Special Rafe pt. 01
Rafe saiu da aula sobre restaurações de arte contemporânea do século XX bufando irritado, seu pai já tinha ligado cinco vezes só naquela manhã, ligação que ele fez questão de desligar todas às vezes.
“ Ele só quer conversar com você filho”. - Jimin dizia pelo celular que Rafe tentava equilibrar com o ombro enquanto ajeitava as pastas de desenho e a mochila com o notebook nas mãos.
- Eu não tô dizendo que ele não pode conversar comigo pai, só manda ele parar de ligar o dia inteiro. Eu tenho coisas para fazer. - Rafe resmungou a última parte ao sair para fora do prédio antigo da Universidade de Camberwell enquanto tapava os olhos com a pasta por causa do sol.
“Você devia ter escolhido uma faculdade mais perto, pelo menos não ia ter seus pais te perturbando por estarem com saudades e terrivelmente preocupados com seu bem estar, mas o que eu sei ? Da próxima vez que você tiver uma crise emocional e precisar de ajuda, pede para a porra do tio V”.
Rafe suspirou desanimado ao ouvir a ligação interrompida. Seus pais ficaram curiosos quando ele decidiu estudar em Londres, mas a verdade é que o tio V disse que era onde ele precisava estar e que era para confiar nele, então apesar de Rafe não confiar em V como antes, ele o escutou. E lá estava ele, indo para o quarto semestre na Faculdade de artes na Camberwell College of Arts. - Você parece que engoliu um mosquito vivo. - Arthur disse enquanto assistia Rafe jogar suas coisa na mesa do refeitório externo da universidade.
- Você é nojento Art. - Rafe resmungou enquanto olhava com preguiça para o food truck no Jardim, há alguns metros deles.
- Você está com preguiça de andar até lá ou está tentando evitar o gostoso do atendente?
Rafe revirou os olhos, procurando o óculos escuros na mochila.
- O nome dele é Heitor e a gente já parou de sair.
- Desde quando? - Art perguntou indignado.
- Ontem?! - Rafe disse sem muita certeza disso.
Rafe sabia que não era o garoto mais recatado do mundo, ele saía com quem quisesse sair com ele, o que ninguém sabia é que ele era dominante em tudo sobre um relacionamento, principalmente quando começava e terminava. Rafe precisava de controle, se afastava sempre que alguém fazia qualquer pergunta sobre seu passado e nunca deixou alguém encostar as mãos nele quando tirava a roupa. Já que havia adotado a ideia de gravatas com seu tio V, apesar de sempre usar coisas como cinto de couro ou amarras de sisal.
- De qualquer forma, eu disse que acabou tudo entre a gente.
- Acabou o que ? Vocês só se encontravam para fazer sexo de qualquer forma, sem contar que essa deve ser, o que, quarta vez que você termina com ele?
Rafe riu dos comentários afiados de Art enquanto fingia não notar Heitor olhando na sua direção por mais tempo que o considerado normal.
- Não sei quantos corações você pretende quebrar antes de resolver seus problemas em relação a relacionamento, mas Heitor é um cara legal cara, você devia poupar um, pelo menos dessa vez.
Rafe levantou uma sobrancelha, o reflexo no óculos aviador espelhado impedia de semicerrar os olhos para o amigo, mas o sorriso no canto da boca dizia tudo.
- Tá apaixonado por ele ou algo assim? - Rafe perguntou divertido.
Rafe era muito bonito, tinha a lábia que aprendeu com V, tinha grana e toda uma bagagem de ser filho do casal mais comentado pelos tablóides do mundo inteiro. Então, sim! Ele tinha na cama quem ele quisesse e foi exatamente por isso que não fez questão de fazer nenhum amigo quando chegou em Londres. Não queria ser rodeado de pessoas que só estavam interessados no seu dinheiro ou no seu imã para homens e mulheres interessados em se divertirem às custas do seu sobrenome.
Claro que nem todos eram assim, mas era uma boa desculpa para se manter afastado.
Art era diferente, além de ser gay, ativo e não querer Rafe na cama, ainda era tão rico e rebelde quanto o mais novo e além disso ele conseguia ser um bom amigo e extremamente reservado, o que para Rafe era a única coisa que importava.
