Capítulo 6 - parte 4 (em revisão)
Anabela ouviu o seu relato em silêncio. Após algum tempo, ela perguntou:
– Você queria mesmo estar comigo, Arthur? – incrédula, olhou para ele mais de perto. – Você ficou mesmo com ciúmes de mim ou pensava na Cíntia? Desculpe-me a pergunta, mas eu preciso muito de saber.
– Eu vou ser o mais sincero possível, ok? – disse o delegado, bem calmo e sério. – Nestas duas semanas duas mulheres apareceram na minha vida de forma misteriosa, você e a ruiva. Eu fiquei alucinado com ela, perdido, como se ela tivesse um cheiro de caso mal resolvido que talvez precisasse de acabar, mas não me sai da cabeça e evito pensar nela. Você, Belinha, você apareceu de outro jeito bem diferente, mais real, pé no chão, sei lá. Aquela noite que fizemos amor aqui pela primeira vez você me desnorteou com seu cheiro e seu jeito. Até aquele dia, nunca tinha feito sexo com outra mulher e foi espetacular porque era você. E foi você que ficou ao meu lado. Sim, meu amor, eu fiquei com ciúmes porque ontem não a queria dividir com ninguém e sim, eu também queria estar com você, apenas você. Eu sabia que estava sendo egoísta então saí para curtir meus problemas sozinho e deixar os outros se divertindo. Me perdoe se a preocupei.
Anabela sentiu algo tão forte que se abraçou a ele, notando que lhe provocou uma reação em resposta, mas não desejava sexo naquele momento, então beijou-o e saiu de cima, ficando aconchegada no seu ombro.
– Se você sonhasse o quanto eu fiquei assustada e preocupada, meu amor, você teria pena de mim – disse ela.
– Perdão – Arthur pediu de novo, fazendo carinho na sua cabeça. – Mas como eu vim parar aqui?
Dessa vez foi a mente da Anabela que recuou algumas horas no tempo, lembrando-se do passado e contando para Arthur.
Ela já tinha dançado com uns dez colegas quando cansou. Miguel puxou-a para mais uma dança, mas, na verdade, ela apenas queria ficar ao lado do Arthur desde o começo.
– Chega, Miguel – disse Anabela. – Vou ficar com Arthur.
– Por que será que ele sempre consegue as mais gatas, sempre, até mesmo quando não dá bola para elas? – perguntou o amigo, brincalhão.
– Ora, Miguel, eu sou mais eu, mas a sua namorada é muito gata e, se você continuar dando em cima de mim, Moisés leva a guria e você fica chupando o dedo, sem ela e sem mim, ou não notou isso. Cadê o meu gato?
– Não sei. Vai ver achou aquela ruiva maravilhosa e sumiu com ela! – brincou Miguel.
– Brincadeira sem graça, seu mané. – Nesse momento Anabela começou a ficar preocupada, mas Miguel desapareceu no meio dos festeiros. Encontrou Janjão, de quem gostva muito, e chamou-o. – Janjão, você viu Arthur?
– Ele tava sentado na mesa ali no canto um tanto emburrado e bebendo, mas, depois do que fiquei sabendo, não o censurei e deixei lá – respondeu o delegado, entre o sério e o sorridente. – Nunca imaginei que a Cíntia fosse capaz de fazer aquilo, Belinha, nunca. E olhe que eu os conheço desde o ensino médio...
– Janjão, pelo amor de Deus – interrompeu Anabela muito aflita. – Vá ver se ele está no banheiro?
Janjão parou de sorrir e achou a preocupação da amiga mais que justificável. Dez minutos depois, os dois revistaram o todo o prédio sem o encontrarem e ele não atendia o telefone. Desesperada, Anabela começou a chorar.
– Eu não poderia tê-lo deixado sozinho, eu prometi que ia cuidar dele.
– Calma, garota, calma – disse ele, abraçando a amiga. – Ele está sem carro, certo? Então deve tomar um táxi, mas para onde ele iria?
– Combinei com os pais dele que ficaria comigo até passar esta crise.
