The Joker
Oiii...
Só para esclarecer alguns Spoilers, essa fic acontece logo após Yoonmin ( Confissões) .
Espero que gostem 😘
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V tinha acordado de mais um de seus pesadelos, suas costas suadas, ensopando o lençol limpo da cama de RM. Ele se desgrudou do mais velho que relaxou na própria cama, conseguido finalmente espaço para dormir. Ninguém nunca reclamou do jeito que V dormia, agarrado feito carrapato em quem estivesse ao lado, mas ele sabia que no fundo, todo mundo que dormia com ele, acordaria com uma puta dor nas costas.
V sentou na cama tirando o roupão com que RM o tinha vestido, depois de encontrá-lo sentado no box do chuveiro em um estado de torpor lastimável .
Ele se sentia tão sujo, mesmo depois de passar quase uma hora embaixo da água escaldante ontem a noite.
V podia ver o sol dando sinal de vida, pela iluminação da sacada. Ele olhou para o banheiro, pensando se aquilo era realmente a solução.
…
RM tinha acordado com uma sensação de déjà vu, ao ouvir o barulho do chuveiro ligado. Ele sentou de abrupto na cama, encarando a porta do banheiro semi aberta, a luz amarelada saindo pela fresta, deduziu que V já estava no banheiro tinha um tempo.
RM se trocou pesaroso por não ter tempo de tomar banho, foi até o quarto do Jimin, que ficava ao lado, para lavar o rosto.
Ele mandava um e-mail longo e incrivelmente vago para HIT enquanto entrava na cozinha, seu braço encostou numa decoração estranha que Jin tinha comprado quando foram para França, o objeto de cor duvidosa se espatifou no chão fazendo RM suspirar desanimado.
Jin já devia estar gritando há meia hora, quando o celular apitou com a resposta de HIT, fazendo RM ignorá-lo, se levantando da mesa distraído.
- Vai buscar o Tae? - Jungkook perguntou preocupado.
RM confirmou com a cabeça.
- Não sei porquê você deixa ele dormir até tarde, quando todos nós temos que acordar cedo para não se atrasar. - Yoongi resmungou, irritado como sempre.
- Não seja ridículo, você mal se mantém acordado durante o resto do dia, não fala mal de Tae se não sabe do que tá falando. - Jimin respondeu, por incrível que pareça, de forma grossa e diretamente para Yoongi.
Os dois ultimamente não se falavam mais que o necessário, então o fato disso finalmente acontecer fez todos travarem em suas posições. Até RM parou de digitar, olhando confuso para cima.
Jimin e Suga pareciam numa guerra silenciosa enquanto o resto assistia com preocupação.
JHope finalmente fez alguma piada qualquer, descongelando o clima e colocando todos em movimentação mais uma vez. RM o agradeceu com o olhar.
- Aqui, entrega isso para V por mim? - Jimin falou, colocando um copo térmico de café com cheiro de canela nas mãos de RM, depois que todos já tinham saído.
…
V estava com o corpo inteiramente vermelho, de tanto se esfregar com a bucha de banho, ele ficou nessa por mais de uma hora e a forma em que sua pele pinicava agora, o deixava mais tranquilo. Ele vestiu uma blusa branca, com a manga fechando suas mãos como luva, deixando só os dedos de fora, sua jaqueta velha jeans da Gucci estava na cadeira ao lado do espelho onde ele se maquiava.
V sorriu, através do espelho, para RM encostado no batente da porta atrás dele.
O que ele mais se entretia, quando RM o rodeava todo preocupado daquela maneira, era ver o gênio se debatendo para tentar entender como sua mente funcionava. V era uma pessoa complicada de fato, mas não tanto. O fato dele ter aprendido a esconder o que sentia, incomodava RM, que sempre conseguiu ler as pessoas através de suas feições e falas, e V adorava ser a exceção da vez.
- Jimin mandou te entregar isso. - RM falou levantando o copo térmico com café.
- Ele é um anjo na minha vida. - V falou animado vestindo a jaqueta jeans e pegando o copo da mão de RM.
…
Eles já estavam ensaiando os passos de dança da nova música há um tempo. V adorava dançar, era um bom passatempo, mas quando Jungkook resolvia usar aquele moletom marcando a bunda e provavelmente sem nenhuma cueca por baixo, a coisa desandava. Ele mal conseguia dar um passo para o lado, vidrado no mais novo, que dançava com maestria e conseguia encará-lo ao mesmo tempo. Tinha dia que V odiava essa perfeição de Maknae acoplada no mais novo.
- V , presta atenção aqui na minha contagem.
V sorriu com seu sorriso quadrado meigo, pedindo desculpas que foram aceitas de imediato pelo orientador.
