Capítulo 4 - parte 3 (em revisão)

Assim que chegaram à delegacia, uma notícia desagradável apanhou-os de jeito: a gangue da risada atacou de novo e Arthur, mais uma vez, sentiu-se desanimado. Os três saíram de imediato para o local do assalto, uma transportadora de valores que ficava em uma casa na Barra da Tijuca.

Foram em silêncio e, quando entraram no Túnel Zuzu Angel, Anabela comentou:

– Só vou dizer uma coisa, Arthur. Se aquela pira... doida estiver por lá, trate de a controlar porque, se repetir o que fez, vou levá-la sob custódia.

– Faça como achar melhor – disse o delegado. – Eu avisei-a que foi a última vez que acobertei seus desvairos. Mas, de qualquer forma, ela está em São Paulo.

– Desculpe falar assim, Arthur, porque sei que é sua esposa, mas ela precisava de uma avaliação psiquiátrica. Se o que você me contou ontem de manhã é verdade, há algo muito errado com ela.

– Acho que Belinha tem toda a razão, cara – comentou Miguel, pensativo. – Afinal eu conheci uma Cíntia bem diferente dessa aí.

– Por favor – pediu Arthur. – Não vamos falar dela, ok? Tudo o que vem acontecendo me deixa desorientado preocupado e mais ela me enlouquecendo...

– Ela ou aquela ruiva misteriosa de tirar o fôlego? – perguntou Miguel, provocante.

– Essa é outra que talvez nem vá mais reaparecer.

– O seu poder de dedução está precisando de reciclagem, Arthur. – Miguel riu. – Você verá.

– Quem é essa? – perguntou Anabela. Miguel não notou o ciúme na voz da delegada, mas Arthur sim.

– Uma mulher linda como nunca vi – disse Miguel para se retratar depois. – Bem, você é linda demais, então não leve para o lado pessoal, mas aquela mulher é mais ainda, muito mais, uma verdadeira Deusa.

Ele contou sobre o restaurante e o beijo que deixou todos de boca aberta, inclusive o beijado. Anabela riu e comentou:

– Então você caiu no mel quando criança, é? – fez-lhe um carinho discreto. – Eu acho que uma hora destas vou roubar um beijo seu só pra saber como é. Daí, você me diz se beijo melhor ou pior que essa tal ruiva.

– Não sou fã de comparar esse tipo de coisa – resmungou Arthur, sem jeito.

Para felicidade do delegado, que ficava cada vez menos à vontade com a conversa, chegaram ao local do roubo. Miguel desceu e seguiu na frente, enquanto ele estacionava e afirmava que iam fumar um cigarro antes. Encostados no carro e a sós, ela pegou sua cintura e sorriu.

– Teu amigo te deixou meio sem jeito, não foi? – perguntou ela.

– E você não ajudou nem um pouco, antes pelo contrário, provocou mais.

– Você gostou da ruiva? – perguntou ela, provocante.

– Se gostei? – ele riu. – Sim, gostei demais. Dois anos de maus-tratos e vem uma mulher linda como poucas há no mundo me beijando para tirar o fôlego, o que você acha? Eu fiquei com ela presa na cabeça e tento nem pensar nisso.

– Bem, se um beijo deixou você assim, como ficou com aquela trepada homérica que nós demos? – perguntou, rindo. – Depois, quase que nem consegui andar!

– Você é lindíssima e sabe disso – respondeu Arthur. – E também sabe que me deixou nas nuvens e, se pudesse, faria isso de novo aqui e agora...

Anabela beijou-o, interrompendo.

– Acontece que você, ao contrário da ruiva, me fez ficar com a consciência muito pesada e, já que é a psicóloga, explique isso para mim.

– Eu imaginei, mas nem pense que vou parar de dar em cima de você para mais umas reprises – respondeu ela com uma gargalhada baixa. – Acontece, meu amor, que eu e sua esposa temos uma semelhança física muito grande, apesar de eu ser loira e ela castanho-clara. O motivo deve ser esse e, no fundo, você ainda sente alguma coisa boa por ela, bem perdido lá dentro, sufocado, mas que deseja sair e ver tudo como era antes, talvez por causa do seu filho.

– Será? – cogitou ele. – Então, porque a dama misteriosa não fez isso comigo?

– Talvez porque nada tenha a ver com a sua esposa.

– Cansei desse papo – disse Arthur. – Vamos sair daqui.

Jogaram os cigarros fora e apresentaram as identificações para o porteiro, que anotou o número de cada um e deixou-os entrar. O assalto foi daqueles de cinema. Não havia sinais de violência de qualquer tipo e os seguranças juraram que não viram ninguém entrar, nem mesmo perto do muro bem vigiado. O cofre era enorme, do tamanho de um quarto, e estava quase vazio. No chão, havia um saco de risadas.

