No more

 Suga não conseguia parar de pensar no que tinha lido no dossiê que  Maddy entregou a ele.

Era como pensar que caiu numa piscina de álcool depois de se esfregar com uma toalha de lixa.

Não porque tinham muitos podres, mas porque não tinha nenhum.

Soon Woo, aparentemente costumava ser  general do exército, mas foi liberado do cargo com o histórico selado e confidencial, depois se tornou governador, não ficando muito tempo no cargo por ser o principal envolvido em um caso de corrupção ainda em investigação.

Suga não sabia muito sobre nada, mas ele sabia que o cara não prestava e era aparentemente intocável.

Ele sentiu o coração acelerar, seu desespero para livrar V daquela situação o mais rápido possível, era o principal fator que o levaria a respirar normalmente.

Jimin queria um filho, isso necessitava a atenção de ambos. O menor também  precisava mais que nunca de Suga para ajudá-lo com seus próprios demônios, mas era educado demais para falar algo a respeito e também amava V tanto quanto ele, era como colocar a própria vida em Stand by, na esperança que ela aguentasse esperar, enquanto você resolvia um problema mais urgente.

Suga olhou ansiosamente para o celular tocando no suporte do carro e apertou o botão para atender a ligação quase que imediatamente.

“Sim?”

“Você está sendo seguido” - Maddy falou sem rodeios.

Suga olhou pelo retrovisor uma SUV à uma distância de um carro dele.

Ele mudou de pista vendo o carro o seguir automaticamente.

“Consegue saber por quem?” - Suga perguntou  apertando nervoso o volante entre seus dedos.

“Eu sou um hacker, não Deus” - Maddy respondeu, mas Suga não respondeu para não atrapalhar a digitação incrivelmente rápida que parecia acontecer do outro lado da linha.

“ Não parece conectado ao Soon Woo, a placa está registrada em um nome aparentemente sem importância, com associações a uma boate no extremo sul, no antigo centro empresarial de Seul.

“Devil’s Lady?” - Suga perguntou diminuindo a velocidade para parar no acostamento.

“Ok. Isso foi impressionante. Tem algum problema com eles?” - Maddy perguntou parando de digitar.

“O filha da puta já sequestrou meu marido”. - Suga falou abrindo a porta do carro para sair assim que o carro que o seguia parou atrás.

“Aquele do problema com seu irmão?”

Suga passou a mão no rosto, sem se dar o trabalho de responder às curiosidades de Maddy enquanto pensava no que aquilo poderia significar, mas não parecia chegar a nenhuma conclusão plausível para aquela parte de sua vida estar, literalmente, o perseguindo agora.

Como se ter um problema por vez, fosse pedir muito.

“Pesquisa tudo o que puder sobre Edward, o dono do Devil’s Lady”.

“Para de me dar ordens o tempo todo, eu tenho um encontro essa noite" - Maddy falou parecendo emburrado.

Suga tinha impressão de ser rodeado de crianças o tempo todo.

“ Faça o que eu mando ou sua mãe vai saber sobre o vaso europeu que você quebrou e me culpou no lugar, eu fiquei dois dias sem conseguir sentar pelo tanto que apanhei por aquilo”.

“Quê? Mas isso foi há dez anos”.

“Quem apanha nunca esquece, agora faz o que eu mandei". - Suga falou antes de desligar o celular.

Ele saiu do carro vendo o motorista sair detrás do volante e abrir a porta traseira do carro para que Suga entrasse.

Suga estava nervoso e com receio do lugar ser ali numa autoestrada vazia, onde a desvantagem parecia agir a seu favor, mas agiu automático, conforme a situação pedia.

- Faz tempo que não te vejo. Como está Jimin? - Edward falou assim que Suga sentou de frente para ele.

O carro tinham dois assentos estofados de couro preto, um de frente para o outro, como se fosse feito para reuniões móveis.

Suga colocou as mãos nas pernas batendo os dedos agitados com as lembranças ruins que o homem à sua frente representava.

- Meu marido está bem, obrigado. Por que está me seguindo? - Suga perguntou olhando pela janela toda aquela escuridão ao seu redor.

