Chain reaction
- Você ainda gosta de pão com pasta de amendoim? - JK perguntou da porta do banheiro.
V encarava seu rosto inexpressivo com pesar. Ele queria voltar a ser a pessoa alegre e espontânea que fingia ser no passado, mas não conseguia mais fingir nada para ninguém.
- Hm? - Ele se virou, notando que Jungkook ainda esperava por uma resposta.
- Não. Nunca gostei.
Jungkook enrugou a testa, olhando confuso para nenhum canto específico.
Porque o mais velho comia aquilo se não gostava?
Jungkook entrou na cozinha, jogando disfarçadamente o pão que havia feito no lixo, lembrando de não parecer chateado. Ele tinha acordado quase de madrugada para ir comprar tudo que achava que o mais velho gostava, mas agora não tinha mais certeza, se é que algum dia soube de algo da vida de Taehyung. O que era irônico, pois eles viveram praticamente a vida toda juntos.
- O que quer comer? - ele resolveu perguntar dessa vez.
- Só o café está bom. V disse apontando para a caneca nas mãos do mais novo.
Jungkook colocou o café na frente de Taehyung, sentando ao seu lado com um copo de suco de laranja entre seus dedos agitados.
- Você gosta de parques de diversões? - Jungkook perguntou depois de um tempo.
Ele estava sem graça, aparentemente a única coisa em que os dois tinham em comum era sexo, pelo menos era tudo que faziam quando estavam juntos, mas dessa vez Jungkook queria fazer diferente. V não parecia se importar com nada.
Seus olhos baixos, a boca circulando a porcelana que carregava o líquido preto e quente transpirando em seu nariz toda vez que ele esquecia o quanto estava quente e que deveria ingerir em goles menores para não se queimar, deixando a caneca tempo demais próximo do seu rosto, o cheiro de canela impregnando em seus cabelos sedosos e recém escovados.
- Gosto. - V respondeu depois que Jungkook não se lembrava mais da pergunta que havia feito.
V não sabia se gostava de parque de diversões, mas ele gostava das luzes piscantes que o deixava tonto se as encarasse por muito tempo.
Jungkook suspirou desanimado, levantando da banqueta e deixando o suco no balcão, para se aproximar de V e girar seu corpo na sua direção.
JK colocou a caneca de V ao lado de seu copo no balcão, acariciando suas mãos suaves e delicadas.
V desceu o olhar para suas mãos grudadas nas de JK, como se combinassem, se encaixando de um jeito estranhamente único.
- Você pediu para eu voltar para você ou para o seu coração? - Jungkook.perguntou colando seu corpo no de V.
V estava sentado na banqueta alta e Jungkook tinha as pernas entre as coxas do mais velho, o obrigando abrí-las ligeiramente.
- Não sei.
V sentia dores musculares por todo seu corpo, suspirando de dor quando a aproximação de JK o obrigou a abrir suas pernas em uma espécie de semi abraço nos quadris finos do mais novo.
- Não sabe o que? - Jungkook sussurrou nos cabelos de V, fechando os olhos quando pensou na falta que o mais velho fazia na vida dele.
Por que ele demorou tanto tempo para perceber algo tão óbvio?
- Não sei porque te quero aqui. - V respondeu tempo depois, tornando aquela conversa ainda mais lenta do que era.
Jungkook beijou a bochecha de V, sorrindo com a familiaridade da textura de sua pele em seus lábios.
- Vou ficar pelo tempo que precisar para descobrir. - Jungkook disse, fazendo o som de suas palavras vibrarem nos cílios de V.
V fechou os olhos concordando com o mais novo, apertando sua mão em agradecimento, mas pra falar a verdade, ele não fazia ideia do que aquelas palavras significavam.
…
As luzes brilhantes do parque não eram como ele lembrava, pareciam apagadas e não causavam a mesma sensação dormente que antes.
Jungkook tinha um algodão doce em suas mãos finas. Ele não lembrava quando o mais novo parou para comprar aquilo. Pela primeira vez ele se assustou com sua dispersa noção de tempo, não era a primeira vez que acontecia isso, mas era a primeira vez que o assustava. Ainda assim ele foi capaz de sorrir para o pequeno ser feliz ao seu lado.
- Você parece feliz. - V disse com a voz baixa e rouca pelo tempo excessivo em silêncio.
