Capítulo 8 - parte 3 (em revisão)

Cíntia tomava café da manhã na sua casa, calada e pensativa. Ela amadurecia a ideia de sair dali porque aquela casa, sem Arthur por perto, não era a mesma coisa. Com as suas economias, poderia comprar outra casa, menor é claro, mas talvez em um local melhor, como a Barra que era perto do emprego. Para vender, precisaria de falar com Arthur porque estava no nome dos dois, mas achava que ele não abriria objeções já que tinha dito que podia ficar com ela.

Pelo menos estava contente porque ia passar a semana toda com o filho que ficou feliz em estar com a mãe. Ia nesses devaneios quando o telefone tocou e chegou a assustá-la. Pegou no aparelho e viu que era o marido, atendendo já um pouco ansiosa.

– Oi, meu amor – disse.

– "Oi, Cíntia, tudo bem?" – A voz dele era muito sexy ao telefone e ela perguntou-se a si mesma se aquilo era hora de pensar nessas coisas.

– Vou indo – respondeu. – Está ligando para combinar quando vou pegar Pedrinho?

– "Não, pode ir na hora que quiser porque os meus pais não vão sair. Nós vamos correr na Barra, então não estaremos lá, mas já conversei com Pedrinho. Eu liguei para convidar você a passar o Natal nos meus pais e a gente. Acho que seria melhor para o pequenino se estivéssemos todos."

– Por mim tudo bem, eu adoraria – respondeu com o coração aos pulos. – Mas e a sua namorada?

– "Não faço nada nas costas de ninguém, Cíntia. Tenho certeza de que você sabe disso. Belinha está bem do meu lado, ouvindo, e aceitou que você venha."

– Eu vou sim – respondeu Cíntia. – Arthur... obrigada por ser tão compreensivo.

– "Ok. Nós vamos buscar você para não precisar dirigir e voltar sozinha àquela hora da madrugada. Beijo e se cuide."

Cíntia olhou para a foto dele no telefone e beijou-a, sorrindo. Depois, levantou-se e preparou-se para pegar o filho.

― ☼ ―

– Beijo e se cuide? – Anabela enrugou a testa. – Caraca, você apelou!

– Caramba, amor. – Arthur olhou para ela e sorriu. – Isso é uma despedida corriqueira e muitas vezes sai por hábito.

– Vou fingir que acredito – afirmou ela rindo. – Vamos fazer as compras no shopping depois de corrermos?

– Boa ideia, se bem que vai estar um inferno hoje.

– Amanhã será bem pior, amor.

– Tem razão – disse Arthur suspirando. – Não sou fã de shopping, ainda mais com mulher junto. Vocês fazem questão de entrar em todas as lojas, uma por uma... pelo menos duas vezes e em sentido aleatório.

– Ora, meu amor. – Anabela beijou o seu pescoço. – Não se preocupe que também não tenho paciência para essas coisas.

– Agora você me conquistou de vez, gaúchinha. Assim caso consigo mais rápido que você pensa.

– Primeiro faça o divórcio – disse ela, rindo – ou vai preso por bigamia.

― ☼ ―

A noite de Natal foi muito tranquila. Quando Cíntia chegou, o pai do Arthur ficou meio seco, mas o filho chamou-o e conversaram em particular. Ao voltarem, não só deixou de ser carrancudo como passou a ser cortês.

– O que você disse para seu pai, amor? – perguntou Anabela, sussurrando no seu ouvido. – Ele mudou da água para o vinho!

– Contei a minha conversa com ela, Belinha – respondeu Arthur, também falando baixo. – Cíntia jamais mentiu na vida e ela foi taxativa quando disse que o grandalhão não era seu amante. Ele tentou fazer besteira, apenas isso. Nós, de alguma forma, a salvamos. Ela disse que nunca teve outro além de mim.

– E mesmo assim você não voltou para ela? – perguntou Anabela, enrugando a testa.

– Aquilo foi a gota d'água para o que eu vinha passando. Para azar dela, eu parei de sentir o que sentia antes.

O mais contente do grupo era o Pedrinho, que ganhou presentes de todo mundo, tendo Anabela de acréscimo. Eles optaram de abrir os presentes mais cedo por causa da criança e ele divertia-se muito.

No jantar, o garoto perguntou:

– Tia Bela, você e meu pai vão casar? – encolheu os ombros e sorriu sem jeito. – É que eu vi você beijando ele na boca e meu pai só beijava minha mãe assim! E se casarem, o que a senhora vira de mim?

– Não, meu querido – disse Anabela, sorrindo. – Eu já expliquei para você uma vez, lembra?

– Mais ou menos – respondeu, erguendo as mãozinhas para cima e voltando a encolher os ombros. – Eu estava muito triste naquele dia.

– Filho – disse Arthur. – Eu e sua mãe separamos e não ainda sabemos o que vai acontecer, entendeu? Mas nós já dissemos para você que sua mãe é, e sempre será, a Cíntia.

– Viu o que você arrumou, mamãe? – disse ele magoado, censurando a mãe.

– Pedro – ralhou Arthur. – Isso não é jeito de falar com sua mãe e nós já conversamos com você.

– Não brigue com ele Arthur – pediu Cíntia com uma pequena lágrima perdida –, não quando ele está coberto de razão. É triste ouvir uma bronca de um bebê, mas eu mereço. É uma pena, Pedrinho, mas até gente grande comete erros. Pode ter certeza que eu não queria que isso acontecesse e eu amo muito seu pai, mas aconteceu. Agora terá que ser assim.

O silêncio que se formou foi um pouco constrangedor, mas não durou muito porque o pequenino levantou-se da mesa e deu toda a volta. Chegou perto da mãe e estendeu os braços.

– Desculpe, mamãe, eu amo muito você.

– Eu também – respondeu Cíntia, emocionada e pegando o filho ao colo. – Eu também, meu amor. Mas veja o lado bom para você. Vai ter duas casas, dois presentes de aniversário e de Natal e se um dia seu pai casar com a tia Anabela você passa a ter duas mães.

Teve dificuldade em dizer isso, mas acabou saindo. O filho afastou-se e disse:

– Mesmo assim, mãe, foi sua culpa porque eu sempre escutei, sempre.

– Eu sei, filho, me perdoe – disse ela, quase chorando.

– Bebê, deixe sua mãe jantar e venha para seu lugar – disse o avô, tentando aliviar a nora e sendo brindado com um olhar de agradecimento dela e do filho.

– Então você vai...

– Pedrinho – pediu o pai, gentil. – Vamos falar de outra coisa, ok? Essa conversa faz a sua mãe sofrer e não é justa.

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