Leap of faith

Hoseok não dormia há um tempo. Não que ele conseguisse fazer se quisesse, mas o cansaço pesava suas pálpebras.

Ele deitou a cabeça na beirada  da cama por um instante, mas pulou assustado ao notar uma movimentação.

- Sr. Jung? - uma voz baixinha e quebrada sussurrou.

Jihoon tinha essa voz suave de sono, quase rouca. Hoseok queria mergulhar naquele som, seu corpo encheu de uma energia insana, ele sorriu largo, fazendo o menor sorrir também.

- Você está melhor? - Hoseok perguntou alisando a mão fria de Jihoon enquanto se acomodava na cama ao seu lado.

- Eu já tô bem há um tempo Sr. - Jihoon disse com um biquinho adorável nos lábios.

Era verdade. Jihoon já tinha sido liberado do hospital e estava repousando em casa.

Hoseok colocou seu endereço como a casa de Jihoon e o menor não sabia o quanto deveria surtar à respeito, mas sabia que o mais velho não fez por mal.

Eles se encaravam agora, mas Hoseok não podia ser mais inocente quanto a isso.

Jihoon cansou de tentar mostrar para Hoseok suas verdadeiras intenções, mas o mais velho era bem esperto em fugir do assunto.

Talvez ele não o quisesse mais, depois de ter entregado V nas mãos do Sr. S.

Ele não sabia muito bem o que pensar.

Hoseok sorriu, colocando uma mesa de café da manhã em seu colo.

Havia uma rosa solitária ao lado do copo de laranja. Jihoon pegou a flor e a cheirou, sorrindo timidamente para o mais velho.

- Gostou?

Jihoon concordou animado.

- Obrigado.

Hoseok sorriu mais uma vez.

Ele não conseguiu reagir quando Jihoon se inclinou e beijou seu rosto, também não fez muito para mudar o fato de que o pequeno deslizava sua boca macia por sua bochecha até encostar em seus lábios. Na verdade, ele mal percebeu quando abriu a boca para receber a língua quente de Jihoon na sua.

Sua distração tomou proporções ainda maiores enquanto o pequeno alisava seu braço com seus dedinhos gelados, descendo para dentro de seu pijama e arranhando seu abdômen.

Ele pegou as mãos de Jihoon para afastá-las, mas um barulho de pratos e copos caindo o distraiu do fato que Jihoon sentava em seu colo.

- Jihoon.

- Cansei do seu cuidado excessivo comigo, Hobi.

JHope parou de beijar o menor, uma sensação quente no peito o fez perceber que adorava a forma íntima que o pequeno havia lhe chamado.

As mãos de Jihoon desceram para dentro da sua calça e ele gemeu com aquele toque delicado.

JHope se sentia um adolescente, toda vez que era tocado daquela forma por Jihoon. A ereção crescendo sobre a mão habilidosa do pequeno era vergonhosa.

- Jihoon. - JHope tentou parar o beijo. - Espera.

Ele conseguiu por fim ao se desvencilhar, ficando em pé ao lado da cama toda bagunçada de pratos, copos e comida espalhada pelos lençóis.

- Nós não podemos.

Jihoon sentou na cama, as mãos no colo, os olhos direcionados ao chão.

- Desculpa Sr. Jung. - Jihoon falou baixinho.

JHope enrugou a testa.

O que houve com Hobi?!

- Você ainda está se recuperando. - JHope estava realmente preocupado.

Por Deus! O garoto tinha levado um tiro.

- Eu gostaria de saber até quando o Sr. vai usar essa desculpa. - Jihoon deu de ombros. - Eu não tenho pra onde ir, mas posso dar um jeito de ir embora, se o problema for…

- Eu te amo. - JHope disse atropelado, fazendo Jihoon abrir a boca num “O” perfeito.

- O que disse? - O pequeno sussurrou confuso.

- Eu te amo, Jihoon. Não me olhe como se tivesse crescido um terceiro olho na minha testa. - Jihoon riu baixinho. - Você é incrível e tem um coração maravilhoso, que por algum milagre permaneceu puro diante tudo isso. Eu só… eu só não quero me aproveitar desse seu jeito, pequeno. Eu te amo, e não me importo em esperar o tempo que for preciso para você se recuperar, de tudo.

