Endless Compassion

JHope chegou no apartamento do V cedo pela manhã. V ia numa galeria de arte com Rafe, o garoto não falava nada além disso a semana toda, porém aparentemente só Taehyung foi convidado. Ninguém entendia muito bem essa obsessão de Rafe por V e todos tinham medo de perguntar, então não era o assunto mais popular da casa.

Ele pegou a cópia da chave que tinha no bolso, entrando no apartamento na ponta dos pés com medo de acordar o mais novo, mas relaxou ao ouvir o chuveiro ligado quando foi conferir se o garoto estava realmente dormindo.

Seu café nunca foi dos melhores, mas Jin parecia ocupado demais com RM ultimamente, o obrigando a comer muitas das vezes sozinho na casa, então ele acabou aprendendo a cozinhar o básico.

- Achei que só chegaria mais tarde. - V disse enquanto enxugava os cabelos molhados com uma toalha branca e macia.

- Vou fazer minha corrida matinal e depois comprar algumas coisas que estão faltando aqui. - JHope disse entregando o café com canela que V adorava.

Ele não queria parecer desesperado, então olhava disfarçadamente para o mais novo, esperando sua reação ao gosto do café. V não fez cara de quem gostou, mas nenhuma careta foi detectada também, deixando JHope satisfeito o suficiente.

- Você não precisava vir. Eu falei para o Suga que eu iria com Rafe, não vai precisar cuidar dele.

JHope concordou com a cabeça, tentando detectar algum tipo de ciúmes vindo do mais novo, mas não parecia o caso. O problema é que com V nunca dava pra saber.

- Eu precisava de uma distração. Suga disse que você não entra no quarto de pintura desde que Jungkook se foi?

V pela primeira vez tremeu com a caneca nas mãos, sendo obrigado a colocá-la no balcão.

- Desculpa. - JHope disse aos sussurros.

V negou com a cabeça.

A verdade era que a superintendente da delegacia do distrito de Seul foi responsável pela caso do incêndio na casa de Soon Woo há um tempo atrás e o caso foi reaberto recentemente, devido a novas evidências que ninguém sabiam quais eram.

JHope foi convocado a responder algumas perguntas naquela semana e ele estava uma pilha de nervos com expectativa do que poderia ser. Suga e Jimin eram os únicos que sabiam disso, até porque se V se quer ouvisse o nome de Woo ele surtaria com certeza e ninguém da família estava disposto a ser a causa de uma das crises do mais novo.

Agora ele estava ali, na tentativa de bisbilhotar o irmão para procurar alguma evidência que ele talvez esteja retendo, sobre o paradeiro de Woo. A saída de V do apartamento era o momento perfeito, porque o mais novo não têm saído muito nos últimos meses.

Eles sabiam que V não gostava do cara ou algo assim, mas aquele relacionamento tinha sido abusivo, mexia com o garoto e era tão antigo quanto a relação que ele tinha com os irmãos, então sim, todos ficavam com um pé atrás a respeito.

No caso de JHope, ele só achava que o garoto estava doente e não era a pessoa mais confiável no momento.

- Então você veio limpar meu apartamento. - V disse com um sorriso torto na boca, como se soubesse que havia muito mais ali.

- Eu vim cuidar de você. É a minha semana. - JHope respondeu sorridente.

V bufou diante aquilo. Depois de alguns incidentes e recaídas, toda semana um dos meninos iam lá dormir com ele, era ridículo e ele não podia se sentir mais criança. Uma criança acolhida, mas ainda sim uma criança.

Suga e Rafe entraram pela porta do apartamento, tomando a atenção dos meninos na cozinha.

- Tenho uma reunião em uma hora. Vim entregar essa mala aqui. - Suga bagunçou os cabelos do mais novo que só bufou digitando sem parar no celular.

- Tem tempo pra tomar café ? - JHope perguntou vendo o menor confirmar.

- Eu falei com Rafe antes de virmos pra cá, ele prometeu se comportar. Pode me prometer o mesmo? - Suga perguntou acariciando os cabelos de V que só fechou os olhos, sem demonstrar nenhuma reação.

Ainda assim, o clima no ambiente parecia pesado e difícil de respirar depois disso.

