"Amizade" e confiança

     Era segunda-feira. Luisa havia voltado para dormir no dormitório domingo de noite, mas não esperava se encontrar com ele:

— Kayami!? — virou, encontrando um Kirishima com roupas casuais — Já voltou da visita?!

— No final, nem tinha porquê eu ir.

— Por quê!?

     Encarou-o, hesitante. Deveria contar? Nem eram tão próximos assim. Suspirou com pesar, encarando o chão:

— O meu namorado terminou comigo.

     Estava triste e feliz. Triste por sua crush estar triste ... feliz porquê o caminho estava livre.

Ah ... sinto muito.

— Tudo bem. — disse, mais para si do que para ele — Continuamos amigos. Estava difícil manter contato, mesmo. Ele é um cara bem ocupado, sabe?

— Mesmo assim ... términos são difíceis.

— Nem me diga ... — disse, genuinamente melancólica — Boa noite, Kirishima. Até amanhã.

— Até. — depois que ela sumiu no elevador — Eu tenho uma chance! — disse a si mesmo, animado.

     O dia passou como qualquer um para a maioria. Luisa percebeu que estava se apegando demais a todos. Não poderia criar laços afetivos para com eles de jeito nenhum!

     Ok, alguns não eram indignos — Izuku e Eijiro eram provas vivas daquilo –, porém, iriam odia-la se soubessem como realmente era.

     Na verdade, parou um pouco para pensar. Nunca havia matado ninguém ... e não achava que tinha coragem para fazer algo assim. Então ... por que se auto-nomeava "assassina"?

Ajudou os garotos com química como prometido. Mentiria se dissesse que não desejou enfiar uma de suas facas no pescoço de Kaminari nenhuma vez, mas foi até que tranquilo. Passou varios exercícios extras e mandou que copiassem um resumo — Yaoyorozu, rica e na boa intenção, comprou uma lousa de caneta para ajudar os amigos. Kirishima teve dificuldades mais pela beleza da professora do que qualquer outra coisa.

— Vocês nem conversaram ... — sussurrou Denki, vendo-a apagar o quadro.

— Me deixa quieto!

— Desculpa. Esqueci que você não tem uma queda pela Kayami ... tem o penhasco inteiro.

— ME DEIXA!

— O que foi? — a garota virou, fingindo confusão (escutou tudo).

— ... Eh ... o ... Kaminari estava ... me atrapalhando! Isso! Não consegui intender direito por causa disso. — falou, nem um pouco convincente.

— Que bonito, hein?! Pikachu! — disse, fingindo-se de ignorante — Eu te explico tudo de novo. Os dois estão liberados. Esperava mais de você, tomada humana. — disse, fechando um pouco os olhos.

— Até você me dá esses apelidos!? — disse, os olhos arregalados, e ela concordou — CARAMBA, MEU!

     Deixaram os dois sozinhos. O ruivo quase teve um infarto quando a garota sentou ao seu lado, o mínimo de distância entre seus corpos:

— Desde qual ponto o Pikachu te atrapalhou? — perguntou de maneira doce genuína.

— B-bem ... — não havia pensado nisso. Estava lascado — ... Aqui. — disse, apontando para uma matéria qualquer do resumo.

— Muito bem, Chapeuzinho Vermelho- ...

— Você adora dar apelidos, não é?

— Não gostou? Não te chamo mais disso.

— NÃO! — tapou a boca, vendo como a morena ria — Só achei meio estranho.

— Ok. Então, qual apelido legal eu poderia te dar ... — disse, segurando o queixo de maneira pensativa por alguns segundos — ... Que tal ... Red?

— Que criatividade ... — disse, sarcástico, fazendo com que ela soltasse uma das suas risadas (verdadeiras e) fofas — Ok. É até que legal. E você a Flexível?

Ela não sabe direito como foi a sua expressão, mas soube que dizia algo como "esse apelido não":

— ... Se eu te contar uma coisa ... promete não espalhar? — assentiu prontamente, sem hesitar — Meu dom não é flexibilidade.

— ... de brincadeira, não é?

— Queria estar ... mas não estou. — suspirou, encarando os papéis na mesa — Só tenho toda essa flexibilidade porquê eu treino muito desde muito pequena.

— Então ... qual o seu dom?

— Consigo "mexer" com a cabeça das pessoas. — olhou-o, triste — Consigo fazer a pessoas pensar de um jeito sobre algo ou alguém ... ver se a pessoa está falando a verdade... e fazer alguém lembrar de algo que aconteceu no passado.

— Seja mais específica. — disse, curioso

— É mais fácil te mostrar. — disse, se aproximando, mas hesitou — Posso encostar na sua cabeça? Só funciona se pelo menos uma das minhas mãos estiver na cabeça da pessoa. — depois dum consentimento meio encabulado, enterrou suas mãos na cabeleira ruiva.

Foi então que lembrou de algo que pensou já haver superado. "As duas colegas em perigo e ele paralisado pelo medo. Não conseguia ajudá-las. Viu como Ashido resolvia tudo sem nem usar sua individualidade".

