Oásis

Ele finalmente pôde respirar, uma vez lá em cima. O cheiro das rosas dominando qualquer pensamento confuso que ele pudesse ter, seu corpo relaxando enquanto ele encarava o céu imerso em estrelas distantes.

- Tata. Tá tudo bem? - JK perguntou se juntando a ele no terraço.

V suspirou, concordando com o menor sem encará-lo e parecia fácil esconder tudo de JK naquele momento, principalmente quando a verdade poderia afastá-lo pra sempre.

- Precisamos conversar. - JK disse o abraçando por trás para beijar seu pescoço.

V fechou os olhos, respirando fundo. Talvez Jungkook o abandonasse de qualquer forma e agora, pensando bem sobre o assunto, não parecia mais uma opção tão absurda assim.

Era o que ele queria, não era?!

Que Jungkook fosse feliz, independente de estarem juntos. O propósito de ter mantido o garoto distante por todo esse tempo, era para que ele não fosse afetado por todas as suas merdas.

V sempre teve essa preocupação, queria dar à Jungkook o que ele não teve, uma vida normal ou pelo menos o mais normal possível que uma vida podia ser.

O que significa que não devia ser difícil simplesmente afastá-lo mais uma vez, costumava ser seu primeiro instinto não muito tempo atrás.

Por que agora parecia tão difícil?

- Amor. - Jungkook saiu detrás do mais velho, ficando de frente pra ele enquanto segurava no seu cotovelo para poder analisar suas feições.

V parecia neutro, mas seus olhos eram como dois oráculos mágicos mostrando o oceano agitado que avisava sobre uma tempestade através de suas negras e perturbadas ondas espumantes.

Jungkook era fascinado com o que V era capaz de demonstrar com o olhar e se ele tivesse tinta e tela agora, ele definitivamente o eternizaria, às vezes era difícil se manter no mundo real enquanto se admirava aquele garoto.

- Me conta o que está acontecendo? - Jungkook se forçou a dizer, mas se ele pudesse ele passaria a noite admirando aqueles traços únicos de tristeza e mistério.

- Era você quem disse que queria conversar comigo. - V fugiu do assunto se aproximando para roçar seus lábios suaves em seu pescoço.

Jungkook fechou os olhos, suspirando com aquela sensação, sua mente ficou vazia por alguns instantes, como se aqueles beijos fossem capazes de apagar qualquer tristeza ou sentimento indesejável que pudessem aparecer por ali.

Agora ele entendia o porquê de ter ignorado seus problemas por tanto tempo, V era sua fuga da realidade.

Seu oásis.

- Você primeiro. - ele gemeu sussurrando aquelas palavras com dificuldade.

V sorriu entre os beijos, arrepiando seu pescoço.

- Podemos ignorar a vida por mais alguns minutos? - V perguntou deixando Jungkook tenso com a realização de que talvez ele fosse a fuga de V tanto quanto V era a dele.

- Claro Tae. - JK disse descendo suas mãos para a cintura do mais velho e virando o rosto para encostar sua boca com as de V.

Era pior.

Beijá-lo era ainda pior para sua intenção de se manter na realidade, provavelmente  era para ambos.

V tinha a mania de se imaginar como um pássaro não muito tempo atrás, na ideia de que isso o transportasse para longe de seus problemas. Os beijos de Jungkook tinha o mesmo efeito, o transportava da realidade, mas ao invés de colocá-lo num vazio oco, o transportava para um lugar quente, acolhedor e confortável.

Se ele não soubesse melhor, ele poderia jurar que esse lugar parecia muito com o de um lar.

Jungkook sentiu seu coração bater acelerado no peito, aquela sensação de euforia que antecede à tristeza eminente, aquela sensação que você não sabe se grita, ri ou chora. Ele estava feliz!

Suas mãos apertaram o mais velho, como uma âncora para se manter à realidade, o convencendo de que aquele homem no qual ele beijava com tanta paixão, era real.

Era real.

Era real e ele o amava.