Suga tinha uma teoria de que se mantesse aquela relação doentia entre ele e V, suas crises diminuiriam. V teria alguém para se apoiar quando precisasse e se caso Woo resolvesse surgir das cinzas, literalmente, ele tinha esperanças de poder notar a tempo, baseado no comportamento do maior. Todos pareceram concordar com a ideia.

No entanto, Suga sabia que isso era só mais uma desculpa. O que realmente acontecia ali é que ele não tinha se perdoado pelo que deixou acontecer com o mais novo bem diante do seu nariz e tudo que veio depois, foi seu modo de agir com a culpa que carregava no peito.

- Tae. - Suga chamou V que havia se distraído com seu toque. - Vai se comportar? - Ele perguntou vendo V negar com a cabeça e um sorriso maldoso no rosto.

Ele suspirou desanimado, mas se aproximou para beijar a bochecha do mais novo mesmo assim.

- Cuida do meu garoto, ok? Preciso ir. - Suga tomou um gole do café que JHope tinha colocado na sua frente e se despediu de todos, sumindo pela porta de entrada.

JHope enrugou a testa confuso ao notar Rafe encarando V com admiração nos olhos, sem piscar por um segundo sequer.

Tinha dias que ele só desejava ter uma família normal e um pouco menos de solidão, mas aparentemente eram coisas difíceis de se ter.

A agitação tomou conta do apartamento. Rafe falava empolgado com V sobre a exposição que eles visitariam naquela tarde, então JHope resolveu fazer sua corrida e ir ao mercado, como disse que faria. Deixando os dois em seus mundinhos participares.

 Quando voltou, o apartamento estava silencioso, denunciando que os dois já tinham ido para a exposição.

Ele guardou as compras, finalmente indo tomar um banho demorado, por estar suado da corrida que fez antes do mercado.

JHope vestiu uma calça de moletom de V, a toalha úmida em seu pescoço enquanto caminhava em direção ao estúdio onde o mais novo não entrava.

A porta era pesada e o espaço estava escuro. JHope abriu as janelas e afastou as cortinas, impressionado com a quantidade de pinturas jogadas pelo quarto.

Ele sabia reconhecer quais foram Jungkook quem pintou e quais foram Rafe, porém o estranho é que todos retratavam as várias faces de V.

Parecia que tinha entrado no porão de algum pervertido com um dom particular pela pintura.

Todos os quadros tinham um dominante em comum, praticamente todos eram de V triste, desolado ou inexpressivo.

Ele se sentia sujo por achar aquilo lindo. Seu irmão parecia a personificação da dor e desilusão.

Alguém com quem poetas dariam as almas para tê-lo em suas mãos.

A campainha tocou, o distraindo do terror em que estavam seus pensamentos.

JHope não fazia ideia de quem poderia ser, então não ficou surpreso ao ver um garoto pequeno e inseguro o encarando com surpresa.

- Olá. - JHope disse animado vendo o pequeno se assustar com o som alto da sua voz.

- Kim...Kim Taehyung está? - o garoto gaguejou olhando para todos os lados que não fosse JHope.

- Ele saiu. - JHope sorriu, tentando acalmar o menor que parecia ansioso.

- Eu volto depois. - O garoto disse olhando desolado em direção ao corredor.

JHope enrugou a testa, confuso com aquele comportamento.

- Por que não entra? Você pode esperar por V comigo. - JHope sorriu tentando incentivar o menor, mas agora ele parecia irritado.

- Eu quero falar com ele agora. - o menor disse aos sussurros enquanto suas mãos tremiam ao lado do corpo.

JHope encarou em silêncio o pequeno, distraído com tudo aquilo.

- Entra. Vou ligar para ele e avisar que você está aqui. - JHope disse dando espaço para o garoto, que finalmente pareceu mais calmo, entrar no apartamento enquanto olhava tudo ao redor com curiosidade.

- Eu sou o Hoseok, aliás. - JHope ofereceu a sua mão que o pequeno pegou um pouco receoso, a soltando rápido demais.

- Eu sei. - O garoto disse baixo.

JHope o viu entrar no apartamento mancando, as roupas pareciam sujas e os cabelos rosa, grudavam em sua testa oleosa.

JHope passou a mão no rosto, suspirando pesado.

O garoto com certeza não devia ser notícia boa.

- Você quer sentar? - JHope perguntou quando viu o pequeno parar no meio da sala, indeciso com o que fazer a seguir.

Ele negou com a cabeça, juntando as mãos na frente do corpo.

