Conversa e tiros
— Como assim, Red?
— Eu ando percebendo umas coisas ... e queria saber outras. — continuou, ainda sério — Por que você finge? O que quis dizer com "encarei o inferno"? O que aconteceu no seu passado?
— ... Você não vai querer saber. — disse, abaixando a cabeça — Vai ter medo e nojo de mim!
— Não vou, não! — retrucou, ficando de frente para ela — Você é a garota mais incrível que eu conheço, e está mal por alguma coisa! Se tem alguém que sabe como é isso ... sou eu.
— Não. — retrucou, ainda de cabeça baixa — Você não sabe como é ter- ...
— Sido inútil quando deveria ter feito algo? — olhou-o, surpresa — Sim, sei exatamente como é.
— Você não 'tá intendendo ...
— Eu fui medroso e não mexi um músculo p'ra ajudar umas colegas minhas do fundamental. — ignorou o comentário anterior da "amiga" — Se eu já odiava a mim mesmo, odiei ainda mais. Só que não dá p'ra ser forte o tempo todo sozinho.
— É diferente, Red ... — falou, amarrando seu cabelo novamente com sua típica faixa, as mãos trêmulas — ... Eu não fiz nada na hora e peguei o caminho errado para consertar.
— Eu só entrei na UA por ver uma entrevista do Crinsom Riot, que disse p'ra deixar de se culpar por ter medo- ...
— É DIFERENTE, KIRISHIMA!! — gritou, obrigando-o a parar de falar — Eu não sou boa! Eu ... eu fiz muita besteira na vida! Me usaram de marionete por onze anos!
Voltou a chorar. Havia, com certeza, perdido a pessoa que mais se importava consigo.
— Eu não sei e não entendo o que você passou. — ouviu — Mas quero tentar e ajudar você. Não precisa contar tudo agora. Não dá pra cobrar isso de você, principalmente agora.
— Por que não me odeia!?
— Por que eu sei que não é má como diz. — sentiu ser rodeada por braços fortes e quentinhos — Pelo menos, não agora. E já disse que eu tô aqui pra te ajudar!
Retribuiu o abraço, sentindo-se um pouco melhor. Ficaram bons minutos ali:
— Red ... — afastou-se, enxugando os olhos — ... Quando eu estiver pronta, te conto tudo o que quiser com riqueza de detalhes. Agora, só atirando p'ra melhorar.
— ... "Atirar"?
— Eu desço em uns dez minutos. Seria interessante você soubesse um pouquinho. Se a gente pegar algum disfarce de policial, por exemplo ... você precisaria saber atirar p'ra enganar as pessoas.
— Você tem armas!?
Ela simplesmente foi até uma gaveta e abriu-a, revelando pistolas e – muita, muita mesmo – munição. Até algumas estrelinhas ninja tinha.
— Se o dom não ajuda, os que não são quadrados se viram. — falou, dando de ombros — Pensar fora da caixinha salva muita gente.
Pasmo, o ruivo desceu. Não conseguiu exatamente o que queria, mas já sabia um pouco mais sobre ela. Nunca imaginou-se usando uma arma antes, mas seria uma experiência interessante — e útil em alguns casos.
A garota apareceu até antes que o combinado com uma bolsa grande na mão. Pegaram alguma latinhas e garrafas da reciclagem para usarem de alvo e foram para um lado da escola que tinha um parque.
— Ok. Não vai matar ninguém, né?
— Você realmente acha que eu usava humanos como alvos!? Não! — jogou uma arma à ele — Presta atenção.
Primeiro de tudo, ensinou como se carregava. Mostrou como travava e destravava com segurança e o jeito certo de se segurar. Colocaram as garrafas e latas em lugares diferentes:
— Duvido acertar aquele sem olhar!
— Aquele? — apontou com a pistola e atirou, olhando nos olhos do outro com ironia. Ouviram a latinha estalar ao ser atingida pela bala — Aprendi com nove anos e pratico desde então.
— É mais fácil perguntar o que você não sabe fazer, né? — ironizou, tirando a trava com cuidado — Dê um exemplo!
— ... Andar de bicicleta.
Pela surpresa, errou feio, acertando uma árvore:
— Como é que é!?
— ... O meu "pai" disse que era perda de tempo. É irônico eu não saber andar de bicicleta e saber andar de moto ... — confessou, acertando uma garrafa dum galho em cheio — ... Mas é a vida.
