Ancestral Lives

- Eu acredito que estamos quites, visto que eu te salvei de queimar no inferno. - Edward disse sorrindo amargo para o homem à sua frente tomando um gole do seu melhor whisky.

Soon Woo concordou distraído, analisando a movimentação da boate abaixo deles.

- Você poderia ter aparecido na casa um pouco antes no entanto. - Woo virou a cabeça ligeiramente, mostrando a parte desfigurada do seu rosto contra a luz baixa do escritório.

Edward sentiu seu corpo arrepiar em pavor.

Woo era um homem lindo e charmoso, a cicatriz de queimadura que agora tomava seu lado direito do corpo, deixava um ar de maldade e perversão impregnada nos olhos gentis e traiçoeiros do homem.

Ele queria que Woo o devesse, por isso traiu Min Yoongi em um plano um tanto quanto simples, afinal aqueles pobres garotos fariam qualquer coisa uns pelos outros, eram fáceis de manipular, a ponto de ouvirem apenas o queriam ouvir em um momento de desespero.

- Eu não tinha como prever que aqueles meninos colocariam fogo na casa. - Edward começou se defendendo. - Eu sabia que eles iriam te atacar uma hora, a única coisa que fiz foi decidir o horário e o local para te safar no momento certo, nós dois sabemos o quanto imprevistos podem ser um pé no saco.

Woo concordou, girando um pendrive entre seus dedos.

- Esse favor me custou caro. Me tirou a única vantagem que eu tinha sobre você. - Woo olhou com olhos esperançosos para Edward que tremia visivelmente, na sua presença.

- O ato de chantagear nunca fica velho. - Edward pegou o pendrive nas mãos.

Ali continham vídeos do salão privado que Edward abria para seus clientes mais ricos, onde drogava na maior parte adolescente famosos e cobiçados, para que seus clientes pudessem fazer o que quisessem com as pobres crianças.

Era um negócio nojento, sujo, no qual Edward não se orgulhava de fazer parte, mas ele sofreu muito mais que aquilo quando era uma criança, não é como se tivesse dó daqueles riquinhos mimados.

Edward fez um bico triste, lembrando de que ninguém nunca chegaria aos pés da beleza de Park Jimin. Ele nunca conseguiu se perdoar de tê-lo deixado escapar por entre seus dedos.

- Então, presumo que estamos acertados? - Edward perguntou impaciente enquanto derrubava o pendrive dentro da sua bebida.

Woo sorriu torto, fazendo seu rosto parecer ainda mais assustador naquela careta cômica e deformada.

- Estamos Ed. Estamos. - Woo pegou sua bengala de ouro com a cabeça de um tigre esculpido sob suas mãos cheias de anéis e levantou, mancando ligeiramente até a saída, sem parecer nem um pouco menos imponente por isso.

Edward se arrepiou mais uma vez, porém logo se distraiu com sua porta lateral sendo aberta.

- Senhor,  a nova atração está pronta para hoje a noite. - Seu funcionário mais leal disse, curvando em respeito antes de se afastar.

- Traga-o. - Edward disse enquanto seu segurança entrava com uma criança parecendo angelical e perdida.

Edward bufou, aquilo não tinha mais graça depois de ter conhecido Jimin. Agora tudo que ele conseguia ver era uma criança com as coxas finas demais, a calcinha de renda parecia folgada, seus lábios não eram cheios o suficientes e os gemidos chorosos não pareciam com sons angelicais.

Ele fez um movimento com as mãos, mandando tirarem o garoto da sua frente.

Se ao menos ele pudesse ter o anjinho loiro em suas mãos mais uma vez.


JHope entrou em seu apartamento se sentindo estranho. Jihoon parecia prestes a entrar num matadouro, os olhos grandes lacrimejavam, enquanto seu corpo se mantinha o mais afastado possível do mais velho.

Ele abriu a porta do apartamento, vendo Jihoon olhar tudo com muita curiosidade.

- Jimin vem pra cá quando sai tarde do instituto, ele tem roupas que te serviriam melhor do que as minhas, se quiser tomar banho ou vestir algo confortável.

Jihoon perdeu o interesse nos quadros pintados de V pendurados na parede da sala, abaixando a cabeça para olhar os próprios pés em seu tênis velho.

- Não posso usar as roupas do Sr. Park. - Jihoon negou com a cabeça desesperado.

- Pode se eu disser que tudo bem. - JHope sorriu um pouco desanimado.

O garoto parecia tão desconfortável.

- O Sr. quer que eu tome um banho primeiro? - Jihoon balançou seu corpo distraído, parecendo infantil demais para sua idade.

 V fazia aquilo às vezes.