JHope teve a impressão de que o conhecia de algum lugar, mas não conseguia lembrar de onde.

- Você parece saber quem eu sou ? - JHope perguntou de repente enquanto ia pra cozinha pela milésima vez aquele dia.

O que ele podia dizer? O lugar o acalmava, não era atoa que Jin parecia sempre tão calmo e disposto.

- Todo mundo conhece você e os meninos do Bangtan. - O garoto o seguiu com olhos, falando um pouco mais alto no final para o maior poder escutar.

- Vem cá. - JHope disse, agora achando fofo o jeito infantil do menor. - Tá com fome? - Ele perguntou tirando alguns morangos da geladeira para começar a cortar.

O garoto grudou suas mãos pequenas na borda do balcão, encarando com olhos arregalados para a fruta.

JHope começou a cortar em pequenos cubos tanto o morango, quanto pêssegos e maçãs também.

- Você parece cansado. Tá tudo bem ? - JHope perguntou colocando uma taça com as frutas picadas na frente do menor, o assistindo devorar tudo com seus dedinhos agitados.

JHope escondeu o talher que pretendia dar para o menor, sem conseguir deixar de sorrir ao assistí-lo todo lambuzado de calda de fruta, tanto no rosto quanto em seus pequenos dedos.

- Qual seu nome pequeno? - JHope entregou o guardanapo ao garoto que parecia tímido por ser pego se sujando.

- Park Jihoon.  - O garoto disse tímido, inclinando o rosto no ombro.

Ok. Isso explicava tudo.

Ele lembra desse garoto desmaiado no colo de RM no dia do incêndio na casa de Woo. O corpo todo ensanguentado com cortes profundos. V passou dias na cama de hospital com ele.

JHope percebeu que existia outra forma de saber sobre o paradeiro de Soon Woo, mas o garoto parecia tão frágil que ele tinha medo de simplesmente perguntar.

Jungkook tentou da forma agressiva, arrancar informações desses meninos que não passavam de vítimas e agora era claramente considerando o inimigo para eles.

JHope não cometeria o mesmo erro.

- Parece cansado. Posso fazer algo por você?

- Pode ligar para o V? - O garoto perguntou ainda mais tímido.

JHope concordou em silêncio e pegou o celular nas mãos.

- É a primeira vez em semanas que ele sai do apartamento. Espero que ele tenha levado o celular. - JHope sorriu um pouco sem graça ligando para o celular do irmão, que começou tocar no quarto.

JHope desligou o celular, indo até o quarto de V para encontrar o aparelho jogado na cama.

Droga.

- Desculpa Jihoon, mas o V…

JHope parou de falar, assistindo o garoto fechando a porta do apartamento.

Ele pegou suas chaves e carteira às pressas, correndo atrás do garoto sem nem saber o porquê.

JHope correu pelas escadas de emergência, tentando pegar o garoto a tempo. O que deu certo, pois ele estava tentando recuperar o ar quando viu Jihoon passando as mãos nos braços pelo impacto do frio ao sair na rua.

Foi a primeira vez que JHope percebeu o quão mal vestido o pequeno estava.

Ele estava com uma camiseta larga no corpo e uma calça de tecido fino e uma sandália velha nos pés. Todo parecia sujo e velho.

- Jihoon. - JHope gritou vendo o menino virar assustado se curvando para cumprimentá-lo em sinal de respeito.

- O que aconteceu? - ele perguntou para o menor assustado na sua frente.

- Desculpa, mas o V não estava e eu…

- Posso te levar pra casa?

- Não. O...obrigado…

- Você claramente não está bem. - JHope disse segurando no braço trêmulo do garoto. - Deixa eu pelo menos te dar uma carona ou então fica, até V voltar.

- Não quero incomodar.

- Não incomoda.

O garoto olhou para os próprios pés, sentindo alívio quando JHope soltou seu braço.

- Ok.

- Você fica? - JHope perguntou animado.

Jihoon sorriu um pouco menos tímido enquanto concordava com a cabeça.


- Como ficou sabendo dessa exposição? - V perguntou descendo da Ferrari e entregando a chave para o manobrista.

Eles estavam no museu de arte central de Seul, porém o evento seria num salão a parte na enorme estrutura antiga do parque central.

- Eu gosto do artista em particular. - Rafe disse um pouco misterioso, fazendo V semicerrar os olhos em desconfiança.