Art enrugou a testa, bagunçando o cabelo de Rafe para irritá-lo.
- Não tô interessado no seu bartender, só tô dizendo que você deveria tentar mudar seu comportamento, ficar sério com alguém pra variar.
- Tá me pedindo em namoro? Resolveu que quer dar essa bundinha empinada finalmente?
- Não enche Rafael.
- Então eu sou Rafael agora? - Rafe se fingiu de ofendido. - Nossa, devo ter pisado em algum calo aí.
- Não seja idiota, tô tentando ser legal.
- Tanto faz. - Rafe resmungou enquanto via Heitor atravessando o gramado bem aparado e indo na sua direção.
Merda!
- Eih estranho! Achei que não viria para aula hoje. - Heitor se abaixou para dar um selinho em Rafe, que virou o rosto bem a tempo dos lábios de Heitor encostar em sua bochecha.
Ele odiava que o chamassem de estranho. Não pelos motivos normais, mas porque seus pais se chamavam assim carinhosamente vez ou outra, ele os admirava quando era criança, a ponto de um dia querer um relacionamento como aquele, mas Heitor não era aquele tipo de relacionamento e ele ficava enjoado quando percebia que era o único que via o que eles tinham dessa forma.
- O..oi Rafe.
Rafe revirou os olhos, salvo de ser rude por causa dos óculos escuros. O garoto tremia na sua frente, ele achava fofo toda essa insegurança quando estavam na cama, mas fora dela era completamente diferente. Ele sempre admirou pessoas que sabiam o que queriam e Heitor não era uma delas.
- Trouxe pra você. - Heitor colocou um copo de café na frente de Rafe, sorrindo como o bom menino que era.
- Isso é ótimo H. Obrigado. - Rafe disse sorrindo minimamente na direção do garoto que tentava seu melhor para não desmaiar na frente dele.
Uma das únicas coisas que a obsessão de Rafe sobre V serviu foi para gerar ótimos quadros para seu portfólio de admissão na faculdade e a facilidade com a qual conseguia imitar o charme do seu tio de maneira que se misturasse com o seu próprio.
Rafe descobriu que se ele quisesse ter controle sobre sua vida, precisaria se manter no controle de tudo e isso incluía quem ele levava para cama também.
O mais novo encarou Heitor à espera do que ele tinha para dizer, mas não pareceu incentivo o suficiente.
- Algo que queira compartilhar? - Rafe perguntou desinteressado enquanto tomava o café feito exatamente do jeito que ele gostava.
Heitor olhou nervosamente para Art que fingiu não perceber que o garoto precisava de privacidade.
- E então? - Rafe jogou os cabelos para trás, deixando que eles caíssem em ondas sobre o rosto, mania adquirida do seu pai Jimin. Ele odiava, mas raramente percebia quando fazia.
- Eu… - Heitor engoliu em seco, passando a mão pelos pulsos marcados de roxo escuro por causa das algemas que Rafe tinha usado alguns dias atrás. - Queria te convidar para sair. - ele disse de uma única vez, parecendo sem ar no final.
Rafe o encarou por um tempo, passando os olhos pelo corpo do garoto inquieto na sua frente.
Deus! Ele era lindo.
Principalmente com aquele avental e as calças justas naquela bunda enorme. Talvez ele devesse pedir para o garoto usar aquele avental na cama um dia, só o avental.
Rafe balançou a cabeça ligeiramente, tirando os olhos do mais velho na tentativa de clarear a mente.
- Eu estou ocupado. - Foi sua resposta genial.
- Ainda não disse o dia. - Heitor fez um bico de chateação.
Rafe bufou, levando um chute de Art por baixo da mesa.
Ele sorriu largo na direção de Heitor, vendo os olhos do garoto brilharem esperançosos.
- Do que se trata? Você sabe que eu não sou de encontros, certo?
- Não, eu sei. Não é nada disso. - Heitor puxou o ar nervosamente. - Minha irmã vai dar um evento no Kua Aina e eu lembro que você vivia falando sobre as paredes com pinturas a óleo do lugar, achei que gostaria de ver pessoalmente, ou sei lá.
- Achei que você era pobre. - Art falou pela primeira vez, levando um chute de Rafe dessa vez.
