Capítulo 6 - parte 2 (em revisão)
O delegado virou-se de frente e colocou a mão nos cabelos. Suspirou e disse:
– Então vejamos se eu consigo continuar o que fiz depois disso.
– Antes, me diga se está bem.
– Estou bem, sim. – Anabela inclinou-se sobre ele e beijou seus lábios. – Bem, eu fiquei calado todo o caminho para a delegacia e você disse:
– Sabia que a minha obrigação seria prendê-lo, amor? – Você suspirou bem fundo. – Eu não tenho coragem de fazer isso e ele mereceu, mas também não sei o que farei.
– Então cumpra a sua obrigação, Anabela – respondi, meio abatido. – Você não tem culpa de nada e eu vou compreender. É o seu trabalho.
– Não posso, que droga – vi que você segurou o choro, mas caiu uma lágrima. – Eu não posso prender o único homem por quem me apaixonei pela primeira vez em seis anos, é muita crueldade.
– Falarei com Heitor eu mesmo, ok? – disse eu.
– Sabe, o que me fazia mal naquela hora era ter sido feito de palhaço. Há muito tempo que eu desconfiava que ela tinha um cacho qualquer. Por isso acabei procurando com outra o que não tinha em casa, mas fazer aquilo dentro da minha casa com o meu filho dentro!
– Também acho que você tem razão – concordou Anabela.
– Bem, naquela hora, até parecia que eu estava num filme em que eu protagonizava o papel principal. Deixei você e fui para a sala do Heitor. Ele viu a minha cara e adivinhou logo que tinha merda.
– Chefe – eu disse, curto e grosso. – Preciso de lhe contar algo porque podemos ter repercussão negativa e a culpa é toda minha.
– O que foi, filho? – Heitor perguntou.
– Me fizeram uma denúncia que minha mulher recebia um homem em casa e era verdade, isso com meu filho lá dentro. Tive um acesso de fúria e comecei a berrar com ela, mas ele debochou da minha cara e eu perdi a cabeça.
– Você atirou nele? – perguntou Heitor, arregalando os olhos.
– Não, chefe, apenas espanquei-o até não poder mais e deixei-o todo rebentado. Desculpe macular o bom nome da nossa delegacia, mas, na hora, não raciocinava.
– Heitor coçou a cabeça, preocupado. Ele devia pesar os prós e contras do que lhe contei. Por último, olhou bem nos meus olhos e disse:
– Arthur, minha filha tem feito relatórios regulares sobre toda a equipe e ela considera você o nosso melhor elemento. Ela nem precisava ter dito isso porque eu mesmo penso assim, mas ela destacou qualidades suas que a impressionaram muito, em especial a sua calma em lidar com problemas difíceis e também mencionou sérios problemas conjugais, além de ser bem clara que você é vítima constante de assédio moral, que ela presenciou mais de uma vez...
– Desculpe, senhor, mas se não conheço a sua filha, como ele pode saber disso tudo?
– A minha filha é a mulher que está caidinha por você e tem-no acompanhado na sua missão estes dias todos. Acha que eu ia escolher alguém que não fosse da minha inteira confiança para procurar corruptos aqui dentro? – Juro que devo ter feito cara de palhaço, porque ele riu de mim. – Eu acho que devemos esquecer o flagrante.
– Tenho medo que isso comprometa o esquadrão, senhor.
– Eu me viro com isso. Você vai tirar uns cinco dias de folga para pôr a cabeça no lugar – disse ele, peremptório. – Se a delegacia da Tijuca quiser indiciar você, veremos o que fazer. Os relatórios da Belinha devem ser suficientes.
– Eu tenho uma câmera oculta em casa que grava tudo desde que comecei a desconfiar, com as viagens constantes para São Paulo.
– Ótimo. Vá me buscar esse DVD para copiarmos. Vou destacar a Belinha para permanecer ao seu lado até você ficar bem e Miguel assume a investigação com Moisés até à sua volta. – Heitor ligou um ramal e disse. – Filhinha, venha para a minha sala.