Jihoon não sabia o que dizer.

JHope entendeu o silêncio do menor como uma forma de pedir espaço. Então ele saiu do quarto na direção do banheiro, na intenção de tomar um banho gelado para aliviar a dor da excitação que tinha no meio das pernas.

A ducha de água caiu com violência na suas costas. Ele suspirou pesado com o jato gelado o acalmando.

JHope não queria jogar uma bomba nas mãos de Jihoon aquela hora da manhã, mas uma hora precisaria dizer o que estava sentindo. Ele podia notar a insegurança de Jihoon e queria fazer algo a respeito, mas tinha tanto medo de machucar o pequeno. Ele era tão delicado e sensível.

JHope só queria guardá-lo em um potinho e protegê-lo do mundo para sempre.

Ele amarrou a toalha na cintura, mesmo que seu corpo estivesse molhado. Sua distração tomava o melhor dele as vezes. Suas mãos pentearam o cabelo molhado, deixando mais água escorrer por seus ombros.

Ele olhou para o seu quarto a procura de uma segunda toalha, mas travou seus movimentos ao notar Jihoon parado na porta.

O menor vestia uma camiseta dele e só?!

Ele olhou para as pernas delicadas de Jihoon descaradamente, seus dedos correram pelos lábios que ele precisou umidificar mais de uma vez. O corpo tensionado a medida que Jihoon levantava a camiseta.

- Não tem nada de puro em mim Sr. Jung. - Jihoon disse com uma voz lenta, tentadora e manhosa.

Suas mãozinhas terminaram de tirar a camiseta  que ficava enorme em seu corpo minúsculo. Ele estava com uma calcinha de algodão cheia de babados de renda branca.

JHope gemeu, passando a mão no rosto enquanto tentava entender o que estava acontecendo.

Jihoon não teve nenhuma dificuldade em empurrá-lo até a cama, desamarrando a toalha da sua cintura antes de sentar no seu colo.

O maior colocou a mão na cintura do menor para que ele não caísse, ainda distraído com aquela visão encantadora bem na sua frente.

Jihoon sugou o pescoço de JHope, lambendo as gotas de água acumuladas ali e o mordeu.

O garoto era a visão da própria inocência, o que entrava em uma confusa contradição, porque ele parecia saber exatamente o que fazer para deixar JHope louco. A maneira que ele afastava a calcinha para colocar a bunda encaixada na ereção de JHope, rebolando lentamente de forma que o maior precisasse apertar sua cintura ainda mais forte. A quantidade exata de saliva que ele usava para deixar sua boca no tom exato de rosa. A maneira que suas mãos puxavam delicadamente os cabelos na nuca de JHope, o incentivando a apertá-lo ainda mais forte.

Jihoon saiu de cima de JHope e ficou em pé mais uma vez , sorrindo timidamente enquanto balançava o próprio corpo de um lado para o outro.

- Eu sei que pareço uma criança inocente Sr. Jung, mas eu fui treinado para parecer uma. Isso não significa que não sei te fazer gozar todas as vezes que eu quiser.

- Jihoon. - JHope limpou a garganta.

Era difícil pensar enquanto a glande rosada de Jihoon saiu para fora do tecido delicado da calcinha, deixando uma linha brilhante de pré gozo na base do seu estômago.

- Você me permite? - Foi a única coisa que ele ouviu do menor.

Ele não fazia ideia do que o garoto estava falando, mas concordou mesmo assim.

Jihoon quase deu pulinhos enquanto se aproximava novamente e se ajoelhava na sua frente.

Ele arregalou os olhos, sem conseguir impedir de abrir as pernas para acolher o pequeno no meio.

Jihoon sorriu, o que fez ele sorrir também.

O menor colocou a língua pra fora e lambeu a cabeça do seu pau. JHope gemeu rouco, alisando os cabelos do menor como incentivo, apesar de estar ainda um pouco aéreo.

