Capítulo 6 - parte 5 (em revisão)
– Seu carro não tem ar? – perguntou Arthur.
– Tem, mas tá fraco.
– Devíamos ter passado no meu pai e pegado o meu carro. Eu deixo ele lá porque na minha casa só cabiam dois. Eu andava pensando em vender, mas talvez seja bom esperar um pouco. Quantos quilômetros correremos?
– Dez?
– Perfeito – Arthur riu. – Depois um bom banho de mar e vamos ver meu filho na volta.
– Almoçamos antes ou depois?
– Você escolhe, Belinha, mas é melhor correr primeiro.
– Tá bom – ela riu, maliciosa. – Vou judiar de você no mar.
Encostaram o carro na praça ao lado de alguns bares e, já preparados para a corrida, na beira da rua esperando o sinal para atravessar. Ela vestia um short curto, azul-escuro com camiseta branca e tênis branco com listas rosas. Já o delegado usava camiseta branca e calção vermelho com tênis branco. Olhou para ela e riu.
– Parecemos jogadores de futebol de times antagonistas.
– Pela cor dos shorts – afirmou ela –, meu pai diria que estamos no grenal.
– É verdade, seu pai é supertradicionalista, né?
– Me diga uma coisa, nós não vamos dar de cara com a maluquinha, não é?
– Não tenho o menor interesse nisso – respondeu Arthur, olhando a delegada, muito sério. – Ela não costuma vir para estas bandas, mas sabe que, quando venho para a Barra da Tijuca, costumo vir para aqui correr, só que não vou mudar meus hábitos por causa dela. Por enquanto nem quero pensar em ver a cara dela. Aquilo foi a gota d'água.
– Você viu exatamente o quê, amor? – perguntou Anabela um tanto curiosa. – Eles estavam vestidos, quando entrei atrás de si.
– Ele tava agarrando ela e levantando a blusa, com a mão no seio dela – respondeu, Arthur. – Mas isso é algo que também não pretendo mais discutir. Vamos correr?
Ele pegou a mão dela e atravessaram para o calçadão, começando um pequeno trote inicial para aquecer.
― ☼ ―
Cíntia nunca tinha sentido tanta infelicidade na sua vida. Arthur sempre foi o seu amor, o seu primeiro e único grande amor, mas ela negava-se a explicar os motivos que a levaram a agir assim com ele. Mal sonhava ele que tudo o que fez foi consequência do profundo amor que sentia, mas agora tinha a certeza que cometeu um grande erro porque, de qualquer forma, ela perdeu.
Perdeu as duas coisas mais preciosas e que mais lhe importavam na vida: o marido e o filho, as suas duas únicas preciosidades. Saiu do hospital um tanto rápido porque foi um golpe superficial e sabia com toda a certeza de que ele não fez de propósito. Nem mesmo se o tentasse matar, o marido seria capaz de revidar daquele jeito, mas ele ia matar o Sílvio de pancada e as consequências seriam catastróficas para todos. Pelo menos, estava feliz pela surra que o chefe levou. De todos os erros que cometeu na sua vida, que não foram muitos, a traição que o marido julgava que cometeu não era verdade. De certa forma, ele salvou-a de algo forçado. Talvez agora seu chefe entendesse de uma vez por todas os avisos que ela cansou de fazer e deixasse de se achar o super-homem só por causa do tamanho. Pelo que o enfermeiro falou, ele ia precisar de uma semana de repouso forte e depois uma reconstituição de quase todos os dentes, porque sobraram muito poucos.
Chegou a esboçar um sorriso quando se lembrou dele a tomar mingau no hospital. Ela andava a esmo e deu-se conta que, por nostalgia ou outra coisa qualquer, estava no lugar em que ele gostava de ir correr.
Como ainda era cedo, sentou-se em um dos bancos da praça e olhou para o mar. Não demorou muito a ver o marido pegando a mão de uma moça e atravessando a rua, moça essa que ela reconheceu como a delegada. Sem segurar mais, começou a chorar e decidiu sair dali para tentar comer qualquer coisa, que era a sua intenção inicial.
Almoçou algo leve e voltou a caminhar na mesma praça onde viu algumas pessoas animadas em roda assistindo alguma coisa, com certeza esses artistas de rua, alguns tão bons que valiam mesmo a pena serem vistos e que ela gostava muito na maior parte das vezes, dando uns trocados, mas não lhes deu atenção até que começou a ouvir gritos entusiasmados e palmas dos espectadores.
Concluiu que, pelo jeito, devia ser um grupo muito talentoso e, curiosa, Cíntia ergueu-se e aproximou-se para observar.
― ☼ ―
Grenal - No Rio Grande do Sul há dois grandes times, o Internacional (vermelho e branco) e o Grêmio (azul, branco e preto). Quando jogam o tradicional clássico entre eles, diz-se que jogam um grenal.
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