Capítulo 8 - parte 5 (em revisão)



A semana que antecedeu o ano novo foi tranquila e normal, mas o falatório todo na delegacia de Copacabana era o atentado que o delegado Delgado sofreu com a família. Heitor chamou o casal e Miguel para a sua sala. Quando entraram, Arthur fez sinal que o colega ainda não sabia que Anabela era a filha do chefe porque, depois que Miguel levantou as suspeitas, preferiu não contar.

– Eu li o relatório da décima nona delegacia – disse Heitor, sério. – O titular dela não é muito fã seu, Arthur, mas foi obrigado a ceder aos fatos, já que tinha bastantes policiais militares que testemunharam o fim da perseguição.

– Ainda bem que ele tem bom senso – disse Anabela, irritada porque não gostou dele quando foram depôr. – Não vou com a cara daquele infeliz e ai dele que se meta a besta.

– Muita gente não vai, Anabela – disse o chefe. – Acontece que ele é um homem com muito zelo e leva a sério a sua função... ao extremo. É cem por cento confiável e a sua fama de honesto é tão grande quanto a de Arthur, por exemplo. Bem, o caso é que ele concluiu que esse ataque foi premeditado e muito bem planejado. Eles apenas não contavam com a vossa habilidade como atiradores e menos ainda na perícia da sua ex-mulher como piloto de corrida.

– Ela tava era se vingando de mim porque morro de medo de correr de carro – resmungou Anabela e os três explodiram numa risada.

– Bem, o que eu quero dizer ao chamar vocês aqui é para que tenham muito cuidado com possíveis atentados porque não podemos excluir a hipótese de ser relacionado à gangue da risada. Afinal, não é segredo que vocês encabeçam as investigações.

– Tem razão, chefe – comentou Arthur –, mas acontece que nós estamos às cegas e o senhor viu as mensagens deles. Não faz qualquer sentido!

– É verdade, p... chefe – disse Anabela.

– A menos que quisessem desviar a atenção de alguém – comentou Miguel, desconfiado. – Talvez de suspeitas, sei lá.

– Seu comentário não faz sentido, Miguel – disse Heitor, olhando para ele sem entender. – Desviar atenção de quê ou quem? Era noite de Natal e não havia ninguém que pudesse causar desconfiança na polícia, como um traidor, por exemplo, muito menos a ex do Arthur.

– Desculpe, chefe – disse Miguel, pouco à vontade. – Foi da boca para fora, mas nunca devemos eliminar as alternativas, mesmo quando o óbvio é contra elas.

– Nisso, você tem razão, mas, neste caso, não vejo como.

– Claro, chefe. – Miguel desconversou. – Releve isso. Saiu sem pensar.

– Gente, eu detestaria perder um de vocês – disse ele, mas o seu olhar foi direto para a filha. – Então, apenas prometam que vão ficar de olhos abertos.

– Nós prometemos, chefe – disse Anabela, sorrindo. – Fique tranquilo.

O celular do Miguel vibrou e ele leu a mensagem. Ergueu os olhos e disse para Heitor.

– Senhor, precisa de mim? – perguntou. Ergueu o celular e continuou. – Recebi uma mensagem de um informante e gostaria de verificar.

– Dispensado.

Anabela esperou Miguel sair e disse à queima-roupa, assim que a porta se fechou:

– Não confio nele. Não me perguntem o porquê disso, mas, nos últimos dias, tenho andado muito desconfiada dele.

– Caraca, agora você também, gaúchinha?

– Como assim – perguntou ela, arregalando os olhos. – Alguém mais desconfia dele? Você, por acaso?

– Não, meu amor – disse Arthur. – Ele desconfia de você, mas o seu principal argumento é muito frágil. Ele disse que você usou a frase "chupando o dedo" na festa.

– E quando você pretendia contar isso para mim? – perguntou Anabela, usando uma voz suave, porém bem perigosa.

– Não sei – respondeu Arthur. – Eu prometi que o deixava investigar à vontade porque é um direito dele e Miguel pediu isso. Afinal, ele não sabe de você e por isso lhe pedi para não contar que é filha do chefe. Por favor, começarmos a desconfiar um do outro não vai ajudar em nada.