Jihoon chupou a cabeça do seu pau o fazendo despertar do torpor, uma das mãos do pequeno acariciava suas bolas enquanto ele o colocava inteiro na sua garganta.

Os dois gemeram juntos o que de alguma forma só piorou tudo, as vibrações na garganta de Jihoon fez JHope ver estrelas, então ele puxou o cabelo do menor e estava pronto para pedir desculpas quando abriu os olhos, mas seus medos e inseguranças cessaram assim que seus olhos cruzaram com o olhar malicioso de Jihoon.

JHope sorriu tão malicioso quanto dessa vez, assistindo o menor babar nele todo. Ele podia sentir a saliva escorrer nas suas bolas e pingar no chão. O menor pareceu satisfeito com seu serviço, porque se levantou do chão não muito tempo depois e ficou em pé entre as pernas de JHope.

- Eu quero muito sentir seu pau me abrindo Sr. Jung. - Jihoon disse com a voz delicada e inocente.

JHope engoliu em seco, parece que teria que se acostumar com o sentimento dúbio daquele jeito de Jihoon.

- Então senta nele, pequeno. - JHope murmurou. Sua voz era rouca e um pouco bruta, o que fez Jihoon sorrir.

Ele achou que Jihoon iria com calma, ele não tinha preparado o menor para recebê-lo, mas tirando as reboladas que Jihoon deu na cabeça do seu pau, o garoto não fez nada além de deixar JHope invadí-lo de forma brusca, dolorosa e rápida.

JHope não estava nem um pouco preparado para aquilo. Jihoon estava acostumado com a dor, apesar de choramingar e derramar lágrimas pela falta de lubrificação, seus movimentos eram rápidos e suas reboladas faziam JHope enxergar pontos de luz em sua visão prejudicada.

Ele queria aguentar mais tempo, mas era impossível, ele era tão apertado e quente.

Jihoon se assustou quando JHope tocou na sua ereção e começou a masturba-lo, era algo novo para ele, mas era tão bom. Não demorou muito para ele gozar nas mãos do mais velho, o que fez com que ele tivesse espasmos e espremesse ainda mais JHope dentro dele.

JHope gozou não muito tempo depois e os dois ficaram um tempo considerável assistindo seus peitos suados, subindo e descendo pelo esforço que haviam feito.

Jihoon tirou o pau de JHope de dentro dele e o empurrou na cama. Beijando sua boca de um jeito preguiçoso e relaxado.

JHope achou que nada podia ser comparado ao sexo com Jihoon, até o menor descer seus beijos pelo seu peito, sugando seu mamilo e provocando seu corpo ao seu limite. Mais tarde ele percebeu que não existia nada comparável com uma noite inteira repleta de sexo e carícias com Jihoon.

Ele não podia negar, sempre cuidaria de Jihoon como se ele fosse uma flor delicada prestes a se desmanchar entre seus dedos, mas também tinha um lado de Jihoon que exigia brutalidade e perversão. Também tinha a obsessão do menor de acatar ordens, de obedecer. Era tudo muito complicado na mente de JHope, mas ele fazia de tudo para o menor. Tudo que precisasse ser feito.

Ele estava de joelhos pelo garoto e não havia nada no mundo que não estivesse no alcance das mãos do pequeno no segundo em que ele pedisse.

Jihoon era a alma mais preciosa e gentil que JHope conhecia, isso nunca mudaria e ele não entendia como era possível alguém tão especial olhar para ele e ver algo pelo que valesse a pena ficar.

Ele sempre se imaginou sozinho na vida, então foi uma surpresa e tanto ter alguém tão especial ao seu lado que o amava.

Um cara de sorte. Era como JHope se imaginava quando parava para pensar sobre isso.

...

A luz do sol devia incomodar seus olhos, mas a claridade lhe fazia bem.

O carro ia a toda velocidade na autoestrada para algum lugar, Taehyung não sabia para onde e duvidava que Jungkook também soubesse. Poderia ser considerado algo imprudente ou impensado sair sem rumo no meio de uma confusão completa que suas vidas eram no momento, mas quem liga?!

Jungkook parecia feliz, com seu sorriso doce, os olhos na direção da estrada enquanto acariciava a mão de Taehyung apoiada gentilmente em sua perna.