JK arregalou seus olhos inocentes, sorrindo ainda mais por ouvir a voz do mais velho.
- Eu estou muito feliz.
V concordou, parando de andar para segurar na cintura de Jungkook.
- Que bom. - ele disse experimentando o doce das mãos de JK.
- Eih. - JK protestou tentando se afastar, mas V já tinha abocanhado mais um pouco do doce antes dele ter sucesso em sua fuga.
Eles descobriram juntos que seus passos aleatórios os levaram para a fila da roda gigante.
Os olhos de JK brilharam em expectativa, porque o sol estava preste a se pôr e ele teria o privilégio de ver do alto, uma pintura clássica se transformando em realidade.
V ao seu lado parecia deixar tudo ainda muito fantasioso no entanto.
Era estranho pensar que talvez pudesse simplesmente apagar todos seus erros e começar de novo. V ao seu lado dizia que era possível, seus pensamentos no entanto estavam céticos.
Como que para deixar claro que sua vida parecia perfeita de um dia para o outro. A roda gigante parou com ele no topo, a tempo deles assistirem o sol se pondo.
Porém, quando JK virou o rosto para ver se V estava presenciando o mesmo que ele, o sol não parecia mais importante.
O rosto delicado e imaculado de V era magnético, o impedindo de olhar qualquer outra coisa. O magnetismo capaz de atrair tanto quanto repelir, agora o chamava em sussurros discretos e hipnotizante, tanto que ele mal reparou quando sua boca tocou a suave de Taehyung.
Seus olhos automaticamente fecharam e ele suspirou ao sentir os lábios de V se abrindo receptivos para os seus famintos.
Ele sentiu o gosto de doce na língua de V e suas mãos agarraram o pescoço do mais velho, com medo de perder aquilo pela milésima vez. JK tinha dúvidas de muitas coisas na vida, mas tinha certeza de algumas também e uma de suas certezas, era de que não aguentaria mais uma das separações que teve com V, apesar da culpa de todas elas terem sido inteiramente dele.
Ele não era forte o suficiente para aguentar tudo de novo, a ausência do seu cheiro de canela, o abraço de urso que intensificava conforme ele caia no sono, sua voz rouca o chamando de Bunny, seus olhos esperançosos, como se ele fosse um farol no meio de uma noite tempestuosa.
Quando que V mau parecia vivo o suficiente para sentir qualquer coisa, Jungkook se sentia com os nervos expostos, sujeito a qualquer toque se transformar em dor.
- Obrigado. - V disse rouco puxando os lábios de JK com seus dentes.
O mais novo gemeu distraído com o sinal de afeto de V.
Jungkook assentiu sorridente, mas a verdade é que nenhum dos dois sabiam pelo que eles eram realmente gratos.
Eles se afastaram, seus olhos se conectaram numa energia estranha e pegajosa.
V queria abraçar Jungkook e nunca mais soltar, só não conseguia agora.
Jungkook queria ser abraçado com força pelo mais velho, só não tinha coragem de pedir.
Os dois se assustaram com o tranco da roda gigante voltando a funcionar, perdendo a conexão recém adquirida, ainda assim algo leve e promissor se instalou em ambas as mentes.
Talvez fosse possível afinal.
Possível recomeçar, apesar das diferenças de mundos em que ambos viveram para chegarem até ali.
Talvez fosse aquilo que realmente os unia. A infamiliaridade da situação.
…
Jungkook soltou risadinhas infantis que não combinavam mais com seus traços adultos, mas ainda assim era fofo. V sorriu com aquele pensamento, vendo a expressão de JK ficar mais séria e concentrada a medida que se aproximava dele.
O corpo do mais novo tocou os de V delicadamente, testando seus limites, analisando a feição inexpressiva do mais velho como se sua vida dependesse disso.
- Eu adorei a noite que passamos juntos. - Jungkook disse baixinho em seu ouvido para não assustá-lo.
V suspirou, abraçando JK na esperança de acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Que seu bunny havia voltado pra ficar, dessa vez.
Seus olhos arregalaram e seu corpo se retesou entre os segundos seguintes. Jungkook afastou do mais velho, notando que algo tinha mudado, mas se pegou virando para ver o que apavorava tanto V, a ponto de deixá-lo estático.