- O quarto fica no final do corredor. - JHope disse um pouco estressado por ter se excitado com algo tão inocente.

Jihoon concordou triste, indo para onde JHope o havia mandado, se sentindo sujo, a ponto do JHope não querer nem olhar para cara dele. Provavelmente com nojo.

Ele suspirou desanimado.

Por que ele se importava com o que mais velho achava dele afinal?

JHope suspirou pesado, abrindo a varanda e se apoiando no parapeito, analisando o trânsito abaixo enquanto apertava o botão de discagem rápida no celular.

“ Conseguiu o que precisávamos?” - RM perguntou sem nem lhe dar um oi.

Seus irmãos nunca se cumprimentavam devidamente.

JHope bufou irritado com isso, mas não disse nada sobre.

- O garoto está sensível demais, preciso de mais tempo. - foi sua resposta genial para sua covardia.

O silêncio do outro lado da linha era esmagador.

“Precisamos disso” - RM disse depois de provavelmente pensar no que dizer.

- Eu só… não me sinto muito confortável em usar garoto - JHope passou seus dedos calejados pela mureta de tijolo batido.

“ Ninguém está fazendo o que se sente confortável em fazer J. - RM suspirou do outro lado da linha. - Se quiser posso pedir para outra pessoa tentar conseguir informações do garoto…”

- O garoto tem nome e sofreu tanto quanto Tae. - JHope explodiu, tentando se acalmar no minuto seguinte. - Eu vou conseguir o que precisamos, só não… - JHope puxou os cabelos para trás. - só não faça nada, deixa que eu resolvo isso.

“ Ok irmão”. - RM desligou.

JHope queria mais que tudo jogar o celular na calçada abaixo dele, mas isso só significaria que ele iria precisar arranjar tempo pra comprar outro, sem contar que poderia machucar alguém que estivesse passando lá embaixo.

Ele entrou no apartamento, fechando a sacada e ligando o aquecedor. Estava realmente frio aquela noite.

Seus pés foram automaticamente para o bar, então ele se serviu com seu gin e tônica de sempre. V o tinha viciado naquela merda.

Ele se sentia uma droga de irmão, por não conseguir fazer algo tão simples quanto manipular uma criança indefesa, seu peito arranhava com aquele pensamento tão cruel o envenenando aos poucos.

Jihoon apareceu na sala como se fosse atraído pelos pensamentos de JHope.

Seus cabelos pretos estavam úmidos e brilhantes. O garoto vestia um moletom roxo enorme, deixando suas pernas leitosas expostas.

JHope se ajeitou desconfortável no sofá.

Droga! Por que tão lindo.

- Sr. Jung, estou melhor? - Jihoon perguntou juntando as mãos trêmulas em frente ao corpo.

Tá ótimo. Agora só falta a porra da calça. - A mente de JHope gritou o fazendo tossir desconcertado.

- Você se sente melhor? - JHope perguntou sentindo seu pescoço esquentar.

Jihoon deu de ombros puxando o ar para os pulmões, tentando criar coragem.

JHope não percebeu, ainda lutava contra seus pensamentos descontrolados.

- O Sr. quer que eu fique sem isso também? - Jihoon perguntou tremendo um pouco pelo frio, um pouco por medo.

Ele não queria ter que ficar nu.

JHope enrugou a testa, confuso com a pergunta, mas mal teve tempo de pensar.

O pequeno veio na sua direção, ajoelhando na sua frente e o encarou a espera de ordens, as mãos cruzadas nas costas.

JHope estava aumentando o aquecedor, confuso com o termostato quando deu um pulo assustado pela aproximação inesperada do menor.

- O que está fazendo? - As palavras de JHope saíram um pouco agressivas pela surpresa, o que fez Jihoon tremer assustado.

Seu nariz empinou diante do medo, porém não havia nada que ele pudesse fazer à respeito dos seus ossos que vibravam fracos dentro do seu corpo frágil.

- Ainda estou nojento? - Jihoon perguntou fazendo um bico trêmulo, na tentativa de esconder suas lágrimas de JHope.

Ele tinha razão. O mais velho era muito pior, ignorando o quanto ele se sentia humilhado e exposto diante dele.

- Eu não tenho nojo de você, pequeno. - JHope acariciou o rosto de Jihoon, vendo o menor se inclinar para sua mão com os olhos fechados, da mesma forma que fez quando estavam em seu apartamento.

Jihoon engoliu seco antes de aproximar com seus dedinhos ágeis para abrir o zíper da calça do  mais velho.

- O que você está fazendo ? Não. - JHope escorregou para o lado, levantando as pressas enquanto subia o zíper da própria calça sentindo suas bochechas esquentarem.