Eles não chegaram a lugar nenhum e não precisavam, para Taehyung esse era seu final feliz, sua realização de felicidade completa.

Ainda existia um passado repleto de complexidades entre os dois, mas pela primeira vez, isso não importava mais. Ali estavam eles, Kim Taehyung e Jeon Jungkook, sentados num carro em movimento, trocando olhares que transmitiam frases silenciosas capazes de transbordar seus corações, coisas essas que sempre estiveram ali, mas agora eram livres para serem eternizadas em gestos sutis e cheios de significância.

Uma hora a estrada ia acabar, eles precisariam comer, dormir e eventualmente conversar um com outro, mas por enquanto tinham tudo que precisavam, mesmo que de fora aquele “tudo” fosse apenas um monte de nada pacífico e acolhedor.

Taehyung acordou pela segunda vez com o rosto pressionado contra o vidro da janela do carro. O barulho do obturador da máquina Polaroid nas mãos de Jungkook foi o que o despertou com um pulo. Jungkook sorriu amoroso, mostrando entre seus dedos a foto dele dormindo. Taehyung sorriu de volta, coçando o olho e se espreguiçando enquanto olhava ao redor.

Eles estavam parados numa pousada simples em frente a praia. Chovia fraco e era tudo bem cinza, mas ainda iluminado por um sol, agora não muito quente e já no fim de seu tortuoso ciclo.

Tae saiu do carro, esticando as pernas e os braços feito um gatinho preguiçoso.

Jungkook atravessou o carro, entregando em suas mãos um Ray Ban que encontrou jogado no porta luvas.

Suas mãos se entrelaçaram por estarem perto demais, ou era isso que falariam se um dia alguém perguntasse sobre aquilo. Seus olhos cruzaram mais uma vez, antes dos passos lentos o levarem para um restaurante em frente a praia.

O lugar estava quase vazio, era pouco iluminado e bem arejado.

Kookie escolheu uma mesa no canto do estabelecimento, do lado externo, onde ventava salgado. Alguém apareceu para cumprimentá-los, apresentar o cardápio, Jungkook prestava atenção no garçom, Taehyung prestava atenção em Jungkook. Em como seus lábios mexiam calmamente enquanto falava, seu sorriso atingiam os olhos brilhantes, vez ou outra ele precisava passar a língua para umedecer os lábios ressecados, os deixando brilhantes e convidativos. Os cotovelos estavam em cima da mesa e ele sorria educadamente para o atendente que lhe explicava a coleção que tinham de vinhos. Jungkook olhou em seus olhos por um instante, seu coração acelerou com aquele olhar. As pontas dos seus dedos tremiam e gelavam com a escassez do sangue periférico. Sua vontade era voltar a esconder seus olhos com o óculos pendurado na gola da camisa. O pensamento fez suas bochechas esquentarem, Jungkook o lia com facilidade, por isso sorrio para a timidez do mais velho o que fez Taehyung sorrir também, seus ombros relaxaram, os dedos eram quentes novamente.

A comida era incrível e leve, mas não tão importante. Jungkook falava sobre a mudança brusca do clima na Costa Oeste e Taehyung concordava vez ou outra, mas ele não conseguia se concentrar muito bem, o mais novo era tudo em que conseguia pensar. Como se tivesse passado esse tempo todo em abstinência e lá estava, a um passo de distância, sua droga alucinante.

- Você parece distante. - Jungkook tentou não ser invasivo, ele considerava Taehyung traumatizado pelos últimos eventos, mas se ele soubesse melhor, saberia que o mais velho já foi traumatizado por uma vida inteira. Aquele evento era uma espécie de “ uma terça feira agitada” em sua vida.

Mas não tinha como o menor saber de tudo isso. Como poderia?!

- Estou pensando em como sua língua deve estar macia agora, gelada e com gosto de Sauvignon.

Jungkook enrijeceu os ombros, a mandíbula travada, os braços tensos e rígidos. O sorriso era dificultoso e engolir saliva exigia esforço, ainda assim seus dedos delicados alcançaram a taça e ele tomou mais um pouco do vinho, o saboreando devagar e lambendo os lábios com a mesma lentidão no final, a fim de provocar a sanidade quase perdida de Taehyung.