O coreógrafo fez os passo mais uma vez, fazendo V repetir sozinho para depois voltar a atenção para o restante do grupo que o olhava com um sorriso mal disfarçado e um olhar de “se fudeu otário”.
V foi o último a entrar no banho, seu corpo ainda estava vermelho dos arranhões auto infligido na sua última passagem por ali. O espaço era largo. V diminuiu o volume de água para que a temperatura aumentasse para quase fervente. Sua testa encostada no azulejo gelado, as costas queimando com jato de água caindo em cascata. Sua mente era leve em momentos como aquele, nada mais importava fora dali.
Ele notou JHope e Jungkook sentados no chão, cochichando entre eles e se aproximou cantando um Rap, com passos desengonçados e o celular quase no último volume na altura do rosto.
Jungkook continuou o Rap em perfeita harmonia, acompanhado do Beatbox de JHope. V sentou ao lado deles rindo da habilidade improvisada dos dois.
Jimin apareceu na porta do salão, com um sorriso largo no rosto e se jogou no nosso meio, deitando com a bunda enorme pra cima.
- Me dêem carinho. - ele falava, enquanto se remexia feito minhoca no meio da roda.
Todos olharam curiosos, entre si e como se conectados por alguma força do mal, começaram deferir tapas em Jimin que tentava se rastejar para fora dali o mais rápido possível.
- Homem abatido, ajudem, homem abatido. - Jimin gritava se debatendo no chão, enquanto procurava uma saída em sua fuga desesperada.
- Taehyung. - RM o chamou da porta.
V olhou curioso com tom da voz, mas se levantou indo até RM sem pensar muito no assunto.
- Vem comigo. RM segurou as mãos de V atravessando o corredor da empresa lentamente.
V sorriu, indo obediente atrás, ele sentia o mais velho apertar e soltar sua mão por tempos intermitentes e percebeu que algo estava errado.
RM parou de frente para o escritório de HIT, olhando a porta em confusão, antes de virar para V.
- Eu te amo e só quero seu bem. - RM falou soltando as mãos de V para apertar a sua própria, uma contra a outra, em busca de algum conforto.
- Então não estou preocupado. - V respondeu sem nenhuma expressão no rosto.
RM concordou com a cabeça voltando a se virar para abrir a porta.
O problema da mente de RM, que V esqueceu de mencionar, era que às vezes, ela voltava em forma de pedra no sapato.
V entrou na sala, já imaginando encontrar HIT, que realmente estava sentado na mesa grande usada para reuniões, porém com mais dois outros engravatados que V não reconhecia.
- Namjoon, você pode ir agora. - Hit falou para RM que estava parado na porta com um olhar preocupado.
- Vocês se importam se ele ficar? Eu me sentiria mais seguro. - V falou sorrindo quadrado para HIT, enquanto sentava de forma tímida em frente a eles.
Os três sorriram carinhosamente para V concordando com o garoto.
RM quase bufou com a habilidade de manipulação de V, mas encostou na porta e ficou ali, parado com o olhar sério para a reunião que ele mesmo tinha organizado pelas costas do irmão.
- Em primeiro lugar Taehyung, não fique bravo com Namjoon, ele só quer o seu bem. - HIT falou, olhando afetuoso para V.
V olhou para RM com o olhar pesaroso baixando a cabeça em negação, inclinou a cadeira, como se fosse contar um segredo, o ombros eretos passando um ar de seriedade.
- "Trabalhei a vida toda. Não me arrependo de cuidar da família. Porém tenho uma fraqueza sentimental pelos meus filhos como pode ver. Eu os estraguei, eles falam quando deveriam ouvir". - V se recostou rindo com seu sorriso quadrado, assim que HIT começou a gargalhar com a frase tirada do poderoso chefão, ensaiada maravilhosamente bem para sair quase idêntica na sua interpretação.
HIT se ajeitou na cadeira tentando imitar a performance de V, alisando um bigode imaginário, enquanto acariciava um gato, também imaginário, em suas pernas cruzadas.
- "As mulheres e as crianças podem ser descuidadas. Mas não os homens".- HIT falou, dando seu melhor Don Corleone, que ainda sim, não chegava aos pés do de V.
V bufou com o comentário machista, mas cruzou as pernas em cima da cadeira e relaxou as mãos nas canelas, sorrindo para o seu chefe, que parecia bem mais relaxado e sorridente agora.
RM tossiu da porta, olhando para HIT, como quem diz para parar com a brincadeira e começar logo com isso.
HIT parou com a risada, passando a analisar a posição infantil e os olhos curiosos de V, ele achava o garoto adorável.
- Você é um ótimo ator V. - HIT falou, sem perceber que usava o Stage name para falar com V de forma informal.