Jihoon abriu a boca num “O” , os olhos brilhantes o deixando ainda mais inocente e confuso.

- Sr. Jung. eu não sei voltar pra casa daqui. - Jihoon disse, achando que seria expulso por não ter agradado. - Eu tomei banho. - ele disse com as mãozinhas agitadas enquanto JHope entendia o que estava acontecendo.

- Jihoon eu não quero nada de você. - JHope disse às pressas. - Nada disso pelo menos. E me chama de Hoseok pelo amor de Deus.

- Eu não tenho dinheiro Sr. Hoseok. - Jihoon suspirou com o queixo vibrando. - Se eu não te agradar assim… - o garoto soltou o ar em pânico.

JHope suspirou, se ajoelhado em frente o garoto.

- Não quero que me pague. Você não me deve nada. - JHope colocou o garoto de pé apoiando sua mão no ombro do menor.

Jihoon não entendia algo assim. Tinha comido e estava  quentinho, não entendia como não tinha que pagar por aquilo.

- Mas você me alimentou. - ele sussurrou confuso, olhando nos olhos caramelos do mais velho.

O Sr. Hoseok era tão lindo.

- Isso é o que amigos fazem uns pelos outros. - JHope disse se levantando do tapete um pouco sem graça. - E é melhor já ir se acostumando porque eu estou prestes a fazer de novo.

Amigos? - Jihoon se perguntou confuso com a idéia.

- Espero que goste de marshmallow e chocolate . - JHope gritou já quase na cozinha, ajeitando sua semi ereção no jeans apertado.

Ele se sentia um pervertido de merda no momento, por não conseguir controlar seus pensamentos diante de algo tão cruel quanto o que tinha acabado de ver.

JHope pulou com a panela na mão, por causa de uma trovoada um tanto quanto perto deles, seu coração acelerou e ele colocou a mão no peito, negando com a cabeça o quão assustado estava.

Uma risadinha fofa veio da porta da cozinha o deixando vermelho de tanta vergonha.

- Você estava me espionando? - JHope perguntou fingindo estar chateado, mas logo voltou à sua tarefa de fazer o melhor chocolate quente da vida do garoto.

- Desculpa Sr. Jun… Hoseok. - o garoto se consertou a tempo, vendo JHope sorrir alegre na sua direção.

Ambos tomaram seu chocolate quente em silêncio, não porque não tinha o que dizer um ao outro, mas porque passava um desenho animado bem interessante na tv plana da sala.

JHope arrumou o quarto de visitas para o mais novo e colocou um edredom extra para que Jihoon ficasse quentinho.

Amanhã ele pensava em como conversaria com o menor sobre o desgraçado do Woo, no momento, o mais velho só queria Jihoon protegido.

JHope terminou de arrumar a cama do garoto, o vendo esconder o corpo entre a porta aberta, o espiando com seus olhinhos curiosos.

- Aí está você. - JHope disse animado, mas pulou com outra trovoada escandalosa.

O pequeno riu mais uma vez, mas se distraiu com JHope batendo na cama para ele ir deitar.

- Qualquer coisa me chama?

O pequeno concordou, inclinando o rosto para os dedos quentes e delicados que encostava em seu rosto.

- Boa noite. - JHope sussurrou saindo do quarto.

Ele queria ter ficado mais, mas isso seria ridículo.

Era de madrugada quando o som de choro chegou aos ouvidos de JHope. Ele estava confuso e ainda raciocinando o que poderia ser aquilo, quando ouviu o grito agoniado seguido de mais choro.

Seu corpo agiu antes que sua mente, porque quando menos percebeu, suas pernas tinham o levado até a porta do quarto onde Jihoon dormia.

- Eih. Você está bem? - JHope entrou no quarto encontrando o garoto encostado no canto da parede, abraçando as próprias pernas enquanto murmurava algo incompreensível.

- Vamos voltar para cama? - Ele perguntou tentando se aproximar mais do garoto que parecia de repente em pânico.

- Eu não fui bom. Não fui um bom garoto. - ele disse entre o choro, arrepiando os pelos do braço de JHope.

- Você é um bom garoto.

- O Sr. S vai me castigar. Eu mereço ser castigado, eu não fui um bom garoto. - lágrimas escorriam por seus olhos e nariz e sua boca estava machucada pelo tanto que ele mordia.

Os ombros magros e ossudo do pequeno se inclinaram ainda mais, à medida que ele se sentia aterrorizado com seus próprios pensamentos.

- Pequeno. - JHope tentou tocar o garoto que começou a berrar e se espernear absurdamente, o forçando a recuar.

JHope correu para o quarto e pegou o celular, ligando para V.