- Vem logo. - Rafe disse impaciente puxando V pelas mãos escada a cima.

Assim que V entrou no salão ele soube imediatamente a quem pertencia aquela exposição.

Suas mãos foram imediatamente para os cabelos enquanto ele admirava alguns dos quadros depressivos na parede. Boa parte eram a representação dele, seus olhos apagados, a boca seca e cortada, os ombros caídos, seu corpo fino e delicado.

Era lindo e terrivelmente invasivo ao mesmo tempo.

V estava definitivamente expressado em boa parte dos quadros.

- Vamos embora. - V disse irritado para Rafe, pegando o garoto pelo braço ao reconhecer o movimento característico daqueles tintas.

- Mas tio…

- Hyung? - A voz soou leve e insegura atrás de V.

Seu corpo estava rígido e travado no momento. Ele não fazia ideia de como reagir, então ficou ali parado estático, como se isso fosse protegê-lo do que estava por vir.

- Eu achei que nunca viria a uma exposição minha, por isso não te convidei.

- Você não convidou ninguém da família. - Rafe disse mal humorado cruzando os braços.

V se virou, sorrindo pequeno para Jungkook, que não estava sozinho. IU segurava firme no braço de JK sem nem piscar, encarando V com um sorriso frio no rosto delicado.

- Isso é verdade? - V perguntou com a voz grave e baixa, denunciando seu desconforto.

- Eu… eu achei que você ficaria chateado se eu convidasse todos, menos você e como não quer mas olhar na minha cara . - Jungkook disse ficando completamente vermelho. - com razão. - ele se apressou em dizer.

V juntou as sobrancelhas confuso.

- Eu falei para ele que isso era bobagem. Jungkook tem uma preocupação desnecessária quando se trata de você. - IU disse tentando parecer simpática, mas dava para sentir a raiva reprimida entre a frase.

- Querido, gostaria que você conhecesse uns compradores… - IU sussurrou alto o suficiente para deixar claro que a presença de V ali atrapalhava.

- Agora não. - Jungkook disse seco.

- Com licença. - V disse indo em direção a saída.

- Taehyung. - Jungkook o chamou, praticamente gritando, mas o mais velho não parou por isso.

- Tio V. - Rafe o chamou segurando em sua mão.

O que eram duas coisas impressionantes, primeiro porque Rafe nunca encostava em ninguém e segundo que nunca havia chamado V de tio antes.

V olhou para sua mão assustado fazendo  Rafe soltar imediatamente.

- Eu não te trouxe aqui pra te torturar. - O garoto falou parecendo muito mais velho do que parecia.

V levantou as sobrancelhas incrédulo, mas parou de andar.

- Por favor. - Rafe disse praticamente implorando.

V suspirou olhando Jungkook o encarando a distância.

- Por que me trouxe então? - V perguntou irritado.

Rafe simplesmente começou a andar, crente que V o acompanharia, que foi exatamente o que ele fez.

No canto superior esquerdo do salão havia um quadro com seu rosto, dentre vários outros, mas aquele era diferente. Seu rosto estava transformado num sorriso que ele nem lembrava mais como dar, seus olhos quase fechados em completo deleite. Em uma mão, ele segurava uma réplica do ursinho de coelho que ele havia ganhado de RM a muito tempo atrás e na outra havia uma gravata preta fosca, que ele reconheceu ser um presente que havia dado para Jungkook no dia em que o mais novo o pediu em namoro.

- É como eu queria que tivesse sido. - Jungkook disse atrás dele. - Aquele dia.

V sentiu seu corpo amolecer perigosamente, seus olhos encheram de lágrimas que se recusavam a cair e seu peito foi preenchido por um peso imaginário que parecia inundar seus pulmões, o impedindo de respirar corretamente.

- Tata. - O mais novo o chamou, agora mais perto.

- Eu...eu preciso ir... - V disse se virando para JK e sorrindo, mesmo que quisesse na verdade estar correndo em direção a saída naquele momento. - Parabéns pela exposição. - Ele disse por fim.

- Você. - Jungkook agarrou seu punho, alisando delicadamente enquanto assistia V fechar os olhos e suspirar ao sentir suas peles se tocando depois de tanto tempo. - Você gostaria de tomar café comigo, amanhã? - JK disse a primeira coisa que lhe veio à mente.

