Hope
JHope acordou sorrindo, por mais ridículo que isso soasse. Ele sabia que estava sorrindo, porque suas bochechas doloridas e seu coração apertado com tamanha felicidade o entregava, porém não durou muito tempo.
Assim que abriu os olhos e notou que Jihoon não estava na cama e seu peito apertou mais uma vez, só que agora era por outro motivo.
- Jihoon?
O garoto poderia estar no banho ou comendo algo na cozinha, mas sua mente lhe dizia que algo estava errado e conforme ele andava apressado pelos corredores do apartamento sem encontrar o pequeno, mais sua mente o levava para terríveis conclusões.
Ele não queria ser abandonado, nem confundir boa ação com paixão e apego, mas tudo dentro dele lhe dizia que Jihoon não o queria e que uma das opções que rondavam sua mente era mais do que somente uma possibilidade.
JHope nunca foi inseguro antes, não fazia ideia do porquê estava sendo agora.
Seus pés escorregaram no chão liso da sala quando seus olhos cruzaram com um pedaço de papel do caderno de anotações, bem ali, em cima da mesa de centro na sala.
JHope sentiu seus dedos tremerem quando pegou o papel nas mãos e a vontade de se bater por reagir exageradamente passou por sua mente.
“ Comprando nosso café da manhã, Beijos J.”
JHope suspirou audivelmente, quase caindo na gargalhada pela preocupação exagerada, depois foi até a cozinha preparar o chá preferido do menor para quando ele chegasse com o restante da comida.
JHope sorriu ao perceber que Jihoon pegou o dinheiro de emergência na gaveta da cozinha, mostrando que o menor o escutava mesmo quando só parecia concordar veementemente por educação.
…
Jihoon tinha acabado de passar as compras no caixa quando um vento gelado arrepiou os pêlos do seu braço. Talvez ele devesse ter colocado um casaco, estavam no final do inverno afinal, mas ele estava tão animado em cozinhar para o Sr. Jung, assim como o mais velho havia feito na manhã anterior para ele, que mal notou a roupa que vestiu para sair de casa, afinal o mercado era literalmente na esquina do apartamento, não é como se precisasse se agasalhar todo para ir até ali.
- Jihoon.
Ele ouviu alguém chamar seu nome e parou estático sem saber o que fazer. As compras caíram de suas mãos e ele pôde ouvir os ovos quebrando ao entrar em contato com o asfalto.
Era ele.
Jihoon sabia sem olhar. Foram anos de experiência ouvindo aquele homem falar sem que ele o olhasse nos olhos.
Cabeça para o chão, mãos em punhos, pés juntos.
Era assim que ele tinha que ficar quando o Sr. S entrava na sala, foi exatamente assim que ele ficou ao ouvir sua voz.
O carro parou ao seu lado e o motorista saiu do volante, abrindo a porta traseira para que o garoto assustado na calçada entrasse.
- Entre. - Woo ordenou sorrindo ao notar que o pequeno Jihoon ainda tremia com o som da sua voz.
Jihoon sabia que não era certo, talvez ele conseguisse correr de volta a segurança do apartamento do Sr. Jung ou simplesmente procurasse um lugar com muita gente para ficar até tudo se acalmar.
O problema é que enquanto pensava em todas essas possibilidades, ele se pegou obedecendo o homem de dentro do carro. Talvez por medo, talvez por instinto de sobrevivência, ele não saberia dizer.
- Vejo que seu novo dono anda o alimentando bem e te vestindo com boas roupas. Você tá gordo e com mais roupa do que deveria. - Woo falou analisando o trêmulo Jihoon.
- Sr. Jung não…
O som do tapa veio bem antes da dor, mas também quando a dor veio, Jihoon teve vontade de se enrolar em uma bolinha protetora e chorar pra sempre.
- Cala boca. Eu mandei você falar? - Woo perguntou ouvindo Jihoon resmungar um “não senhor” choroso na sua direção.
- Você me desapontou, me desobedeceu e por algum motivo que eu não sei explicar… - Woo levantou o queixo de Jihoon a força. - … achou que conseguiria fugir de mim?