Jungkook mordeu o lábio inferior de V, tentando se impedir de sorrir no meio do beijo por tamanha felicidade que era tê-lo, mas ele sorriu mesmo assim. Seu sorriso somou de modo estranho no momento que sentiu o gosto salgado no meio daquele beijo tão quente e acolhedor.

Taehyung estava chorando.

Jungkook se afastou assustado, mas quando foi falar algo, V deitou a cabeça em seu ombro e desabou completamente.

Ele olhou para o céu com estrelas escassas enquanto alisava os fios de cabelos do maior. A neve fina caía sobre eles, os deixando úmidos e deslocados naquele cenário puro e inconstante. Ele queria que a neve fizesse o que parecia que fazia de melhor.

Que limpasse a sujeira com sua brancura alva e imaculada, mas era só mais uma das coisas que não eram o que pareciam ser, assim como V.

Eventualmente seu choro passou, mas eles tinham tanto o que falar, apesar de não parecer mais o momento, Jungkook não conseguia deixar isso pra lá.

- Taehyung, se quiser conversar outras hora, eu vou entender. - ele disse em contradição.

- Eu quero falar. - V disse com o queixo tremendo.

Eles estavam molhados e gelados, os dedos finos e delicados de V já tinham as pontas roxas pelo frio.

- Vem. Vamos tomar um banho.

Jungkook ajudou V a descer as escadas de incêndio e atravessar a janela de seu apartamento. Estavam todos conversando baixo na sala quando os dois entraram.

A conversa foi silenciada e Jungkook não disse nada enquanto levava V até o banheiro do quarto deles.

JK  ligou a água fervente, exatamente como V gostava quando queria se livrar de seus pensamentos mais assustadores.

Ele colocou o maior dentro do box com toda sua roupa e foi tirando suas coisas aos poucos.

A carteira encharcada, o celular, os tênis, meias, cinto, jeans e por último a blusa e a camisa do mais velho.

V não parou por nenhum momento de chorar, apesar dele conseguir fazer isso sem som algum. Quando Jungkook viu as linhas prateadas de cicatrizes por toda as costas do mais velho, ele simplesmente desabou.

Ele queria ser forte, mas sabia que aquilo tinha sido culpa dele, se ele tivesse aguentado, tentado resolver as coisas com V, o garoto jamais teria voltado para aquele monstro que torturava constantemente, tanto seu físico quanto seu psicológico.

- Quando você era mais novo. - V começou com a voz rouca por causa do choro travado na garganta. - Você me disse que odiava o fato de que nunca seria capaz de me entender, que por ser o mais novo, não tinha como me ajudar com meus problemas, pois não sabia como.

V se virou, encarando Jungkook que o olhava com seus olhos arregalados afogados em lágrimas.

- O que é que tem? - Jungkook sussurrou agoniado.

- Eu confio que só você pode me ajudar agora. - V disse se sentindo o filha da puta mais egoísta do mundo.

E pela primeira vez ele não se importava.

Ele queria Jungkook. Precisava dele e mentiria tranquilamente, se isso deixasse o garoto ao seu lado só mais um pouquinho.

Jungkook ia dizer algo, mas foi interrompido por sua blusa passando por seu pescoço, então pelo beijo molhado de V e pronto, ele nem se lembrava mais o que tinha para dizer.

V sabia o que estava fazendo, ele queria Jungkook ao seu lado, mesmo achando que o mais novo fugiria se descobrisse que ele estava carregando a vida por um fio. Ele iria arriscar.

V tirou a roupa de Jungkook às pressas enquanto eles tropeçavam entre seus passos incertos no piso molhado do azulejo.

Jungkook mordeu mais uma vez os lábios do mais velho, mas foi afastado a força de seus lábios e jogado contra o vidro do box.

Suas mãos foram presas acima da sua cabeça por uma das mãos de V, seus lábios beijavam o vidro gelado manchando ele com o vapor quente da sua respiração.