- Não é uma boa ideia. - V sorriu pequeno na direção do mais novo, sem conseguir encará-lo.

Jungkook estava começando a odiar aquele sorriso.

- Por favor. - Jungkook pediu com a voz rouca e lágrimas nos olhos.

Ele também não estava nada bem. Ver a personificação do amor da sua vida não era nada fácil e o pior de tudo é que ele merecia todo o gelo que V estava dando à ele. Jungkook foi a pior pessoa possível quando o mais velho precisou dele e sabia disso.

Com esse pensamento ele finalmente soltou V que parecia hipnotizado com a energia em que estavam presos através de um simples toque.

- Eu...desculpa. - Jungkook pediu vendo Taehyung o encarar confuso. - Eu sou um idiota completo, você não precisa ter que me ouvir te convidando para sair como se nada tivesse acontecido. Eu sou um completo idio…

- Tudo bem. - V disse baixinho, o interrompendo.

- O que disse? - Jungkook tentou trocar o peso dos seus pés, coçando a nuca um pouco tímido.

- No lugar que tem os blueberries que gosto? - V perguntou, vendo JungKook confirmar ainda um pouco aéreo.

- Às nove? - Jungkook perguntou com a voz trêmula.

V sorriu, acenando em concordância, olhou uma última vez para o quadro enorme dele e foi embora.

Ele saiu para o ar livre com certo alívio por sentir o vento gelado em seu rosto,  acendeu um cigarro e esperou Rafe terminar de admirar a exposição de Jungkook, o que não demorou muito ou demorou e V não percebeu, pois sua mente estava em um lugar completamente diferente.

Ele devia ter se preparado antes de encontrar Jungkook, encontrá-lo assim de surpresa, o deixou instável e confuso.


- Vocês foram rápidos. - JHope disse aparecendo na sala com os cabelos bagunçados e a feição transtornada.

V jogou as chaves do apartamento no balcão da cozinha, encarando um molho de chaves dentro de um vaso decorativo onde guardava cópias de chaves da casa de todos os meninos e de alguns dos seus carros também.

- Eu não sabia que faria tão mal a ele. - Rafe falou pela primeira vez depois da exposição.

Não que Rafe se sentisse mal, ele só queria ver V feliz de novo, não se arrependia por ter tentado unir Jungkook e V novamente, talvez seu arrependimento fosse mais por não ter tentado o suficiente.

- Rafe. O que você fez? - JHope perguntou se aproximando de V que parecia congelado em uma expressão vazia.

- Era do Jungkook. - Por incrível  que pareça, foi V quem falou. - a exposição era do Jungkook.

JHope arregalou os olhos, passando de V para Rafe que deu uns passos para trás com medo da bronca que estava prestes a levar.

- Que porra você pensa que está fazendo? - JHope perguntou para Rafe tentando se encolher atrás de V. - E que merda Jungkook faz na cidade? - Ele terminou, distraído com a ideia de ligar para Jin.

- Jungkook pode fazer o que quiser, não é como se ele fosse proibido de pisar em Seul. - V disse indignado.

- Bem! Na verdade ele meio que é. - JHope disse com o celular já no ouvido.

- Sr. Kim? - Uma voz fina veio do corredor.

V encarou o pequeno garoto tentando se esconder no canto da parede, vestindo uma camisa enorme dele e os cabelos molhados. Seus lábios estavam rachados e o garoto estava tão magro que a gola da camisa caia em seu ombro ossudo.

- Jihoon? - V entrou em alerta automática, olhando para JHope que conversava no telefone e simplesmente deu de ombros em resposta.

- É melhor eu ir embora, eu não quero atrapalhar… - Jihoon começou, depois de notar a tensão entre eles.

- Não. Você não atrapalha. - V o interrompeu se aproximando, mesmo que não entendesse o que o menor fazia ali, ele não conseguia não ativar seu lado protetor quando se tratava de Jihoon. - Vamos para o quarto, você não devia andar descalço nesse chão gelado. - V disse indo na frente, enquanto Jihoon o seguia quase correndo para alcançá-lo.

V arrumou sua cama, ajeitou os travesseiros e bateu com sua palma no colchão, vendo Jihoon correr para deitar entre os lençóis pretos e brilhantes de seda.

- O que faz aqui pequeno? - V acariciou os cabelos do menor com delicadeza.

- Eu não tinha mais pra onde ir. - Jihoon deu de ombros.