Tae corrigiu sua postura na cadeira, aqueles simples gestos fizeram tudo que podia com seu corpo. As pernas formigando, um volume crescendo entre as pernas, o suspiro alto que saiu por sua boca no entanto, fez Jungkook amaldiçoar baixinho do outro lado da mesa enquanto alguém se aproximava para servir a sobremesa.

Taehyung comeu pouco, mas com a sobremesa foi diferente. Ele adorava sorvete e frutas vermelhas, então se lambuzou com elas o quanto podia. Jungkook adorou observar cada segundo torturante daquilo, pensando em todas as formas de fazer os lábios de Taehyung ficar com aquela mesma aparência lambuzada e vermelha mais tarde.

Seus olhos cruzavam com mais malícia agora, principalmente depois de Taehyung lamber o sorvete escorrendo no canto da boca, de forma que fez Jungkook querer correr dali e pegar o primeiro quarto que conseguisse na pousada acima deles.

Eles riram, provavelmente pensando em formas sutis ou não de fugas. O que foi o exato motivo de Jungkook ter erguido a mão para pedir a conta.

O engraçado é que no meio do caminho entre o restaurante e a pousada, ambos se viram caminhando de mãos dadas pela orla da praia.

Taehyung adorava afundar seus pés descalços na areia, o sapato em uma das mãos a calça dobrada até quase os joelhos. Ele parou de repente, pegando algo do chão. Eram duas cordas firmes de sisal amarrada num nó. Provavelmente tirada de alguma cesta de piquenique, um buquê de flores primaveris talvez.

Jungkook enrugou  a testa, assistindo os dedos longos do mais velho desenrolar a cordinha.

- O que é isso? - Jungkook perguntou enquanto Taehyung dava de ombros, mas não desistia da sua tarefa.

- Venho pensando nisso há um tempo.

- Restauração de sujeiras que o mar traz de volta para praia durante a noite. - Jungkook disse sério, concordando com aquilo, como se fosse a melhor ideia do mundo.

Taehyung riu animado, batendo no ombro do mais novo.

- Eu sempre me acovardei porque nunca me achei o suficiente para você. - Taehyung pegou uma mão de Jungkook e fez um nó com a cordinha ao redor do seu anelar esquerdo.

- Mas, e se formos suficientes juntos? - Taehyung sussurrou, seus lábios tocando o ouvido de Jungkook por um instante, um beijo calmo foi deixado em seu pescoço, o que ocasionou sensações turbulentas.

O garoto na sua frente estava branco, pálido e não conseguia se mover. Taehyung notou suas mãos trêmulas, mas não estava nem um pouco melhor.

- Você... - Taehyung engasgou com sua voz rouca, mas resolveu tentar mais uma vez. -  … você, se casaria com um cara disfuncional e imperfeito, que te ama da mesma forma que sempre amou, desde a primeira vez que te viu? Andando perdido pelos alojamentos estudantis, os olhos grandes e a boca entreaberta, admirando tudo como se fosse a coisa mais incrível em que já colocou os olhos.

Jungkook precisou respirar pausadamente, Taehyung não parecia ansioso por uma resposta, eles quase dançavam agora com a força do vento os balançando sutilmente.

Tae se afastou para entender o que Jungkook sentia através de suas feições, mas descobriu que ele chorava ao invés de sorrir.

- Eih. - Taehyung o abraçou, como já fez um milhão de vezes antes. Ele odiava ver seu garoto chorar. - Eu estou aqui Bunny, não chora.

Jungkook riu no meio do choro, se afastando para negar com a cabeça enquanto ria desconcertado.

- Essas são de felicidade. - Jungkook disse secando suas lágrimas com a manga da blusa.

Taehyung sorriu amoroso, mas não sabia o que dizer, então esperou.

Esperou Jungkook se aproximar, o assistiu tomar o outro laço de suas mãos agora suadas e tensas. Viu sua mão sendo esticada e um nó com o cordão, feito em seu dedo de maneira bem menos desajeitada que o dele.