- Não é porque minha família é rica que eu não vou correr atrás do meu próprio dinheiro. - Heitor disse irritado.
- Ah! Você é daqueles então.
- Aqueles? - Heitor estufou o peito irritado, mas parecia tremer ainda mais.
- O do tipo que finge conquistar tudo sem a ajuda da família, mas no primeiro sinal de problemas, corre direto para o colo de ouro da mamãe preocupada.
- Olha aqui, você não me conhe…
- Eu vou. - Rafe gritou parando a discussão entre os dois. - Eu vou, se você levar esse avental hoje a noite e me prometer que não vamos demorar no restaurante.
Heitor sorriu um pouco tímido enquanto olhava sem graça para Art.
- Que foi? Você sabe que eu moro no mesmo apartamento né?! Não é como se eu não ouvisse vocês a noite intei…
- Já chega Art. - Rafe disse realmente sério, fazendo Art levantar as mãos em rendição e fechar a boca em um bico irritado.
- Então, o que acha? - Rafe perguntou olhando para Heitor dessa vez.
- Eu não sei se… - Heitor se mexeu incomodado. - Não sei se me recuperei da outra noite ainda. - ele sussurrou tímido, arrancando uma risada engasgada em Art.
Rafe revirou os olhos irritado com o amigo.
- Eu cuido de você. - Rafe segurou uma das mãos trêmulas de Heitor e a acariciou.
O garoto parecia um filhotinho às vezes, principalmente quando sorria animadamente por tão pouco.
- Ok. - ele disse quase sem ar.
- Ótimo. Não esqueça o avental. - Rafe disse animado, tomando mais um gole de café enquanto assistia Heitor rebolar de volta para o trailer onde trabalhava.
- Você é um desgraçado, sabe disso certo?! - Art disse rindo alto.
Rafe deu de ombros, finalmente terminando seu café.
- Ele sabe exatamente o que eu quero dele, se ele me dá, é porque quer.
- Não é bem assim Rafe, você sabe muito bem que ele acha que você vai se apaixonar e mudar completamente por ele.
- Todos eles acham, mas não se muda por causa de alguém, eles deviam saber melhor. - Rafe pegou as coisas em cima da mesa para ir embora.
- Te vejo hoje a noite? - Rafe perguntou sem se importar muito.
- É, tanto faz, tenta tapar a boca dele dessa vez? Tenho prova amanhã e os gemidos do Heitor me distraem.
- Ta dizendo que se masturba no quarto ao lado pensando no cara que eu fodo? Cara, isso é nojento.
- Você fala como se importasse. Tá com ciúmes?
- Não. Ele é todo seu! - Rafe jogou a mochila num dos ombros. - Se ele quiser. - ele terminou com um sorriso idiota no rosto, fazendo Art bufar e jogar um canudo de refrigerante que ele vinha mastigando esse tempo todo, quase o acertando no rosto se ele não tivesse pegado no ar.
Rafe fez cara de nojo pegando a pasta da mesa.
- Só vai embora. Ah! E se pretende ir mesmo nesse tal evento, tenta comprar uma roupa decente. Uma que não seja dessas que você usa.
- Que tipo de roupa eu uso? - Rafe perguntou curioso e debochado.
- O do tipo “ sou rico, mas não me importo”.
Rafe revirou os olhos e saiu sem se despedir, depois de jogar de volta o canudo nojento na cara de Art, pensando se deveria mesmo comprar uma roupa para ir na porra do evento e se precisasse, que tipo de roupa seria essa?
“ É tipo um encontro?” - V perguntou do outro lado da linha.
A voz rouca de sono de V deixou um arrepio estranho nas costas de Rafe.
Sim! Ele já tinha superado sua obsessão pelo mais velho, mas não é como se fosse imune a ele.
- Não, já disse que não é um encontro, são só dois caras indo a um restaurante que eu estava louco para conhecer.
Silêncio.
- Ok. Não é um encontro então. - V disse calmo. - Por que está tão preocupado com o que vestir mesmo?
- Não estou preocupado, é só que o evento parece do tipo social demais para meus jeans e Vans.
V riu se divertindo com a falta de interesse em moda do sobrinho.
“Eih! Espera. Qual é o nome restaurante mesmo?”
- Kua Aina. Por que?