- Ah! É verdade, fiquei sabendo sobre isso, apesar de não ter sido convidado para o casório. - Edward fez um bico de forma debochada enquanto olhava Suga perder a paciência no processo.

- Desculpa, foi uma festa fechada para família e pessoas que não tentaram vender meu marido para propósitos sexuais. O que quer Edward?

- Quero ajudar , simplesmente. - Edward falou cortando o papo furado com a mesma intensidade que Suga.

- Ajudar? - Suga riu amargamente para o homem à sua frente.

- Te ajudar a me ajudar, seria mais exato dizer.

Suga o olhou curioso.

O silêncio tomou conta do pequeno lugar como uma nuvem quente e tóxica.

Suga fez um gesto com a mão para que ele continuasse, como se mandasse na situação ao invés de parecer correr o risco de ser morto e jogado no meio fio ao lado deles, caso recusasse a proposta de Edward.

- Sou do lado oposto da classe social em que vive, porém sou o que comanda o show por trás das cortinas. Sei que parece pretensioso dizer isso, pois sou o rato de esgoto na classificação da sociedade. Lido com prostituição, drogas e violência. Eu a administro nessa cidade, então sim! Posso até ser o rato de esgoto, mas o que ninguém lembra é que tenho acesso a cada um dos seus cômodos seguros através de seus ralos constantemente ignorados por não aparentar ameaça alguma.

Suga começou a entender a linha de pensamento ali, mas não tinha ideia de onde aquilo ia dar.

- O que quer Edward, não quero ouvir monólogos sobre sua preciosa vida.

- Quero te ajudar com o governador. - Edward falou, usando um dos apelidos comuns de Woo na Coréia.

Suga travou as mãos na calça, vendo Edward olhar para o local e sorrir com Suga empalidecendo bem à sua frente.

- Como sabe disso?

Edward deu de ombros.

- Como eu disse, rato de esgoto. - ele falou apontando para si.

- O que quer em troca? - Suga falou, mesmo sabendo que era loucura aceitar aquele tipo de parceria com o cara que quase desgraçou a vida do homem que ama.

- Flores, e uma linda e cara garrafa de vinho branco. - Edward falou sorrindo torto.

Suga enrugou a testa sem entender.

- Escuta. Esse tal de Woo lidera a outra metade do esgoto e com a família crescendo, o espaço ficou apertado, se eu te ajudar…

- ...Se você me ajudar será porque não confia no meu autocontrole? - Suga perguntou já imaginando o tipo de “ajuda” da qual Edward estava falando.

- Eu não gosto do que aquele cara fez com seu garoto, tanto quanto você, eu me identifiquei com ele naquele dia fatídico em que nos conhecemos, nunca imaginaria que ele passava por coisas tão horrendas.

Edward negou com a cabeça fingindo chateação.

- Do que está falando.

- Você sabe que ele grava as famosas.   “ sessões”, certo?

  Os dois se encararam em silêncio. Suga não era do tipo que demonstrava não saber algo com frequência.

Ele se remexeu desconfortável quando Edward entregou um tablet que estava ao seu lado.

- O que quer dizer? - Suga pegou o tablet, vendo uma câmera parcialmente escondida com uma imagem travada de um cômodo escuro, congelando toda uma decoração peculiar.

- Posso mandar jogar um vírus e apagar tudo isso, posso mandar fazer agora se quiser.

Suga despausou o vídeo, ouvindo  o barulho de uma porta se abrir quando o vídeo começou a rodar.

V entrou no quarto ficando na visão da câmera.

Ele era tão novo, devia ser há uns três anos atrás, no mínimo.

Ele sorria tímido para o tal do Woo que nem olhava em seus olhos.

V congelou o sorriso, misturando-o com desespero por não ter agradado.

“Ajoelha”. - Woo falou vendo V obedecer sem questionar.

“Por que não veio mais cedo?”

“Desculpa”. - V falou tímido com os olhos no chão. - Meus irmãos não paravam de me ligar. - V terminou, tentando se justificar.

Uma luz se acendeu no cérebro de Suga quando reconheceu a roupa que V vestia, foi o dia em que ele ofendeu Jimin e Suga quebrou seu nariz numa briga, foi provavelmente logo após a gravação desse vídeo.