- Não tão bom quanto o Senhor. - V falou vendo o seu chefe abanar o ar, tímido.
- Bom, não quero te fazer perder muito tempo aqui. - Ele olhou sério para RM que retesou em posição de bom soldado. - Namjoon acha que você não anda muito bem emocionalmente e não queremos nenhum problema na continuidade da tour love yourself , que farão daqui umas semanas.
V concordou pacientemente, olhando com a expressão perdida para os engravatados ao lado, que em contrapartida sorriam carinhosos, tentando acalmar o encantador garoto à sua frente. HIT notou a curiosidade de V, quase batendo com as mãos na cabeça por ter esquecido de apresentá-los a ele.
- Esses jovens ao meu lado, estão aqui para tirar suas dúvidas. Esse é Chin-Hwa, seu advogado pessoal contratado pela empresa. HIT apontou para o homem, não tão jovem a sua esquerda.
- E esse é Chung-Hee responsável pela sua performance e publicidade.
V sorriu, inclinando respeitosamente para ambos.
- E aqui tem um contrato emitido pela empresa, falando sobre o problema atual e te encaminhando para aconselhamento psicológico uma vez por semana, durante três meses, salvo os dias em que a tour se estender para outros países.
V concordou mordendo os lábios e levantando o pescoço para olhar o papel com curiosidade.
Todos estavam encantados com cada ação de V, parecendo hipnotizados a cada minuto que passava.
- Eu li o contrato, junto com seu advogado Tae. É simples e pede discrição sobre o assunto. - RM falou, tentando acalmar o irmão.
V olhou para RM e de volta para os três homens sorridentes à frente.
- É realmente necessário? - V perguntou.
- Namjoon comentou que tem tido dificuldade para dormir e alguns pesadelos. É provavelmente só stress, assim que o psicanalista nos confirmar que você está bem, recomendando algum ansiolítico ou coisa assim para que durma melhor, então você pode parar com as sessões. - HIT falou.
V concordou com a cabeça, pensativo. Então RM não tinha dedurado V afinal, só contou algo que se aproximava da verdade para tentar ajudá-lo.
V sorriu com orgulho da lealdade do irmão e inclinou para assinar o papel.
- Não vai ler antes ? - HIT perguntou preocupado.
- Eu posso passar a tarde te explicando cada parágrafo. - O advogado se ofereceu.
V olhou para RM, sorrindo em agradecimento.
- Não. Se Nam leu e disse que está ok, então está ok pra mim também. - V disse, assinando o papel com sua assinatura fofa e infantil.
Ele levantou cumprimentando todos com o sorriso largo.
- Taehyung, eu prometo que isso vai acabar antes mesmo que note ter começado e ninguém saberá sobre o assunto. - HIT parecia mais preocupado que o próprio V, que concordou se virando para sair da sala.
- Chin-Hwa, Chung-Hee, Don Corleone. - V falou se despedindo de cada um.
HIT quase caiu da cadeira de tanto rir, olhando admirado para o garoto que saiu seguido de RM pela porta.
V perdeu o sorriso assim que cruzou a porta e começou a andar às pressas pelo corredor extenso.
Sim! Ele estava puto, principalmente com RM por obrigá-lo a ser analisado, a última coisa que ele precisava agora, era de mais desconhecidos tentando entrar na sua mente para bisbilhotar.
- Tae por favor, não fique bravo. - RM disse, tentando acompanhar os passos longos de V.
V concordou com a cabeça enquanto entrava no elevador para o estacionamento.
- Eu só quero seu bem. - RM tentou mais uma vez.
V sorriu para o irmão na esperança de acalmá-lo, parece ter resolvido porque RM sorriu de volta.
O restante dos meninos estavam na Van esperando por eles, mas V notou uma SUV ao lado com seu segurança particular segurando a porta do carro aberta.
V olhou para RM com as sobrancelhas levantadas.
- Sua sessão começa hoje, porque temos só dois dias até o início das viagens. - RM olhou o relógio. - Graças às suas gracinhas na sua reunião, você só tem 20 minutos para chegar no centro comercial, que é onde fica sua consulta.
- Sua reunião. - V resmungou, caminhando relaxado em direção a SUV.
- O que disse?
V colocou os óculos escuros que tinha no bolso da sua calça larga e virou para RM mais uma vez.
- Disse sua reunião, não minha. Foi você quem a marcou pelas minhas costas com HIT afinal. - V entrou no carro com um sorriso assassino, vendo RM olhar para o chão se martirizando pelo seu último ato traidor.
V ficou com pena, mas sabia que a última coisa que RM faria era agir pelas suas costas de novo depois disso. Ele odiava aquela pessoa que a indústria o transformava às vezes, mas era seu irmão antes de líder. E graças ao falso rancor que V fingiu demonstrar, agora RM sabia disso também, V tinha certeza.