- Que estranho. Esse é um dos meu quadros que foram vendidos na exposição.
V se aproximou da pintura com seu rosto perfeitamente pincelado no pano grosso e colorido, olhando em choque para riqueza de detalhes.
- Vou ligar para a portaria. Ver o que está acontecendo. - Jungkook disse sem realmente esperar uma resposta do mais velho.
V dedilhou a moldura dourada do quadro, encontrando um envelope entre a dobradiça.
Suas mãos tremeram ao reconhecer a caligrafia impecável com seu nome.
Não. Ele não podia ser feliz. Nunca seria.
Seus dedos acariciaram a folha com a frase curta determinando sua vida mais uma vez.
- Estranho. O porteiro não faz ideia de quem fez a entrega. - JK disse disperso, desligando o interfone.
V caminho lentamente pelo corredor, os pés um na frente do outro num ritmo automático, suas mãos agarraram a porta do banheiro, seus joelhos estalaram quando chocaram contra o chão frio, ele subiu a tampa da privada e vomitou.
Sua mão limpou a boca suja e a testa suada, seus olhos pareciam letárgicos, mas não o bastante para não notar que JK o encarava da porta, em choque.
- Pode ir embora se quiser. - V disse dando descarga e se levantando para lavar o rosto.
Jungkook não respondeu.
O mais velho passou por ele e foi até sua cama, se sentando exausto.
O papel caiu da sua mão o fazendo notar que perdeu os movimentos do corpo.
Ele arregalou os olhos, sem conseguir virar a cabeça. Jungkook apareceu na porta, em choque ao vê-lo chorar sem som algum.
- Tata? - ele se aproximou ajoelhando no chão para pegar as mãos do mais velho.
V deixou suas mãos caírem pesadas quando JK às soltou.
O mais novo não sabia como lidar com aquilo.
Certo?!
Então fez a única coisa que sabia fazer.
…
V não sabe ao certo quanto tempo ficou ali parado, em pânico por não conseguir mover um músculo se quer, apenas sua mente funcionava a mil.
Uma conversa agitada se fez na sala. V queria saber o que iam fazer com ele, mas ele realmente não se importava muito com os resultados. Estava curioso.
Suga entrou no quarto, fechando a porta logo em seguida.
Seu peito fez um barulho arranhado, mas ele demorou para entender que aquele som tinha vindo de dentro dele.
- JK disse que você não consegue se mexer? - Suga disse naturalmente, mas não conseguiu disfarçar o choque ao ver V o encarando em desespero e com lágrimas nos olhos.
- Eu quero morrer. - V sussurrou quando Suga encostou na sua testa.
- Robert está vindo pra cá. Ele acha que você está catatônico.
V não disse nada.
Suga segurou V pelo pescoço, fazendo carinho em seu cabelo, agora grudado em seu peito agitado.
- Por que você quer morrer? - Ele perguntou, mostrando que tinha ouvido o sussurro agonizante do mais novo.
- Porque o bunny vai poder seguir em frente. - V respondeu com uma voz infantil e chorosa. - Sabendo que não estou mais aqui para atrapalhar.
Seu corpo ainda não respondia a nenhum estímulo.
- Jungkook vai morrer por dentro se você se for. - Suga beijou sua testa, esquecendo por um minuto que precisava ser forte e chorando nos cabelos do mais novo.
- Ele foi embora, não foi? - V perguntou sentindo seus olhos de repente secos.
- Eu estou bem aqui. - Jungkook respondeu da porta do quarto.
Suga mordeu os lábios, encarando Jungkook nada amigavelmente.
Ele culpava JK por boa parte de tudo que aconteceu. Simplesmente porque V sempre voltava para Soon Woo quando Jungkook o abandonava, criando esse retalho fragmentado na cama, que Suga chamava de irmão.
- Bunny. - V falou pesado voltando a suspirar.
Jungkook vacilou na porta sem saber o que fazer.
Covarde. - Suga pensou sem remorso
Suga se afastou, vendo JK entender aquilo como uma passagem para ele se aproximar.
Não era.
O mais novo se aproximou de V, o abraçando forte e foi só o que precisou para V cair mole nos seus braços, chorando visivelmente enquanto seu corpo o libertava de sua prisão corporal.
Jungkook pegou V no colo, o segurando firme enquanto tentava não gritar apavorado.
