! É impossível! — uma lágrima rolou por sua bochecha — Eu treinei durante 11 anos p'ra destruir os heróis. Eu invadi Tártaros e libertei o Stain. Eu fiz amizade com dois violões valiosos da Liga. Eu sumi do mapa quando tinha 6 anos. Já invadi milhares de bases e fiz ameaças. Eles têm motivos de sobra p'ra me colocarem na cadeia. Não acha que simplesmente morrer iria me livrar das consequências de tudo isso?
— Você quer morrer? Você quer se livrar das consequências!?
Ela mordeu o lábio inferior com força, fechando os olhos e apertando os punhos. Ela engoliu seus sentimentos de novo. E Eijiro sentiu raiva dela por isso. Yoshiaki deveria mais do que nunca falar como se sentia e colocar tudo para fora. E esse comportamento não ia ajudá-la a melhorar.
— Tudo que eu mais queria era ser uma adolescente normal com a minha família, poder simplesmente entrar numa escola e ser a melhor heroína que eu pudesse ser. — abriu os olhos, que estavam marejados — Mas eu perdi essa chance. Eu mesma acabei com qualquer possibilidade de vida feliz quando decidi ficar com o Stain.
— Você se arrependeu e decidiu ir contra ele! Você está tentando mudar!
— Acha que o juiz levaria isso em consideração!?!
— Não vai ter juiz! Por que teria!? Você vai se entregar, é isso!!?
— Considerei essa possibilidade, e eu não vou conseguir manter a "Ajira Kayami" para sempre. Uma hora ou outra vão descobrir e as consequências vão ser muito piores, e você vai se ferrar junto comigo por ser uma espécie de cúmplice!! E a última coisa que eu quero é ter o meu melhor amigo se ferrando por causa de uma desgraçada como eu!!
Agora o maior queria chorar. Ele sabia como era se sentir desmerecedor e um peso, e eram esses os sentimentos que traduziam as palavras dela. Pior: ela parecia pensar que deveria sofrer por ter sido manipulada.
— Você não manda em mim! Eu decidi te ajudar e ficar com você, e vou ficar até o fim! E não me venha com essa de "eu acabei com as minhas chances de ser feliz", garota!
— Kirish- ...
— SEMPRE HÁ TEMPO DE SER FELIZ!! — berrou, derramando meia dúzia de lágrimas e fazendo-a dar um pulinho pelo susto — Eu posso te ajudar! Prometo te ajudar a ser feliz! Você só precisa querer e ... se deixar ser feliz!
Ficou paralisada. Ele havia dito a mesma coisa a ela em sonho, quando estava na enfermaria após sua luta contra Monoma.
E a morena chorou.
Chorou de dor e de gratidão.
Não demorou para sentir os braços aconchegantes do crush ao seu redor num abraço de urso, colocando a cabeça em seu peito imediatamente.
Sentia-se tão bem e acolhida ... mas tão desmerecedora daquilo. Ela era uma vilã, e violões não mereciam amor e carinho ... mereciam? Ou ... será que ela era realmente a vilã da história?
Muita coisa ia mudar no dia seguinte. Iam piorar, melhor dizendo. No entanto ... há um arco-íris depois de toda tempestade, não?
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