Ele amava o irmão e compreendia a pressão de ser o líder, mas realmente estava puto em ter que atravessar a cidade para ir ao psicanalista que provavelmente fofocaria boa parte da sua sessão para quem realmente o pagava, HIT.
- Você pode passar no Starbucks antes Yeol? - V pediu sorridente, encostado relaxado no banco de trás do carro.
- Estamos atrasados senhor. - O segurança respondeu com firmeza no banco da frente do carro, ao lado do motorista.
- Por favor, não vamos demorar. - V falou com seu olhar implorativo de criança.
O segurança não respondeu.
- Eu paro de puxar seu cabelo nas filas apertadas que fazemos para nos proteger da multidão nos aeroportos.
Nada.
- Eu paro de te chantagear com o lance da cueca rosa. - V falou, lembrando que espalhou para todo mundo que viu Yeol correndo de cueca rosa pela pista de corrida do prédio que eles moravam.
Ele nem entendia porque o segurança ficou tão bravo, quem corre de cueca? Tava na cara que era mentira.
Yeol não disse nada também.
- Eu paro de dar em cima da sua irmã toda vez que ela for te visitar.
Yeol olhou feio para V mostrando saber daquela informação pela primeira vez.
Ops!
- Eu paro de falar?!
- Por favor, vire aqui à esquerda. - O segurança pediu cançado para o motorista, fazendo V se recostar no banco com um sorriso vencedor no rosto.
V tinha feito questão de pegar a fila pessoalmente do Starbucks, ele achava ridículo K-Ídols que obrigavam seus funcionários a fazer esse tipo de coisa, também tinha o fato de que Yeol provavelmente falaria “vai você não sou obrigado, tô aqui para fazer a segurança, não pra te mimar”, mas V ainda gostava de pensar que era uma boa pessoa.
- Olá em que posso ajudar? - A atendente do balcão falou, mais parecendo uma máquina do que uma pessoa.
- Olá... Ninna. - V falou, lendo o crachá de identificação da garota.
A atendente levantou a cabeça com um olhar entediado, travando o rosto, com exceção da boca que caia em choque ao reconhecer V.
V passou seu pedido, com um sorriso no rosto, puxando o saco de Ninna vez ou outra enquanto alisava os cabelos de forma sexy estressando a fila enorme atrás dele que não tinha uma pessoa corajosa o suficiente para impedí-lo.
A garota entregou pessoalmente as sacolas com o pedido para viagem que o V tinha feito, pedindo um autógrafo e tirando algumas selfies que V mesmo tinha se oferecido para fazer.
Ele sorriu para seu celular bombando notificações logo após isso, enquanto tomava seu café com gelo creme e canela, sentado confortável no banco do carro, depois de ter entregado os cafés que comprou para o motorista e Yeol.
V entrou numa recepção de um escritório de aparência cara e sofisticada, andando relaxado, fingindo não se intimidar com a recepcionista de cara fechada, falando no telefone à sua frente.
- Desculpa incomodar, acho que estou um pouco atrasado. - V fez um bico para a recepcionista que tentava olhar de forma intimidadora para o homem mais lindo que ela já viu na vida.
V sorriu, colocando um copo do Starbucks na frente da mulher.
- Eu trouxe Goods*. - ele falou sorrindo quadrado com a carinha de inocente.
A mulher olhou desconfiada do copo para V, parecendo amolecer um pouco sua decisão de não tratar diferente nenhum artista, cantor ou empresário famoso que entravam por aquelas portas diariamente.
- Eu sei que não devia te incomodar com essas coisas, mas meu segurança aqui é um inimigo da tecnologia. - Yeol escondeu seu iPhone SE que tinha nas mãos, olhando inexpressivo para a parede enquanto a recepcionista o analisava. - ele jurou que sabia o caminho, me pondo em cada buraco que eu tive que sair a procura de alguém que sabia o endereço pelas ruas. - V falou colocando a língua pra fora, fingindo cansaço.
A recepcionista sorriu de um jeito carinhoso.
- Você não tem celular? - ela perguntou ainda sorrindo com a fofura de V.
- O chefe mandou eu não trazer nada. -Ele encheu a boca de ar, fingindo estar bravo.
A recepcionista sorriu mais uma vez, o garoto parecia seu filho mais novo de treze anos.
- Vou ver o que consigo fazer. - ela sorriu, vendo V comemorar silencioso com as mãos dançantes pra cima.
Meia hora depois V estava dentro de uma sala gigante, com tapetes claros, várias prateleiras repletas de livros, uma mesa de alumínio moderna afastada do centro com alguns quadros de fotos com uma mulher, algumas crianças e um homem, que V deduziu ser seu psicanalista.