V parecia entediado enquanto passava instruções para JHope, ele estava claramente chateado porque sabia que JHope estava tentando arrancar informações de Jihoon e só começou a falar quando o mais velho prometeu que jamais faria mal ao menor.

Ele não parecia convencido, mas ajudou  JHope mesmo assim.

JHope desligou e correu até a sacada, abrindo o freezer para pegar os sacos de gelo que ele tinha.

Ele não conseguia parar de pensar no porquê V perguntou as exatas palavras que Jihoon estava tentando dizer.

Será que eles tinham palavras específicas para suas crises?

Não parecia ser o caso, até porque V nunca falava nada durante as suas. As de Jihoon no entanto eram agonizantes.

Ele mal tinha pensado isso e um choro desesperado veio do quarto onde o menor estava.

JHope jogou o gelo na banheira, enchendo o resto com água gelada e suspirou desanimado.

Ele realmente esperava que aquilo desse certo.

Quando voltou no quarto, o choro de Jihoon havia diminuído, mas ele ainda parecia assustado.

- Eu mereço ser punido. Eu mereço ser punido. - Ele ficava dizendo baixinho.

JHope queria ter mais paciência, mas estava tão aterrorizado quanto o menor, então ele só pegou o garoto no colo e torceu para não piorar tudo fazendo isso.

Jihoon teve a reação mais inesperada na visão do maior. Ele simplesmente cruzou suas perninhas finas nas costas do mais velho e agarrou seu pescoço, grudando sua testa suada no seu ombro.

- Por favor não me machuca. 

- Eu não vou te machucar. - JHope disse colocando o garoto com os pés no chão para ajudá-lo a tirar o moletom que vestia.

- Eu não quero sangrar. Eu odeio quando sangro, minha cabeça fica confusa. - Jihoon dizia aéreo enquanto abraçava seu corpo magro.

JHope suspirou, vendo o garoto tão pequeno, magro e com uma cueca velha e larga na sua cintura fina.

Que merda aconteceu com a humanidade para que esse tipo de coisa acontecesse?  

Ele pegou o garoto pelo braço, o ajudando a entrar na banheira.

Era normal pensar que o menor começaria a gritar em pânico pela água extremamente gelada numa noite daquelas, mas ele foi tão solícito e calmo. Deitando na água congelante até a altura do pescoço. Seu corpo tremia absurdo e seus dentes batiam contra o outro, mesmo assim Jihoon sorriu para JHope, com os olhos menos dilatados agora, cessando o choro e o desespero quase que de imediato.

- Obrigado. - ele disse quando se levantou para ser enrolado numa toalha quentinha e felpuda que o maior tinha nas mãos.

- Pelo que? - JHope perguntou com a intenção de dizer que não havia nada pelo que agradecer, mas então as próximas palavras de Jihoon congelaram seu corpo, como se fosse ele na banheira de água gelada.

- Por me punir.

JHope olhou a água ainda com cubos de gelos na banheira, sua mente vagando nas palavras curtas e entediadas de V pelo telefone.

- Ji-Hoon, eu...

Jihoon o abraçou forte suspirando pesado, mas  parecendo extremamente feliz.

- Você não me fez sangrar.

O garoto já tinha caído no sono há algumas horas, quando JHope desencostou da porta do quarto e pegou o celular nas mãos.

- Que porra Taehyung. - Foi o seu “oi” para o irmão que parecia não se incomodar nenhum pouco com uma ligação durante madrugada.

“ Tinha que ser feito” - V disse com a respiração funda e cansada.

- Não. Você...você me fez puní-lo. Ele estava desesperado. - JHope puxou os cabelos para trás saindo na sacada do apartamento, sentindo neve cair por seu rosto quente. - Ele confiou em mim. - JHope sussurrou para ninguém em específico.

“ Jihoon é novo e passou por coisas muito piores que as que aconteceram comigo. - V suspirou desanimado mais uma vez - Eu sei que parece cruel, mas na cabeça dele faz sentido, é a realidade dele Hyung. Você não pode simplesmente aparecer e achar que pode mudar tudo de um dia para o outro”

JHope passou a mão livre no rosto, sentindo seu peito diminuir suas batidas insanas.

- O garoto está destruído. - JHope sussurrou para um V silencioso.

“ Hyung. Eu sei que está tentando ajudar, mas não tente consertá-lo, isso só vai machucar mais”.

JHope não concordava, mas não disse isso à V, desligando o telefone quando o frio foi demais para o seu corpo dormente e agora úmido com a neve.

Talvez ele tivesse punindo a si mesmo quando resolveu sair para fora do apartamento só de camisa e moletom, como uma forma inconsciente de se odiar pelo que fez ao pequeno, mas nada disso importou quando entrou em seu quarto e encontrou Jihoon em pé, ao lado da cama, vestindo o pijama gigante que ele mesmo havia emprestado.