- Yoon. - V chamou Suga que estava à um passo de se retirar.
V apontou para um pedaço amassado de papel no chão, fazendo o mais velho olhar o objeto com curiosidade.
Ele saiu logo em seguida, com o pedaço de papel em uma das mãos enquanto a outra estava em punho, com raiva de algo que ele não fazia ideia do que era.
…
- Ele precisa de ajuda. Ninguém fica catatônico do nada. - Jin disse nervoso com a conversa que não ia a lugar algum.
- Ele já teve a ajuda que é possível oferecer. Certo doutor? - RM perguntou para Robert que os encarava em silêncio.
O psicanalista concordou triste.
- Não há mais nada que a medicina possa fazer. Eu sinceramente desconheço alguém capaz de entrar na mente de Taehyung. Talvez com intensas sessões…
- Ele não tem todo esse tempo. - Suga disse aparecendo do corredor que levava ao quarto, onde deixou V e JK.
Todos olharam em choque para Suga, que entregava o papel nas mãos de RM.
- Ele precisa desse cara morto. Não preso, não desaparecido. Morto.
Todos leram o bilhete estranho.
“Só queria que soubesse o quanto estou pensando em você. Me espere ansiosamente. Beijos Sr. S”
- Odeio ter que admitir, mas concordo com Yoongi. - Jin disse ao jogar o papel de qualquer jeito no balcão onde estava encostado.
- Se o que pretendem fazer a partir de agora, inclui planejar um assassinato, é melhor eu ir. - Robert falou enquanto vestia seu casaco grosso e enrolava o cachecol ao redor do pescoço. - De qualquer forma, V precisa ir ao médico, essas respostas são extremamente drásticas, seu corpo está falhando. Não é só sua mente mais.
RM concordou pensativo enquanto olhava para Suga.
- Ele vai pela manhã. - Suga decidiu.
Todos se calaram, enquanto assistiam Robert fechar a porta atrás de si e Jungkook aparecer na sala ao mesmo tempo.
- O que está acontecendo? - JK perguntou com a voz baixa e arranhada de quem tinha acabado de chorar muito.
- Nada. Volta para o quarto. - Jin disse nervoso e resoluto.
- Não. - Suga quase gritou. - Cansei de proteger esse pirralho filha da puta.
- Amor. - Jimin fez uma careta para Suga, que era a única coisa capaz de fazê-lo vacilar, mas ele balançou a cabeça se livrando daquilo enquanto jogava o bilhete amassado nas mãos de Jungkook.
- O cara pra quem Taehyung sempre voltava correndo quando você decidia que viver suas aventuras de Tour eram mais importantes, está de volta. - Suga disse revoltado.
- Você quer me dar lição de moral sobre colocar a carreira na frente do relacionamento. Jura? - JK disse revoltado, tentando disfarçar o medo que sentia com a notícia que aquele bilhete trazia.
V não aguentaria. Ele tinha certeza.
- Vamos no acalmar aqui, ok? Precisamos resolver o problema mais alarmante no momento. - RM disse apaziguador como sempre.
JK e Suga se encaravam, cada um de um lado da sala. Nenhum dos dois pareciam querer ceder.
- Sem chance de Tae nos contar, caso esse traste resolva aparecer. - Jin disse cortando a tensão entre aqueles dois, como num passe de mágica. Já que lhes oferecia um inimigo em comum.
- Eu posso ficar ao lado dele o tempo todo. - JK disse desanimado, ele não queria sufocar V, mas faria se fosse realmente necessário.
- Tem certeza? IU pode aparecer com alguma outra proposta irrecusável.
- Yoongi. - Jimin e Jin gritaram ao mesmo tempo.
- Talvez eu tenha uma solução. - JHope falou pela primeira vez, tomando a atenção total da sala.
Mas então, ele ficou em silêncio, pensativo, fazendo caras e bocas com seus próprios pensamentos.
- Você tem a intenção de partilhar sua ideia conosco ainda hoje? - Suga perguntou o acordando de sua distração.
- Jihoon. - Foram suas curtas palavras.
- O garoto que Tae foi salvar na mansão? - Jungkook perguntou curioso.
- Se Woo voltou à cidade. Jihoon com certeza sabe de algo. - JHope disse, sem saber porque tinha tanta convicção.