     Respirava com dificuldade, sentindo-se culpado novamente. Percebendo a reação negativa dele, parou com aquilo:

— ... Kayami ... por que você mentiu? — perguntou de um jeito que não demonstrava irritação ou ressentimento, mas preocupação.

— Por que o meu dom é inútil em batalha! — segurou a cabeça com a mão, chateada — Ser herói hoje em dia requer muito marketing e imagem. "Mexer com a cabeça das pessoas" ... além de ser uma coisa voltada à vilania, é inútil numa batalha. Mesmo que não fosse necessário tocar na cabeça ... seria difícil achar um modo de usar o meu poder para ajudar os outros. — disse, completamente deprimida.

— Quem disse!? — olhou-o, surpresa — Num resgate, poderia ser essencial! Imagina o estado da pessoa que você quer salvar? Talvez consiga aprimorar o seu dom e fazer com que transmita alguma emoção positiva, também.

— Por que ' me ajudando assim?

— ... Eh ... — coçou a nuca. Não queria revelar agora ... mas ela se abriu, então deveria fazer um esforço — Eu nunca gostei da minha dureza. Desde pequeno, achei muito sem-graça.

— Tem alguma coisa haver com essa sua cicatriz no olho direito? — disse, encostando no próprio olho

Ãhn ... não quero falar ... pelo menos, não ainda. — disse, corando ao lembrar de como a havia feito — Você vai me achar uma piada.

— ... Ok. — disse, gentil — Se quiser me contar depois ... sou toda ouvidos. Agora, química.

Reviram toda a matéria que o ruivo afirmou não ter entendido – mas que entendeu.

     Quando a morena foi dormir, percebeu o quanto havia realmente se aberto com o garoto. Havia falado sobre sua genuína frustração quanto ao dom. Não sabia que era apenas a primeira vez que Kirishima lhe arrancaria verdades.

     O festival esportivo do segundo ano estava se aproximando. Luisa mentiria se dissesse que aquele término de namoro não a havia deixado abalada. Descontava toda a sua raiva nos treinos.

     Kirishima estava feliz pela intimidade que ganharam em apenas uma semana de aula. Haviam combinado de treinar juntos na sexta-feira de tarde para se prepararem devidamente para o festival.

— Não é da minha conta, mas ... — disse, tentando esconder o vermelho de seu rosto — ... Por que você usa esse tipo de roupa pra treinar?

     A morena usava um top branco e um shorts roxo bem curto. Levava um agasalho preto amarrado na cintura:

— Fica mais fácil para me mexer e ajuda a me manter mais fresca. Confesso que não gosto muito. Um monte de gente fica me olhando e pensando besteira ... mas é mais prático. Se fosse treinar com qualquer outro ... ia usar outra coisa. Mas confio em você.

— Como assim? — questionou, quase em choque.

— Você não é nenhum tarado, nem um estranho ... eu te falei o segredo do meu dom e ninguém veio me perguntar nada sobre isso ... — o olhou, sorrindo — Você é diferente. Por isso, confio em você.

     Chegaram na academia da UA, guardaram suas coisas nos armários e foram começar a tortura – sim, tortura. Durante um tempo, cada um fazia exercícios separados (nas máquinas).

     Se ele dissesse que não se surpreendeu com a força e resistência que a amiga tinha, estaria mentindo. Jurava que até Bakugo bateria palmas se visse o que viu – com mais roupas, lógico. Estava se descobrindo um garoto um pouco ciumento – mas nem tanto; era só um desconforto saudável.

     Passaram a tarde inteira lá. A garota disse que iria continuar só mais um pouco, e ele foi para os dormitórios. Mal sabia ele que aquilo era apenas para fazê-lo não se preocupar consigo. Não sairia de lá tão cedo.

Os primeiros raios de Sol do sábado chegaram, acordado o ruivo. Pensou em tomar o café da manhã e correr para fazer a digestão, e foi o que fez. Mas um barulho na academia fez com que parasse e olhasse. Seus olhos quase saltaram para fora das orbes com o que viu. Kayami (Luisa) tentava levantar, trêmula, luvas de boxe nas mãos e tossia:

— O QUE PENSA QUE FAZENDO!?

— Trei- ... -nando ... — respondeu com dificuldades, pondo-se de pé e tentando bater no saco de pancadas.

— Quando foi que você foi pro dormitório!? — se aproximou, preocupado.

— Eu ... — tossiu com força — ... Fiquei treinando ... a noite ... toda ...

     Seu rosto perdeu a cor quando a ficha finalmente caiu. A garota caiu de cansaço ao tentar acertar o saco de novo.

— Vou te levar pra Recovery Girl AGORA! — disse enrolando o corpo dela numa toalha e pegando-a no colo sem problemas.

     Correu para a enfermaria. Ela foi atendida prontamente pela senhora, perguntando o que aconteceu. Aquilo foi esforço demais para seu corpo. Se perguntava como ela não havia desmaiado antes do Sol nascer.

     "Isso é o que eu chamo de treino pesado ..." pensou, vendo como a morena era linda enquanto dormia feito uma pedra (que ironia, não?).

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