Ele sentiu seu pé ser quase chutado por V, o obrigando a abrir mais as pernas, seu rosto estava colado no vidro conforme V mordia todo o caminho entre seu pescoço e a omoplata.

V bateu a mão de Jungkook violentamente no vidro, gemendo rouco enquanto o mordia ainda mais forte.

Ele estava extravasando e Jungkook não se importava nenhum pouco de ser sua válvula de escape.

A mão livre do mais velho desceram por seu quadril, desenhando apertos quentes. V o soltou, mas ele não se atreveu a sair da posição, o ouvindo rir contente com sua decisão logo atrás.

O mais velho voltou a segurar suas mãos estáticas no alto da cabeça, seus lábios pararam em sua orelha gelada, sentindo o hálito quente em forma de choque térmico, conforme era beijado e lambido alí.

V colocou dois dedos na entrada de Jungkook com o que parecia ser sabonete líquido ou algo assim.

Jungkook gemeu enquanto sentia o mais velho esfregar os dedos contra sua entrada pulsante, ele empinou a bunda para os dedos de V que entraram com dificuldade no mais novo.

Jungkook não lembra muito bem a última vez que deixou aquilo acontecer, mas sempre foi com V, então ele se sentiu em êxtase pela segunda vez aquela noite por finalmente tê-lo da forma que eles melhor se conheciam.

Seus lábios transportavam gemidos secos para fora da sua boca. V tirou seus dedos de dentro do mais novo e soltou JK, empurrando suas costas até que ele precisasse grudar suas mãos no vidro para se apoiar.

Ele puxou JK pelos quadris e entrou no mais novo sem muita paciência.

V sabia que aquilo machucaria JK, incomodaria no começo e algo dentro dele dizia que era exatamente isso que ele queria fazer.

JK sentiu suas lágrimas caindo de seus olhos, mas a dor era incrivelmente bem vinda.

Ele viu V sofrer e chorar em silêncio por quase toda sua vida e agora, por mais ridículo que aquilo pudesse parecer, ele sentia como se o mais velho estivesse lhe contando algo que não conseguia dizer em palavras.

A dor foi embora ou se transformou em prazer em algum momento, suas lágrimas se transformaram em gemidos dignos de ser tapados com uma das mãos de V para que não escutassem da sala.

Suas pernas formigavam e os ossos da pélvis de V machucavam com as estocadas brutas e ainda assim ele nunca se sentiu tão completo.

Ele sempre se sentia vazio longe do mais velho, mas agora tinha a prova física de que  V o completava. Esse pensamento o fez sorrir.

V soltou um grito agonizante, gozando dentro dele, sua cabeça caiu nas costas do mais novo e ele chorava de soluçar.

Jungkook se perdeu entre a onda de prazer, ele queria gozar, mas sabia que agora, ironicamente, não era o momento.

Seu corpo pesou conforme V saía de dentro dele, então ele caiu de joelho, levando V junto.

Jungkook virou o corpo, encarando V sentado na sua frente do outro lado do box, água caía entre eles, impedindo o contato visual que precisavam e acho que foi justamente o que ajudou V conseguir dizer o que precisava dizer.

- Eu não posso mais fazer isso. - V sussurrou colocando as mãos no rosto envergonhado enquanto o choro diminuía.

- Eu não me importo. - Jungkook disse, sem muita certeza do que estavam falando.

- O que? - V riu seco levantando uma sobrancelha em puro sarcasmo.

- Do que acha que estou falando? - Ele perguntou encostando a cabeça no azulejo.

- Sexo? - Jungkook perguntou quase num sussurro, o vapor da água quente ajudava a dar ainda mais privacidade, que é o que eles precisavam para finalmente conversarem.

- Não bunny, não é de sexo que estou falando. - V disse, suspirando com o apelido que há muito tempo não passava por sua boca, mas estava sempre em seus pensamentos.

- Então me conta o que é? - Jungkook perguntou emocionado por ter ouvido seu apelido carinhoso da boca do mais velho.