– Então você vai agora para casa enquanto eu vejo se faço alguma coisa por aqui. Vou passar uns rádios para colegas amigos e o primeiro que o achar leva ele para a sua casa. Só me avise se ele aparecer, ok?
– Obrigada – disse Anabela, abraçando o gigante, mais aliviada.
Foi para casa, mas nada dele surgir até que, uma hora depois, o telefone tocou e era o número do Arthur.
– Onde você está, meu amor – disse ela, quase berrando no aparelho. – Por que não atendeu?
– "Desculpe, senhora" – respondeu a voz do outro lado da linha. – "Aqui é o taxista. Eu tô com um jovem aqui que está mal de tão bêbado que tudo o que ele fala é seu nome. Achei seu número no telefone dele, mas não sei como chegar aí e ele não fala coisa com coisa!"
– Obrigada, senhor – disse aliviada, passando o endereço. – Estarei na frente para pegá-lo.
Ela foi para a rua aguardar e mandou uma mensagem para o amigo avisando que encontraram Arthur. Após, na dúvida, voltou e pegou uma pistola mais algum dinheiro para o táxi, retornando à rua.
Meia hora depois, o carro amarelo encostava e ela viu Arthur atirado no banco de trás. Pagou o motorista e abriu a porta, acordando o amigo com uns tapinhas no rosto. Arthur abriu o olho e tentou focar nela. Quando conseguiu disse, com aquela voz toda falhada:
– Oi, beu avor, onde voze tava? Eu falei para ele bir prá velinha bas ele num certava o vaminho!
– Você quase me matou de susto, seu diabo – disse zangada.
– Zesc... hic... culpa... hic... zaba com zaudade, beu avor.
O motorista ia retirar-se quando parou e saiu do carro, esticando a mão e entregando o celular.
– O telefone dele, senhora, desculpe.
– Obrigada.
– Boze é.. hic... begal, hic... vrigado.
Não sem uma certa dose de dificuldade Anabela colocou Arthur debaixo do chuveiro e acabou tomando banho com ele. Um pouco melhor, ela tirou-o da água e embrulhou-o na toalha, ficando abraçada e fazendo carinho na sua cabeça, ainda muito preocupada. Ele falou no seu ouvido:
– Zave? Talbez eu ame boze zanbém. – Beijou-a com carinho e falou com a voz muito coerente por uns segundos. – Se não fosse aquela maldita ruiva misteriosa eu teria certeza de que amo você. Você é tudo o que eu amo numa mulher, mais até que a Cíntia nos seus melhores dias.
Nesse momento, Arthur começou a resvalar para o sono e Anabela, muito a custo, fê-lo andar até a cama, deitando-o com todo o cuidado.
Secou-se e deitou-se ao seu lado, fazendo carinho nele e sussurrando no seu ouvido:
– Eu te amo, Arthur, desde a primeira vez que te vi, mas talvez você precise resolver isso da ruiva antes de qualquer coisa.
– Acredito que você tenha razão, meu amor – disse Arthur, depois que ela se calou. Puxou-a mais para si e sorriu. – Bêbado não mente, sabia?
– Sabia, Arthur. Sou a psicóloga, esqueceu? – ela riu. – "In vino veritas." Vai passar a chamar-me de meu amor é?
– Claro, meu amor – disse ele rindo. – Vou treinando.
– Assim eu me acostumo mal.
– Só lhe peço uma única coisa, meu amor: seja honesta com nós dois.
– É justo, desde que você também seja.
– Então agora somos qualquer coisa mais do que amigos, bem mais, até eu saber o que tem a ruiva que deseja que eu me livre de você.
– Verdade. E lembrei que ganhamos uma semana de folga, o que acha?
– Acho que correr é bom para a ressaca.
– Eu queria uma praia!
– Então vamos para praia correr. Eu corria bastante no calçadão da barra.
– Boa, amor daqui para lá é rapidinho a esta hora. – Anabela ia levantar, mas Arthur puxou-a.
– Calma, gaúchinha, pra quê a pressa? – disse rindo. – Você peladinha toda sensual do meu lado não tem santo que aguente e muito menos eu, que não tenho nada de beato.
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In vino veritas – Latim: no vinho a verdade.
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