E ele pensava que não dava para se sentir mais arrependido do que já se sentia por ter batido no seu irmão daquela forma.

“ Você precisa aprender que eu não sou do tipo que espera” .

Woo pegou  algemas de ferro, com correntes que faziam um barulho assustador quando os alelos batiam um no outro.

Suga quase podia sentir V tremer pelo som que chegava em seu ouvido, mesmo que não estivesse olhando para o local tenho certeza que sabia o que viria a seguir.

“Tira a roupa” - Woo ordenou vendo V fazer isso se sentando no chão para conseguir.

Ele voltou a ajoelhar em frente a Woo só de cueca, colocando as mãos para frente ao mesmo tempo em que Woo ia em sua direção para algemá-lo, deixando claro que era algo costumeiro entre eles.

Woo puxou o rosto de V e beijou sua boca firme, como se precisasse deixar claro que o possuía. V não reclamou de nada mesmo que tudo parecesse desconfortável. Ele voltou a posição original olhando V com seus olhos vidrados, parecendo apaixonado.

V sorriu para Woo carinhosamente, mas mordeu os lábios assim que Woo cuspiu em seu rosto.

“Não pense que será perdoado tão facilmente. Fica de pé"

V fez o que ele mandou enquanto a saliva de Woo escorria por seu rosto sem parecer incomodá-lo.

Ele não precisou de ordens para deitar na mesa de madeira à sua frente, mas quando virou o rosto para a câmera, lágrimas caiam dos seus olhos, caindo em direção a madeira onde se apoiava.

Suga tremeu ao ver que o objeto nas mãos de Woo era um ferro com a ponta emborrachada. Ele rasgou a cueca de V com a outra mão, sorrindo alucinado em expectativa.

Suga jogou o tablet no banco, limpando as lágrimas que caiam sem controle dos olhos.

- O quer que eu faça? - Suga perguntou com ódio em seus olhos molhados e vermelhos.

- O governador não é do tipo que aceita uma bronca ou se assusta com ameaças. - Edward olhou para o som de pura dor e agonia saindo da pequena caixa de som. - Ele precisa sumir. - terminou vendo Suga desligar o aparelho com as mãos trêmulas, falhando várias vezes ao tentar apertar o botão.

- E esses vídeos? - Suga perguntou cuspindo as palavras entre dentes.

- Como demonstração de que eu sou um homem de palavra. - Edward pegou o celular o colocando no viva voz, direcionado para Suga.

A linha foi atendida, mas ninguém respondeu.

- Pode jogar. - Edward falou apontando em seguida para o tablet.

- Os arquivos estão na nuvem, o vírus danifica qualquer máquina que tentar acessá-los, porém não posso fazer nada se ele tiver alguma gravação guardada fora do computador.

Suga ligou o tablet assim que a tela começou a ficar engraçada e as imagens desfocadas.

Um unicórnio começou a dançar e vomitar arco íris e depois tudo preto.

- Você pode jogar no lixo o aparelho é inútil agora. - Edward falou quando Suga sentiu o tablet quente em suas mãos.

Ele concordou com a cabeça abrindo a porta do carro.

- Quero que meu hacker aplique o vírus, preciso jogar essa merda em todos  os vídeos e não só  nos de V - Suga pediu sem olhar para Edward.

- Para ele não saber de onde vem o tiro. - Edward falou confirmando com a cabeça. - Por que não o atacou ainda? - Edward perguntou curioso, fazendo Suga pausar sua saída mais uma vez.

- Como você impede uma pessoa de correr Edward?

O homem na frente deu de ombros.

- Você quebra suas pernas. - Suga falou sorrindo torto. - Quero o vírus e acesso total aos vídeos. - Suga continuou, decidido. - Não me importo com quanto vai custar.

- Só faz o que tiver que fazer , vemos o restante depois. - Edward falou entregando um cartão preto com um número de telefone em dourado, sem nome ou outras informações.

- Passa esse número para o seu garoto e eu te mando os vídeos como um ato de boa fé. - Edward falou sério, mas Suga o olhou de um jeito debochado, saindo do carro sem dizer mais nada.

