Capítulo 5 - parte 4 (em revisão)
Arthur chamou o inspetor Jair que veio com o pendrive e colocaram no computador.
– Cíntia – começou Arthur. – Temos duas perseguições filmadas. Uma de quarta passada e outra de ontem. Queria a sua opinião de especialista em relação à perícia do piloto e capacidade do carro. Primeiro vou colocar a mais antiga que é melhor de se ver porque foi uma câmera especial. A segunda, foi com um celular.
Quando ela viu o início da perseguição, disse de cara:
– O piloto da polícia é péssimo. – Olhou para o marido. – Só pode ser você dirigindo!
– Cíntia, compare as capacidades de aceleração dos carros. O que me diz? – pediu Arthur, sem se intimidar e ignorando o comentário.
– O motorista da fuga é tão bom que nem com carros iguais vocês o pegariam – afirmou ela, categórica. – Mas esse Mustang não é normal. Esse carro está envenenado até à alma. Dá para ouvir o barulho do motor?
– Essa câmera não, mas a outra talvez – respondeu Anabela que ficou do outro lado do Arthur.
– Dessa câmera, não posso tirar informações decentes exceto que o piloto da polícia é muito ruim. Francamente, Arthur, você tá dirigindo muito mal!
Jair ficou quieto e bastante irritado com a mulher. Anabela trocou os vídeos e a tela com computador passou a mostrar o outro. Assim que ela viu o policial perseguir os criminosos que iam de ré, disse, entusiasmada:
– Esse sim, é um excelente piloto! Bem que você podia ser assim, Arthur. – Anabela não aguentou mais e explodiu numa gargalhada estrondosa.
– Qual é a graça? – perguntou furiosa. – O que você quer? Já não basta flertar com meu marido?
– Nada, minha querida, apenas que quem está perseguindo os criminosos é o seu marido – respondeu Anabela, cínica. A seguir, levantou o volume do áudio. Cíntia engoliu em seco, mas sorriu quando ouviu a voz de medo da delegada.
– Uma coisa é certa: vocês não têm carro para pegar esse Mustang a menos que usem alguma coisa da pesada. O piloto é um dos melhores que já vi. Talvez coordenando um cerco com helicópteros consigam, mas, mesmo assim... não sei não.
– Obrigado, Cíntia – disse Arthur, desanimado. – Foi o que imaginei. Vamos Belinha, vamos levar minha esposa e visitar a empresa assaltada de novo. Depois, vamos direto almoçar.
– Espere – disse Cíntia, pegando o telefone. – Se alguém da empresa estiver lá eu pego carona e vocês não precisam perder tempo.
– Meu chefe está lá – continuou, após desligar. – Ele vai me esperar.
Janjão passava por perto e perguntou, sorridente:
– Você vem para a nossa festa de fim de ano, Cíntia?
– Não, Janjão – respondeu ela. – A da nossa empresa será no mesmo dia.
― ☼ ―
Desceram na joelharia e Cíntia foi-se embora sem se despedir. Conversaram com o gerente sobre os valores, inclusive assegurados, olharam tudo inúmeras vezes e não concluíram nada além do usual, indo almoçar perto da praia, no mesmo local onde ele conheceu a sua dama misteriosa, agora de nome Diana.
Saíram do restaurante e iam entrar no carro quando Anabela empurrou o colega contra o veículo e beijou-o, abraçando-o.
– Que tal a gente ir dormir um pouco? – perguntou ela, lânguida. – Temos uma hora e meia para descansar e eu dormi mal estas duas noites. Podemos ir no motel que tem na rua ao lado e tirar um cochilo.
– E acha que iríamos dormir? – perguntou Arthur, desconfiado.
– Não sei, mas eu quero dormir um pouco sim. Podemos até unir o útil ao agradável, se você quiser, mas um soninho leve...
– Dormir, apenas dormir – disse Arthur, abrindo a porta do carro. – Também não dormi bem e a ideia até que é boa. Onde fica o motel?
– Vamos a pé que é perto e fumamos um pouquinho antes de entrarmos – disse mais animada e ainda mais dengosa.
Arthur fez a sua vontade e acendeu os dois últimos cigarros, jogando o maço vazio na lixeira. Entraram no quarto e ela foi tirando as roupas e largando pelo chão. Nua, caminhou para a cama exalando sensualidade por todo o corpo e deitou-se de lado, esperando por ele.