– Francamente, Arthur – disse, explosiva. Levantou-se quase que de um salto e saiu da sala. O delegado ia sair atrás dela, mas Heitor segurou-o.

– Espere, Arthur – pediu ele. O policial parou e olhou para o chefe, preocupado. – Deixe, que ela já se acalma daqui a pouco. Há algo que precisa saber a respeito da minha filha: Belinha tem um instinto terrível e nunca falhou. Esse foi outro motivo de tê-la solicitado aqui, então, apesar do Miguel ser seu amigo, tome cuidado. Agora vá lá e tente aplacar a sua ira, mas tenha cuidado que ela bate bem pra cacete.

– Eu sei, chefe – disse Arthur, rindo –, já treinei com ela. Ainda bem que não é páreo para mim. Obrigado.

O delegado saiu para a rua e encontrou a garota no estacionamento, fumando. A sua aparência estava furiosa. Ele aproximou-se dela, sorriu e disse:

– Você está tão zangada comigo que quando solta a fumaça com essa cara parece um dragão pronto a cuspir fogo para me cremar, meu amor.

– Não me chama de meu amor, safado – berrou ela. – Você abusou da minha confiança.

– Belinha – disse Arthur aproximando-se. – Eu trairia a sua confiança se concordasse com ele e o ajudasse. Confio tanto em você que nem me preocupei. Qual é, gaúchinha, não acredito que vai brigar comigo por causa disso!

Ela ficou calada, emburrada e fumando. Correndo o risco de ser morto, Arthur aproximou-se e tirou o cigarro da sua mão, jogando-o fora. Ergueu o seu rosto para si e viu que seus olhos estavam úmidos. Sorriu e passou o polegar neles. Beijou-a com doçura e continuou:

– Qual é, meu amor – pediu de novo. – Não brigue comigo, por favor.

Anabela suspirou e abraçou-o com força, puxando Arthur até ficar colado no seu corpo. Beijou-o com ardor e, depois, deitou a cabeça no seu peito, embaixo do queixo. Devagar, murmurou:

– Você me deixa tão insegura, que droga. Nunca sei onde piso e o amo tanto!

– Então aprenda a confiar em mim. Você sabe que eu não pretendo qualquer mal a si.

– Eu queria não ter medo de correr de carro – disse com a voz sumida.

– Não tem nada de errado em ter medo – respondeu Arthur, beijando a sua cabeça. – Eu tenho medo até hoje! E tenho muito. Apenas controlo isso, não deixo que me domine.

Ergueu o rosto dela e voltou a beijá-la. Depois continuou:

– Pare de se comparar a ela – pediu, sorridente. – Eu não estou com você porque são parecidas ou diferentes. Estou com você porque você é Anabela, a gaúchinha psicóloga maluca que me cativou quando quase me estuprou.

– Deve ser a Síndrome de Estocolmo – respondeu ela rindo e fungando um pouco. – Desculpe.

– Estocolmo é para raptos, não estupros, mas foi um estupro consentido – respondeu ele, também rindo. – Pode usar isso a seu favor no tribunal.

– Só que eu raptei seu coração para mim.

– É bem possível. – Ele riu. – Nesse caso, acho que sofro da síndrome.

– Então você precisa de tratamento psicológico urgente para não piorar.

– E o que a minha doutora preferida sugere?

– Durma hoje lá em casa e vai saber direitinho. Ou eu curo você ou fica ainda mais doente.

– Prefiro ficar mais doente – respondeu Arthur, rindo. – Já tinha dito para o meu pai que ia dormir na sua casa, a menos que não queira.

– Tá maluco? – perguntou ela. – Por mim, você vivia lá. Agora me dê um cigarro porque você jogou o meu fora e esse treco é muito caro para se desperdiçar.

– A gente combinou de controlar a quantidade e reduzir, lembra? – disse ele, estendendo o maço após pegar um. – Amor, eu quero que não deixe Miguel saber que contei para você. O segredo é e sempre foi a alma do negócio.

Terminaram de fumar e voltaram ao trabalho.

― ☼ ―

Síndrome de Estocolmo é um distúrbio psicológico que muitas vítimas de sequestro sentem após algum tempo, quando começam a desenvolver um elo emocional com o criminoso. N.A.

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