- Jihoon?

- Posso dormir aqui com você? - ele disse bocejando enquanto coçava o olho distraído.

O certo seria falar não, mas JHope queria abraçar tanto quanto queria ser abraçado e por mais ridículo que aquilo parecesse, Jihoon era exatamente o que parecia acalmá-lo desde o dia em que viu o garoto parado na porta do apartamento de V, confuso, precisando de uma direção.

JHope subiu em sua cama e puxou o menor para o seu lado, se sentindo bem pela primeira vez em muito tempo, mesmo que aquilo fosse errado de todas as maneiras possíveis, ainda assim era bom.

...

V desligou o celular suspirando desanimado, as mãos trêmulas lhe diziam que ele não estava completamente feliz com o que havia feito, mas sabia que era o que tinha que fazer por Jihoon, ninguém entenderia aquilo tão bem quanto ele.

- Perdeu o sono? - ele perguntou sem olhar para jungkook, sabendo que o mais novo estava acordado.

- Como sabia? - JK perguntou rindo baixinho.

- Você parece um tratorzinho quando dorme. - V disse se aproximando para beijar o pescoço de Jungkook e fazer o máximo de cócegas que conseguia.

- Eih! Eu não ronco. - Jungkook tentava falar bravo, mas acabava rindo toda vez que suas escapatórias das cócegas não resultavam em nada.

 V deitou a cabeça no travesseiro, mais cansado do que deveria estar, suando frio na tentativa de colocar ar pra dentro do peito.

- Você tá bem, velhinho? - Jungkook perguntou deitando a cabeça no peito do mais velho.

- Só preciso de um tempo. - V respondeu acariciando os cabelos lisos de JK.

Seus olhos fecharam com o tempo, a respiração de Jungkook o acalmava, como uma canção suave o botando para dormir.

- Tata. -  Jungkook o chamou depois de um tempo que ele não saberia dizer quanto.

V abriu os olhos lentamente, encontrando Jungkook todo agasalhado, pulando feito uma criança na frente da cama.

- Vamos! Está nevando. - ele disse empolgado e sorridente.

Seu corpo não parecia ter descansado nada, pelo contrário, parecia ainda mais cansado que antes, mas ele não conseguiria dizer não para aquele ser empolgado na sua frente, não enquanto  aquele sorriso encantador dominasse seu rosto angelical.

V tremia dos pés a cabeça, mesmo coberto com casacos térmicos de inverno.

Seu corpo parecia querer congelar, sendo que o único motivo de ainda funcionar, era por causa de uma mão suave e gentil o esquentando por cima da luva enquanto o puxava, não tão gentilmente  assim, para a Praça de frente para o apartamento.

As sakuras empilhadas na Praça não pareciam tão rosas e felizes enquanto caíam de seus galhos mortas, porém era cruelmente lindo.

Jungkook balançou a mão que segurava V animado, enquanto caminhavam pelo corredor de árvores na direção da fonte colorida no centro da Praça.

O sol nem havia nascido ainda, provando que eles eram loucos por saírem naquele clima congelante durante a madrugada.

Mas eles sorriam e isso parecia mais importante que a sanidade mental no momento.

- Você sempre amou o inverno. - Jungkook disse sorridente parando no meio do caminho para abraçar V.

Os dois deram gargalhadas altas porque usavam tanta roupa que mal conseguiam contornar o corpo um do outro.

- Nós vamos ganhar uma hipotermia. - V disse agitando suas mãos nas costas de JK para aquecê-lo.

- Podemos ficar no mesmo quarto de hospital, aí eu vou ganhar gelatinas extras, porque você sempre consegue o que quer das pessoas. - Jungkook parou de falar, pensando se isso não ofenderia o mais velho de alguma forma.

 V riu, mostrando seu sorriso quadrado que JK tanto sentia falta.

- Só você pra gostar de gelatina de hospital.

- A de limão não é tão ruim. - Jungkook deu de ombros voltando a puxar o mais velho pelo caminho escorregadio com flores e cristais de gelo pelo chão.

Os dois finalmente sentaram num banco velho de madeira, sorrindo com a visão do sol nascendo bem de frente pra eles.

No final das contas a ideia de Jungkook tinha valido a pena.

- Eu vi o sol se pôr com você e agora estou assistindo ele nascer. - Jungkook sorriu encarando V que ainda olhava o céu mudar de cor. - Nada supera o fato de que estar com você causa esse efeito no meu peito que nenhuma estrela é capaz de se equiparar.