Suga entrou no carro respirando fundo várias vezes na tentativa de se acalmar, mas parou no meio do processo para atender o celular que tocava no console.

“Como foi?” - Maddy perguntou parecendo precisar da técnica de respiração tanto quanto ele.

“Foi produtivo” - Vou te mandar os contatos de alguém que vai te passar um vírus e um acesso para os vídeos que Woo tem dos garotos de quem ele já abusou.

Silêncio.

“Vídeos?” - Maddy perguntou quando sua voz finalmente voltou a funcionar.

“Sim, mas não quero que faça nada ainda, tenho um favor a pedir. - Suga falou jogando de lado o fato de que estava prestes a surtar com tudo aquilo.

[ Alguns meses depois]


 V estava já há quatro meses num chalé que ficava dentro de uma reserva, que por fora parecia um SPA ou algo assim, mas na verdade era um retiro para pessoas que passaram por vários tipos de traumas e recebiam tratamento para superar.

Custava uma fortuna e V se sentia sozinho na elevação congelante do seu chalé isolado dos demais.

Ele cortava madeiras, usando ironicamente um tronco como apoio, a temperatura era tão  baixa que o ar  saia da sua boca e nariz, condensando a olho nu, pela diferenciação.

Ele ouviu uma risada baixa em suas costas, parando com o machado para olhar na direção do som.

- Hyung? - V perguntou um pouco mais afobado que  poderia ser considerado natural.

- Eih! Irmão, como se sente? - Suga perguntou se aproximando para acariciar os cabelos gelados de V.

V se inclinou para o carinho, suspirando em tristeza.

- É difícil em dias como este. - Ele falou sorrindo quadrado e esperançoso para Suga.

Suga notou conversas baixas e distantes de provavelmente parentes que pareciam visitar seus familiares internados no local nas outras cabanas à distância.

- Porque avisou só a mim? - Suga perguntou, falando sobre o telefonema que recebeu do mais novo pedindo para ir visitá-lo.

V deu de ombros com pergunta.

- Está melhor? - Suga perguntou se afastando um pouco.

V olhou para os próprios pés dando de ombro mais uma vez.

Suga sentiu o corpo vibrar em agonia com aquela expressão no rosto de V. Ele riu da situação fora de controle em que estava, o ar faltou dos pulmões o fazendo naturalmente colocar as mãos no joelho, ainda rindo quase insanamente.

- Yoongi Hyung? - V o chamou encostando uma das mãos nas costas do mais velho.

- Você está bem? - V perguntou ouvindo a risada se calar mesmo que o corpo de Suga ainda tremesse.

Suga levantou o corpo mostrando um rosto molhado pelas lágrimas que caiam em sequência dos olhos.

Ele abraçou V chorando audivelmente nos ombros do mais novo.

...

V entregou um copo de café a Suga.

Depois que ficaram um tempo abraçados em silêncio do lado de fora do chalé, eles entraram para se abrigar do frio. Suga agora sentava no sofá macio da sala enquanto V acendia a lareira com os pedaços de madeira que tinha cortado.

- Você acha que isso está te ajudando? - Suga perguntou depois de se sentir melhor acolhido com o líquido quente esquentando seu corpo de dentro para fora.

- Estou no caminho certo, já consigo entender o lado errado de toda a situação. - V falou mexendo no fogo com o atiçador de ferro.

Os dois olharam distraídos para o fogo crepitando na lareira.

Pontos de luz dourada subiam junto com a fumaça pela chaminé.

- Lembra quando quebrei seu nariz? - Suga perguntou quando V sentou ao seu lado encolhendo as pernas no sofá feito uma criança.

- Lembro. - V sorriu deitando sua cabeça no encosto do sofá.

Seus olhos grandes fitavam em expectativa o mais velho, porém Suga conseguiu notar a ausência do desespero no olhar, pelo menos ele queria muito não ver algo ali, só esperava que fosse mais sua perspectiva aguçada do que a expectativa esperançosa falando agora.

- O que tem isso? - V perguntou fazendo Suga voltar ao assunto.

- Me perdoa? - Suga perguntou acariciando o rosto suave de V.

- Por que isso agora? Você nunca pede desculpas, pelo menos não sinceramente.

