Capítulo 9 - parte 4 (em revisão)
Estacionou a viatura no pátio, tranquilo. Viu Anabela fumando do outro lado e sorriu, indo na sua direção. Quando se aproximou, estranhou que ela estava séria e com os olhos vermelhos, até inchados.
– Amor, o que diabo...
Arthur não terminou de falar porque foi apanhado de surpresa com um chute no rosto, tão forte que caiu de lado muito tonto e dolorido. Foi-se levantar e ela chutou-o mais uma vez, só que agora no peito e jogando o namorado ao chão de novo.
– Seu canalha – berrou ela. – Hipócrita, traidor, mentiroso.
Zonzo demais para se defender, ficou sentado e ela aproximou-se, dando-lhe dois fortes socos. Arthur, que já estava muito tonto, ficou bem pior, quase indo a nocaute e enxergando dobrado.
– Acha que eu não vi tudo, seu filho da puta? – Anabela gritava fora de si. – Você se fazendo de bonzinho, cafajeste, mas tudo o que queria era ter duas mulheres na cama, não é? E não adianta negar que eu vi, eu vi ela no seu colo e o beijando e você na janela do quarto com roupão, no mínimo depois de comer a mulherzinha adúltera...
– Anabela, me escute e pare com isso – pediu ele, muito tonto e sentindo-se mal. – Eu não fiz nada, fiquei sem bateria para ligar, só isso. Bem que eu precisava...
– Ainda tem coragem de dizer isso – gritou, jogando outro chute nele, mas errando porque foi abraçada por trás e erguida no ar sem aviso prévio por dois braços que mais pareciam bigornas.
– Pare com isso, Belinha – pediu Janjão. – Arthur não é assim. Dê uma chance para ele se explicar...
O amigo não terminou a frase porque, logo a seguir, ela ergueu o pé acima da sua própria cabeça e chutou a testa do colega com o bico do sapato, fazendo-o tontear e cair de costas, incapaz de se levantar.
– Nunca mais quero olhar na sua cara, Arthur, nunca seu mentiroso – gritou, Anabela, fora de controle. – E eu que achava você o melhor cara do mundo, que lhe entreguei todo meu amor depois, depois, depois... de seis anos!
– Se você está agindo assim comigo, Anabela – disse Arthur mantendo a calma, apesar de ferido –, é porque não é digna do meu amor, nunca foi...
Não terminou de falar porque ela voltou a chutar o seu rosto. Arthur poderia ter-se defendido, mas nada fez e caiu no chão outra vez, tão tonto que não tentou levantar de novo. Ele sabia que a próxima pancada dela poderia até ser fatal, mas recusou-se a tomar qualquer atitude contra a namorada. Anabela ia repetir a dose quando um berro forte ecoou por todo pátio do estacionamento.
– JÁ CHEGA, ANABELA. – Heitor estava na entrada do prédio, junto com um grupo respeitável, que assistia boquiaberto.
A delegada virou-se e saiu, entrando no prédio a correr. Sacudindo a cabeça, Janjão levantou-se aos tropeços e apressou-se a ajudar o amigo que estava muito machucado e sangrando. Quando ficou de pé, Arthur fez sinal com a mão de que estava bem e encostou-se na viatura ao seu lado, tonto demais para ficar apenas sobre os próprios pés. Respirou fundo, cheio de dores no peito, acendeu um cigarro e sentiu o gosto de sangue, olhando o filtro todo manchado de vermelho.
– Que coice essa maluca tem, Arthur! – disse Janjão, voltando a sacudir a cabeça. – Tô tonto até agora. Como você aguentou tanta porrada sem apagar?
Miguel aproximou-se com alguns lenços de papel nas mãos e o amigo agradeceu. Assim que Heitor chegou perto, ele disse, tentando parecer natural:
– Oi, chefe, desculpe a minha aparência.
– Por favor – disse o titular aos dois colegas. – Deixem-me a sós com Arthur.