“ Puta que pariu” .
Rafe tirou o celular do ouvido enquanto seu tio gritava, depois ouviu Jungkook resmungar alguma coisa sobre ele sair do quarto que ele queria dormir, mas V parecia alheio a tudo.
“ Não faça nada. Vou mandar a roupa para o seu apartamento essa tarde”.
- Que? Eu posso comprar minha própria roupa sabe ?!
“ Só me escuta Rafael. Você não pode perder esse encontro por nada nesse mundo. Você vai amar o lugar”.
Rafe levantou uma sobrancelha, encarando a chuva que começou a cair do nada no centro da cidade.
Maldita Londres e seu clima instável!
- Eu já disse que não é um encontro.
“ Melhor ainda. Preciso desligar se quiser essa roupa pra hoje. Beijos. Ah! E Rafe, eu te amo”.
Rafe suspirou, desenhando círculos com o dedo na janela embaçada.
- Ok. Tchau! - Rafe desligou o telefone.
Não! Ele não conseguia dizer “Eu te amo” pra ninguém, todos na família sabiam disso, principalmente V, mas não é como se o mais velho se importasse. Ele diria até o dia em que Rafe fizesse o mesmo, mas estranhamente o mais novo não se sentia pressionado com o assunto, não percebia o quanto sua família realmente se importava com ele.
Seu celular voltou a tocar.
Yoongi.
Rafe xingou baixinho e atendeu a ligação. Não porque queria falar com o pai, mas ele ficaria ligando a noite toda se ele não atendesse.
- O que quer? - Rafe perguntou seco.
“ Saber se está bem”. - Yoongi falou sem parecer abalado com a grosseria do filho.
Poucas pessoas deixavam Rafe inseguro, seu pai era uma delas.
- Estou bem Pai. Estaria melhor se você parasse de me sufocar.
Silêncio.
Rafe não disse nada também, não daria o braço a torcer. Seu pai foi um idiota com ele e não era sempre que ele estava disposto a perdoar
Sim! Isso tudo aconteceu quando ele tinha 15 e agora ele já tinha 21, mas não é como se fosse fácil aceitar que seu pai tinha controle sobre sua vida, querendo ele aceitar ou não.
“ Filho. Volta pra casa”
Rafe soltou o ar dos pulmões, a irritação começando se formar sob o coração acelerado.
Era sempre assim com eles. Mesmo assunto, mesmas brigas.
- Já disse. Eu escolhi essa faculdade e é aqui que vou me formar.
“ Tem faculdades melhores em Seul e você não vai precisar ficar tão longe de nós assim”
- Minha distância é parcialmente opcional e não é como se você não tivesse feito o mesmo quando tinha minha idade.
“ Eu corri atrás dos meus sonhos porque queria ser alguém na vida, você está fazendo isso só para me provocar. Não é a mesma coisa Rafael”
Rafe sentiu o sangue ferver enquanto resistia socar o vidro à sua frente.
- Eu não me importo com o que pensa, agora porque não para de me ligar se o assunto vai ser sempre o mesmo?
“ Olha como fala…
- Rafe? - A voz doce e insegura de Heitor distraiu Rafe da conversa com o pai.
Ele virou para a porta do quarto, dando de cara com o garoto lindo e extremamente apelativo com a roupa molhada, provavelmente por causa da chuva lá fora, a calça jeans vermelha colada no corpo.
- Pai, preciso desligar. - Rafe disse interrompendo a ligação enquanto lambia os lábios e encarava Heitor com olhos famintos.
- Tão lindo. - ele disse se aproximando do mais velho.
Heitor sorriu tímido, andando alguns passos para trás, até encostar na porta do quarto.
- Trouxe o avental que me pediu. - Heitor ficou com o rosto todo rosado e um sorriso bobo nos lábios vermelhos enquanto levantava uma bolsa de mão para mostrar o quanto era obediente.
- Muito bem, mas vamos precisar tirar essa aqui primeiro. - Rafe sussurrou no ouvido de Heitor, aproveitando para beijar seu pescoço molhado de chuva.
Era muito difícil não tocar em Rafe. As mãos de Heitor fecharam em punho e ele gemeu baixo com a sensação dos dentes do mais novo roçando em sua pele.