— O que vocês tão fazendo?
Viraram, vendo uma alaranjada e um cinzento:
— Testsutetsu? Kendo? — levantou uma sobrancelha, curioso — O que vocês estão fazendo?
— Caminhando. — respondeu, simples — Isso são armas!?
— Vocês sabem usar!? — foi a vez dela perguntar, desconfiada.
— O Red não. Só que vamos p'ra Spi e ... digamos que, talvez, seria necessário lá. — depois de segundos — Eu tenho mais umas duas pistolas ... — olhou-os, vendo o quanto Tetsu ficou empolgado — ... Querem que eu ensine?
O trio achava que a morena poderia abrir uma escola ou curso sobre isso, pois ela era uma ótima professora.
— Tô quase desistindo ... — sussurrou a alaranjada, irritada, destravando após recarregar — Nenhuma até agora.
— Espera. — chegou mais perto — Primeiro de tudo, fecha um pouco essas pernas. Você vai atirar, não abrir espacate. — obedeceu — Estica um pouco mais os braços ... — manipulou com as mãos os da colega — ... Coloca a mão direita aqui e a esquerda aqui ... — ajeitou a pistola — ... Daí é só mirar e apertar o gatilho.
— A minha mira é horrível ...
— Eu miro mais ou menos assim. — aprontou a própria pistola, em posição — Semicerre os olhos, olhando um pouquinho para cima e direita. — acertou uma garrafa — Tenta algo assim.
Respirou fundo, prendendo a respiração, olhando na mesma direção que a arma apontava. Fechou levemente os olhos, concentrada ao máximo. Nenhum dos outros três ousava respirar – principalmente o cinzento. Ela expirou. Apertou o gatilho, liberando a bala com um estalo.
... Foi quase. Pegou a latinha de raspão. Chegou tão perto que a mesma caiu.
— Wow ... — Luisa assobiou, impressionada — Nem eu consegui isso em tão pouco tempo!
— Tetsu. — sussurrou, recebendo a atenção do mesmo — Para de babar, por favor!?
— 'Tá ficando tarde. Melhor a gente voltar para os dormitórios. — falou, travando e guardando sua pistola na mochila — Vocês foram bem, pessoal!
— Só por você ter ensinado. — a alaranjada travou a arma e entregou para a ... amiga? — Principalmente eu que tenho a pior das miras!
— Não fala assim, Kendo! — abraçou-a pelo ombro.
— Assim o Tetsu vai te encher de elogios, numa cena romântica super clichê ... — brincou o ruivo, recebendo um soco forte no ombro por parte do cinzento.
— Eu shippo. — comentou, e a outra desvencilhou-se de seu braço — Qual é! Vocês são o Izuocha da 2-B!
Foram novamente para o dormitório, se despedindo da dupla no meio do caminho – Eijiro fazendo mais alguns comentários para deixar Tetsutetsu constrangido. Os dois conversavam sobre como poderia ser o estágio e a experiência de poucos minutos atrás:
— (...) Nunca achei que faria algo do tipo.
— Eu sempre fiz coisas assim. — revelou, ajeitando a alça da bolsa — Sabe, para deixar os disfarces realistas.
— ... Você tem um disfarce aqui? — ela parou, uma expressão culpada — Ajira ... você tava fingindo esse tempo todo!?
— ... Não muito. — seus olhos marejaram — Eu não conseguia fingir ... com pessoas tão boas.
— Quer dizer que você tava mentindo p'ra mim!!?
— Kirishima, me escuta antes de falar ou pensar qualquer coisa! — pediu, ficando de frente para ele — Sim, eu menti muito ... mas, não, eu não vou mais fazer isso! Passei anos com uma ideologia errada e quero consertar tudo. — balançou a cabeça em negação — Só que eu não vou conseguir mudar sozinha.
— ... Ok. — suspirou, deixando um sorriso escapar — Eu vou confiar em você, mas não me esconda mais nada.
— Prometo, Red! — abraçou-o, feliz — Não vou te decepcionar!
Sabendo que aquela era uma reação verdadeira, retribuiu o abraço enquanto tentava não abrir um sorriso bobo. Agora, ele tinha uma missão. Faria com que a colega tivesse uma vida normal e sem ser perseguida por seus fantasmas do passado.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top