O cara era lindo pelas fotos, tinha os cabelos pretos lisos, o corpo musculoso, devia estar na faixa dos 35/36, tinha um óculos fino no rosto quadrado. Ele devia passar seriedade com as feições e o jeito sério de se vestir, mas V achava que estava mais para sexy ao invés disso.
Ele admirava o céu claro através da janela larga, as nuvens branca feito algodão, pássaro rodeando o completo nada em busca de orientação através do vento que soprava forte em suas pequenas e frágeis asas. Às vezes V achava Deus um tanto quanto cruel. Com tantos elementos como ferro, aço, diamante na Terra. Por que criar asas tão orgânicas em seres que passam a vida atravessando continentes para procriar ou apenas tentar sobreviver a toda aquela imensidão feroz que era o mundo que os rodeavam?
- Desculpa o atraso, Sook disse que você precisou chegar mais tarde devido uma emergência, eu já estava a meio caminho do restaurante para almoçar.
V se virou para olhar o homem afobado entrando pela sala para cumprimentá-lo.
Ele tinha visto que ele não era asiático, mas não tinha notado os traços fortes de espanhol que ele carregava no rosto.
- Não queria atrapalhar. - V falou tocando nas mãos do psicanalista.
O cara era realmente muito bonito, tinha um sotaque provavelmente argentino e um físico impecável.
- Não atrapalha. Meu nome é Robert aliás, mas pode me chamar de Rob.
- V.
Rob concordou se sentando numa poltrona em frente à um divã, pegou um caderno e uma caneta. Ele não pediu para V sentar na sua frente, apesar de ser uma ação óbvia perante sua postura, porém não partilhava da mente coletiva da maioria das pessoas, então continuou com o corpo encostado no batente da janela, olhando do céu para o psicanalista em tempos espaçados.
- Você é bem famoso, principalmente além das fronteiras. - O psicanalista girou a poltrona, colocando as mãos nos óculos para encaixá-lo melhor no rosto.
V só meneou a cabeça em concordância.
- Minha filha mais velha te adora. - ele disse olhando para o porta retrato que V analisava antes dele chegar.
- Posso te dar um autógrafo mais tarde e você entrega pra ela. - V falou perdido na imagem de um avião que rasgava seu céu perfeito, o manchando com uma fumaça branca e uma faixa esvoaçante carregada com alguma propaganda aleatória.
- Isso não é importante agora. Por que não me fala de você?
V deu de ombros passando a encarar Rob.
Robert sorriu para V anotando alguma coisa no caderno logo em seguida.
- Na minha ficha de admissão diz que você tem problemas para dormir?!
V concordou ainda silencioso, olhando agora para a prateleira cheia de livros atrás de Rob.
- Já passei por isso antes. É bem chato. - Rob falou ganhando a atenção de V.
- Já passou? - V perguntou com os olhos vidrados em Robert, a boca aberta em curiosidade.
Rob concordou sorrindo pequeno para V e passou a língua nos lábios, distraído com o rosto de V, mas logo voltou a escrever sua análise no papel.
V não saberia dizer se podia confiar ou não em Robert.
- Eu tenho pesadelos também. - V encostou o rosto no ombro fazendo a boca formar um bico fofo sem querer.
Robert olhou para cima admirando com suas habilidades de se associar com os problemas do rapaz para relaxá-lo a ponto de o fazer se abrir.
- Que tipo de pesadelos? - Robert perguntou ainda escrevendo no papel.
V deu de ombros, o gesto passou desapercebido por Rob que escrevia.
- Eu sonho geralmente com uma pessoa mais velha. Um homem, mas não consigo ver seu rosto, eu só sei que ele é mais velho e é um homem.
Robert concordou escrevendo mais alguma coisa.
- Você ainda conversa com seu pai? - Rob olhou para V, esperando a resposta.
V se arrepiou enchendo os olhos de lágrimas.
- Meu pai não é presente, nem sei a última vez que eu o vi, às vezes eu tento lembrar, mas não consigo. Só… - V olhou para Rob com lágrimas caindo do seu rosto, a boca tremendo de leve. - Não consigo lembrar. - ele disse limpando o rosto com as costas da mão enfiada na jaqueta.
- Você acha que é por isso que sonha com esse homem que não pode ver o rosto?
V negou com a cabeça soltando o ar levemente pela boca, sem derramar mais lágrimas.
- Acho que não. Meus sonhos tem um teor mais…
V olhou inseguro ao redor da sala, puxando a mangas da camisa pra baixo quase a esgarçando.