Ele levantou a mão direita e tocou de leve o antebraço de Rafe com a ponta dos dedos, torcendo para que ele não notasse, mas a rigidez do seu corpo e o fim dos beijos lhe diziam que ele tinha feito merda.
Rafe foi até a cômoda sem dizer nada, voltando com uma corda grossa de sisal na mãos.
Seus pais nunca saberiam sobre isso, até porque era um assunto delicado em casa, mas V havia ensinado tudo que ele precisava saber para conseguir ter uma relação sexual o mais saudável possível, dadas as circunstâncias.
Ninguém o entendia além do seu tio. Bom! Na verdade, tinha outra pessoa, mas Rafe tentava não pensar nela, antes que a ferida em seu peito voltasse a sangrar mais uma vez.
- Vai doer Rafe. - Heitor disse manhoso enquanto estendia os punhos sem muita vontade.
- Se não quiser... - Rafe sorriu para Heitor, o incentivando a desistir.
Sim! Ele poderia usar um tecido suave ou apertar um pouco menos, para não machucar o garoto, mas ele gostava da sensação que as cordas grossas e pinicantes causavam em Heitor. O deixava mais solícito e completamente submisso.
- Eu quero. - O garoto disse afobado, deixando Rafe irritado com toda a conversa desnecessária.
Ele contornou a corda ao redor dos punhos de Heitor, ouvindo o garoto gemer de dor quando os fios soltos da corda pinicou sua pele. Rafe apertou mais, fazendo um nó firme que juntava as duas mãos dele em posição de súplica.
Rafe sorriu.
- Até onde posso ir com você hoje, H.? - Rafe estalou a língua no céu da boca, assistindo Heitor suspirar apaixonado.
- Onde quiser. - ele disse tímido.
- Certeza?
Heitor mordeu o lábio inferior. Ele não tinha certeza, mas confirmou mesmo assim, feliz com o sorriso de resposta do mais novo.
Rafe puxou Heitor pela corda em seu punho e o levou até o meio do quarto, o jogando na cama de costas.
A bunda de Heitor ficou empinada no colchão e a calça molhada deixava óbvio que ele usava uma calcinha por baixo de todo aquele jeans. Rafe sorriu, ele adorava calcinhas, principalmente as de renda.
- De quatro. - ele mandou, caminhando de volta na cômoda para pegar um cinto com fivela de metal.
Heitor ouviu o som da fivela bater contra as mãos de Rafe e soube imediatamente o que aconteceria, mesmo que não conseguisse ver por causa do rosto enfiado nos lençóis cheirando a Rafe. Ele engoliu em seco e fechou os olhos, torcendo para o mais novo não pegar tão pesado dessa vez, mas algo lhe dizia que não seria o caso. Ainda assim, ele se pegou empinando a bunda do jeito que ele sabia que Rafe adorava e gemeu rouco quando sentiu os dedos do mais velhos abrindo o zíper da sua calça.
- Hm.. talvez eu deixe você com isso aqui. - Rafe disse puxando a calcinha até ela entrar na bunda de Heitor.
O garoto gemeu, sorrindo timidamente ao ouvir aprovação no tom de voz de Rafe.
Ele o amava. Faria qualquer coisa por ele. Não importa o quê.
…
- Tem certeza que tudo bem ter me convidado? - Rafe perguntou abrindo a porta da Lamborghini para que Heitor saísse.
Heitor estava lindo e Rafe sabia reconhecer beleza quando a encontrava.
Ele encostou o mais velho no carro depois de fechar a porta e beijou seus lábios carregados de brilho labial.
Os dois estavam quase sem ar quando Rafe encerrou o beijo, mas ele se recompôs bem mais rápido que Heitor ainda com as pernas bambas e os olhos iluminados.
- Eu estou muito feliz que tenha vindo Rafe. - Heitor disse todo amoroso e apaixonado.
Rafe sentiu um incômodo no estômago, uma necessidade de encher os pulmões de ar, na tentativa de frear o pânico que a sensação de ser amado lhe causava, mas conseguiu sorrir forçadamente mesmo assim.
No final das contas, V tinha escolhido um terno Saint Laurent preto com detalhes pratas na gola e nas abotoaduras. Ele ainda estava com um AllStar nos pés, mas com um terno naquele valor, era de se esperar um pouco de autenticidade ou extravagância e Rafe era sempre adepto à primeira opção.