Jihoon abriu a boca para falar algo, mas se lembrou do tapa ainda queimando sua bochecha e ficou quieto.
- Bom garoto. - Woo acariciou os cabelos de Jihoon e pela primeira vez o garoto não se sentiu aliviado por ter agradado e sim enojado.
Woo deve ter notado, pois empurrou Jihoon no banco do carro e resmungou algo que o pequeno não foi capaz de escutar.
- Você precisa me compensar pelo que me fez passar. - Woo disse seco.
Jihoon estava procurando em sua mente o que ele havia feito de mal para o Sr. S. , talvez ter saído do apartamento velho em que ele morava sem autorização, mas ele não se arrependia, provavelmente teria morrido de hipotermia antes mesmo que o inverno acabasse.
- Me pergunte como. - Woo gritou fazendo Jihoon pular sentado.
- Co...como...Sr. ? - Jihoon perguntou baixinho, assustado e sem saber do que Woo estava falando.
- Fico feliz que tenha perguntado. - Woo estendeu o celular na direção do garoto se aproximando um pouco mais. - Agora você vai fazer exatamente o que eu falar... - Woo disse entregando o celular para o menor.
…
Rafe estava realmente nervoso. Era a primeira vez que ele contrabandeava alguém para dentro da sua casa e parecia a coisa mais difícil de fazer do mundo.
Era bem mais simples nos filmes.
- Eih! Você tá bem? - ele perguntou para Louis que tinha escorregado na grama perto da garagem lateral.
- Tem óleo nessa porra? - Louis perguntou praguejando pela milésima vez, o que fez Rafe rir alto, talvez alto demais.
Ele tapou a própria boca, olhando para trás nervoso.
- Anda logo. - Rafe sussurrou quando Louis se aproximou.
Louis agarrou Rafe pela cintura e o puxou para si, fazendo os dois quase escorregarem na grama molhada.
- Só vou depois que você me der um beijo. - Louis disse baixo e calmo, passando os braços pelas costas de um Rafe sorridente.
Rafe selou os seus lábios nos de Louis, mas se virou apressado para dentro da garagem logo em seguida, torcendo para que a pouca luz disfarçasse suas bochechas vermelhas.
Os dois foram a passos lentos e silenciosos até o quarto de Rafe. O nervosismo pela possibilidade de ser pego era tanta, que ele só relaxou quando trancou a porta do seu quarto com Louis seguro atrás dele.
- Wow. - ele ouviu Louis exclamar e sua preocupação se tornou outra completamente diferente.
- Gosta? - Rafe perguntou inseguro enquanto assistia Louis analisando suas pinturas.
- São lindas, mas confesso que estou com um pouco de ciúmes. - Louis apontou para um dos vários retratos de V.
- Esse é…
- Meu tio. - Rafe completou um pouco sem graça enquanto se aproximava.
- Ele…vocês… - Louis enrugou a testa confuso.
O problema era que o último quadro que Rafe pintou de V, foi o de depois que chegaram de viagem, não muito tempo atrás.
Ele tentou retratar a visão de V pós sexo no corredor da casa de praia em Busan e, não que ele estivesse se gabando, mas conseguiu uma expressão quase exata do real.
- Escuta, você não me deve nenhuma explicação nem nada, eu só fiquei curioso, eu acho. - Louis disse sem graça, confundindo o silêncio de Rafe com admissão.
- Eu não… nós não… - Rafe soltou o ar de seu peito violentamente, sentando na ponta da cama para poder agarrar em algo sólido. - Eu meio que peguei ele e meu tio na cama. - Rafe disse envergonhado.
- Você o que ? - Louis soltou uma gargalhada exagerada, tampando a boca quase que imediatamente.
Rafe arregalou os olhos, encarando a porta enquanto tentava ouvir passos no corredor, mas riu junto quando nada aconteceu.
- Você assistiu muito do que eles faziam? - Louis perguntou brincalhão enquanto se sentava ao lado do garoto.
- Praticamente tudo. - Rafe disse tímido.
Algo em Louis o fazia dizer tudo o que pensava, o fazia querer se abrir. Era tudo muito diferente, novo e excitante.