– Dormir, Anabela.
– Durmo pelada, amor – disse sedutora. – Você sabe disso e esse ar-condicionado deve ser fraco.
Arthur também se despiu e deitou ao lado da colega. Ela aconchegou-se no seu ombro e beijou-o no pescoço acariciando-o com alguma má intenção. Ele não admitia, mas adorava aquela atenção e os dois anos de secura mais o gostinho provado dos últimos dias foram a gota de água.
– Eu sabia – disse ele, sentindo o calor e virando-se para ela, devagar...
Após divertirem-se um pouco, dormiram meia hora e Anabela acordou o colega aos beijos. Ele sorriu e abanou a cabeça.
– Vamos tomar um banho de hidro – disse, feliz. – Já preparei.
Arthur nunca tinha entrado em uma hidromassagem e ficou curioso. Anabela, sentada atrás dele, esfregava suas costas com uma esponja cheia de carinho.
– Não sei porquê, mas algo me diz que você nunca veio a um motel. Nem mesmo conhecia hidromassagem!
– Tem razão – respondeu ele. – Nunca tinha vindo em um.
– Gostou de fazer amor na água?
– Isso é muito bom mesmo. – Inclinou a cabeça para trás, encostando no seu ombro e ela beijou seus lábios. – Temos que voltar para o trabalho.
– Temos sim, mas ainda sobra um tempinho – respondeu ela, divertida e com vontade de o interrogar. – Afinal, com quantas mulheres você já transou para não conhecer um motel? Eu sempre ia com meu marido, até antes de casarmos.
– Acho que essa conversa não é muito interessante e acredito que a qualidade é que importa, mas, se lhe satisfaz a curiosidade, você foi a segunda – respondeu, sem mentir.
– Sério! – perguntou Anabela, olhando para ele. – Um cara tão gato que nem você devia ter um harém na juventude! Caraca, Arthur, você é um homem lindo de morrer!
– Não me acho tanto assim – respondeu ele, encolhendo os ombros e dando uma risada. – Acontece, Belinha que até tive algumas namoradinhas, mas quando conheci a Cíntia...
Anabela achou que Arthur não ia mais falar e ficou triste porque estava curiosa, mas ao fim de um tempo curto, ele continuou.
– Eu tinha dezessete anos e ela dezesseis, quando a conheci. Eu namorava uma garota muito bonita, mais até que ela, mas não sei o que me deu. Foi aquele tal de amor à primeira vista. Para minha sorte ela correspondeu.
– Também, com um gato assim, quem não ia corresponder? Só uma louca!
– Bem, foi isso – disse Arthur, rindo. – Namoramos até aos vinte e casamos.
– Então ela foi o seu primeiro grande amor?
– O segundo – respondeu ele, de olhos fechados. – O primeiro foi quando eu tinha treze anos e nos conhecíamos desde os quatro. Ela era a coisa mais linda que tinha visto na vida. Era ruiva e acho que é por isso que sou vidrado em ruivas. Seu nome era Maria. Ela era minha vizinha, colega da escola e foi o meu primeiro beijo, meio desajeitado, mas inesquecível. A família mudou-se um ano depois, senão acho que estava era casado com ela.
– Você é o legítimo homem de uma mulher só – disse Anabela, fascinada. – Todo esse tempo fiel a uma mulher só, mesmo do jeito que foi tratado.
– Não tinha motivo para não ser – respondeu ele com a voz um pouco amarga. – Eu era feliz, absurdamente feliz. Tão feliz que jamais pensei em ter outra mulher, quanto mais traí-la... até à semana passada.
– Sinto muito ter desvirtuado você, Arthur, mas não estou nem um pouco arrependida. Você também foi o meu segundo homem e nós temos histórias bem parecidas. Meu marido e eu fomos primeiros namorados por dez anos e, depois que o mataram, eu não quis qualquer um na minha vida.
– E foi logo arrumar um cara casado e cheio de problemas conjugais. Rica psicóloga que você é – disse, debochado.
– Pois é, né? Casa de ferreiro e espeto de pau. – Ela riu e fê-lo levantar-se. – Vamos que tá quase na hora. E a tal ruiva que Miguel falou, a que você salvou?
– Tento nem pensar nela, Belinha – respondeu Arthur. – Ela mexeu comigo de uma forma inexplicável e que me assusta muito.