RM suspirou pesado, sentando com as pernas espaçadas e suas mãos longas batucando ansiosas o jeans da sua calça rasgada.
- Ok. Eis o que vamos fazer… - ele começou a dizer.
…
- Oi. - JHope disse um pouco sem graça.
Jihoon vestia uma camiseta velha e mais nada, suas pernas eram magras e bem definidas. JHope engasgou levemente tentando não olhar para o garoto seminu à sua frente..
- Sr. Jung. O que faz aqui? - Jihoon perguntou com a voz baixa enquanto tentava se esconder atrás da porta.
- Você pode me chamar de Hoseok.
JHope tossiu um pouco sem graça. O garoto era tão lindo e delicado.
- Eu vim ver como você está.
Jihoon enxugou a testa suada olhando para seus pés descalços.
O bairro onde ele morava não era dos melhores. Ninguém sabe ao certo porque Jihoon largou o mundo do Kpop tão cedo, mas segundo V, ele sempre morou no mesmo endereço, mesmo antes do Woo aparecer em sua vida.
- Posso entrar? - JHope perguntou abaixando a cabeça para poder fazer contato com aqueles olhos que o evitavam a todo custo.
- Eu...a minha casa não está boa pra receber visitas. - Jihoon respondeu assustado com medo da forma que JHope reagiria a uma resposta negativa.
O lugar era uma rua sem saída e Jihoon morava na parte de baixo de um sobrado caindo aos pedaços. JHope olhou para seu carro estacionado do outro lado da rua pensando se não deveria simplesmente ir embora.
Aquilo foi uma péssima ideia.
- Você já comeu? - JHope perguntou, se odiando por ser tão insistente.
Jihoon mordeu seus lábios rachados parecendo incomodado.
- Desculpa. - JHope soltou depois de um tempo de silêncio entre eles. - Não quis te deixar desconfortável. - ele completou, sorrindo pequeno antes de se virar para ir embora.
- Hoseok?! - Jihoon chamou baixinho, tentando esconder sua risada infantil ao ver que JHope quase caiu na calçada, na pressa de se virar ao ouvir seu nome saindo da boca do pequeno.
JHope sorriu largo, só pelo fato de ter causado um fragmento de felicidade no menor.
Jihoon afastou seu corpo da porta, dando espaço para o mais velho passar. O que ele fez sem questionar.
O apartamento em si não era feio, porém os móveis escassos que tinham pelos cantos eram velhos e alguns caindo aos pedaços.
JHope fez seu melhor para não se indignar visivelmente com a condição precária em que o pequeno vivia.
- Por que vive aqui e não com seus pais? - JHope perguntou parado no meio do quarto, que também era sala, com apenas um colchão no chão como cama e uma mesa de centro para refeições.
- O Sr. S. não permite. - Jihoon disse torcendo a barra da camisa velha.
JHope sentiu um arrepio subir por sua espinha, mas tentou não demonstrar.
- O Sr. S ainda fala com você? - JHope perguntou vendo o menor negar as pressas.
JHope suspirou pesado, passando a mão na testa confuso.
Jihoon parecia vacilar na tentativa de manter o próprio peso do seu corpo.
- Posso te fazer algo pra comer? - JHope perguntou um pouco irritado.
Jihoon tremeu com o tom agressivo, mas não saiu do lugar, como se sentir ameaçado não fosse grande coisa.
JHope tossiu mais uma vez, tentando ser menos agressivo nas suas próprias palavras.
- Eu só quero ajudar. Juro que não...
- Eu não tenho comida. - Jihoon o interrompeu.
- Por que não? - JHope não sabia segurar sua língua às vezes, principalmente quando a curiosidade falava mais alto que o bom senso.
O Pequeno deu de ombros, mas apreensivo demais para conseguir fingir casualidade bem o suficiente.
- Jihoon, por favor. - JHope implorou impaciente.
- O Sr. S não ligou me dizendo o que comer e também não me mandou dinheiro e como ele não me deixa trabalhar…
JHope passou por Jihoon, entrando no que parecia uma cozinha. Havia uma geladeira velha no canto ao lado da pia. JHope abriu a boca em choque ao notar que só tinha água e algumas barrinhas de cereais do lado de dentro.
- Já chega. Você vem comigo.