- Nossa. - Louis parou para pensar na conversa, tentando não ser muito invasivo. - O que achou? - ele perguntou sem conseguir se segurar por muito tempo.
Rafe deu de ombros mordendo o lábio inferior enquanto olhava Rafe por sob os cílios longos e curvilíneos.
Louis quase esqueceu como respirar.
Ele não fazia ideia do porquê alguém como Rafe estava dando brecha para alguém como ele, mas tinha medo de pensar muito a respeito e acabar perdendo o pouco que tinha com o garoto.
- Eu acho que foi a coisa mais excitante que já vi na vida. - Rafe disse em uma única lufada de ar.
Os dois riram juntos, baixo dessa vez.
- Como assim? - Louis se arrastou na cama de Rafe, encostando na parede do quarto.
Rafe sorriu torto e se virou para encarar Louis.
- Não sei explicar. Não tem nada a ver com o sexo em si, mas a forma como eles se respeitavam. O jeito que V tinha de se colocar no controle sem parecer desconfortável, sei lá. - Rafe deu de ombros mais uma vez.
Louis tentou não enrugar a testa, seu rosto permaneceu neutro, mas por dentro ele estava uma bagunça.
Era uma declaração um tanto quanto estranha sobre sexo.
Rafe era um adolescente como ele, apesar dele ser um pouco mais velho.
O mais novo não deveria parecer tão confiante, não deveria ter algo além do básico pensamento primitivo que todo garoto da sua idade tinha.
Certo?!
- Rafe. Não entendo. - Louis disse ainda um pouco perdido.
- Não sei como explicar. - Rafe suspirou desanimado, se virando completamente na direção de Louis.
Os dois trocaram olhares por um tempo, os olhos investigativos, tentando descobrir pensamentos não ditos entre si.
- Por que não me mostra? - Louis perguntou, se odiando pelo som rouco que sua voz empregou nas palavras, antes que ele pudesse impedir.
- Quer que eu transe com você? - Rafe perguntou um pouco incrédulo.
- Não. Quero que me mostre que tipo de controle você está falando. - Louis sorriu amoroso para o mais novo. - Se quiser, é claro. Não é como se eu precisasse entend…
Louis parou de falar, a medida que Rafe se aproximava e sentava no seu colo.
- Posso mesmo? - Rafe perguntou tão curioso quanto.
Louis só conseguia concordar com a cabeça a esse ponto.
- Tira a jaqueta. - Rafe pediu mordendo mais uma vez o lábio inferior.
Louis grunhiu algo ininteligível com a maneira que Rafe era apelativo aos seus olhos, mas fez o que o mais novo havia mandado sem questionar.
Rafe sorriu animado, procurando algo pelo quarto.
Ele achou sua calça de pijama e teve uma ideia.
- Mãos.- Rafe pediu animado.
Ele amarrou as mãos de Louis juntas com o tecido macio de flanela e sorriu.
Seus olhos brilhavam em expectativa e Louis ficou maravilhado com a visão.
Rafe se aproveitou da distração do mais velho e juntou seus lábios, beijando Louis com calma, apesar de comandar a velocidade e a forma que o beijo se desenvolvia.
As mãos de Rafe deslizaram no peitoral de Louis e ele o empurrou na parede assim que o garoto tentou manter suas bocas conectadas.
Os dois respiravam com dificuldade agora, mas ninguém tava reclamando.
- Obrigado. - Louis disse quase sem voz.
- Pelo que ?
- Por confiar em mim. - Louis sorriu, assistindo o mais novo desamarrá-lo.
Ele não se incomodou, aliás Louis ficaria amarrado para o resto da vida se isso fizesse com que ele recebesse beijos como aqueles que a boca de Rafe era capaz de proporcionar com tanta naturalidade e ele também entendeu o tipo de confiança que o mais novo adotou, à partir do momento que garantiu o controle da situação.
- Eu… - Louis estava prestes a dizer algo quando ouviram a gritaria vindo lá de baixo.
- Merda. - Rafe praticamente pulou do colo de Louis, o assustando um pouco.
- Você precisa ir. - Rafe disse nervoso.