Ele queria tanto um abraço agora, queria tanto que tudo fosse mais simples, que a vida não fosse a vadia que era, que ela simplesmente pudesse deixar os dois viverem suas vidas. Eles se amavam mais do que seus corpos eram capazes de suportar, mais do que suas mentes eram capazes de processar.

Por que isso não era o suficiente?

Por que o amor entre eles não era o suficiente?

O que mais faltava?

Se a vida pudesse ao menos lhe dizer isso. Ele iria até o fim do mundo buscar o que fosse necessário. Fosse o que fosse, não importa como. Ele faria.

Faria qualquer coisa pra ter Taehyung em seu coração, que o acalentaria através de suas batidas firmes e constantes, o confortando de maneira que suas palavras não eram capazes de fazer.

Faria de tudo para ser o suficiente.

Ele faria o que precisasse.

Qualquer coisa.

- Eu to morrendo bunny.

- Não. - Jungkook gritou agudo, terminando seu som agonizante em um choro inconsolável.

- Se quiser ir embora, eu vou ficar bem... - V mentiu, vendo o mais novo negando com a cabeça enquanto balbuciava palavras desconexas durante os soluços do seu choro interminável.

V não sentiu nada.

Ele queria poder ajudar.

Só não sabia como.

Se ele ao menos soubesse como.

...

Rafe estava no pé da cama de V. Seu tio dormia tranquilamente enquanto o resto da família discutia na sala.

Ele se aproximou, tirando uma mecha de fios acastanhados que cobriam o rosto do mais velho.

Rafe era apaixonado por cada traço de V, mas quando ele dormia e a paz invadia seu rosto, era como admirar uma tela famosa ganhando vida.

V era lindo.

Rafe abriu a primeira gaveta ao lado do mais velho, achando um  vidro de perfume escondido no fundo.

Ele pegou o vidro, abrindo a tampa para cheirar.

O que um perfume fazia dentro da gaveta?

Rafe enrugou o nariz reconhecendo o cheiro de Jungkook.

Ele odiava Jungkook. O cara tinha abandonado V tantas vezes, que ele não fazia ideia de como seu tio conseguiu o perdoar. Só de ver como Taehyung ficava, toda vez que Jungkook ia embora, Rafe sentia enjôos.

Ele jogou de qualquer jeito o vidro de perfume, pegando um pote de complexo vitamínico.

Rafe colocou umas três cápsulas na boca, e sentou na cama ao lado de V, voltando a fazer carinho em seus cabelos úmidos enquanto mastigava os comprimidos.

Seus dedos desceram até os lábios de V, eram tão lindos, mesmo inchados e mordidos. Ele sabia que seus tios tinham feito sexo no banheiro, com todo mundo na sala do apartamento, ele achava aquilo tão excitante, mesmo não gostando nada de imaginar V com Jungkook.

Sim! Ele tinha noção de que estava com ciúmes, mas todos tinham ciúmes de V, então na sua concepção, aquilo era normal.

Jimin tinha ciúmes de V porque ele costumava ser seu melhor amigo, mas agora que V precisava de Suga para ser sua espécie de âncora, quando tinha suas crises, fez V se afastar de Jimin, meio que por vergonha de incomodar o marido do seu pai com seus próprios problemas.

Suga tinha ciúmes de V porque gostava da forma que o ajudava  e Rafe não se sentia nada bem por saber disso.

JHope tinha ciúmes de V pela relação estranha dele com o garoto novo, Jihoon.

Jungkook tinha ciúmes por motivos óbvios.

Os únicos aparentemente imunes, eram RM e Jin., mas eles nem contavam muito com eles, os dois pareciam imunes a basicamente qualquer coisa.

Rafe não entanto, se sentia o oposto de imune a tudo, porque ele não só tinha ciúmes de V, como tinha ciúmes de V com todas aquelas pessoas.

Ele queria guardar V num pote e preservá-lo para sempre, só pra ele. No fundo ele queria que V fosse dele e somente dele.