V sorriu de canto, sem tirar os olhos do sol, o sorriso virando um debochado a medida que Jungkook percebia o quão romântico aquilo tinha soado.

Realmente não tinha sido sua intenção. JK não era a pessoa mais romântica do mundo, era bem raro ele se expressar com palavras na verdade.

- Sai coisas tão incríveis dessa sua boca. - V finalmente disse se virando para cutucar os lábios do menor com seus dedos finos. - Como é que elas fazem isso? - ele perguntou mexendo em seus lábios, como se fosse o suficiente para fazê-los começarem a falar.

- Para com isso. - Jungkook gritou enquanto sentia dor no estômago pelas risadas descontroladas que saíam de sua garganta.

- Elas vibram em sons estridentes também? - V perguntou se aproximando para morder seu lábio inferior.

Jungkook resmungou um gemido no meio da reclamação pela dor.

 Não era a intenção de V no início, mas seus lábios encostando nos de Jungkook pareciam pensar por conta própria, transformando seus toques em um beijo suave e gentil.

Jungkook se afastou, o que deixou V confuso no início, mas o mais novo voltou, sentando em seu colo e o beijando com mais brutalidade, lembrando ambos no que eles eram bons quando estavam juntos.

V segurou as coxas de Jungkook, o afastando com urgência quando precisou respirar.

- Eu acho que to ficando velho. - ele disse sem graça, voltando a mordiscar os lábios do mais novo.

Jungkook gemeu baixinho, encostando sua testa na de V.

- Você sempre vai ser o V por quem eu me apaixonei. - JK sussurrou, soltando um ar quente e doce no rosto do mais velho. - só que um pouco mais velho.

V respirou fundo sentindo suas mãos tremerem com a ideia de ter JK ao seu lado, finalmente. Ele afastou o mais novo, assim que esse pensamento o lembrou que JK poderia fugir a qualquer momento e que doeria mais do que das outras vezes.

Jungkook voltou a sentar ao seu lado, parecendo ofendido, mas não estava na verdade.

Ele se sentia triste sim, mas só com ele mesmo, por não ter sido uma boa pessoa para V.

- Você sempre teve paciência comigo, me deixava fazer o que eu queria fazer e quando eu me arrependida das merdas que eu mesmo provocava, você abria os braços e me acolhia, dizendo que tudo ficaria bem.

V concordou, mordendo o lábio inferior com força para não gritar.

- Desculpa por não conseguir fazer mais isso. - foi o que saiu da sua boca ao invés do grito.

- Não to dizendo tudo isso porque quero que se sinta culpado, estou dizendo porque é o que eu quero fazer por você.

V negou com a cabeça, sentindo sua nuca começar a latejar por nenhum motivo aparente.

- Você não precisa fazer nada disso.

Jungkook suspirou pesado.

- Mas eu quero fazer mesmo assim.

Os dois se encararam em uma compreensão silenciosa.

- Eu sei que você não tem nenhum motivo para acreditar em mim, mas eu não vou te deixar dessa vez. - Jungkook disse quase chorando.

V concordou pensativo, olhando à distância um carro conhecido parar na entrada lateral do parque.

Jungkook sentiu seu celular vibrar no bolso, ignorando o fato de que V levantou do banco enquanto ele atendia a ligação.

Suga saiu do carro, cruzando os braços enquanto encostava na porta do automóvel, esperando V se aproximar.

- Como sabia que estaríamos aqui? - V perguntou, tirando um dos casacos quando começou a suar, mesmo que a neve ainda caísse sobre eles.

- JK deixou um bilhete na geladeira avisando.

V concordou com a cabeça baixa, chutando um monte de neve amarela e suja que acumulou na guia da calçada.

- Eu vim te levar para o médico Tae. - Suga disse puxando o ar em chateação enquanto coçava atrás da orelha pela timidez.

Ele odiava forçar o mais novo a fazer qualquer coisa, depois que descobriu o porque ele era uma pessoa tão obediente e submissa com eles.

- Eu sei. - V respondeu baixo.

- Tae, eu não quero...

- Não tô me sentindo bem. - V o interrompeu. -  Um médico seria bom. - O mais novo sorriu um pouco sem graça.

- O que você ta sentindo? Aconteceu  mais alguma coisa? - Suga se afastou do carro, encostando a mão no antebraço do mais novo com a expressão transformada em preocupação quase que de imediato.

- Ando vomitando bastante, passei a noite acordado.

Suga concordou, se afastando de V quando Jungkook se aproximou.

- Desculpa amor, não vou poder ir ao hospital com vocês.

Suga soltou uma risada debochada junto com sua respiração, mas tudo que JK fez em resposta, foi continuar olhando com preocupação para V.