- Rafe, eu não me importo, meus pais brigavam o tempo todo quando ele ainda morava com a gente, eu sei como …
- Não, não sabe. - Rafe se virou para Louis, o rosto apreensivo. - Meus pais nunca brigam desse jeito, alguma coisa aconteceu.
Louis precisou de um momento para entender tudo, mas quando entendeu ele agiu rápido também.
Louis agarrou sua jaqueta e a vestiu, pegando Rafe pelas mãos enquanto abria a porta do quarto.
- Vem! Vamos ver o que é.
- Não. - Rafe largou as mãos de Louis bruscamente. - Se eles te verem aqui, eu tô morto.
- Relaxa. É só não fazer barulho.
Rafe ficou em choque, olhando as mãos estendida de Louis enquanto avaliava as consequências daquilo em sua mente.
- Eih! - Louis esperou que Rafe levantasse a cabeça para olhá-lo nos olhos. - Você confia em mim?
Essa era a tal pergunta de um milhão de dólares que Rafe se perguntou várias vezes durante a semana, ele não tinha chegado a uma resposta.
Até agora.
- Confio. - ele respondeu sem realmente pensar muito, ele simplesmente sabia que era a verdade.
- Então vamos. - Louis disse tentando não parecer eufórico demais com o peso da resposta do mais novo.
…
- V tem que ajudar Jihoon. - Jimin disse pela milésima vez enquanto andava de um lado para o outro em frente a poltrona em que Suga estava sentado com um copo de Whisky nas mãos.
- Taehyung não tem que fazer nada por aquele bostinha, ele o envenenou. - Suga disse calmo, apesar de mais alto que o necessário.
- Ah! O garoto sofreu lavagem cerebral então que morra. - Jimin gritou revoltado.
- Não to dizendo isso…
- Você gostaria que outra família dissesse isso se fosse Tae no lugar de Jihoon agora?
- É a porra de uma armadilha. - Suga passou as mãos nos cabelos, terminando de tomar a bebida que tinha nas mãos. - Vamos chamar a polícia então.
- E falar o que? A única prova que temos é de Jihoon ter envenenado Tae e nada contra Woo. Já Woo tem o fato de que botamos fogo em sua casa com ele dentro.
- Abaixa a porra da voz. - Suga falou irritado, mas Jimin não teve tempo de responder, sendo interrompido pela campainha.
- Eu sei que é muito para pedir, mas por favor...por favor. - JHope disse desesperado enquanto entrava acompanhado de Namjoon e Jin.
- Cadê o Taehyung? - Suga perguntou, ignorando as súplicas de JHope.
- Desapareceu. Jungkook foi tomar banho para vir pra cá e quando saiu do quarto, Taehyung tinha sumido.
- Merda. - Suga praguejou através do silêncio na sala.
- Ele deve ter sentido nossa dúvida em obedecer às ordens na ligação de Jihoon e acabou indo sozinho. - Jungkook disse o óbvio.
- Talvez seja a hora de chamarmos a polícia.- Jin disse um pouco sem esperança em resolver tudo entre eles dessa vez.
- Não. - Namjoon disse baixo e pensativo. - Eu sei onde eles estão, Taehyung me ligou antes de ir.
- Que porra? - Suga olhou realmente revoltado na direção de Namjoon que deu de ombros em resposta.
- O garoto precisa colocar um ponto final nisso tudo.
- Taehyung vai morrer nas mãos daquele monstro, sabe disso, certo?! - Jungkook falou tão revoltado quanto Suga. - Espero que saiba que ajudou a colocar a porra de um prego no caixão do seu irmão.
- Ou podemos parar com as ofensas e fazer algo além de ficar aqui brigando feito idiotas. - Jimin disse pegando as chaves do carro no balcão da cozinha.
Ninguém falou mais nada. Eles simplesmente seguiram a liderança muda de Jimin, inclusive Rafe e Louis que escutavam tudo escondidos na curva da escada.
…
V estacionou sua moto no portão destroçado de onde um dia foi a casa onde Woo o torturava. Era difícil imaginar a casa como era. Eram só destroços e grama morta agora.
Ele pulou uma parte do portão enferrujado e continuou andando, até encontrar Woo, segurando Jihoon pelos ombros enquanto apontava uma arma na sua cabeça.
