Capítulo 7 - parte 3 (em revisão)

Arthur adormeceu sem demora e sentia paz no coração, coisa que não acontecia há tempos e que o tornou mais leve. Aproveitaram e, no domingo, levaram o Pedrinho para a praia, que ficou muito feliz. De tardinha, Arthur arrumou as suas coisas, mas deixou algumas na casa da Anabela porque sabia que passaria a dormir ali muitas vezes, ou pensava assim. Deixou também, as suas armas por causa do filho. Aproveitou, no caminho de volta, e passou na casa dele para pegar mais alguns objetos. Quando entrou, viu que Cíntia estava em casa. Ela apresentava olheiras e parecia muito abatida.

– Oi, Arthur – disse baixinho, com o coração acelerado e a respiração ofegante. – Você mudou de...

– Olá, Cíntia – respondeu, interrompendo. Apesar de tudo, não conseguia ser seco ou descortês. – Vim pegar roupas minhas. Com licença.

– Claro, fique à vontade – disse ela com a voz sumida. – Acho melhor você pegar mais coisas para o Pedrinho.

Por mais que tentasse esconder do marido, Arthur via com clareza o desespero exalando pelos seus poros. Ele foi ao quarto e pegou uma mala, sendo observado da porta pela esposa. Sem aguentar muito tempo, lágrimas começaram a correr dos seus olhos e, quando ele acabou, olhou para ela.

Não guardava rancor da mulher; jamais guardaria porque ela foi o seu segundo amor e foram muito felizes, mas não sabia como falar com ela. Aproximou-se e ergueu seu rosto pelo queixo. Cíntia abraçou-o e encostou a cabeça no seu peito começando a chorar muito e alto, Mesmo sem desejar, Arthur envolveu-a com os braços e deixou que chorasse enquanto fazia carinho na sua cabeça.

– Vamos lá, acalme-se – disse, com voz branda. – Isso não é o fim do mundo.

– Para mim é – respondeu em meio a soluços. – Eu quero morrer, Arthur, eu não quero viver sem você. Eu amo você acima de tudo.

Ele puxou-a para a cama e sentou-se com ela que subiu no seu colo e enterrou a cabeça no ombro dele. Arthur abriu a gaveta do criado-mudo e tirou alguns lenços de papel. Afastou o seu rosto e limpou-lhe os olhos. Mantendo a mesma voz suave, perguntou:

– Se você me ama tanto assim, por que me traiu dentro da nossa casa e com o Pedrinho dentro?

– Posso ter cometido muitos erros – desabafou ela, ainda aos soluços. – Mas isso eu não fiz. Nunca imaginei que ele fosse tentar aquilo aqui em casa. Eu juro para você que nunca outro homem tocou em mim.

Arthur conhecia a esposa muito bem e sabia uma coisa: ela jamais mentia; o seu orgulho impedia-a de fazer tal coisa, por isso, ele acreditou sem pestanejar.

– Bem – disse, encolhendo os ombros e continuando a secar seu rosto. – Agora ele aprendeu uma lição para toda a vida, isso se eu não for para a cadeia por causa dele, mas valeu a pena.

– Ele não vai dizer nada contra você, pode ter certeza – afirmou, convicta. – Eu já dei um jeito para isso não acontecer.

– Voltando ao assunto me amar – começou Arthur –, se me ama tanto assim, por que diabo me fez sofrer horrores durante estes dois anos, Cíntia? Por quê? Você era a minha razão de viver, a minha alegria; era tudo pra mim, a única mulher que me fez esquecer a Maria a ponto de eu colocar você num pedestal e idolatrar. Eu nunca gostei de corrida de carros, nem um pouco; mas, por você, eu aprendi a correr, mesmo morrendo de medo! Bem sei que você também aprendeu a atirar e só não encarava atletismo e artes marciais. E sei que era assim porque éramos cúmplices um do outro, porque nos amávamos acima de tudo.

– Esse foi o meu grande erro...

– Me amar foi um erro? – perguntou Arthur, incrédulo e espantado. Magoado, continuou. – Então não compreendo por que motivo você se casou comigo.

– Não, Arthur, amar você foi a melhor coisa da minha vida. O meu erro foi ter avaliado a situação de forma errada. O que eu lhe fiz teve um propósito que não posso contar pelo bem de todos nós, me perdoe, me perdoe, me perdoe. – Cíntia deitou a cabeça no seu ombro e voltou a chorar, desesperada. – Volte para mim.

– Cíntia, o que aconteceu na quinta-feira foi apenas a gota d'água – afirmou Arthur, suave. – Há muito que você vinha matando o meu amor. Eu não posso voltar de repente e dizer que está tudo bem porque não está. Até seu filho ficou indignado consigo e tivemos muito trabalho para mudar isso, graças à Anabela. Ela mesma acha que você precisa de tratamento psiquiátrico porque as suas atitudes são contraditórias!

– E como ela pode saber disso? – perguntou Cíntia e sua voz exalava ciúmes. Arthur sorriu.