Todos tinham essa ideia de que V dava conta dos seus problemas, mas era óbvio que não era verdade.

Rafe suspirou, beijando a testa de V. Ele de alguma forma o entendia.

O mais novo suspirou triste enquanto ouvia V chamava por Jungkook entre seu sonho agitado.

O mundo era mesmo injusto.

- O que faz aqui? - Suga perguntou entrando no quarto na ponta dos pés.

Rafe deu de ombros, ignorando o susto.

- Não é da sua conta. - Rafe murmurou chateado por ter que afastar as mãos dos cabelos de V.

- Olha como fala com teu pai. - Suga disse dando um tapa na cabeça de Rafe.

Rafe bufou mau humorado.

Suga mexeu no pote aberto de remédio, cheirando o negócio com curiosidade, depois franziu o nariz e colocou de volta no lugar.

Rafe revirou os olhos, ainda mais irritado com a intromissão do pai.

- Não vai me responder? - Suga perguntou sem olhar para o Rafe.

Ele fez carinho nos cabelos de V, sorrindo pequeno ao perceber o quanto V se retesou, estressado com aquilo.

Suga sabia o quanto Rafe idolatrava o tio, normalmente ignorava aquilo, porque achava que todo adolescente tinha seus momentos de idolatria, mas estava demorando passar e Suga estava começando a se preocupar.

- Vamos? Jimin tá estressado com seu irmão e quer ir embora.

Rafe concordou, se forçando a tirar os olhos de V.

- Agora Rafael. - Suga disse quando o menor não fez nada para sair do lugar.

Rafe bufou mais uma vez, saindo às pressas do quarto enquanto seu pai ria com a cena que o pequeno fazia por tão pouco.

- Volto amanhã, se ele concordar com seu plano. - Suga disse para Jungkook quando chegaram na sala.

- Ele vai. - Jungkook disse confiante.

- Não vai se despedir do seu tio? - Suga perguntou, vendo Rafe na porta da sala, depois de beijar todos no rosto, menos Jungkook.

Rafe deu de ombros sem olhar para Jungkook. O que fez todos tentar disfarçar o incômodo que aquilo gerou, despedindo-se uns dos outros para irem embora.


- Foi simplesmente inaceitável o que você fez. - Jimin continuou a briga no carro que já levava horas.

Rafe revirou os olhos enquanto olhava o próprio reflexo no vidro do carro em movimento.

Jimin continuou falando e Rafe pensou em responder, ele até puxou o ar pra começar a reclamar, mas viu que Suga o olhava sério do retrovisor do carro, o que fez além dele engolir as próprias palavras, se encolher, grudando o corpo no canto da porta do carro.

- Appa. A gente pode comer lanchinho? - Kyung perguntou com todo seu charme e baixinho.

Jimin parou de falar, se sentindo mal com sua própria frustração.

- Sim pequeno, nós podemos fazer isso. - Jimin disse se virando para sorrir na direção de Kyung.

O pequeno esperou Jimin se virar para sorrir debochado e mostrar a língua para Rafe.

Rafe pisou no pé do pequeno em resposta, o que fez o garoto começar a berrar, como se o mais velho tivesse arrancado seu membro inferior fora e as coisas só pioraram a partir daí.

- Você está de castigo Rafael. Já pro seu quarto. - Jimin gritou assim que chegaram em casa.

Rafe sorriu enquanto subia as escadas.

Ele odiava ter que sentar na mesa pra comer e Jimin fazia isso com tudo, era um total pesadelo.

Ele entrou no quarto, batendo a porta com força, mais porque achava que era isso que adolescentes da idade dele faziam.

Virou seu tripé na direção da banqueta e pegou uma tela nova. Ele desenharia o que lembrava de V, antes que a imagem fugisse da sua mente.

Pegou a tinta especial que ganhou de Natal de Jungkook e começou a desenhar.

- Você costumava amar seu tio. O que mudou? - Suga perguntou quando entrou no quarto, sentando na cama atrás de Rafe.