Sua mão foi até o bolso para ligar para polícia, se amaldiçoando por não acreditar que Woo chegaria a esse ponto.
- Se eu fosse você eu não faria isso. - Alguém disse atrás dele.
V sentiu o cano gelado em sua nuca e sabia que tinha feito merda.
- Edward. - V falou quando reconheceu a voz atrás dele.
- Não leva isso para o lado pessoal garoto. - Edward disse enquanto jogava o celular de V numa poça de água a poucos metros deles.
- Deixa eu adivinhar, ele tem algo contra você. - V perguntou sentindo seu coração sair pela boca.
Ele não se importava com o celular, aliás ele gostaria que seus irmãos não o encontrassem, assim estariam a salvo.
- Só continua andando. - Edward empurrou V até onde Woo e Jihoon estavam e se afastou, ficando a uma boa distância deles, mas ainda apontava a arma na direção da cabeça de V.
- Isso não é como eu queria que nosso reencontro fosse. Acredite. - Woo disse, tentando arrumar seus cabelos com sua mão livre.
Ele parecia um garoto apaixonado perto de V , daquela forma que beirava a insanidade.
- Sr. S. Por que não deixa Jihoon ir? O assunto é entre nós.
- CALA A BOCA. - Woo gritou empurrando o cano da arma na têmpora de Jihoon que tentava não fazer barulho enquanto chorava, os olhos brilhando em desespero.
Jihoon era vazio antes e não teria se importado em morrer, talvez até achasse que tinha merecido nos seus últimos momentos, mas depois que conheceu JHope, aquela maldita esperança que te faz agarrar a vida com unhas e dentes se impregnou feito uma doença no seu peito e agora ele tinha medo de morrer.
Na verdade, Jihoon pensou se não seria melhor não ter conhecido JHope, assim não descobriria o que era ter esperança de uma felicidade conquistada para então morrer logo em seguida sem nunca realmente conhecê-la.
- Eu não entendo. - Woo começou dizer com aflição na voz. - Eu fiz de tudo para você voltar pra mim. Qualquer das circunstâncias que eu causei te fariam voltar correndo em um único segundo, eu até mesmo te esperei nesses portões, achando que você voltaria a pensar corretamente. Você é meu, não devia ter me abandonado.
- Eu mudei. - V disse baixo, porém firme. Ele não tinha medo de morrer , não mais. V estava em paz.
- Não devia ter me abandonado. - Woo gritou fazendo a arma tremer entre seus dedos instáveis.
Jihoon soltou um gritinho agoniado levando uma coronhada na cabeça logo em seguida.
O menor caiu no chão, a cabeça sangrando. V deu um passo e ambas as armas foram apontadas na sua direção, o forçando a parar com as mãos para ao alto.
- Jihoon você está bem ? - V perguntou tentando conferir a gravidade dos ferimentos do menor.
- Isso é sério? Você está preocupado com esse lixo? Você sabia que foi ele quem me ajudou a colocar o quadro que comprei daquele idiotinha que acha que é seu dono no seu apartamento? Ele me ajudou a trocar as pílulas da sua vitamina por produto tóxico, te viu morrendo e não fez nada para ajudar. Ele tem me munido de informações sobre você esse tempo todo. Ele é um lixo, um ninguém e você sabe.
- Então deixa ele ir. - V implorou olhando nos olhos de Woo que agora sorria assustadoramente com a parte queimada do seu rosto que deixava uma careta assustadora enquanto o outro lado parecia o velho e encantador Sr. S.
A ironia do que Woo era por dentro e do que já foi um dia por fora, agora exposto em sua feição para todo mundo ver.
- Deixa ele ir. Você me queria, aqui estou. - V tentou mais uma vez, já que Woo não falava nada.
- Na verdade, eu tenho planos para o meu pequeno Jihoon. - Woo puxou o garoto pelos cabelos. - De joelhos.
- Por fa...vor. - Jihoon pediu entre soluços.
- Eu disse de joelhos. - Woo chutou Jihoon que tentava ficar de joelhos enquanto sua cabeça ainda sangrava pela coronhada, escorrendo sangue por todo seu rosto e o fazendo enxergar vermelho.