- V, você prefere que eu te chame de V, certo? - Rob perguntou continuando após a confirmação do garoto com a cabeça. - Pois bem. V, você pode confiar em mim. Nada do que falar vai sair dessa sala, tudo que eu passar para a empresa, pela qual me contratou para analisá-lo, será se você tem condições de continuar trabalhando ou não, apenas isso.
- Sem detalhes? - V perguntou enxugando o nariz.
- Sem detalhes. - Rob sorriu voltando a atenção para o caderno.
- Me fale mais sobre esse homem.
V suspirou pesado a ponto de Rob ouvir.
- Já tive vários sonhos, antes quando eu estava no controle eu não me sentia mal. Eu acho…
V andou desconfiado, com passos lentos, mas sentou no divã preto com um tecido parecido camurça em frente à Rob.
- Eu acho que meio que gostava. - V falou um pouco tímido, colocando uma almofada em seu colo para abraçar.
Rob escreveu um pouco mais sobre os atos infantis de V no caderno.
- Porque não começamos da parte que não gosta? - Rob perguntou sem olhar para V, ajeitando os óculos em intervalos enquanto escrevia.
- Eu não gosto quando ele me deita no seu colo para me dar palmadas. - V falou com um dialeto que só criança usa na Coréia.
Rob escorregou com a caneta no papel, fazendo um risco desgovernado no meio de sua resenha.
Ele tossiu um pouco sem jeito por ter sido pego de surpresa, mas conseguiu disfarçar a tempo. A mente do garoto mal parecia na mesma sala que ele. Rob encostou a caneta no papel, os deixando na mesa ao lado, já que não podia mais confiar em suas mãos.
- Ele te bate? - Rob perguntou travando os punhos na direção do joelho.
V concordou distraído olhando para o chão. Os olhos brilhando, lágrimas secas no rosto, a boca vermelha fina, fechada formando traços delicados.
- Às vezes ele me obriga a usar calcinhas rendadas, enquanto bate no meu bumbum até ficar vermelho. - V falou abrindo a boca em curiosidade para Rob.
- E essas são as parte ruins? - Robert perguntou travando o maxilar em seguida.
Rob se sentiu mal por achar que o garoto com seu olhar angustiado e suas mãos levemente trêmulas, se parecia com uma peça de um quadro impressionista criando vida e saindo direto de um pergaminho preso na parede de uma sala de dentro do Louvre*.
- Eu gostava às vezes. - V dá de ombros mais uma vez.
- Gostava ou achava que tinha que gostar? - Rob perguntou, esquecendo por um segundo que falavam de um sonho.
- É só um sonho Robert, fica difícil ter certeza. - V o lembrou.
Rob se arrepiou com seu nome saindo pela boca do garoto, sem entender porque.
- Certo. Certo. - Rob respondeu distraído.
V pareceu querer falar algo, mas travou as palavras com a boca prensada em uma linha fina.
- Pode falar comigo. - Rob falou, notando a insegurança do rapaz.
- Às partes em que eu gosto, mas tenho medo de gostar eram… - V travou soltando o ar pesadamente.
- Eram? - Rob insistiu.
- Quando eu o forçava a me chupar. - V sussurrou um pouco tímido.
Rob travou na cadeira tentando manter a postura, cruzando as pernas para disfarçar uma confusa ereção.
- Você gostava disso? - Rob perguntou com a voz um pouco rouca.
V concordou um pouco tímido.
- V. Não precisa ficar sem jeito, pode conversar comigo. - Rob pediu sem saber mais onde terminava sua análise clínica e onde começava sua curiosidade pela mente do garoto.
- Às vezes quando ele gozava na minha boca eu acordava e tinha feito aquilo também. - V respondeu apertando a almofada no colo.
Rob suspirou tirando o óculos dos olhos para massagear o ponto de estresse no nariz.
- E você não consegue dormir depois disso? - Rob perguntou, tentando sair daquele assunto que pela primeira vez o perturbava.
Milhões de pessoas já entraram naquela sala com algum problema pervertido, ou distúrbio sexual para ser resolvido. Robert nunca se incomodou antes. O problema era que V parecia tão inocente, doce, gentil, mesmo com a voz grave e os olhos brilhantes. Era quase um crime ver um garoto tão lindo se martirizar por uma coisa que todo mundo já passou um dia.
- Eu não consigo dormir, porque fico assim. - V tirou a almofada das pernas mostrando sua ereção demarcada mesmo através da calça larga de tecido fino.
Rob tremeu as mãos, notando a ereção, confuso com o sentimento, afinal ele nunca ficou excitado com um homem antes e não esquecia do fato que era muito bem casado e feliz em seu relacionamento atual, então por que ver aquilo o excitava mais do que pensou um dia ser possível se excitar por alguém?