- Nem em um milhão de anos, eu acreditaria que um dia me casaria com o meu primeiro e único amor. - Jungkook disse sem graça.

Ele ia dizer muito mais, mas sua boca foi tomada pela de Taehyung num beijo lento e apaixonado.

Tae se sentia feliz. As coisas aconteceram da forma que ele havia planejado. Ele conseguiu manter Jungkook longe da sua vida e longe de toda sujeira que vinha com ela. O garoto cresceu bem, teve uma boa vida, uma vida saudável e longe de traumas. Taehyung não se importava de carregar as cicatrizes em seu nome, não se importava de todas as vezes que pensou em desistir, mas se mantinha firme para que Jungkook jamais sofresse por algo que ele fez. Ele mal conseguia lembrar de todo ódio e ganância que atingiu com força sua vida e corrompeu sua alma, ele estava feliz demais para pensar nisso agora. Tudo que ele conseguia pensar é que desceria ao inferno outras vezes mais, se isso significasse que Jungkook se manteria intocável.

Eu poderia contar como eles continuaram se amando através dos anos que se seguiram. Poderia lhe dizer o quanto foi repentino e animado o casamento no cartório da cidade vizinha no dia seguinte, onde também era uma funerária e uma loja de conveniência. Poderia te fazer rir com as histórias feitas durante as viagens para o mesmo lugar todo ano naquele mesmo dia que ambos faziam para comemorar seu aniversário de casamento. Também poderia contar em como aquele amor só aumentou ao invés de amenizar, mas nada disso realmente iria te importar. O que vale dizer já foi dito.

Dois garotos que se conheceram quando crianças, se apaixonaram perdidamente um pelo outro, mas foram separados por suas escolhas.

Eles passaram a viver em mundos completamente diferentes e há quem diga nunca, para a possibilidade de um final feliz entre aqueles dois, mas ainda assim em algum momento entre as impossibilidades, existia  um amor transcendente e não há nada que se possa fazer quanto a isso.

Os dois não tiveram momentos fáceis no passado e não foi muito diferente no futuro, mas era diferente quando enfrentavam as coisas juntos, era bom e reconfortante.

Taehyung se sacrificou para manter Jungkook longe do tipo de vida que ele levou e valeu a pena no final. Não porque ele teve algo em retorno, além da certeza de que seu amor por Jungkook sempre seria maior do que qualquer coisa, mesmo maior que a necessidade de mantê-lo por perto. Ele faria tudo de novo.

Jungkook no entanto nunca descobriu sobre isso, sobre o quanto Taehyung se sacrificou por ele, o quanto ele sofreu por todos os anos em que se manteve afastado para o seu próprio bem, mas ele podia sentir. Ele podia não entender, mas sabia de alguma forma, que Taehyung o amava, apesar de todos os seus esforços para mantê-lo longe e em alguns momentos, essa certeza não foi o suficiente, mas era agora.

Ele percebeu que tudo que precisava fazer para ser feliz, era confiar em seus instintos e seguir seu coração.

Tudo que ele precisava fazer, era se entregar, dar um salto de fé.

Era um pensamento assustador e às vezes lhe deixava inseguro e com medo, mas assim também era a vida e amar Taehyung era a forma dele saber que estava vivo.


Anos mais tarde.

Ed estava em pé em seu escritório, olhando para sua boate através do vidro que cobria a parede lateral. Era noite clandestina, tinha um garoto de 18 anos drogado na sala VIP sendo vítima dos olhos famintos de homens poderosos que pagaram caro por aquilo. Ele fazia aquele evento uma vez por ano e já passou o tempo em que aquilo o incomodava. Porém, esse ano foi diferente. A força tarefa de atividades clandestinas invadia a balada com suas armas grandes e a autoridade policial que assustaram seus clientes.

Era um mar de pessoas desesperadas tentando fugir. Ed estava esperando o helicóptero que pousaria no telhado a qualquer momento, obviamente não seria pego naquele fogo cruzado.

Seu celular tocou, um número desconhecido iluminava o visor.

“ Como vai sua noite, Ed?”