- Você tá mentindo. - V disse sem parecer bravo ou irritado.

- Não...eu não estou… - Jihoon começou a chorar baixinho, fazendo V deitar junto com ele na cama, o acolhendo em seus braços protetores.

- Tá tudo bem. - V disse, calando o choro de Jihoon, que agora só parecia desolado e confuso.


O restaurante parecia acolhedor, uma quantidade pequena de pessoas se acumulavam do lado de dentro por causa do frio, mas quando V deu seu nome na entrada, o gerente seguiu para as mesas externas. Jungkook provavelmente escolheu a mesa do lado de fora para dar uma sensação de privacidade a eles, mas V particularmente agradeceu pelo vento gelado que acalmava seu nervosismo, limpando sua mente de pensamentos acelerados.

Jungkook levantou em uma espécie de pulo, assim que V passou pela porta de vidro que os separavam. Era óbvio que o mais novo não acreditava que V apareceria, porque ele não sabia o que fazer ao perceber que o mais velho estava realmente na sua frente.

 V sorriu educado para JK, vendo o gerente se afastar os deixando a sós.

- Você veio. - JK soltou uma risada engasgada, tossindo no final um pouco tímido.

V não disse nada, só o encarava com o sorriso morrendo à medida que seus olhos tentavam cavar palavras não ditas entre ambos.

Eles sentaram ao mesmo tempo, perdidos em pensamentos particulares.

- Como foi a exposição? - V perguntou balançando a cabeça na tentativa de afastar o clima pesado.

Seus olhos caíram na boca do mais novo, seus lábios finos e vermelhos brilhavam com um sorriso leve e familiar.

- Foram praticamente todos vendidos. - JK disse baixo e visivelmente distraído.

 V concordou em um silêncio carregado. Jungkook fazia muita falta na sua vida, ele tinha esquecido o quanto, até então.

- IU. Continua muito bonita. - V disse enquanto alisava a ponta do talher de prata na sua frente.

O garçom os interrompeu, aparecendo com pratos de panquecas, blueberries, mel e o café com canela que o restaurante só fazia para V, pois não tinha no cardápio.

- Nós não estamos mais juntos. Somos apenas amigos agora.

V sorriu para o garçom que se retirava. Jungkook havia feito o pedido antes de V chegar, mesmo que não tivesse certeza se o mais velho apareceria.

V enrugou a testa depois de tomar um gole do café.

- Não estão? - Ele perguntou confuso, lembrando da menina toda territorial ao redor de JK no dia anterior.

Jungkook negou com a cabeça, fazendo um prato para V com todos os ingredientes que tinha a sua disposição.

V só assistiu a cena com tristeza no peito pela saudade de casa que aquilo parecia carregar.

- Você está namorando? - V perguntou apertando a barra da toalha de mesa.

JK negou com a cabeça, entregando o prato pronto para ele.

V começou quase que imediatamente a devorar o café da manhã, esquecendo por alguns segundos o porquê ele não comia aquilo há tempos. O lembrava demais de JK.

- Por que voltou ? Por que voltou a cidade? - V perguntou ao notar que Jungkook não parava de encará-lo.

- Eu senti sua falta, mais do que estou disposto a aguentar.

V suspirou pesado, tomando mais do seu café amargo.

- Por que foi embora pra começo de conversa?

Jungkook deu de ombros, se chateando pela primeira vez.

V sabia porque ele tinha ido. Ele foi atrás do cara que fez o mais velho passar por todo aquele pesadelo.

Jungkook sabia que ele estava vivo, ele estava na pista certa, quando V começou a surtar, pedindo para ele parar de procurar o que não devia ser encontrado.

A verdade é que ele sempre ficaria chateado com V por defender Woo em momentos absurdos como o que passaram, porém ele sabia que pressionou demais o mais velho e devia ter escutado mais do que falado na época.

- Eu acho que te devo desculpas.

V parou de comer, olhando distraído para seu prato pela metade.

- Você não me deve nada Bunny.

JK sentiu seu corpo inteiro responder ao seu apelido, suas mãos tremiam quando encostaram nas de V, acariciando seus dedos longos e delicados.

- Tae, eu…

- Volta pra mim? - V pediu com os olhos cheios de lágrimas e os dentes presos em seu lábio inferior.

Aquilo cortaria o coração de Jungkook, se aquele pedido insano não estivesse tomando toda sua atenção.