– Ela é psicóloga, então sabe muito bem o que diz. Agradeça a ela o seu filho ainda amar e desejar você – respondeu Arthur e Cíntia baixou a cabeça. – Ele estava com raiva de tudo o que ouviu em silêncio estes dois anos.

– Eu sei que negar não ajuda, mas garanto a você que não sou doente mental. A coisa é muito mais grave e preciso de manter segredo. Juro que devia ter contado desde o início, mas agora não há retorno, Arthur. Talvez um dia você me entenda e me perdoe e, se Deus quiser, volte a me amar.

– Se a conforta, anjo, eu vou perdoá-la sempre e também terei sempre um lugar em um canto do meu coração para si. O que vivemos de bom eu jamais esquecerei e isso é suficiente para perdoá-la de tudo, eu acho. Mas agora, meu coração está muito dilacerado e você cometeu o erro de abrir a porta dele para outras entrarem. Espero que me entenda.

A mulher não respondeu. Apenas ficou encostada a ele, acariciando as suas costas. Ao fim de uns minutos, perguntou:

– Ela é boa para você, Arthur? – Ele sentiu que foi difícil para a mulher falar aquelas palavras, muito difícil, mas fraqueza nunca foi característica da esposa.

– Ela é doce e especial, mas também ainda não definimos, Cíntia. Ela me ajudou no pior momento da minha vida e isso conta muito a seu favor. Você bem sabe que nunca fui homem de qualquer mulher para deitar com a primeira que aparecesse. A prova é que, antes disso, nunca dormi com outra mulher, mesmo após esses dois anos que me fez passar.

– Eu queria dormir com você agora mesmo – disse Cíntia, falando baixo. – Queria fazer amor com você e depois deitar abraçadinha e esquecer o mundo.

– Depois de me deixar dois anos sem sexo? – perguntou Arthur, rindo. – Sem nada, na verdade. E agora quer tudo! Cíntia, o problema é que você matou a minha vontade!

– Não foram dois anos...

– À, então você lembra! – disse, espantado. – Mas no dia seguinte me chamou de louco...

– Pare, pelo amor de Deus. Já disse que errei. Sim, eu lembro, sim, eu fiz de propósito porque estava desesperada de desejo, por você, meu amor, de sentir você, de amar você antes que eu mesma enlouquecesse. Eu também estava sem há dois anos. Já lhe disse que nunca outro homem tocou em mim. O máximo que acontecia era eu me aliviar no banho.

– Acho que podemos trocar de assunto, Cíntia – disse Arthur, sério. – Eu não vou fazer amor com você hoje. Não estou dizendo que nunca mais farei porque não conheço o futuro. Apenas que agora eu preciso pôr a minha cabeça no lugar. No momento, aquele amor que eu sentia está em coma profundo. Se vai ressuscitar? Talvez sim, talvez não. Eu gostaria de ter aquela vida perfeita de volta e seria o ideal para o nosso filho, mas só o destino e o seu comportamento poderão determinar isso.

Afastou seu rosto e limpou-lhe os olhos, soltando um pequeno sorriso. Cíntia tremia as mãos quando as levou à sua face e, devagar, puxou os lábios de Arthur para si. Ele não resistiu e até correspondeu, como uma despedida.

– Amo você, Arthur – disse, tremendo. – Só não me impeça de tentar reconquistar você.

– Jamais farei isso, desde que não faça loucuras.

Ajudou-a a se levantar e olhou a esposa de alto a baixo.

– Faz quanto tempo não se alimenta? – perguntou-lhe, preocupado. – Você tá parecendo um zumbi.

– Não tenho sentido fome...

– Você não vai me conquistar de novo morrendo de inanição e com autocomiseração, meu amor. Lembre-se de que o seu filho precisa de você. Vamos, vou preparar alguma coisa para jantarmos e depois vou embora.

Arthur era um cozinheiro razoável e começou a preparar um jantar rápido enquanto a esposa olhava da mesa da cozinha. Certa hora ela deu uma risadinha e Arthur olhou, interrogativo.

– É que pensava em como é impossível não amar você – apressou-se a explicar. – Não conheço nenhum outro homem que fosse fazer o que fez e ainda aceitar o meu segredo sem questionar.

– Então devia ter pensado nisso antes de provocar o colapso de tudo, não concorda?

– Sim, concordo, mas sei que estou muito longe de ser perfeita. Apenas fico imaginando como posso competir com uma mulher que, além de ser fisicamente semelhante a mim e ainda mais bonita, corre com você, luta como você e deve atirar tão bem como você. Eu não sou pário para ela!

– Ela tem medo de correr de carro, lembra? – Os dois riram e Cíntia sentiu-se melhor. – Vocês duas são lindas e ela não é mais bonita. Estão no mesmo nível.

– Quero que seja feliz, Arthur, juro que quero, independente de quem for – disse Cíntia, após alguns minutos de silêncio. Por último, acrescentou. – Só lhe peço que não me esqueça e me perdoe, se puder.

– Chega disso – disse o marido, um pouco mais enérgico do que pretendia. – Não vale a pena martelar na mesma tecla. Já lhe disse que está perdoada de tudo.

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