Heitor apresentou sua irmã à Rafe, mas ele não estava realmente prestando atenção, tudo que seus olhos captavam era a pintura a mão cobrindo as paredes do chão ao teto.
O lugar não era exatamente grande, mas era aconchegante e tinha um ar de classe e refinamento que quando misturado com arte, caía bem aos olhos do jovem artista.
- Minha irmã pediu para o Sour Chef vir explicar o cardápio, você comentou uma vez que era alérgico a amendoins? Fiquei com medo de ter algo mais que eu não sabia.
- Obrigado. - Rafe sorriu amoroso ao perceber o cuidado exagerado de Heitor com ele, mas seu interesse mesmo era na pintura atrás de sua mesa de jantar.
- Você gostou né? - Heitor perguntou com as bochechas vermelhas e um sorriso fofo no rosto.
- O que te deu a dica?
- Aposto que foi a baba caindo da sua boca aberta. - Uma voz familiar disse atrás deles.
Rafe retesou o corpo e travou o maxilar, o que fez Heitor se encolher ligeiramente.
“Por favor! Confia em mim. Isso vai consertar toda merda que essa família já causou na sua vida” - Foram as exatas palavras de V para Rafe quando levou a inscrição já preenchida da matrícula na faculdade de artes em Londres.
Rafe queria dizer não, mas nada lhe prendia em Seul e um recomeço cairia bem. Sem contar que ele confiava cegamente em V, mesmo que não soubesse o porquê.
Então era isso?!
O Sour Chef entrou na visão de Rafe, ficando ao lado deles com um cardápio em uma das mãos e uma garrafa de Leyda Pinot Noir na outra.
- Louis. - A voz de Rafe saiu esganiçada e ele queria muito aquele vinho num copo agora para poder recuperar pelo menos um pouco da voz engasgada em sua garganta.
Mais que porra ?
- Rafael. - Louis abaixou, cumprimentando Rafe com os costumes coreanos.
O que fez Heitor levantar uma sobrancelha incrédulo.
- Você o conhece? - Heitor perguntou sem graça.
Rafe se perdeu na expressão neutra de Louis.
O que ele estava fazendo em Londres?
Por que não falava nada?
E por que diabos ele nunca foi naquele restaurante antes?
- Nos conhecemos quando crianças, em Seul. - Louis disse, já que Rafe parecia ter perdido o dom da fala.
A sensação mais constrangedora passava entre os três naquele momento e Louis parecia o único a ter atitude dentre os três.
- Vou dar um tempo para escolherem o cardápio. O chef mandou o vinho como cortesia, mas posso pedir outra coisa…
- O vinho está ótimo. - Rafe interrompeu Louis.
Ele não aguentava mais aquilo.
Rafe ressentia pelo fato de seu pai ter obrigado Louis a fugir do país e isso nunca mudaria, porém ele também tinha uma parcela de ódio de Louis por ter ido sem se despedir e também tinha dúvidas se um dia aquele sentimento mudaria.
Foda-se que seu coração queria sair pela boca só por causa do sorriso idiota que o maior tinha nos lábios.
Louis serviu o vinho na taça para os dois e pediu licença antes de se retirar.
Rafe finalmente soltou o ar que prendeu o tempo em que Louis ficou ali.
- Rafe?
- Eu preciso tomar um pouco de ar. Não...não estou me sentindo bem. Eu sinto muito. - Rafe levantou, fechando o botão que havia aberto do seu terno e saiu às pressas do restaurante.
Suas mãos tremiam enquanto ele pegava o celular no bolso da calça.
- Que porra foi essa? Você sabia?
Seu tio suspirou no telefone, provavelmente pensando no que diria para o sobrinho.
“ Eu consegui rastrear os fundos que eu dei para Louis, mas não sabia exatamente onde ele estava, até você falar o nome do restaurante. Eu vi o sobrenome dele na lista de funcionários há alguns anos, mas já tinha até esquecido”.
- Você não pensou em mencionar que sabia exatamente onde ele estava? - Rafe passou as mãos nos cabelos mais uma vez, enquanto encostava no carro e procurava o maço de cigarro com a mão livre.