– Perfeito – disse Anabela. – Fora que eu não sabia o teor da sua conversa com o meu pai o resto foi assim mesmo. Então ele contou para você quem eu sou. Antes, ele me proibiu de revelar isso.
– Contou, sim, Belinha. Eu sabia que ele é gaúcho, mas nunca tinha atinado que era seu pai – disse Arthur. – Fomos em casa pegar o DVD e tentaram me prender.
A sua mente recuou vinte e quatro horas, visualizando os acontecimentos com toda a clareza...
– Eu dirijo – disse Anabela pegando a chave da sua mão. – Você ainda está muito abalado.
Arthur não insistiu, prova que ela tinha razão. Anabela olhava sempre pelo canto do olho, preocupada, quando o amigo disse:
– Não se preocupe comigo – insistiu. – Estou bem.
– É o que pensa. Daqui a pouco vai cair a ficha e verá.
– Não sei, Belinha – voltou a dizer. – No fundo esperava algo assim há muito tempo, só não a julguei capaz de fazer isso na nossa casa. Eu jamais teria levado você lá por causa do meu filho que estaria junto e olhe que a situação é bem diferente. Se tivesse sido há dois anos, com certeza eu morreria, mas hoje, foi apenas a raiva e a frustração acumuladas por todo esse tempo.
– Mesmo assim, meu amor, eu não quero que fique sozinho, ok? – pediu, fazendo um carinho suave no seu braço. – Deve confiar na sua psicóloga. Agora seja o meu amorzinho querido e acenda um cigarro pra mim.
– Tá, eu vou tentar – disse, fazendo o que a moça pediu.
Quando estacionaram na frente da casa, havia um lacre da polícia e quatro inspetores fazendo anotações. Ignorando-os, Arthur abriu a porta e entrou, rasgando o lacre. Os policiais correram para ele que se virou e perguntou com toda a calma:
– Os senhores desejam alguma coisa?
– Você mora aqui?
– Não parece óbvio, uma vez que estou com a minha chave e entrando em casa?
– O senhor está preso em flagrante por tentativa de homicídio – disse o policial enquanto os quatro avançaram, um deles abrindo a jaqueta para sacar a arma. Antes que terminasse, ele viu o cano da pistola do Arthur bem na sua frente.
– Sem precipitações, colegas, já que vocês estão muito empolgados – disse Arthur, pegando o distintivo com a outra mão e apresentando. – Cadê o flagrante?
Eles assustaram-se com a arma e pararam, mas assim que Arthur se identificou, voltou a guardar a pistola.
– Você rebentou de porrada a sua esposa e outro homem – disse um deles. – Nega isso?
– Eu não rebentaria a minha mulher de porrada por mais que ela merecesse – disse Arthur, fugindo à mentira. – Não sou criminoso e ela morreria com a segunda ou terceira cacetada. Então já que vocês não me viram fazendo nada, que tal irem circulando? Se quiserem que eu vá depôr, mandem uma intimação por vias legais. Eu trabalho na delegacia de Copacabana.
– Mas nós vimos e o senhor está preso – insistiu um deles, apontando uma arma antes que Arthur voltasse a empunhar a dele.
Um tiro disparado atrás deles fez a arma do policial cair da sua mão, inutilizada, e os policiais saltaram assustados, virando-se para se depararem com a delegada de arma apontada e ar ameaçador.
– A academia não ensina vocês idiotas a olharem as costas, seu bando de paspalhos? – perguntou a garota, zangada. – Delegada Anabela Santos, da corregedoria. Vão-se embora antes que prenda vocês por falsas acusações e falso testemunho.
Os policiais foram embora e Arthur abanou a cabeça, dizendo:
– Você acabou de arrumar inimigos perigosos, gaúchinha.
– Eu filmei tudo desde o início, amor. Amanhã eles vão se ferrar porque vai ainda hoje no relatório para o meu chefe. Vamos?
Arthur entrou em casa e foi ao compartimento onde escondeu o equipamento de gravação. Pegou tudo o que precisava, foi até à cozinha e encheu um copo com água. Anabela ficou nas suas costas e massageou-lhe os ombros.
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