Capítulo 6 - parte 1 (em revisão)

"Para um autêntico samurai não existem as tonalidades cinzas no que se refere a honra e justiça, só existe o certo e o errado."

Código Samurai – Bushido.


Arthur abriu os olhos e a primeira coisa que sentiu foi uma forte dor de cabeça, concluindo que tinha uma ressaca e não era das pequenas. O quarto estava escuro e sentiu a esposa ao seu lado, dormindo. Devagar, para não a acordar, sentou-se na cama, sentindo tudo a girar e pensou em ir à cozinha pegar um analgésico para tomar, amaldiçoando-se por ter bebido demais. Ele não tinha o hábito de beber muito e deu nisso.

Nesse momento, atinou-se de que não estava no seu quarto e olhou para a esposa, sem entender nada. Anabela despertou e virou-se para o lado, sorrindo para ele.

– Está melhor, meu amor? – perguntou ela. – Você me preocupou muito, caramba!

– Eu... eu... – balbuciou, confuso. Levantou-se e foi ao sanitário. Retornou para o quarto e sentou na cama, em silêncio. Anabela tinha levantado, mas apareceu pouco depois com um copo de água e um comprimido. Nua daquele jeito e andando com suavidade, ela exalava sensualidade por todos os poros e, apesar de tudo, ele pensou nisso.

– Acho que você vai precisar – disse.

Quando o amigo terminou de beber, ela fê-lo deitar-se e massageou suas costas. Vendo que Arthur não reagia a nada, perguntou:

– Como você está?

Após uns poucos segundos de reflexão, acabou falando.

– Eu tento entender o que estou fazendo aqui e penso no meu filho – respondeu. – Ele ia para a casa dos meus pais por causa da confraternização e eu acho que devia estar no trabalho, a esta hora.

– Amor, você não se lembra de nada? – perguntou Anabela, espantada. – Bem sei que foi um choque forte e você tomou um porre homérico. Na verdade, nem sei com não entrou em coma alcoólica! Quase chamei uma ambulância para o levar ao hospital.

– Deixe-me pôr as ideias em ordem – pediu Arthur. – Lembro de ter tomado algumas doses de whisky ontem de noite após ter uma pequena discussão com Cíntia por causa do ataque de ciúmes dela, mas nada suficiente para ter tomado um porre homérico e muito menos acordado na sua cama pelado, sem lembrar como cheguei aqui e com uma ressaca deste tamanho. A gente fez alguma coisa?

– Ontem de noite não, que você não tinha condições – respondeu ela. – Mas, antes disso, algumas vezes, não lembra?

– Sim, disso eu lembro – respondeu Arthur. – Só não lembro de ter saído da cadeira onde eu estava bebendo e fumando no pátio da minha casa ao lado da piscina na noite passada e acordado aqui agora de manhã de ressaca. Sem falar que deve estar tarde e eu preciso trabalhar, caramba.

– Amor, você não vai a lugar nenhum e hoje é sexta-feira, além de...

– O quê?!

– Acho melhor contar passo a passo para ver se você se lembra; aos poucos para não sofrer outro choque – insistiu a delegada, preocupada. – Ontem de manhã você veio me pegar e tava normal. Parecia tudo tranquilo, bem calmo e você parecia na paz, sem ressaca e nem mesmo com hálito de bebida porque beijei você bem gostoso e não senti nada.

– Quando chegamos na Presidente Vargas – continuou ela, com um suspiro –, você recebeu uma mensagem e parecia que ficou louco; surtou geral. Pegou o primeiro retorno que apareceu e ligou a sirene, acelerando como se o mundo fosse desabar. Tava pior que a perseguição de terça-feira e eu morrendo de medo, sem falar que estava preocupada que tivesse acontecido alguma coisa muito grave.

Anabela contava com muita clareza e flashes de memória começaram a aparecer na cabeça do Arthur. Continuou quieto e calado escutando, apesar de já lembrar uma boa parte.

– Quando você entrou em uma certa rua, desligou a sirene, mas não reduziu a velocidade e daquela vez eu estava crente que íamos morrer esborrachados porque a via era demasiado estreita, até que você parou de soco que quase dei com a lata no vidro. Tirou a pistola e deu na minha mão, dizendo:

Não me entregue isso nem se eu a ameaçar, entendeu bem?

