Capítulo 5 - parte 3 (em revisão)
Já era tarde quando Arthur largou Anabela em casa. Ela pegou seu rosto e beijou-o com doçura nos lábios. Molhou a manga com saliva e limpou a pequena mancha de batom que ficou, saindo em seguida enquanto dizia:
– Assim você não vai se incomodar, culpado ou não. Mesmo tendo me matado de susto, eu perdoo você, meu gato.
– Gaúchinha – chamou o delegado e ela parou. – Obrigado.
Cansado, Arthur dirigiu para casa e encontrou a esposa, esperando. O filho já dormia. Ela cheirou o ar e perguntou:
– Que cheiro é esse? – cheirou mais de perto. – Parece cheiro de mulher e não me é estranho!
– Salvei uma mulher de cair e se ferir – disse o policial, sem titubear. – Acho que quando a segurei o cheiro dela impregnou em mim. Prepare-se que a empresa assaltada é segurada sua.
– Droga! – resmungou a esposa.
– Cíntia, você pode ir amanhã comigo à delegacia dar um parecer técnico sobre uma coisa desse caso?
– Tenho uma reunião bem cedo – respondeu ela. – Me pegue no escritório pelas dez horas.
– Combinado.
Ambos foram-se deitar, mas a esposa virou-se de costas e dormiu, enquanto Arthur permaneceu acordado por algum tempo pensando na Diana e também na Anabela, até que acabou adormecendo.
Arthur levantou-se bem cedo, como sempre. Após a higiene e vestir-se, foi beijar o filho que acordou e ficou muito contente em o ver.
Na padaria, tomou uma xícara de café com Anabela, cuja primeira coisa que fez quando o viu foi beijá-lo. Arthur não a negava mais e até gostava disso, incentivando. Por mais de uma vez flagrou-se olhando para ela ou fazendo uma carícia e até mesmo um beijo, como se fossem namorados.
– Então, meu gato, como vamos fazer as investigações deste caso? – perguntou-lhe no caminho para a zona sul ao mesmo tempo que fazia um carinho na sua nuca. – Tô numa preguiça!
– Vamos cruzar informações, sofrer um pouco, o de sempre.
– É, um dia lindo destes que podíamos estar na praia curtindo o mar – disse ela, divagando. – Já fez amor dentro do mar?
– Não, nunca fiz – respondeu Arthur, mais uma vez sentindo o calor na virilha com as insinuações dela. – Não me faça pensar sacanagem agora que não posso atacar você.
– Você nem sabe o que está perdendo, amor. Um dia vamos fazer – disse ela, provocante. – É uma delícia. Sentir seu corpo molhado e quente encostado no meu em meio à água fria e aquela sensação for...
– Pare, pelo amor de Deus – implorou ele rindo. – Isso é tortura!
– Tortura é ir para a delegacia trabalhar agora – ripostou a colega, sem pensar. – Não tem um motel no caminho para uma rapidinha?
– Anabela!
– Começo a não gostar quando me chama pelo nome – criticou-o, fazendo beicinho. – Deixe de ser chato e careta.
– Não há dúvida de que só arrumo mulheres autoritárias.
– À... – disse Anabela, deliciada. – Você até já me considera sua mulher!
– Droga, não complique as coisas – olhou para ela que, rindo, beijou-o na boca, cheia de vontade. O carro de trás começou a buzinar porque o sinal abriu e Arthur arrancou enquanto ela lhe acariciava a nuca.
– Sabe, gato, desejo você tanto que chega a doer.
– Lembra o que conversamos?
– Sim. – Suspirou, resignada. – Mas isso não me impede de o desejar, ora.
– Lá pelas nove horas vamos sair para pegar minha esposa na Barra da Tijuca.
– Para quê? – perguntou Anabela, desconfiada. – Decidiu prendê-la e livrar-se dela para termos os nossos momentos amorosos idílicos?
– Não, ainda não. – Arthur riu. – E pelo amor de Deus pare de me provocar que não sou de ferro. Eu pedi-lhe que viesse ver os vídeos das perseguições e opinar sobre os veículos e o piloto da fuga.
– Ok. – Esticou-se toda e beijou-o no pescoço. Depois, segredou no seu ouvido. – Me dá um cigarro, meu amor.
Arrepiado, entregou-lhe o maço e beijou-a nos lábios.
– Já agora acenda um pra mim – pediu.
Na reunião da delegacia o assunto principal, como não podia deixar de ser, era a gangue das risadas. Arthur recebeu do chefe mais autoridade sobre as operações relacionadas a ela e conseguiu prioridade para o helicóptero se não houvessem casos mais graves na hora. Foi nesse momento que lhe ocorreu que a gangue poderia saber quando o helicóptero estava indisponível. Rabiscou no bloco dele e mostrou para Anabela, que fez sinal positivo com a cabeça.
– Delegado Delgado – disse, como encerramento. – Tente me trazer a cabeça deles de presente até ao ano novo.
– Farei o possível, senhor – respondeu Arthur. – Garanto-lhe que, por mim, você estava com a cabeça deles em uma bandeja, agora mesmo. Para nosso azar, têm um piloto de invejar.
― ☼ ―
Miguel ainda não tinha chegado e Arthur olhou o relógio, fazendo sinal para a amiga.
Ambos foram para o carro e seguiram viagem. Ela estava séria e pensativa, e Arthur também permaneceu calado. Andaram um bom pedaço até que o delegado perguntou:
– Sente-se desconfortável, gaúchinha?