- Você não se masturba depois do sonho? - Rob perguntou tentando lembrar que estava ali para analisar. Mesmo incomodado ele tinha que analisar. Era seu trabalho afinal.
Ele afrouxou o nó da gravata, pegou o controle do ar condicionado na mesa ao lado para diminuir a temperatura do cômodo.
- Como assim? - V pergunta enrugando a testa com o olhar perdido no tapete.
- Você já se masturbou certo? - Rob perguntou confuso.
V deu de ombros.
- Às vezes, quero dizer, eu cresci com meus irmãos, saí de casa cedo depois que fui chamado para entrar no grupo de Kpop, moramos juntos até hoje. Não falamos muito disso, mal tenho tempo para respirar, não saio, nem nunca tive namorada ou namorado. Acho que não vejo um amigo antigo há uns três anos já. Às vezes quando vejo hentai ou coisa assim eu faço, mas não é a mesma coisa que nos sonhos.
V ficou vermelho olhando para Rob pela primeira vez.
- Por que prefere as ejaculações feitas através dos sonhos? - Rob perguntou confuso com o olhar brilhante de V o encarando.
Ele pensou se V estava o enganando de alguma forma, mentindo sobre esses sonhos e estava pronto para anotar a observação, mas suas mãos travaram no ar quando o garoto começou a chorar, olhando nos olhos de Rob em um grito por ajuda silencioso.
Rob largou de lado todos seus anos de experiência em ética profissional durante análise comportamental que aprendeu em incontáveis aulas de pós doutorado e se levantou sentando ao lado de V para encostar as mãos no joelho do garoto na esperança de acalmá-lo.
- V você pode botar tudo pra fora, não precisa sofrer com isso, é algo completamente normal. Talvez tenha vindo tarde por sua vida ter sofrido alterações com o mundo artístico tomando todo seu tempo, mas é completamente normal.
V olhou confuso para Rob sentado ao seu lado.
- Então não tem problemas toda vez que eu olhar para alguém mais velho, eu ficar assim? - V perguntou tirando a almofada das pernas novamente, tocando na sua ereção por cima do tecido, parecendo ainda um pouco confuso.
Rob enrugou a testa em sinal de pura consternação.
- Você está dizendo que não ficou assim por me falar dos sonhos? - Rob perguntou com a voz quase rouca.
V negou com a cabeça.
- Eu to assim porque falei dos sonhos pra você, já contei ele antes para meu irmão, não aconteceu isso. - V olhou tímido para Rob alisando um pouco a ereção com as mãos delicadas.
- Eu acho que você precisa ir. - Rob falou se levantando ainda um pouco perdido com os pensamentos que tinha na cabeça.
- Já está acabando o horário e você, vo..c... você…precisa ir. - As últimas palavras saíram sem som na medida em que V levantava de abrupto, com o rosto rosado e as mãos trêmulas.
- Eu sinto tanto, senhor eu sinto muito. - V olhou perdido em volta. - Posso usar seu banheiro antes? - ele apontou tímido para a porta atrás de Rob, deduzindo ser lá o banheiro.
- Acho que escolhi a calça errada hoje. - ele falou sorrindo sem graça com uma enorme ereção apontando no tecido fino.
Rob abriu ainda mais os olhos, um pouco em choque, tossindo para disfarçar
- Claro, claro. Fique à vontade. - ele apontou para porta ainda sem jeito pelo que V deu a entender que ia fazer em seu banheiro, seu coração batia acelerado, enquanto suas mãos vacilavam apoiadas na cintura.
V entrou no banheiro suspirando um pouco enquanto alisava os cabelos com as mãos. Ele ligou a torneira, jogando água no rosto, feliz por ter escolhido a maquiagem a prova d'água sem nenhum motivo específico.
A porta abriu bruscamente fazendo ele virar confuso na direção.
Robert entrou com tudo, trancando a porta atrás deles.
- Eu te ajudo, se você prometer não contar nada a ninguém.
Os olhos de V brilharam em resposta.
- Nada sai de dentro dessas paredes, não é Rob? - V perguntou aos sussurros com sua voz rouca.
Rob rodou um pouco em torno do próprio corpo, antes de evidentemente mandar um foda-se mental e ajoelhar na frente de V.
Ele abaixou a calça de V, colocando o pau de V na boca para chupá-lo de forma um pouco desesperada.
V notou de cara que Rob nunca tinha feito aquilo antes. Ele tocou gentilmente nos cabelos do psicanalista consertando os movimentos de Rob conforme o forçava a investir ou afastar, com o tempo Rob pegou o jeito deixando V relaxar com uma das mãos apoiadas na pia para se equilibrar.
Ele fechou os olhos sentindo muito prazer com os lábios inexperientes e confusos de Rob.