Ele raramente fumava, mas em momentos como aquele, era a única coisa que o acalmava.
Do que ele estava falando? Não existiam momentos como aquele.
“ Se eu te contasse você correria para os braços dele”.
- E isso é ruim por que?
“ Porque seu pai te tiraria de Londres se descobrisse sobre Louis e eu quero vocês dois juntos, acredite”.
- E o que impede meu pai de me tirar daqui agora de qualquer forma?
“ O que impede é o fato deste ser o momento perfeito para vocês dois se trombarem. Você não percebe? Rafe, você acabou de fazer 21, nosso advogado tem ordens para liberar o acesso a sua conta fundiária, você é financeiramente e legalmente independente. Yoongi vai ter que aceitar quem você quer ao seu lado, se não quiser te perder de vez”.
- Eu não me importo com o dinheiro ou minha idade. Você devia ter me dito. - Rafe praticamente gritou, tentando tragar o cigarro com seus dedos trêmulos o impedindo.
“ Não importa para você, mas importa para o seu pai. Ele sabe que precisa te respeitar. Por que agora você é um adulto”.
- Você está falando da mesma pessoa que eu ? Porque o Min Yoongi que eu conheço jamais vai respeitar minhas decisões.
“ Você está em Londres, não tá? Yoongi pode parecer durão, mas acredite, se ele ainda não foi até aí e te arrastou de volta para casa pelos cabelos, é porque ele respeita sua decisão, mesmo não concordando com ela”.
Rafe soltou a fumaça do cigarro de seus pulmões, coçando a testa com o dedo medial, sentindo uma dor de cabeça irritante.
- Você devia ter me contado sobre Louis.
“ Eu sei que você gosta de pensar que faria qualquer coisa por Louis, mas eu sei que você fugiria dele como diabo foge da cruz, se soubesse que ele estava aí”.
Rafe mordeu o lábio formigando com o efeito da nicotina.
Louis estava tão perto esse tempo todo. Ainda assim eles nunca se encontraram pela cidade. Claro que o lugar era enorme, mas ainda assim.
- Ele decidiu ir embora sem se despedir. Aceitou dinheiro para viver longe de mim. É lógico que eu fugiria.
“ Ele não teve escolha Rafe, não se esqueça disso”.
Rafe virou no carro, colocando a mão com o cigarro em cima do capô e entrou choque logo em seguida.
Louis estava do outro lado do carro, as mãos no bolso, uma roupa simples e os cabelos bagunçados com o vento.
Rafe sabia que ele havia escutado tudo o que tinha falado no telefone, principalmente o final, porque seus olhos demonstravam tristeza e o sorriso tímido no rosto entregava sua decepção.
- Preciso desligar V.
“ Ok. Manda um beijo para Louis por mim”.
Rafe colocou o celular no bolso, o cigarro queimava seus dedos, então ele resolveu tragar mais fumaça.
- V te mandou um beijo. - Rafe disse um pouco sem graça.
Louis sorriu tão sem graça quanto.
- Rafe, eu…
- Seja o que for. Não me interessa. - Rafe foi até a lixeira mais próxima, apagou o cigarro no metal do suporte e o jogou no lixo.
Louis levantou uma sobrancelha, um sorriso debochado crescendo no rosto, mas não disse nada.
Os dois ficaram em pé, a poucos metros de distância, ambos com as mãos nos bolsos e feições neutras. Ninguém falou nada de início.
- Você não estava trabalhando? - Rafe perguntou sem saber muito bem o porquê.
- Eu pedi pra tirar meu horário de janta quando te vi saindo correndo do restaurante.
Rafe concordou com a cabeça, os olhares intensos deixavam suas mãos suando frio.
- Você sabia que eu estava em Londres? - Rafe perguntou seco.
- Juro que não. Se eu soubesse eu dava um jeito de ir embora.
Rafe não queria sentir nada com aquilo, mas não pôde evitar sentir seu peito esmagando o coração que batia com dificuldade.
- Eu vou devolver tudo. - Louis disse de repente.
Rafe enrugou a testa confuso, o que deve ter servido de motivação para Louis explicar melhor.