– Não – respondeu, sem pensar. – Apenas queria acabar com a raça dela por fazer você sofrer.
Arthur riu e olhou para ela.
– Você é mesmo brava – disse ele. – Não vá arrumar confusão com ela. Prometa pra mim e eu prometo que a recompenso depois, ok?
– Prometo. Não arrumarei confusão – afirmou Anabela, com voz doce e inocente. – Farei muito pior que isso: vou comer o marido dela.
Dessa vez, Arthur riu a bom rir.
– Às vezes eu me pergunto se ela ligaria para isso, já que me trata assim. Se bem que desconfia de tudo e todas. Vai ficar roxa de raiva quando vir você comigo. Ficou desconfiada por causa do cheiro da Diana, ontem.
– Diana? – perguntou ela. – Então a sua mulher misteriosa tem nome?
– Ela disse o nome ontem, quando a salvei.
– Salvou mesmo? – perguntou, séria.
– Juro que salvei – respondeu o policial.
– Se ela vai ficar furiosa, já ganhei o dia – disse Anabela, empinando o nariz. – Vai ficar ainda mais brava quando descobrir que vai no banco de trás.
Arthur riu muito.
– Você ficou tão graciosa com esse charminho todo que deu até vontade de a beijar.
– Então beije, ora. Não estou usando batom mesmo!
Arthur parou no sinal e ela atacou-o sem pestanejar. Ele não negou, antes pelo contrário, aproveitou a agarrou-a bem. Depois disse:
– Agora ganhou a sua recompensa por antecipação.
– Nada disso – exigiu Anabela. – Isso é só a prévia. Não é recompensa que preste para a sua gaúchinha.
O delegado voltou a rir.
― ☼ ―
Pararam em frente ao prédio da mulher e entraram. Arthur aproximou-se da recepcionista.
– Por favor, a senhora Cíntia Delgado.
– Quem deseja? – perguntou a moça, toda sorridente.
– Delegado Arthur Delgado e delegada Anabela Santos, senhorita. Ela já me aguarda.
– Sente-se, por favor; vou passar para a secretária dela – disse a moça. Apontou uma mesinha ao lado. – Café e água, se desejarem.
– Obrigado.
Não esperaram mais de cinco minutos e ela apareceu. A primeira coisa que a Cíntia fez, foi fuzilar Anabela com o olhar e Arthur quase riu. Virou-se para a recepcionista:
– Tereza, se precisarem de mim estarei no celular corporativo. Volto depois do almoço.
– Sim, senhora.
Virou-se para o marido, sem nem um cumprimento.
– Vamos?
Arthur sorriu e levantaram-se. Como Anabela imaginou, a esposa ficou furiosa quando ela lhe abriu a porta de trás, mas não disse nada. Para provocar ainda mais, Anabela decidiu ser toda dengosa para o lado do Arthur. No fundo, ela admitia a si mesmo que morria de ciúmes da esposa dele porque estava muito apaixonada pela primeira vez desde a morte do marido. Só não entendia os acessos dela, mas atribuía isso a um forte sentimento de possessão.
– Acho melhor irmos pelo litoral – disse a delegada. – O trânsito do túnel estava muito embaçado.
– Tem razão, Belinha. – Agora ela não sabia se ele entrou no seu jogo ou era mesmo para provocar a esposa, mas ela bufou no banco de trás e a delegada amou. – Passe um rádio e pergunte se Miguel já chegou.
Anabela pegou o microfone e chamou:
– Viatura seis zero oito chama central. Copia?
– "Copia, seis zero oito" – disse a voz feminina e impessoal de sempre. – "Central na escuta, câmbio."
– Miguel Zonnato já chegou? Câmbio.
– "Negativo, seis zero oito, Miguel ligou informando que está passando mal e não virá, câmbio."
– Obrigado, central. Seis zero oito desliga, câmbio final.
– "Copiado."
– Deve ter pegado o mesmo negócio que me fez passar mal no clube de tiro ontem – disse Arthur. – O que nós comemos que você não comeu? Moisés também não passou mal.
– Bah, você não vai querer que lembre de tudo...
– Não dá para você ir mais rápido não? – interrompeu Cíntia, furiosa. – Não tenho o dia todo. Caraca, não sei como pode dirigir desse jeito depois de tantos anos, Arthur. Parece até que acabou de tirar a carta.
– Desculpe Cíntia, só que não é uma emergência, o trânsito está pesado e não posso provocar um acidente, mas não vai demorar.
Anabela tinha um sorriso maldoso nos lábios. Forçando o quase esquecido sotaque gaúcho, disse, toda melosa:
– Tu me dás um cigarrinho que esqueci os meus em casa?
– Quer também, Cíntia? – perguntou Arthur, estendendo o maço para a colega. – Acenda um pra mim, Belinha.
– Não, obrigada – respondeu cuspindo as palavras com tanta raiva que até pareciam pequenos blocos de fogo atirados contra eles, para alegria da Anabela.
– Você é um amor, Arthur – disse ela, devolvendo o maço e o cigarro aceso. – Obrigada. Estava com um desejo incontrolável e só mesmo um cigarrinho para acalmar.
Anabela viu que o colega segurava-se para não explodir em uma gargalhada homérica e ficou menos atirada com medo que ele entregasse o jogo.
Desceram na delegacia e, sentindo-se vingada, Anabela abriu a porta para a rival.
– Aí, Belinha, trouxe uma meliante para prender? – perguntou Janjão que também retornava de algum lugar. – Brincadeirinha, Cíntia, vi que era você. Tudo bem?
― ☼ ―
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