Capítulo 7 - parte 1 (em revisão)
"Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, então a injustiça é minha."
Mahatma Gandhi.
Pela primeira vez em dois anos, Arthur sentia uma coisa que lhe lembrava a volta da felicidade. Anabela corria ao seu lado e não lhe devia nada como atleta. Correram bem e sem pressa, terminando no mesmo lugar onde começaram. Na praça, ao lado da área de skate, fizeram alongamento, conversando animados e com a delegada bem descontraída.
– Você é um atleta nato, Arthur – disse a garota. – Bom corredor, atira como ninguém, sabe dar uns tapinhas. Razoável.
Encolheu os ombros e riu. Arthur endireitou-se e olhou para ela, incrédulo.
– Chamou aquilo de tapinhas? – riu até não poder mais. – Acha que faria melhor?
– Quer experimentar? – perguntou ela, deliciada com a ideia de brincar com ele porque adorava lutar.
– Não tenho a menor intenção de machucar você, meu amor.
– Mas eu tenho, seu molengão, venha. – Ela desceu para dentro da pista de skate, que era abaixo do solo e espaçosa, com várias rampas e desníveis, além de estar vazia. Posicionou-se e, quando estendeu o braço esquerdo, dobrando a mão em desafio igual ao famoso gesto do Bruce Lee, ele riu deliciado. – Vamos, molengão. Quero dar uma surra em você.
– Você sabia que também fica terrivelmente sexy com essas roupas e em guarda, gaúchinha? – encolheu os ombros. – Vou perder a concentração e daí é covardia.
– Se você não vier, vou aí buscá-lo.
Algumas pessoas que passavam notaram o desafio e pararam para ver, mantendo uma distância de segurança. Rindo e sacudindo a cabeça, Arthur desceu. Sem pressa, foi entrando em posição defensiva e aproximando-se. Antes que pudesse reagir, Anabela acertou-lhe um chute forte arrancando palmas dos espectadores e ele sacudiu a cabeça.
– Caraca, para quem diz que me ama, você tá a fim de me enterrar ainda hoje. Wing Chun, gostei.
– Então você sabe identificar estilos?
– Wing Chun é muito famoso e conhecido, Belinha, além de perfeito para a sua constituição física – respondeu, entrando em guarda e aproximando-se. – Vou precisar de colocar você no seu lugar antes que se case comigo e fique querendo me surrar toda hora. Por isso, conheça meu bom amigo Bei Shaolin ou, como também é chamado, Shaolin do Norte.
Terminou de falar e deu uma risada da própria piada, avançando com uma velocidade que quase pegou a amiga distraída e arrancou mais aplausos, mas parou antes de a atingir. Os dois começaram um balé lindo e mortal de golpes seguidos de bloqueios e contragolpes, voando por cima de objetos, dando verdadeiros saltos mortais sempre um impedindo o ataque do outro e por sua vez fazendo o mesmo sem sucesso. Os espectadores gritavam e aplaudiam cada vez mais alto, deliciados com a perfeição do casal que já lutava sem parar há quase dez minutos. Nesse momento, pararam e cumprimentaram-se. Anabela, rindo, atirou-se ao seu pescoço e beijou-o.
– Você é bom demais, amor – disse ela.
– Você também é Belinha. Nunca tive um oponente que aguentasse tanto tempo sem apanhar um chute na cara...
Arthur parou de falar e ficou olhando para a frente, sério. Ela soltou seu pescoço e virou-se devagar. A multidão dispersava devagar, mas havia uma pessoa que estava parada e não se mexia, estática, olhando para ambos de ombros caídos. Artur pegou a pochete que tinha deixado no canto e aproximou-se da Cíntia, com Anabela ao seu lado. Quando estavam a dois metros de distância, ele parou de andar e olhou para seus olhos que vertiam lágrimas sem parar.
– Me perdoe ter acertado você, Cíntia – disse. – Jamais tive essa intenção.
– Eu sei – respondeu ela. – Você não teve culpa, nunca teve.
– Que bom que sabe disso – pegou a mão da colega. – Vamos almoçar, Belinha. À, Cíntia, pode ficar com a casa. Segunda-feira ficarei nos meus pais. Pedrinho está lá e acho melhor deixá-lo se acostumar com a situação. Depois, nós veremos como fazer. Se precisar de alguma coisa, sabe meu número. Por enquanto estou na casa da Anabela para que Pedrinho possa se adaptar sem influência de nenhum de nós.
– Eu sei – respondeu enquanto fungava. – Estive lá e conversei com sua mãe.
– Ótimo – disse Arthur. – Não o deixe esquecer que tem uma mãe, porque, apesar de tudo ele a ama. Agora nós vamos almoçar. Adeus.
Cíntia ficou parada olhando os dois e viu que foi ele quem a abraçou pela cintura, puxando-a contra si. Agora, ela tinha de fato a certeza de que o perdeu de vez, ainda por cima com tantas afinidades que aqueles dois cultivavam entre si. Sentindo vontade de morrer, pegou no telefone.
– Tereza, é Cíntia – disse ela. – Eu estou passando mal e vou para casa. Qualquer coisa me liguem, por favor.
― ☼ ―
– Você não existe, amor – disse Anabela. – Foi pedir desculpas para ela!
– Eu tinha que fazer isso, Belinha. Afinal eu fiz algo que a feriu e não era intencional. Nem mesmo com toda a maquilhagem dava para esconder o hematoma no queixo.
– Você devia ter evitado falar que estava na minha casa, né?
– Por quê?
– Ela já estava chorando porque viu você e deve ter-me visto beijá-lo. Desculpe, mas fiquei com pena dela.
– Eu tenho pena dela, mas ela nunca teve pena do que me fazia, não é? – perguntou Arthur. – E agora chora daquele jeito! Sabe, meu amor, eu acho que você tem razão e ela anda com um parafuso a menos.
Anabela abriu a pochete para pegar um cigarro, mas Arthur não deixou, rindo dela.
– Nem pensar. Depois do exercício precisamos de oxigenar bem o corpo – disse ele, professoral. – Além disso, temos que pensar em parar ou, pelo menos, reduzir para menos de um maço.
– E você que arruma mulheres autoritárias, é, amor? – comentou Anabela, rindo e guardando o cigarro. – Sabe que, quando a gente para de fumar, fica nervosa pra cacete e você está ciente do meu poder de destruição, certo?
– Claro, amor – disse Arthur fazendo cara de medo e pegando o maço da pochete. – Fume o quanto você quiser, ok? Pode pegar os meus também, quer que compre mais?
– Bobo! – ela riu e pendurou-se no seu pescoço, beijando-o com ardor. – Você tem razão, temos que criar vergonha na cara.
– Não deseja ter filhos? – perguntou ele. – Para ter filhos, não pode fumar.
– Quem lhe disse isso?
– Você, durante a perseguição. Disse que não queria morrer porque desejava casar e ter filhos.
– É verdade – ela riu. – Você vai me dar filhos, um loirinho lindo, já que os dois somos loiros? Ou quem sabe uma guria sapeca igual à mãe?
– Gosto de crianças e sempre quis mais de um, mas nada de se precipitar.
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