Suga bateu em suas pernas para que V se deitasse ali.

O maior pareceu pensar no assunto, olhando desejoso para o local, até se render e deitar a cabeça, com as mãos encostadas delicadamente ao lado do seu rosto.

Suga fez carinho nos cabelos do mais novo que suspirava em deleite a cada toque.

- Ele filmava suas sessões. - Suga sentiu V enrijecer com as palavras, mas relaxou em seguida a ignorando por completo.

- Vim até aqui perguntar se você me permite resolver isso da minha forma. - Suga falou esperando que V pensasse no assunto, porque ele faria exatamente o que o garoto o mandasse fazer, apesar de já estar tudo pronto para agir.

- Você tem minha permissão. - V falou se virando na direção de Suga ainda deitado em seu colo.

- Tem certeza?  - Suga perguntou o olhando com receio.

V concordou com a cabeça, mas visivelmente incomodado com a conversa.

- Você assistiu? - V perguntou sem conseguir olhar para o mais velho.

Suga concordou olhando o fogo alto da lareira, queimando desmedido o acelerador que o alimentava sem grandes restrições.

- Desculpa. - Suga pediu voltando a chorar em silêncio.

- Pelo que ? - V perguntou abraçando as pernas do maior na tentativa de o acolher.

- Por não ter notado que algo assim acontecia bem diante dos meus olhos. - Suga falou se sentindo um bosta de ser humano, por só pensar nos próprios problemas na época. - Não irá se repetir. - Suga terminou engasgando no final com as lágrimas.

- Eu sei. - V falou com a voz, grave e irritada, parecendo ser quem dominava a situação no momento.

- Eu te amo. - Suga disse puxando o mais novo para o seu colo para poder o acalentar.

V sabia que aquilo era mais para Suga se acalmar do que para acalmar ele. Irritava o fato de ver Suga tão sensível por sua causa.

- O que vai fazer com ele? - V perguntou vendo Suga travar com a pergunta.

- O que ? - Suga afastou o garoto para poder olhar em seus olhos.

- Não quero que o machuque. - V falou vendo Suga arregalar os olhos com a frase.

- Você está mais doente do que eu pensava se acha que vou te ouvir. - Suga falou tentando se levantar, mas V o puxou para baixo sentando em seu colo para prendê-lo no lugar.

- Você não entende. - V começou a falar.

- É Tae, eu não entendo. - Suga falou passando as mãos nos cabelos, demonstrando ser uma mania de quando se estressava com algo.

- Não falo por ele. - V falou pegando ambas as mãos de Suga para juntá-las em concha em seu peito. - Não ligo para o que quer fazer a ele. - V falou virando a cabeça para olhar para Suga que virava o rosto toda vez que faziam contato. - Não quero que você se machuque ao tentar ferí-lo, quero que fique longe disso. - V falou sorrindo por ver que finalmente Suga parou de fugir e o olhou, ainda que receoso.

- Jimin me falou que querem um filho. - V sorriu amoroso para a cara surpresa de Suga.

- Vocês conversam? - Suga perguntou com a testa enrugada.

- Todos os dias. - V falou sorrindo da cara de surpresa do mais velho.

- Vocês sempre foram unidos, isso não deveria me surpreender. - Suga falou sorrindo para V.

Eles suspiraram alto ao mesmo tempo, os fazendo rir juntos no final.

- Promete que não vai fazer nenhuma loucura? - V pediu deitando o rosto no ombro do maior, esfregando o nariz na blusa grossa de lã de Suga para depois relaxar o corpo em seu colo.

- Eu vou destruir aquele filho da puta, irmão. - Suga falou depois que teve certeza que V dormia pesado e não o ouviria.


V acordou com o som do seu celular tocando e sentou no sofá confuso pelo toque familiar.

Ele surtou no primeiro dia em que esteve ali, porque Woo não parava de ligar, então o desligou e o jogou em qualquer canto. Tudo que ele fazia era através do telefone fixo que ficava no chalé.

- Fiz café. - Suga disse aparecendo da cozinha, coçando a cabeça confuso com a mesa de café da manhã em suas mãos.

Ele olhou sorridente para V caminhando em sua direção.