- O que? Não. - Jihoon começou imediatamente a chorar, grudando suas mãozinhas na porta da cozinha na tentativa de não ser carregado dali.
- Eu cansei de ouvir sobre a porra do Sr. S e você vai morrer aqui se ficar esperando ele te dizer o que deve ou não fazer. Você não percebe que ele te esqueceu? - JHope disse incrivelmente sem gritar.
Infelizmente JHope tinha esperanças de colocar o pequeno contra o Sr. S em toda aquela loucura, era a solução de um inexperiente, mas era tudo que ele tinha no momento e ele não fazia ideia do porquê, mas queria ajudar. Talvez tivesse a ver com o fato dele não ter conseguido ajudar V quando ele precisou.
- Ele já me esqueceu por bem mais tempo que isso, antes. - Jihoon disse de repente, lembrando da vez que a vizinha encontrou Jihoon desmaiado nos degraus das escadas do lado de fora quando ele foi esperar por Woo, que não veio ou ligou durante uma semana.
Ele estava desidratado e ficou três dias no hospital, ele tem marcas entre suas coxas por ter desobedecido e saído do apartamento daquela vez, não queria que acontecesse de novo.
JHope sentiu os olhos enxerem de lágrimas ao lidar com uma situação que ele não fazia ideia de como contornar.
O garoto parecia um anjo levando uma surra do próprio demônio.
Ele tinha esquecido completamente o que foi fazer ali a esse ponto.
- Por favor. - ele pediu por nada específico.
Jihoon voltou a olhar para o chão sem saber o que fazer. Sentindo suas coxas queimarem toda vez que pensava em agradar JHope e fazer tudo o que o mais velho pedia, só por ser bom demais com uma pessoa tão lixo quanto ele, o medo de apanhar ainda vencia no entanto.
O Sr. S sempre aparecia quando ele já tinha desistido de esperar.
- Deixa eu te alimentar. - JHope pediu se aproximando de Jihoon com passos delicados.
Sua mão foi de encontro ao rosto de Jihoon. O menor tremeu ao sentir aquele toque quente e gentil, fechando os olhos a espera da hora em que iria apanhar, mas os minutos passaram e JHope não batia nele.
Jihoon abriu os olhos, pensando se aquele homem não era ainda pior, por prolongar aquele momento com tanta falsa generosidade.
Ele concordou com a cabeça, pensando que ao menos estaria de barriga cheia quando apanhasse, seja do Sr. S ou daquele cara que parecia bom demais para ser verdade.
- Ok. - JHope disse aliviado, sorrindo largo enquanto via Jihoon ir até seu pseudo quarto para colocar uma calça que havia dobrada em cima de um baú velho que ele devia usar como guarda roupa.
JHope virou de costas para dar certa privacidade para o garoto, mas quando menos esperava o pequeno segurava sua mão, o olhando em expectativa.
- Pronto? - JHope sorriu largo, vendo o menor concordar com a cabeça várias vezes.
Eles entraram na interestadual para evitar o trânsito enquanto JHope falava animadamente sobre seus alunos de dança na companhia.
Jihoon ouvia tudo em silêncio, sorrindo pequeno toda vez que JHope tentava incluí-lo na conversa, mas então eles entraram no centro comercial de Seul e o garoto passou a ficar mais tenso que o normal.
- Sr. Jung. Nós não vamos para a sua casa?
JHope olhou para as mãos de Jihoon que eram esmagadas uma na outra em sinal de nervosismo.
- Você pode me chamar de Hoseok lembra? E eu não sou muito bom em fazer comida, pensei em comermos num restaurante por aqui mesmo.
- Você faz comida muito bem. - Jihoon disse desesperado. - Suas frutas estavam incríveis aquele dia.
JHope parou o carro no semáforo, olhando Jihoon com mais calma dessa vez.
- O que está acontecendo pequeno?
O garoto deu de ombros, mas se recusava encará-lo. JHope não disse nada, na esperança que o menor ficasse à vontade para falar quando quisesse, porém voltou a atenção ao trânsito assim que o semáforo liberou passagem.
- Você não sente vergonha, pela forma que estou vestido? - Jihoon perguntou baixinho depois de um tempo.
- Pra ser honesto, não tenho moral pra julgar. Você precisa ver meus gostos para roupas antigamente. - JHope riu alto fazendo Jihoon pular no banco do carro com o susto.