- Ele é um otário. - Rafe resmungou sem olhar para o pai.

Suga ficou um tempo em silêncio, estudando os traços que Rafe pincelava.

- Você tem que parar de bater no seu irmão só pra fazer Jimin parar de falar sobre algo que você não queira discutir. - Suga analisou o tapete caro que Jimin comprou pra decorar o quarto de Rafe, tinham manchas de tinta pra todo lado.

Jimin mataria seu filho mais velho se visse aquilo.

- Não somos bons pais pra você Rafe? - Suga perguntou ainda distraído com o tapete.

Rafe girou a banqueta, olhando em pânico para o pai.

- Eu nunca disse isso. - Ele sussurrou por falta de voz.

- Você trata Kyung mal, Jimin já não sabe mais o que fazer com você e eu… - Suga puxou o ar desanimado.

- E você ? - Rafe sentiu o peito doer.

Seu maior medo era decepcionar seus pais, ele não sabia o porquê, só sabia que odiaria que aquilo acontecesse.

- Eu só queria entender… - Suga puxou o ar com a língua, olhando para o alto enquanto pensava no que dizer. - … talvez, se eu entendesse, poderia ajudar.

Rafe soltou o ar em seu peito com força desnecessária.

- Eu não quero que se preocupe pai, só queria que parassem de tentar me entender, sabe ?!

Suga concordou olhando para o chão, o rosto inexpressivo e calmo.

- Você conta as coisas para o seu psicanalista, conta para Taehyung, mas não para o seus pais. Por que? - Suga levantou a cabeça para olhar o filho nos olhos.

- Eu conto para Robert porque achei que era o que queriam de mim e V... - Rafe suspirou distraído. - ... V é diferente, ele me entende.

- Rafe? Você e seu tio... Você sabe… - Suga mordeu os lábios sem saber como dizer aquilo.

- Não é nada disso. - Rafe  disse sem se exaltar. - É diferente, eu acho.

Rafe gostava de conversar com Suga, ele se sentia bem falando com o mais velho, só não conseguia falar sobre tudo.

- Diferente como? - Suga se atreveu perguntar.

Rafe deu de ombros.

- Ele não entra em pânico quando eu digo que meu tio costumava me queimar com cigarros quando seus amigos iam me visitar, por exemplo.

Suga puxou o ar aterrorizado e sem perceber, arregalando os olhos na direção do Rafe.

- Viu?! Ele não reage assim. - Rafe disse apontando para o pai.

- Desculpa filho. - Suga disse passando as mãos no rosto.

Rafe deu de ombros mais uma vez.

- Antes eu achava que não era importante falar sobre essas coisas e odiava toda vez que era forçado a falar, porque as pessoas me viam de forma diferente depois, me viam como se eu fosse uma aberração ou pior, me olhavam com pena.

Suga concordou distraído.

- V me conta como sentiu quando aconteceu com ele e me diz como conseguiu superar, o que me faz tentar superar também.

- Isso é muito bom Rafe. - Suga disse chateado por não poder ajudar.

- Seu psicanalista também ajuda?

- Robert adora me ouvir falar de V, acho que ele tem uma queda pelo tio. - Rafe riu animado.

V contou uma vez que fez Robert chupar ele por pura manipulação e se alguém descobre sobre isso, ele seria proibido de ver o tio. V também o deixava fumar às vezes.

Ele tinha muitos motivos para amar V, mas esses estavam com certeza no topo dos motivos, mas ninguém podia saber sobre essas coisas ou o tio iria se encrencar feio e ele também.

- Acho que eu devia pagar V e não Robert. - Suga disse bufando irritado.

Rafe riu alto.

A porta abriu neste exato momento. Jimin tinha os olhos inchados de choro e uma bandeja com lanche do MCDonald's dentro de um prato.

Rafe teria rido daquilo, se Jimin não parecesse tão destruído.

Ele levantou da banqueta, pegou a bandeja de comida das mãos do pai, colocando-a na escrivaninha e abraçou Jimin. 