Jihoon mal ficou de joelho quando Woo o puxou pelos cabelos mais uma vez, o deixando em pé de maneira instável.
- Você não entendeu o porquê te chamei aqui V, então eu vou te explicar. - Woo praticamente cuspiu o apelido de Taehyung.
- Eu fiz sua carreira, você só é o homem que é hoje por minha causa. Minha causa. E o que eu ganho em troca ? - Saliva voava da boca de Woo enquanto ele gritava, e toda vez que se alterava o cabelo de Jihoon era puxado e o garoto resmungava de dor fazendo V apertar as mãos em punho até que suas unhas rasgassem sua pele.
- Traição, abandono, esquecimento. - Woo continuou dizendo, seu ódio era claro.
O cara estava fora de si.
- Eu fiz você. Eu te criei, então é meu direito decidir quando sua vida chega ao fim. Parece justo para mim. Não acha justo, lixo? - Woo gritou no ouvido de Jihoon.
- Responda. - Ele gritou ainda mais alto quando Jihoon não respondeu.
- Sim Sr. - O garoto resmungou um pouco distante.
V conhecia aquele olhar. O garoto estava prestes a perder a consciência.
- Nada mais justo ser pelas mãos do seu substituto. Você não acha? - Woo falou amoroso enquanto acariciava o rosto de Jihoon, sujando seus dedos de sangue, mas ele mal notou isso.
Edward mordeu os lábios, pensando se não tinha ido longe demais a troco de uma chantagem antiga de Woo, mas afastou o pensamento, ele precisava fazer isso. Era questão de sobrevivência ali e só os mais fortes ficavam em pé nesses casos.
V vacilou no lugar, as mãos trêmulas entregando como se sentia por dentro.
- O que quer de nós? - Ele perguntou desanimado, sabendo que morreria ali, apesar de não querer que Jihoon tivesse o mesmo destino.
- Eu quero que meu brinquedinho faça o que eu mandar e então fugiremos para alguma ilha longe daqui. - Woo acariciou Jihoon mais uma vez e colocou a arma nas mãos trêmulas do pequeno. - Já que ele é tudo o que posso ter, então o terei. Não tenho sido muito exigente com o que como ultimamente.
- Não. - Jihoon tentou soltar a arma, mas Woo o impediu agarrando suas mãos e o obrigando a segurar a arma com firmeza.
- Só tem uma bala. Se você atirar em qualquer um que não seja Taehyung, você morre. Agora faça.
V engoliu em seco olhando para Jihoon que tremia compulsivamente.
- Faça. - V disse baixinho. - Está tudo bem, é a única forma de um de nós sairmos vivos daqui. Você teria feito o mesmo por mim.
- Eu não… Sr. S. - Jihoon olhou para o homem que bufou irritado.
- Faça logo idiota. - Woo gritou vendo a arma cair das mãos de Jihoon, fazendo um barulho oco quando tocou a grama queimada.
- Eu não consigo. - ele sussurrou para V como um pedido de desculpas.
- Então deixa que eu mesmo faço. - Woo ia pegar a arma do chão, mas então tudo aconteceu muito rápido.
V ouviu Jungkook gritando seu nome. Ele olhou para o lado e seus irmãos estavam correndo em sua direção.
Rafe correu de uma direção diferente, ficando na frente de todo mundo. Ele tinha uma arma na mão e isso fez com que todos parassem no meio do caminho.
Uma gritaria sem fim e desorganizada preencheu o terreno abandonado.
Edward saiu correndo prevendo que algo muito fora do previsto aconteceria.
As mãos de Rafe eram instáveis enquanto assistia Woo olhando para vários lugares sem saber muito bem o que fazer.
- Rafe, me escuta. Larga essa arma. - V tentou fazer sua voz se destacar das demais e soube exatamente o momento em que Rafe o tinha escutado.
- Tio V. É ele, não é?! Esse é o cara que te machuca - Rafe usou uma das mãos para limpar as lágrimas que escorria por seu rosto enquanto apontava a arma para Woo que olhava agoniado para a arma no chão aos seus pés.