– Por quê, meu amor? – perguntou Anabela, olhando nos seus olhos. – Acha que pode estar relacionado ao seu passado?
– A psicóloga é você – disse Arthur, rindo. – Para mim apenas é difícil não pensar nela e isso pode ser um problema. Mas confesso que ela e transmite uma forte familiaridade. Se não fossem os olhos diferentes, diria que ela é a Maria, mas se há uma coisa da Maria que jamais esqueci, essa coisa são os olhos dela, mágicos.
Pagaram a conta e saíram de mãos dadas com uma Anabela que não cabia em si de tanta felicidade. Ela sabia muito bem que estava pisando em um terreno muito perigoso, mas o sentimento que despontou em si era demasiado forte e descontrolado. Arthur era gentil, lindo, inteligente e tinha tantas coisas em comum que ela fazia questão de se perder por ali com todo o prazer. Admitiu a si mesma que, se ele quisesse casar com ela, não pensaria duas vezes. Apesar de tudo, não era burra a ponto de mergulhar de cabeça em algo que tinha tudo para dar errado. Assim, tratava de o tentar conquistar aos poucos, de certa forma aproveitando-se da semelhança com a esposa, que era uma vantagem, mas também um risco, agindo, porém, de forma oposta.
Quando iam voltar para a delegacia e já sentados no carro, Arthur lembrou-se que queria comprar cigarros:
– Esqueci dos cigarros – disse ele, pondo a mão no bolso da camisa. – vou ali do outro lado da rua. Quer vir junto?
– Não, amor. Vá você que tenho preguiça – respondeu, mandando um beijo. – Pegue um para mim.
Arthur saiu do carro e Anabela ficou olhando para ele, meio preguiçosa, meio apaixonada. Viu o delegado pegar os cigarros e, quando ia sair, o desastrado colidiu com uma mulher quase derrubando a coitada no chão. Reagiu com tanta rapidez que a pegou no ar, enlaçando o seu corpo com as nãos. Logo a seguir viu a cara de espanto dele e, nesse momento, Anabela olhou para a mulher, ficando de olhos arregalados. Era uma ruiva de beleza desconcertante que aproveitou para o abraçar e beijar no pescoço. Eles falaram alguma coisa e ela foi embora enquanto Arthur ficou parado olhando para a mulher.
– Não acredito que ele disse a verdade! – murmurou para si mesma. Bem abatida continuou. – E o pior é que repetiu a dose! Merda, aquilo é concorrência desleal. Jamais ganharei daquela fulaninha!
O colega entrou no carro e entregou o maço. Ia acender o cigarro, mas ela, meio deitada no banco, puxou-o para si. Desligado, o delegado aproximou-se e a moça enlaçou seu pescoço, beijando-o nos lábios. Arthur meio que cedeu, mas afastou-se devagar, olhando sem entender.
– Precisava de me afirmar – disse Anabela, sorrindo. – Depois de olhar para aquele monumento, a minha autoconfiança foi para o subsolo. E você ainda a salvou de cair mais uma vez!
Arthur riu e sacudiu a cabeça. Terminou de acender o cigarro e ela limpou o batom do pescoço dele.
– Então essa é a tal Diana, amor? – perguntou Anabela.
– A própria.
– Não vale. É concorrência desleal – repetiu. – Vou ter que me livrar dela. O que foi que ela lhe disse, se não for segredo, claro?
– Para eu me livrar de você – respondeu Arthur, rindo. – Ipsis litteris foi: "livre-se daquela loira lambida." Ou seja, você não é a única insegura e ainda tenho eu no meio.
– Mas que cara de pau! – exclamou a amiga. – Eu vou...
– Ela atira bem pra caramba.
– Eu atiro melhor, com certeza – afirmou, fazendo cara de menina sapeca.
– Com certeza. – O delegado riu. – Bem melhor.
– A próxima vez que falar com ela, me arrume a marca e nome do perfume – disse Anabela. – Pelo menos ela tem bom gosto, se bem que deve custar uma verdadeira fortuna.
– Começando por mim, né, lindinha?
– Cachorro sem vergonha – disse ela dando-lhe alguns tapas no ombro. – Safado, me usa, me faz ver estrelas desse jeito e depois fala uma coisa dessas!
Quando ela viu que o amigo ficou desorientado, caiu na risada até que Arthur fez uma careta sem jeito e ligou o carro.
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