- Não tem problema, Suga Hyung vai comigo, além do mais seria bom se pudéssemos garantir a segurança das gelatinas de limão do lugar.

JK sorriu largo para o mais velho, o beijando nos lábios gelados e foi embora sem se despedir de Suga.

Ninguém falou nada sobre aquilo, apesar da falta de respeito do mais novo.


- Por que está agindo assim com Kookie ultimamente? - V perguntou enquanto eles esperavam ser atendidos, sentados numa sala vazia, cheia de revistas de moda e saúde e uma TV ligada num canal aleatório, num volume impossível de ser ouvido.

V tinha passado por uma bateria de exames e agora estavam esperando os resultados, que foi pedido com urgência.

- Não sei do que está falando. - Suga disse sério enquanto fingia dormir, a máscara facial abaixada até o queixo, o boné tampando os olhos e os braços cruzados na altura do peito.

V passou um tempo encarando seu Hyung em silêncio, até ele finalmente bufar, arrumando sua postura na cadeira desconfortável enquanto pensava numa resposta.

- Eu honestamente estou com ciúmes. - Suga disse muito devagar, a voz grossa pausando em cada palavra, o som corrente e lento saindo perfeitamente por sua boca. - acho que estou com um pouco de medo também.

- Medo? - V se ajeitou na cadeira, olhando o mais velho com curiosidade. Ele nunca presenciou tamanha honestidade vinda de Suga, normalmente ele era bem reservado. - Medo de que?

Suga deu de ombros, mordendo a boca enquanto olhava para V sob o boné.

- Medo de não ser mais necessário. Esses últimos anos eu tomei suas inseguranças para mim e não sei se é pelo fato de que eu ando reparando muito em cada passo que você dá, mas depois que JK voltou, eu senti como se tivesse perdido uma parte de você que era destinada a mim, se é que isso faz algum sentido.

Quando V começou abrir a boca para responder, uma enfermeira chamou seu nome, conferindo na prancheta em suas mãos antes de repeti-lo mais uma vez, até V levantar.

- Ele não pode entrar. - A enfermeira disse olhando para Suga atrás de V.

- Eu não vou sem ele. - V disse sério, travando uma batalha com a mulher na sua frente.

- Deixe-os entrar. - O médico disse de dentro da sala, fazendo a enfermeira liberar a entrada.

O médico em questão era um homem na casa dos trinta, os cabelos loiros penteados para trás, a pele bronzeada e um sorriso encantador e acontece que ele era o atual namorado de Robert, o psicanalista de V, os dois se conheceram num congresso ou algo assim. Para ser honesto V não estava prestando muita atenção enquanto Robert falava quando lhe contou em uma de suas sessões.

- Você deve ser Kim Taehyung, Robert fala muito de você.

- Espero que só coisas boas. - V disse debochado, sentando na cadeira na qual o médico apontava.

Suga imitou o gesto, sentando ao seu lado.

- Bom, os exames acabaram de chegar e preciso dizer, tenho resultados estranhos aqui.

V se ajeitou incomodado na cadeira.

- Antes de qualquer coisa, você pode me falar mais sobre seus sintomas?

V lambeu o lábio inferior incomodado com tudo aquilo.

- Febre, suores noturnos, dor de cabeça, dor nos ossos, enjôo e alguma pintas vermelha, sem contar a perda de movimento do meu corpo ontem a noite. - V disse ignorando as mãos ansiosas de Suga limpando o suor no jeans rasgado.

O médico olhou mais uma vez o resultado do exame de sangue em suas mãos.

- Pode ser um falso positivo ou até mesmo um sintomas mascarando o outro, mas sua taxa de glóbulos brancos está assustadoramente baixa.

V concordou pensativo enquanto era Suga quem se remexia incomodado dessa vez.

- O que isso significa? - Suga perguntou impaciente.

- Que precisamos fazer mais exames. Você está tomando alguma medicação?

V começou a negar, mas parou ao se lembrar dos comprimidos em cima do criado mudo ao lado cama.

- Complexo vitamínico, eu tomo pela manhã.

O médico concordou fazendo algumas anotações.

- Sr. Kim, é muito cedo pra dizer ainda, mas seus sintomas e resultados de sangue dizem que é possível que tenha leucemia aguda.

- Câncer? - Suga perguntou confuso.

- Eu vou te encaminhar para um oncologia e você vai terminar de realizar os exames com ele. É um médico incrível, tenho certeza que estará em boas mãos.

V encostou na cadeira, passando a mão suada pelos cabelos.

Aquilo não estava nem perto da lista de coisas que ele imaginava que tinha.