Ele conhecia aquela voz.

- Suga. - Ele sorriu com seus pensamentos se alinhando. - Deixa eu adivinhar, você ligou para tripudiar sobre a ligação anônima que deve ter feito para a polícia sobre meu clube?

“ Sim, mas não foi por isso que eu liguei”

Yoongi riu do outro lado da linha e isso irritou Ed mais do que ele gostaria.

- Você sabe que isso não vai ficar barato. Eu tenho influência o suficiente para te arrastar para o inferno criança.

“ Na verdade… - Suga baixou um pouco o tom de voz. - … eu achei estranho quando me ajudou a invadir a mansão de Woo, fiquei me perguntando porque estava tão interessado em destruir as fitas que Woo colecionava”.

Edward se empertigou, as mãos trêmulas e o medo evidente em seu rosto pela primeira vez em anos.

Suga entendeu o silêncio como abertura para continuar.

“ Sabe, é difícil te imaginar como a vadiazinha de alguém, mas tenho que admitir, Woo sabia te fazer gemer feito uma cadel…”

- Eu não tive intenção alguma de ferir seu garoto aquele dia, só fui até lá para proteger Woo, ele tinha as fitas contra mim... - Ed odiava o quanto suava desesperado agora.

“ Não tinha intenções de sequestrar meu marido também? Me diga uma coisa Edward, quem você sequestrou para o evento de hoje?”

Ed mordeu os lábios apreensivo.

- O que quer de mim.

“ Quero você na cadeia, onde é o seu lugar. Quero esse clube fechado e sua boca tão calada quanto. Ou o resto do mundo vai ver essa interessante coletânea da sua versão de cinquenta tons de cinza”.

Ed ouviu o sinal de envio no seu email, ele clicou e era um dos vídeos de Woo com ele, assim que ele veio para Coreia para tentar a vida de modelo.

Seus olhos encheram de fúria e algo mais.

- Eu juro que vou…

“ Antes que termine essa frase, quero que saiba sobre as milhões de cópias e maneiras que arranjei desse vídeo sair caso alguém da minha família se machuque, seja sua culpa ou não. Ed eu adoraria continuar essa conversa, mas aparentemente seu tempo está acabando”.

Ed ouviu a porta lateral ser arrombada a próxima seria a dele.

- Sr. precisamos ir . - um de seus funcionários anunciou, mas foi ignorado por ele.

A ligação ficou muda e então uma outra voz surgiu no telefone.

“ Eu sinto muito que isso tenha acontecido com você também Ed, mas você tinha duas opções de caminho para seguir. Você escolheu o errado”.

Era V. De alguma forma Ed sentiu compaixão pelo que eles dividiam como trauma pela primeira vez. Os dois passaram pela mesma coisa, mas tiveram maneiras bem diferentes de lidar com aquilo.

“ Nos vemos no inferno amigo”. - Foi a última coisa que ele ouviu antes da ligação ser interrompida e os gritos para que ele se ajoelhasse estourasse em seu ouvido.

Ed sorriu. Não porque estava feliz, mas porque de alguma forma, finalmente pagaria pelo que ele fez.    Era de certa forma engraçado pensar nas palavras de V ao telefone, porque de alguma forma o garoto sabia o que ele faria a seguir, de alguma forma seus passados iguais os tornavam semelhantes.

Ele poderia ter escolhido uma vida diferente, ter tentando apagar seu trauma com a felicidade de uma vida longe de tudo isso, mas essa foi sua escolha no final. Seus caminhos bifurcaram em algum ponto. Poderia ser ao contrário, V poderia estar no seu lugar agora e ele no lugar de V, mas não foi assim.

As coisas são o que são no final das contas.

Ele levantou apesar dos gritos o aconselhando a não fazer e tirou a arma do coldre em sua cintura.

A última coisa que viu, foram flashes de luzes na sua direção e o vidro se quebrando nas suas costas.

Ele caiu no chão da boate abaixo do escritório, estava vivo, ainda que seu próprio sangue estivesse tentando sufocá-lo.

“ Nos vemos no inferno ” .  

Foi seu pensamento antes do último suspiro.

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