- Acho que peguei tudo. - Falou roubando uma torrada depois de encaixar a mesa entre as pernas de V.

- Você ligou meu celular? - V perguntou tomando um gole do café com canela, exatamente da mesma forma que Jimin costumava fazer para ele.

Aqueles dois pareciam cada dia mais como um só ser.

- Liguei. - Suga olhou para o aparelho vibrando desesperado no móvel.

- Por que ? - V olhou para o mais velho tentando não demonstrar seu pavor.

- Um tal de Jihoon não parava de ligar. - Suga falou abaixando a cabeça um pouco envergonhado.

- Como você sabe quem ligou se estava desligado? - V perguntou distraído com a comida.

- Eu clonei seu celular. - Suga levantou o rosto para avaliar a reação do mais novo.

V travou com uma torrada no meio do caminho, mas não demorou para voltar ao estado indiferente.

- Agora as coisas finalmente se encaixam. - V olhou com tristeza para Suga.

Ele realmente preferia que V o socasse ou gritasse sua raiva, mas o olhar com decepção e tristeza nos olhos era muito pior que um soco no estômago.

- Eu queria ajudar.

- Foder minha mente por usar as palavras que Mr.S usava comigo, era uma das partes em que você me ajuda? - V perguntou com a voz baixa e constrita, arrepiando Suga com toda sua intensidade.

- Eu me desesperei, não foi algo pensado, eu só tentei amenizar os surtos para que não se afogasse com tudo aquilo de forma que fosse impossível te salvar.

V jogou uma faca de manteiga em cima de um pires, causando um barulho exagerado entre os dois.

- Obrigado pela ajuda irmão, você realmente fez de tudo para me salvar de mim mesmo. - V falou irônico enquanto levava a mesinha para cozinha.

- O que você acha que estou fazendo aqui no meio nada? Jimin também precisa de mim.

- Tenho certeza que precisa. Aliás todos precisam de você, afinal você é o nosso salvador. Oh! Poderoso Min Yoongi. - V jogava as coisas no lixo enquanto gritava pela cozinha.

Suga sentiu o corpo esquentar, enquanto as mãos fechavam em punho ao lado do corpo a medida que as palavras de V aumentavam.

V parou no meio da cozinha pensativo e preocupado.

Suga abriu as mãos, notando a mudança de comportamento do mais novo, mesmo daquela distância.

- O que foi?

- Você disse que Jihoon não parava de ligar? - V perguntou jogando o resto das coisas que tinha nas mãos dentro da pia, correndo para o celular em cima da mesa de centro na sala.

- O que está acontecendo?

- Ele era um dos meninos de Woo. - V falou esquecendo da regra de não pronunciar o nome dele, pela primeira vez.

- O que é que tem? - Suga sentou ao lado de V que retornava a ligação vezes seguidas.

V olhou para Suga com os olhos brilhando pelas lágrimas, a boca aberta e as mãos vacilantes.

- Ele não atende.

- Talvez ele esteja ocupado. - Suga falou impaciente pelo desespero sem motivo de V ter atrapalhado a conversa deles.

- Você não entende, eu sou a emergência de Jihoon. - V falou se levantando para pegar as chaves da sua Ferrari.

- O que significa se ele não te atende? - Suga perguntou se levantando como reação a toda ação do irmão.

- O problema não é ele me atender, o problema é ele ter me ligado para começo de conversa.

- Não entendo.

- Jihoon é mil vezes melhor submisso que eu. - V falou fechando as janelas do chalé às pressas.

- Não sei se ser submisso é algo bom.

- Isso não importa. - V abanou o comentário com as mãos, saindo do chalé às pressas, sendo seguido por Suga ainda confuso. - O que importa é que ele nunca pediria ajuda. - V falou entrando no carro seguido de Suga.

- Se ele ligou… - Suga começou mexendo em algo nas suas costas nervosamente.

- É porque ele realmente está com problemas. - V respondeu saindo com o carro a toda velocidade pela estrada de terra que antecedia a rodovia lateral de onde estavam.

...

Eles estavam perto da entrada de Seul quando Suga finalmente parou de digitar no celular e relaxou a cabeça no banco.