- Eu não te mereço. Tudo que fiz foi te fazer mal.

- Eu não me importo. - V engasgou com suas lágrimas, precisando se afastar do toque de JK para limpar seus olhos turvos.

- Não quero apressar as coisas e acabar te fazendo sofrer mais uma vez. - Jungkook disse triste, porém resoluto em bancar o maduro.

- Foi por isso que voltou. Não foi? - V perguntou sem realmente duvidar de suas conclusões.

Jungkook mordeu os lábios, abaixando a cabeça com suas bochechas se tornando vermelhas.

- Eu voltei porque senti saudades. - Jungkook disse honestamente.

- Então volta para mim, vamos parar de fugir do óbvio. - V implorou, as lágrimas finalmente manchando seu rosto triste.

JK negou várias vezes com a cabeça, começando a chorar junto com o mais velho.

- Eu definitivamente não mereço você. - Jungkook sussurrou puxando as mãos de V para colocá-la em seu rosto.

Ele fechou os olhos, sentindo a pele macia de V acalmar seu coração acelerado.

- Eu não me importo Kookie. Eu só quero que pare de fugir, seu lugar é comigo, mas você insiste em me dar as costas toda vez que as coisas complicam. E...eu preciso de você. - V gaguejou.

- Como pode dizer isso, depois de tudo que te fiz passar?

V suspirou, afastando sua mão do rosto do mais novo.

-  Pelo menos pensa nisso. Eu quero que fique, eu sempre vou querer, independentemente do quanto me faz sofrer toda vez que vai embora. - V limpou a boca com o guardanapo, o jogando na mesa antes de se levantar para ir embora.

- Espera.

O mais velho virou para olhar Jungkook, seus olhos eram vazios e distantes, mas ainda assim brilhavam, sendo a contradição mais complexa que o mais novo já presenciou em sua vida. V era o único capaz de transparecer aquilo tudo com um simples olhar e cada dia que passava, mas ele tinha a certeza que jamais conseguiria mostrar aquilo através da sua pintura.

V era único e intransponível.

- Por que? - Jungkook perguntou se levantando também.

- Eu te amo. Não há nada que eu possa fazer quanto a isso.

Jungkook precisou apoiar uma mão na mesa, sem saber se podia se manter em pé.

- Mesmo depois de tudo que eu te fiz passar? - ele perguntou quase sem voz.

V deu de ombros.

- Não é como se eu pudesse escolher, as coisas são o que são.

- Eu pensei em te ligar tantas vezes. - JK disse pensativo e chateado.

- Mas não ligou. - eles se encaravam em silêncio, os olhos brilhando dispersos.

- Não. Não liguei - Jungkook confirmou abaixando a cabeça.

- Ainda não sei porque você foi embora pra começo de conversa. - V disse puxando o ar com violência.

- Porque eu decidi que você ficaria melhor sem mim. - JK disse aos sussurros.

- Você fez uma péssima escolha. - V disse jogando um molho de chaves em cima da mesa. - Caso mude de idéia. - disse simplesmente, antes de sair às pressas do restaurante.


V estava sentado no balcão da cozinha quando ouviu um barulho na porta da entrada do apartamento, seguido da maçaneta sendo aberta. 
Seu sorriso foi involuntário, mas o corpo se encheu de adrenalina.

- Você se decidiu. – Ele afirmou, sorrindo torto para Jungkook que entrava na sala arrastando uma mala e uma bolsa enorme de couro em um dos ombros.

- Bom, você tem um estúdio de pintura incrível. – Jungkook respondeu com sua risada infantil para V que não conseguiu deixar de sorrir em resposta.

Os dois se encararam por um tempo, congelados em uma situação nada desconfortável, mas cautelosa.

Ambos estavam com medo de tomar o próximo passo, mas bastou Jungkook largar as malas no chão para V desgrudar os pés do lugar e correr para abraçar o mais novo que não sabia exatamente o que estava fazendo ali, a única coisa que ele tinha certeza, é que não abandonaria V novamente. Ele queria fazer o que devia ter feito desde o começo, amado o mais velho incondicionalmente.

Mesmo que V deixasse implícito que lhe daria infinitas oportunidades de corrigir tudo de errado que ele fez, algo lhe dizia que essa seria sua última chance e ele estava determinado em fazer certo dessa vez.

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