- O dinheiro que seu pai me deu para fugir de Seul com minha irmã. Eu não usei muito dele, consegui dois empregos para pagar meu curso, agora finalmente consegui trabalhar na cozinha. Já estou conseguindo colocar uma quantia todo mês em cima do montante que tem no banco, acho que até o fim do ano eu tenho tudo para devolver.
- Aposto que ele nem se lembra dessa merda Louis. - Rafe disse, tentando não se sentir comovido pelas palavras de Louis.
- Eu lembro. - Louis disse com a voz rouca. - Eu lembro de tudo Rafe e não há dinheiro no mundo que me faça esquecer você.
Rafe arregalou os olhos, lágrimas ameaçavam correr por seus olhos, mas ele era melhor que isso. Não ia se desmanchar por Louis e sofrer o que sofreu tudo de novo.
- Você não tem o direito de falar como se sentisse algo por mim, sendo que na primeira chance que teve, aceitou o dinheiro e fugiu da vida miserável que levava.
- Eu aceitaria ser espancado pelo meu padrasto até a morte se fosse preciso para ter você comigo. Não foi por isso que eu fugi. - Louis gritou, tentando se controlar a medida que falava.
Rafe se sentiu engasgar com a própria saliva.
Merda de garoto!
Ele jamais entenderia porque Louis mexia tanto com ele assim.
- Eu realmente não me importo. - Rafe disse, mas não era o que sentia. Ele não sabia que Louis apanhava do padrasto ou não queria saber. Rafe era tão concentrado no próprio mundo que acabou arrastando Louis para os seus problemas sem nem querer saber se ele já tinha os próprios problemas para lidar.
- Eu sei que não acredita em mim, mas eu teria ficado por você.
- Então por que não ficou?
- Sua família tinha a arma que eu usei para matar um cara, minhas digitais estavam lá Rafe, não é possível que você seja tão inocente assim. Se eu fosse para cadeia, quem iria impedir que aquele bêbado nojento atacasse minha irmã na minha ausência. Ela era só uma criança.
- Você também. Nós teríamos dado um jeito.
- Não era o que sua família queria para minha vida e na Coreia sua família é Deus.
- Não exagera Louis. Você devia ter ficado e sabe muito bem disso.
- Você acha que eu sou só mais uma das coisas que você quer ter nas mãos, fodam-se as consequências. Só que eu tenho a porra de uma vida e ela não é fácil, mas é a única coisa que é minha, então não me diga o que eu devia ou não ter feito, porque você não sabe pelo que eu precisei passar para proteger a minha família.
Rafe fechou as mãos em punhos. Ele queria vomitar ou chorar, ele não fazia ideia de qual das opções exatamente.
- Você parece tão corajoso e determinado. Onde estava isso tudo quando saiu do país sem se despedir, como um…
- Assassino? - Louis completou, deixando Rafe sem palavras.
- Por que é isso que eu sou e não tem um dia que eu não sonhe com a polícia batendo na minha porta, me arrastando da cama para me colocar numa cela para o resto da minha vida. Eu tenho vergonha do que eu fiz, mas sei que não tinha escolha. Eu estava assustado e se seus pais tivessem me dado uma arma carregada em troca de proteger minha irmã, eu teria me matado para pagar pelos meus pecados tranquilamente.
- Eu nunca teria permitido isso e minha família não é assim.
Louis riu debochado.
- Você era uma criança Rafe. O que poderia fazer por mim?
- Qualquer coisa. - Rafe sussurrou engasgado.
Louis riu mais umas vez, negando com a cabeça enquanto o encarava com tristeza no rosto.
- Pelo visto você ainda possui os pensamentos de uma criança.
- Rafe? - Uma vozinha baixa soou detrás de Louis, fazendo os dois olharem para Heitor ao mesmo tempo. - Você não voltava, eu pensei…
- Entra no carro. - Rafe disse pegando a chave do carro para destravar a porta.
Heitor obedeceu Rafe, assistindo ele dar a volta no carro, se aproximando consequentemente de Louis.
- Tenha uma boa vida adulta Louis.
- Rafael. - Louis segurou a mão de Rafe.
Os dois praticamente vibraram com o toque, mas Rafe arrancou sua mãos do maior antes que fizesse algo digno de arrependimento e entrou no carro.
Saindo feito louco do estacionamento em direção a rodovia principal.
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