– Confesso que não entendi nada, mas peguei a sua arma e acenei com a cabeça. Afinal como você ia atender uma emergência sem a pistola? – perguntei a mim mesma. – Você saiu correndo e vi seu celular no banco. Você entrava em uma casa e eu, tentando entender o que era, peguei seu telefone que ainda estava aberto na mensagem. Por sinal, você devia usar uma senha para proteger a tela. Quando eu li, gelei.

– Se eu fosse você, delegado, voltaria para casa e verificaria o que sua bela e recatada esposa faz com o chefe dela na sua ausência. Afinal, nós homens precisamos de nos ajudar – disse Arthur, repetindo cada palavra e sentindo como uma punhalada. – E no final, o saco de risadas.

– Isso mesmo, meu amor, e eu gelei na hora – continuou Anabela, falando com a calma necessária para o momento. – Atinei no ato que se tratava da sua casa e saltei do carro, correndo atrás. Os gritos já tinham começado. Você estava fora de si, na sala, gritando com sua esposa enquanto aquele grandalhão de uns dois metros e quinze sorria com cara de idiota. Você dizia:

Então era por isso que você mudou tanto, sua vagabunda desclassificada? – Você estava fora de controle. – Se tinha um amante, por que não pediu divórcio e nos poupou deste vexame? E seu filho lá em cima, fica vendo isso, sua cadela?

Me fez sofrer por dois anos sem me dar um carinho, nada, enquanto flertava e dava para meio mundo, é isso? – Você berrava, alucinado.

Arthur, isso não... – começou ela a falar.

Cale-se, cale-se e desapareça da minha vista antes que eu faça uma besteira, sua piranha.

– Seu filho apareceu no alto da escada, apavorado, e eu corri lá para cima e peguei-o no colo. Cobri os olhos da criança e levei-o para o carro. Ainda vi sua esposa começar a chorar e o babaca, rindo, aproximou-se e debochou da sua cara:

O que você acha que vai fazer, nanico? – ele disse. – Você não é macho pra fazer mulher feliz e acha que pode comigo, seu corno?

O quê? – você perguntou, falando baixo e avançando. – Eu vou matar você de porrada e você vai aprender a não se meter com mulher casada.

– Eu corri o mais que pude, deixei o menino no banco de trás e tranquei o carro para ele não sair. Voltei correndo, mas você já tinha começado o estrago. Por mais que o bestalhão tentasse bater em você, ele errava e recebia o maior castigo que eu já vi na vida fora de um ringue. Você parecia um verdadeiro demônio: socava desviava e chutava tão rápido que eu não conseguia enxergar qual das suas mãos e pés atingiam o cara primeiro. Eu cheguei a ficar com medo que o fosse matar e sua cara dizia que você ia mesmo fazer isso. Agora entendo quando disse que eu não tinha lido toda a sua ficha. Você sistematicamente espancou o cara até à inanição e sua esposa gritava assustada que você o mataria. Ela aproximou-se, tentando segurá-lo, mas você acertou uma porrada nela de raspão, isso foi sem querer que eu vi, e ela foi a nocaute no ato. Quando você notou, uma pitada de razão voltou à tona e eu consegui dizer, de tão rápido que foi:

Já chega, Arthur, ou acabará acusado por homicídio e eu detestaria ver isso acontecer.

– Você olhou em volta, indiferente. Quando concluiu que não havia mais o que fazer com o babaca, subiu a escada. Eu verifiquei os sinais vitais dele e estavam fracos, por isso chamei uma ambulância. Depois, fui atrás de si e encontrei-o no quarto colocando roupas em uma mochila. A seguir, abriu um fundo falso, retirou umas dez pistolas de todos os tipos e bastante munição, além de algumas espingardas, e jogou lá dentro. Fechou a mochila e foi para o quarto do seu filho fazer o mesmo com outra mochila. Depois descemos, você sentou na viatura e abraçou Pedrinho que estava chorando, apavorado. Você também não segurou as lágrimas muito tempo, mas controlou-se. Pedi apoio para Miguel que veio correndo no carro dele e ficou cuidando da situação enquanto consegui arrancar de você o endereço do seu pai. Falei com ele e contei tudo. Seu pai e sua mãe ficaram chocados com isso e disseram que era melhor Pedrinho ficar com eles por uns dias até as coisas se resolverem. Eu prometi que ia tentar ajudar você a superar isso e que não se preocupassem.

Anabela fez uma pausa e esperou alguma reação de Arthur, que continuava calado.

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