V abusou um pouco, forçando Rob ir mais fundo conforme o empurrava vez ou outra com a mão atrás se sua cabeça o direcionando.
V não queria que ele engolisse todo seu pau, até porque era bem grande, o que V gostava era o quanto Rob se engasgava tentando.
Ele gozou na boca de Rob que engoliu toda a porra de V ainda um pouco indeciso do que fazer.
- V se afastou, arrumando seu pau dentro da calça, para colocar as mãos na cabeça transtornado com o que tinha acabado de acontecer.
- Senhor, eu sinto muito. - V falou destravando a porta e a abrindo bruscamente para sair do escritório quase correndo, deixando o psicanalista ajoelhado em seu próprio banheiro, com uma cara confusa para chão, a ponta dos dedos nos lábios inchados e o gosto de V na boca.
V sorriu para a recepcionista saindo às pressas com Yeol na sua cola.
...
Eles estavam dentro daquele trânsito ensurdecedor, trinta minutos depois. V olhava o céu escurecer com nuvens cinzas e carregadas. Ele sempre achou estranho essa transição de dia lindo para dia chuvoso, seu celular vibrou no bolso.
“Filho?”
“Papa, que saudade estava falando de você quase agora”. - V falou sorrindo torto com o telefone em seu ouvido, sua voz grossa estava calma e baixa.
“Espero que bem” - Seu pai falou alegre. “Sei que deve estar ocupado, estou ligando só para confirmar se vem mesmo visitar eu e sua mãe semana que vem” - seu pai falou amoroso.
“Claro que vou. A propósito, amei o relógio”. - V olhou para o relógio de ouro em seu punho que havia ganhado do pai por uma das premiações que eles venceram.
“Você sempre será meu orgulho Taehyung” - Seu pai falou parecendo querer chorar.
“Eu te amo pai” - V falou distraído, notando as primeiras gotas de chuva bater contra a janela do vidro filmado de seu carro.
“também te amo filho”
V desligou o telefone olhando desanimado para o trânsito à frente, ele odiava toda aquela movimentação, apesar de viver bem no meio dela.
Pensou em Rob por um instante, ele duvidava que o psicanalista iria fofocar algo para HIT que não fosse coisa boa agora. Ele sabia que sua participação na próxima tour era garantida antes mesmo do papel que o psicanalista deveria entregar para HIT, dizer o mesmo. Ele sorriu torto para um ponto molhado de gozo na sua calça nova.
- Yeol vamos passar na Gucci antes de voltar para o estúdio. - V falou para o segurança que negava veementemente com a cabeça.
- Estamos muito atrasados para a reunião das 16h, sua consulta não deveria ter demorado esse tanto.
- Ah! Vamos lá! Prometo que eu paro de falar para todo mundo que você tá ficando careca.
O segurança suspirou desanimado indicando uma nova direção para o motorista que sorria negando com a cabeça toda vez que olhava o sorriso travesso de V pelo retrovisor.
E era isso, mais um dia na vida agitada de V.
As pessoas o tratavam feito mercadoria, desde que ele pôs seus delicados pés no mundo.
Todos sempre pareciam querer algo dele e isso o emputecia em um nível catastrófico.
Um dia, entre suas horas de choros e lamentações durante as caminhadas que V fazia com sua falecida avó pelas pontes extensas de Daegu, ela disse que se ele se sentia como uma mercadoria então que se vendesse mais caro no mercado.
E foi isso que V fez. Todos sempre pareciam querer algo dele, então tudo que ele fazia era cobrar caro enquanto cumpria o desejo do mundo.
Ele era o garoto perfeito, todos dentro do seu grupo eram. Jimin era o garoto doce de coração gentil, RM o líder trabalhador, JHope a esperança e a alegria do mundo, Jin a cola do grupo, o amoroso e cuidadoso com seus irmãos, Suga o obscuro e atraente poeta, Jungkook a eterna criança sexy e habilidosa. Era engraçado ninguém nunca saber definir muito bem V, uns diziam o infantil e feliz, outros contradiziam e diziam que ele era triste e oprimido disfarçando seus pensamentos com brincadeiras estranhas, já teve até gente que falava que ele era um alienígena, alguém de outro mundo fazendo coisas que ninguém entendia.
O fato era que ninguém sabia definir V, ninguém conseguia lê-lo, nem o coitado do Robert foi capaz hoje.
O que ninguém entendia era que V não tinha identidade. V era exatamente o que você quisesse que ele fosse.
Se a vida fosse comparada com um jogo de cartas, onde cada uma delas tem suas virtudes e defeitos para serem utilizadas em momentos específicos na intenção de vencer uma jogada, então V te diria que você o identificaria como aquele que parece com a porra do coringa.
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