- Espera. Você não pode simplesmente falar que meu irmão tem uma doença dessas e considerar a conversa por encerrada. - Suga disse antes do médico voltar a falar.

- Sr. Min, eu não sou especialista no assunto e de qualquer forma esses resultados podem ser falsos positivos, não podemos nos precipitar num diagnóstico sem mais exames para comparar.

- Obrigado Dr. - V disse, cortando a conversa enquanto o médico prescrevia uma receita para diminuir os enjôos e dores de cabeça de V.

Eles mal tinham saído do hospital e Suga já estava soluçando de chorar.

V se assustou de início ao ver os ombros de Suga vibrando enquanto a máscara preta escondiam as lágrimas que caíam dos seus olhos, mas no momento em que realizou o quanto o irmão estava em choque, lágrimas desceram dos seus também.

- Que merda de vida você levou na sua vida passada? - Suga perguntou com a voz abafada pelo choro e a máscara cobrindo sua boca.

V riu sem humor, abraçando Suga sem se importar que o mais velho não gostava muito de demonstração de carinho em público.

- Pode não ser nada. certo? Pode ser qualquer outra coisa.

V concordou o apertando ainda mais.

Ele sabia que as probabilidades do médico estar errado eram pequenas, mas não queria pensar nisso agora. Tudo que ele conseguia pensar era em como ia contar aquilo para JK e se ao menos deveria contar, afinal era certo como a rotação da Terra ao redor do sol, que o mais novo o abandonaria de novo. Se ele não pôde lidar com coisas típicas de um relacionamento, V declarativamente morrendo não seria uma exceção.

- Se está pensando em esconder isso de todo mundo, esquece. - Suga disse se afastando enquanto enxugava as lágrimas de seus olhos vermelhos;

- Yoon.

- Não, nem começa.

- JK vai me deixar. Por favor, me deixa ser egoísta só dessa vez. - V implorou angustiado.

Suga abriu a porta do carro para V, entrando logo em seguida.

- Não é certo Tae. - Ele disse brincando com a chave do carro nas mãos.


Eles foram em silêncio até o apartamento. Aquela noite em particular era a noite em que os meninos se reuniam. Normalmente eles faziam isso na casa de Suga e Jimin, mas fizeram no apartamento de V dessa vez.

- Pelo menos até termos certeza dos resultados. - V pediu, parando Suga na porta do apartamento.

Suga não respondeu, abrindo a porta para imensa barulheira de pessoas conversando mais alto do que o normal na pequena sala.

Todos estavam sorrindo, no meio de uma felicidade confusa e espontânea, mas diminuíram a conversa até cessar, quando notaram os dois parados na porta.

Suga entrou na sala, indo beijar Jimin na testa para depois aceitar a cerveja que RM colocava em suas mãos.

V fechou a porta, vendo JK sorridente o encarar com seus olhos apaixonados do outro lado da sala.

- E então. Como foi no médico? - JK perguntou assistindo V encarar em silêncio Suga.

- Não sabemos ainda, eles pediram alguns exames de rotina. - Suga mentiu, encarando V que parecia tentar ser discreto ao soltar o ar aliviado.

A conversa voltou ao seu nível de escândalo enquanto V atravessava a sala para abraçar JK.

Ele percebeu pela primeira vez Jihoon escondido no canto, sem saber como se portar diante deles, se escondendo atrás de JHope que parecia proteger seu corpo de forma inconsciente enquanto conversava com Jin.

Jihoon o encarava de um jeito estranho, como se soubesse de algo que ele não sabia.

V desviou o olhar com vergonha, pensando ser algo sobre a noite anterior. Seus olhos caíram em Jimin que o encarava com as sobrancelhas levantadas, claramente notando a estranheza do seu comportamento. E de repente tudo aquilo era demais para ele, era como se todos o julgassem por algo que ele não sabia dizer o que era.

- Com licença. - ele disse baixo enquanto corria para a janela do apartamento, subindo a escada de incêndio para o terraço.

Ele finalmente pôde respirar, uma vez lá em cima. O cheiro das rosas dominando qualquer pensamento confuso que ele pudesse ter, seu corpo relaxando enquanto ele encarava o céu imerso em estrelas distantes.

- Tata. Tá tudo bem? - JK perguntou se juntando a ele no terraço.

V suspirou, concordando com o menor sem encará-lo e parecia fácil esconder tudo de JK naquele momento, principalmente quando a verdade poderia afastá-lo pra sempre.

- Precisamos conversar. - JK disse o abraçando por trás para beijar seu pescoço.

V fechou os olhos, respirando fundo. Talvez Jungkook o abandonasse de qualquer forma e agora, pensando bem sobre o assunto, não parecia mais uma opção tão absurda assim.

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