- Ele não me machuca mais, acabou. Agora abaixa a arma.
- Eu preciso te proteger. Você faria o mesmo por mim. - Rafe balbuciava sem parar.
- Rafe ele não é o seu passado, essa não é sua luta. Por favor. - V implorou agoniado.
Woo achou a brecha que estava procurando e pegou a arma do chão.
Era um daqueles momentos onde aconteciam coisas demais, então o cérebro não conseguia processar da maneira correta, transformando tudo em câmera lenta. Segundos durando eternidade, nada era claro o suficiente ao ponto de fazer sentido.
Woo apontou a arma para V e sorriu, mesmo sabendo que tinha uma arma apontada na sua direção, tudo que ele queria era se vingar do cara que o abandonou e o desfigurou, tornando impossível que ele conquistasse mais garotos em sua lista interminável de crianças atraídas por sua confiança, sua beleza e seu jeito de conseguir as coisas.
Um barulho de moto atravessando o gramado assustou todos os envolvidos.
Jihoon gritou algo, a arma de Woo foi disparada.
A moto derrapou na grama, parando entre Rafe e Woo. Três tiros foram disparados pelo desconhecido, matando Woo.
O piloto desconhecido foi embora com a moto da mesma forma que chegou, abruptamente, Rafe caiu de joelhos no chão e abaixou a arma.
A movimentação e a gritaria voltou, mas tudo que V conseguia pensar era que ainda estava vivo, só não sabia como.
Ele tocou no seu peito, procurando o buraco de uma bala, ele tinha certeza que Woo tinha atirado na sua direção, então olhou para frente achando o motivo de não ter sido atingido.
Jihoon tinha entrado na sua frente e agora estava caído no chão, respirando com dificuldade enquanto sangue jorrava do ferimento a bala agora enfiada na sua costela.
- Não. - V correu até o menor, arrancando a jaqueta para fazer pressão no ferimento e tentar impedir que mais sangue saísse do buraco da bala. - Alguém chama uma ambulância. - ele gritou desesperado enquanto JHope caía de joelhos ao seu lado chamando às cegas por Jihoon.
Jihoon sorriu ao ouvir a voz de Jhope, sem se importar com fato de que estava engasgando no próprio sangue.
- Eu consegui Sr. Jung. - ele disse com dificuldade, tossindo muito. - Eu consegui me redimir, certo?!
- Shhh Shhh Shhh. Não fala nada, não se esforça, a ajuda já tá chegando, ok?! - JHope assistiu suas lágrimas caindo no rosto de Jihoon causando essas estranhas formas ao ver sangue e lágrimas se misturando.
- Você conseguiu pequeno. - V sorriu com dificuldade, as mãos trêmulas agora mergulhadas em sangue, aquele tiro era para ser dele. Era para ser ele morrendo no chão. Por que não era ele?
Suga tocou no ombro de Rafe, agachando para ficar na altura do garoto.
- Solta a arma filho.
Rafe olhou para baixo, notando que ainda segurava a arma nas mãos. Ele a soltou e Suga acelerou os movimentos para enfiar o objetivo na parte de trás da calça.
- Leva ele pra casa, antes que a polícia chegue. - ele disse distante.
Rafe não ligou quando foi carregado para dentro de um carro, também não se importou quando o carro começou a se distanciar daquele lugar.
Ele estava em choque e em sua mente não passava absolutamente nada.
Nada além do fato que ele sabia quem tinha matado o cara que abusava de V, mas nem nisso ele era capaz de pensar no momento, era como se estivesse fora do seu corpo, assistindo a tudo em silêncio e sem realmente pensar. Até que seus olhos focaram em seu reflexo no vidro do carro e sua mente voltou a dominar as ações de seu corpo.
- V. - ele resmungou aflito, tentando se soltar do cinto de segurança para descer do carro em movimento.
- Ele tá vivo.
- Eu ouvi...eu...
- Isso é tudo o que você precisa saber no momento. Que ele está bem. - Jin disse baixo, mas acalmou o garoto mesmo assim.
- Bom Isso é bom. - Ele resmungou sem saber muito bem o que fazer com aquela informação.
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