- Desculpa pai. - ele disse beijando as bochechas de Jimin que riu do seu ato, mesmo que quisesse permanecer chateado.

- Tá tudo bem meu bebê.

Jimin abraçou Rafe, cheirando os cabelos do seu filho.

- Você me deu um lar, me salvou , mais de uma vez, eu sou um ingrato. - Rafe disse, parecendo muito mais maduro do que era.

- Não se preocupe com isso, eu que sou sensível demais. - Jimin disse voltando a chorar.

Rafe abraçou de novo Jimin, mas o cheiro do perfume doce do seu pai o fez empurrá-lo às pressas.

- Desculpa, acho que…

Rafe correu para o banheiro do quarto, ajoelhando na privada pra vomitar vezes consecutivas.

Ele tremia enquanto vomitava, ouvindo seus pais ao lado dele falando coisas que ele mal conseguia entender por causa da ânsia.

Suga tocou em sua testa, os dedos gelados do mais velho aliviou no começo, mas o enjoo voltou, então Suga foi aferir a pressão no pulso de Rafe, mas parou quando levantou sua blusa na altura do cotovelo.

- Tira. Essa blusa.- Suga disse nervoso.

Rafe se assustou. Seu pai nunca pediu pra tirar sua roupa antes, ele não gostou dos seus próprios pensamentos depois disso.

Ele não queria tirar, mesmo sem saber bem o porquê.

- Tira logo a blusa. - Suga gritou, pelo que parecia ser pela terceira vez.

Rafe tirou com dificuldade sua roupa sem entender nada e se sentindo desconfortável.

- Amor. Por que tá falando com ele assim? - Jimin começou chateado em defesa do filho ao perceber seu incômodo.

Jimin lidava com vítimas de violência o tempo todo, ele ficou bom em entender os sinais de desconforto.

Suga analisou os braços de Rafe, várias manchas vermelhas parecidas com as que tinham em V, talvez um pouco mais fracas, no começo do peito de Rafe apareciam manchas mais claras.

- Me fala tudo que você tomou no apartamento de Taehyung, qualquer coisa. - Suga perguntou afobado.

- Eu não sei, não lembro… - Rafe enrugou a testa confuso, o enjôo indo e voltando.

- Amor.

- Agora não Jimin.

Suga tentou se acalmar, vendo a situação nada boa de Rafe.

Seu filho parecia aterrorizado por ele.

- Filho, por favor. Isso pode salvar a vida do Tae.- Suga falou triste, por não saber como lidar com aquilo da melhor forma.

Rafe arregalou os olhos para o pai.

- A vida de V está em risco? - Rafe perguntou rouco, a garganta arranhada por causa da bile no vômito.

- Yoongi. - Jimin gritou. Não era a hora de falar do câncer do V para Rafe, o garoto ficaria desolado e Jimin sabia disso. Só, não era a hora.

- Yaegiya, por favor. - Suga olhou para Jimin, pedindo com os olhos para que o menor confiasse nele. O que foi exatamente o que Jimin fez, mesmo sem concordar com o que ele estava fazendo.

- Então? - Suga olhou para Rafe, esperando por uma resposta.

Rafe olhou assustado para Jimin, que sorriu em resposta tentando incentivá-lo.

- Suco de laranja da geladeira. - Rafe começou, se esforçando muito para lembrar de tudo. - Cerveja escondido na cozinha. - ele olhou para os dois esperando levar bronca, mas não veio nada. - Os complexos vitamínicos na cabeceira do quarto...

- Espera. O que ?

Rafe parou pra pensar. Sim! Ele realmente tomou três cápsulas da vitamina de V.

- Os complex…

Suga soltou os braços de Rafe e pegou o celular, mexendo afobado no aparelho.

Jimin tocou em seu ombro, procurando por uma resposta, qualquer coisa.

- Acho que Tae foi envenenado. - Suga disse saindo do banheiro quando a ligação completou.

- Jungkook, preciso de um favor… - ele começou quando o mais novo atendeu.

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