Quando os delegados saíram, ele continuou:
– O que diabo aconteceu, Arthur? – perguntou. – Nunca eu vi a minha filha naquele estado! Sei que ela é esquentadinha, mas nunca ficou assim. De qualquer forma, tenho que lhe agradecer por não revidar.
– Sou um delegado e não um assassino, chefe, que era o que aconteceria se revidasse.
– Eu sei – disse, paternal. – Agora me diga o que aconteceu.
– Ela acha que eu a traí com a minha ex e nem me deixou contar o que aconteceu.
– Por quê?
– Uma série de fatalidades, chefe – contou ele. – Me ligaram do hospital porque ela foi drogada por alguém e teve um acidente gravíssimo. Deixaram Cíntia chapadona mesmo e eu precisei de cuidar dela. Posso ter um monte de defeitos, chefe, mas não sou um cafajeste que vai deixar a mãe do meu filho à beira da morte quando ela não tem mais ninguém na vida para a ajudar. E também não seria capaz de me aproveitar de uma mulher naquele estado, ou seja, sua filha não tem nem um pingo de razão. Para meu azar eu não tinha mais bateria para ligar, Cíntia perdeu o telefone em algum lugar, o carregador dela não era compatível e não tínhamos fixo. Resumindo, é isso.
Heitor ouviu em silêncio e notou que a voz do delegado estava com uma forte mágoa. Por fim, disse.
– Acredito em você, Arthur. Eu já o conheço muito bem para saber que você é honrado. Eu vou conversar com Belinha e ver se ela se acalma.
– Não, o senhor não vai fazer isso, chefe – disse Arthur, decidido. – Se ela não é capaz de ter maturidade para discutir uma crise do relacionamento de forma adulta, não é digna de mim. Desculpe, mas o que eu quero agora é que me dê as minhas férias vencidas, pelo menos um mês. Deixe Miguel e sua filha no comando, talvez seja melhor Moisés, já que um desconfia do outro.
– Terá as suas férias, filho – respondeu. – Isso me deixa triste e gostaria que reconsiderasse.
– Já decidi – disse Arthur, andando para dentro. – Não quero uma repetição dos dois últimos anos da minha vida, nunca mais, chefe. Aquilo foi tortura.
As últimas palavras proferidas já foram dentro do prédio e todos ouviram, inclusive Anabela. Arthur passou por ela, que estava calada e de olhos vermelhos, mas não a olhou no rosto. Parou na sua mesa e colocou o telefone a carregar, descobrindo que o vidro ficou bem trincado. Foi ao sanitário e lavou-se. Olhou para o seu rosto no espelho e tomou um susto. Tinha um olho roxo e um dos lados um tanto inchado, além de vários hematomas. O peito também doía bastante quando respirava fundo e esperava que não tivesse uma costela quebrada.
Voltou para a sua mesa e arrumou as coisas sob o olhar discreto da delegada, quando Moisés aproximou-se:
– Você tá bem? – perguntou, colocando a mão no seu ombro.
– No corpo sim – respondeu, ambíguo. – Você vai assumir a investigação porque eu vou tirar férias a partir de agora.
Arthur entregou a chave da sua viatura. Soltou o telefone do carregador e viu que a carga devia durar umas três ou quatro horas. Ele ia sair, mas Miguel colocou-se no caminho.
– Mano, que tal esfriar a cabeça e acalmar os nervos. Isso não pode acabar assim.
– Acabar? – perguntou Arthur, muito calmo. – Talvez nem tenha começado, cara. Eu já disse que nunca mais quero uma repetição dos dois últimos anos e estou com a cabeça bem fria. Nunca fiz nada que justificasse aquilo. Vai ver você tinha razão quanto ao casamento. Até mês que vem.
Virou as costas saiu. Ouviu um barulho estranho e virou-se um pouco de lado para ver pelo canto do olho Anabela saindo a correr para o banheiro com as mãos cobrindo o rosto.
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