- Aquilo que você fica conferindo toda hora nas suas costas é uma arma ? - V perguntou rompendo o silêncio.

Os dedos de Suga pararam de bater em suas pernas, mas foi a única coisa visível que mudou em seu comportamento.

Suga não respondeu, o que estranhamente confirmou as suspeitas de V.

- Está registrada no seu nome? - V Perguntou vendo o mais velho negar.

- Você pretende usar?

- Não se eu puder evitar. - Suga falou finalmente calando V.


- É aqui? - Suga perguntou olhando impressionado para a mansão ao lado deles.

V concordou vendo o celular vibrar.

“Taehyung?” - A voz baixa de Jihoon o chamou através do telefone.

“Onde você está?” - V perguntou se mexendo desconfortável com o som baixo e quebrado da voz de Jihoon.

“Ele quer que ouça minha voz enquanto…”

“Enquanto o que ? ”. - V perguntou olhando para Suga em pavor.

“Jihoon ? Enquanto o que?” - V perguntou inclinando o carro para a portaria automática da mansão.

“Você só precisa ouvir” - Jihoon falou começando a chorar.

“Passa o telefone para ele”. - V ordenou sem ouvir nada depois disso.

“Jihoon?” - V tentou mais uma vez, digitando o código da entrada do portão que começou a abrir devagar.

“Amor?” - V gelou com a voz em seu ouvido.

Era Woo, mas era chorosa e manhosa, completamente o oposto de tudo que ele já tinha visto dele. Era quase como se Woo tivesse possuído por outra pessoa ou algo bizarro assim.

“É você? Vo... você tá aqui?” - Woo perguntou rindo em cima do choro.

“Estou, posso entrar?” - V perguntou tentando lidar com a situação nova que lhe era apresentada, da melhor forma possível.

“Claro, claro”. - Woo falou antes de V desligar o celular.

Ele olhou para Suga que parou de mexer no celular ao mesmo tempo que devolvia o olhar apreensivo.

- Essa é a hora que você decide chamar a polícia ou me deixar resolver por conta. - Suga falou assim que seu celular começou a tocar. - Preciso da resposta agora. - Suga pediu olhando o celular inquieto.

- Você não vai conseguir mexer num fio de cabelo dele sozinho. - V falou olhando nervoso para o celular de Suga.

- Não estou sozinho.

V olhou para a janela da mansão, onde alguém abria e fechava a cortina de um jeito impaciente.

Seu corpo tremia com todas as memórias do sofrimento que passou naquele lugar.

Ele tinha tanto ódio por ser jovem e indefeso demais quando um homem poderoso e entediado acabou com sua vida, sabendo que era intocável o suficiente para fazer o que quisesse sem consequências.

Suga apertou uma das mãos de V, mostrando que ele não estava sozinho.

- Pega o filho da puta. - V falou abrindo a porta e saindo do carro vendo Suga atender o celular no processo.

Seu corpo vacilava com ódio e medo juntos, numa mistura explosiva.

Ele bateu na porta, remexendo os pés no tapete familiar sob seus pés.

A porta se abriu trazendo uma luz amarelada que iluminava parcialmente seu rosto.

V levantou o rosto e se deparou com a única pessoa que tentou esquecer no último mês de treinamento mental intensivo.

- Achei que nunca mais te veria. - Woo falou sorrindo indeciso.

V seguiu os ombros dele que tremiam, até suas mãos que seguravam um chicote pingando sangue no carpete bege que forrava boa parte da mansão.

O  Woo que ele conhecia nunca seria tão descuidado.

V sorriu quadrado imitando sua feição submissa do bom baby boy que foi por anos.

- Posso entrar? - ele perguntou sentindo um refluxo provocar sua traquéia pelo enjôo que causava uma queimação em seu esôfago.

- Por favor. - Woo falou abrindo espaço para V passar, parecendo ansioso e talvez um pouco emocionalmente descontrolado.

V entrou na sala espaçosa, decorada com móveis limpos e escassos. Seus olhos arregalaram ao notar algo se mexer ao pé do piano lateralizado no canto da sala.

- O que você fez? - V perguntou a Woo, assim que ele apareceu ao seu lado.

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