Arthur aspirou o ar com força e perguntou:

– Vocês sentem este cheiro estranho?

– Que cheiro? – quis saber Anabela, fazendo o mesmo. – Não sinto nada!

– É um cheiro sutil, muito fraco – respondeu. – Miguel, você que não fuma deve sentir melhor. Tente identificar.

– Sim, agora que você falou sinto algo parecido com cheiro de rio poluído, como um esgoto fraco.

– À, sim – comentou o funcionário. – Ontem uma equipe andou arrumando problemas do esgoto. Deve ser por isso o cheiro.

– Mas acontece que aqui dentro está mais forte e tenho certeza de que eles não entraram dentro do cofre.

– Lógico que não – disse o homem, horrorizado. – O cofre não é aberto com estranhos por perto.

Arthur começou a andar cheirando o ar, seguido por Anabela que, distraída, segurou a sua mão, mas Miguel nem notou de tão curioso que estava. Chegou a uma porta de vidro que dava para um jardim de inverno e olhou para todos os lados. O jardim, cheio de plantas, era cercado pela casa dos quatro lados e no teto havia grades de ferro muito grossas, mas ele estava certo de que o cheiro também vinha dali. O acaso veio ajudar quando encontraram uma pegada quase invisível, manchada de preto. Arthur ajoelhou-se e cheirou, fazendo uma careta.

Seguiu a pegada e começou a afastar algumas folhagens, encontrando a passagem usada pelos bandidos. Na parede, rente ao chão, havia uma portinha de uns sessenta centímetros que era fechada com grades que pareciam ter sido cortadas por um maçico de oxi-acetileno. Abriu a portinha e viu o túnel do esgoto que passava por baixo da casa.

– Entraram por aqui – disse ele. – Suponho que os sujeitos que vieram fazer o conserto dos esgotos eram só uma desculpa e havia duas equipes. A segunda, aproveitando o barulho dos outros e o fato desta sala ser fechada na presença de estranhos por perto, destruía estas grades. Na calada da noite, eles retornaram sem dificuldades e entraram aqui, arrombando o cofre.

– Mas que barbaridade! – exclamou Anabela, voltando a trair a sua origem.

– Minha nossa – comentou Miguel. – Raciocínio tão perfeito que consegui visualizar o crime acontecendo.

– Resta saber como abriram o cofre e por que motivo as câmeras de segurança não pescaram nada nem o alarme tocou.

– Esta sala não tem alarme, delegado. Para chegar aqui, precisaria de passar por tantos seguranças e alarmes que a parte interna só tem nas janelas e portas externas.

– Miguel, ligue para a perícia chegar logo. Peça análise completa dos sistemas de vigilância – comandou Arthur. – Tente ver se alguém consegue com a prefeitura dados de câmeras tráfego e procurem um Mustang preto.

– É pra já.

– Diga para a equipe ver bem estas pegadas – pediu Arthur, usando seu telefone para fotografar. – Além disso, alguém vai ter que seguir pelo esgoto para ver onde desemboca e se há mais evidências por lá. Pessoalmente, não estou com muita vontade de entrar aí, então deixe para os peritos. Vamos ter que conserguir alguma prova porque esses demônios não podem ganhar todas.

― ☼ ―

No caminho de volta e já em Copacabana, parados no sinal, o telefone de Arthur vibrou, avisando que havia uma nova mensagem. A primeira coisa que apareceu foi um saco de risadas, mas depois ele ficou pálido quando viu a imagem seguinte. Como o volume estava no silencioso, ninguém ouviu nada. Ele passou o telefone para Anabela.

– Pelo menos um daqueles malditos bandidos estava lá nos observando – disse, irritado.

– Como pode saber disso, mano? – perguntou Miguel, no banco de trás.

O casal olhou-se e Anabela mostrou o celular enquanto os dois berraram tão alto que Miguel chegou a fazer uma careta:

– Se você sonhar em abrir o bico, tá morto!

– Calma, gente, sou da p... puta que pariu! – exclamou, entusiasmado. – Eu sabia. Vocês nunca me enganaram.

– Agora feche o bico – disse ela. – Foi apenas a ocasião e Arthur não quer mais... por enquanto, que eu convenço ele.

– Largue de ser veado, Arthur – disse Miguel, irritado. – Viva a sua vida antes que morra sem a ter vivido.

– Acho – disse Arthur, na sua calma proverbial –, que o foco da questão, no momento, não é o conteúdo da foto, mas quem a tirou.

– Tem razão, desculpe. – Pensativo, ele olhou a imagem e continuou. – Até imagino os motivos do Arthur. Bem, cara, essa acho melhor não mostrar pro chefe.

– Isso é mais que óbvio.

― ☼ ―

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