- Desculpa. - JHope pediu, se batendo mentalmente mais uma vez.
Ele precisava lembrar de não ser tão escandaloso perto do anjinho assustado.
O restaurante não estava cheio e JHope pediu para sentarem numa parte privativa no segundo andar.
Jihoon se escondia atrás de JHope o máximo que podia, parecendo uma criancinha assustada enquanto apertava forte a mão do mais velho com medo de ser deixado para trás durante o curto percurso até a mesa que o mais velho havia escolhido.
JHope precisou pedir tanto seu prato quanto de Jihoon que se recusava escolher o que comer. O mais velho sempre foi muito independente, mas não era algo tão estranho assim cuidar de alguém, ele cuidou de Jungkook na época de trainee e considerava o mais novo como um exemplo bem sucedido por ele ter sido um bom Hyung, apesar das merdas que ele resolveu fazer em sua vida adulta.
- Por que você largou o mundo de K-Idol ? - JHope perguntou curioso como sempre, fazendo Jihoon quase engasgar com um pedaço de frango na boca.
JHope não insistiu e quando ele nem lembrava mais do assunto, o pequeno resolver falar.
- Sr. S quem conseguiu um lugar para mim nas audições, então quando ele mandou eu sair, achei que era direito dele decidir quando minha carreira começava e quando terminava também. - Jihoon deu de ombros, parecendo menos apático depois de comer uma pratada de frango frito.
JHope enrugou a testa, espalhando sua comida no prato como distração.
- Eu já ouvi sua voz, não acredite que só entrou para o ramo por causa de favores. Você teria conseguido por conta própria também, tenho certeza.
- Como?
- Hm? - JHope finalmente levantou a cabeça,encarando Jihoon com os olhos curiosos na sua direção.
- Como você tem certeza? - Jihoon perguntou com a voz um pouco mais firme.
- Eu trabalho com trainees há anos, sei reconhecer talento quando vejo um.
Jihoon ficou com as bochechas vermelhas, vendo que JHope não parava de encará-lo, parecendo pela primeira vez sério.
Era um contraste assustador vê-lo concentrado. JHope normalmente parecia animado, alegre e engraçado, então quando dizia algo sério, o efeito era maior que o normal.
- Você terminou? - JHope perguntou pela primeira vez sem graça.
O garoto o encarava de um jeito tão íntimo e pesado que ele não fazia ideia como agir diante aquilo.
Jihoon concordou, fazendo JHope automaticamente fechar a conta para irem embora. Jihoon teria comido mais se pudesse, mas jamais diria algo assim para o mais velho, então ele se contentou com o que de fato tinha comido, ficaria bem por mais uns dias até ter fome novamente.
JHope olhou as árvores se curvando violentamente contra o vento que provavelmente traria neve para os próximos dias. Ele tinha certeza que não tinha aquecedor na casa de Jihoon e não lembra de ter visto nada quente como uma coberta ou algo assim no pequeno espaço. JHope simplesmente não queria colocar o garoto de volta naquele lugar.
- Jihoon, eu tenho um apartamento aqui perto para quando eu fico até tarde no estúdio trabalhando. Você quer ficar comigo até amanhã? Tem uma tempestade vindo, pensei que talvez...
- Ok. - Jihoon disse simplesmente.
Jihoon foi educado por Soon Woo por quase cinco anos e uma das primeiras coisas que ele aprendeu, foi que não existe nada de graça nesse mundo. Ele foi alimentado e não pagou a conta, precisava fazer sua parte agora.
Ele achou por um segundo que JHope seria diferente, mas ele esqueceu que a vida nunca mostrou nada diferente além de maldade disfarçada de boas intenções. Ele só esperava não desmaiar durante o que quer que o mais velho quisesse fazer com ele, pois independente da comida em seu estômago, ele ainda se sentia um pouco fraco e suava frio há dois dias.
- Tem certeza? - JHope perguntou estranhando a tristeza no rosto do pequeno.
- Sim, Sr. Hoseok. - Jihoon respondeu prensando os lábios para esconder as lágrimas que ameaçavam cair desobedientes.
JHope bufou ao ouvir seu nome tão formalmente dito, sem reparar no colapso que Jihoon parecia prestes a ter.
- Então vamos. - JHope soltou extremamente animado.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top