Capítulo 4 - parte 2 (em revisão)

Depois de se divertirem atirando, Miguel retirou-se porque tinha um compromisso e os outros foram ao bar do clube beber algo. Ficaram mais cerca de meia hora e começaram a sair quando Anabela disse:

– Arthur, pode me deixar no metrô que estou sem carro?

– Levo você, não me custa nada – respondeu.

– Não quero tirar você do seu caminho – disse, taxativa. – Tem um cigarro?

Ele entregou o maço e retrucou:

– Não tem problema, Belinha – deu uma risada. – Gostei desse apelido. Eu levo você que tenho todo o tempo do mundo. Meu filho vai ficar com meus pais e minha esposa está em São Paulo por causa daquele assalto monstruoso que deu ontem. Onde mora?

– Vila Isabel – respondeu. – Na certa é longe para você e deve estar cansado.

– Mais um motivo para levá-la. Além de você precisar pegar outro transporte depois do metrô, fica perto de mim, que moro na Tijuca. – Sorriu e continuou. – Vamos?

– Tá bom.

No carro, já perto da casa dela e parados no sinal, Arthur comentou:

– Aquilo que você fez comigo foi golpe baixo, não acha?

– Precisava de lhe dar uma resposta à altura, depois de me chamar de atiradora irresistivelmente sexy.

– Mas você é, que culpa tenho eu? – perguntou ele rindo e olhando nos seus olhos. – Não fui eu que lhe pedi para aparecer com exatamente o tipo físico que me deixa meio tarado, ainda mais que eu... xi, hum... deixa pra lá.

– Você o quê? – Anabela quis saber. – Algum problema?

– Bobagem, esqueça.

– Você está na maior seca, suponho – disse ela, rindo quando viu que acertou em cheio. – Tadinho do gato!

– Psicólogas são um verdadeiro perigo – comentou Arthur, fingindo de sério.

– Entre ali naquela rua que é a minha – pediu. – Psicólogos ajudam a facilitar as coisas para as pessoas.

– Facilitar como? – perguntou. – Mas que rua escura essa sua!

– Encoste ali. – Apontou uma casa.

Arthur obedeceu e ela olhou para ele. Jogou fora o cigarro e pegou seu rosto, beijando-o, lânguida. Sem saber como, Arthur correspondeu, sentindo o calor correndo solto pelo corpo e concentrando-se na virilha, acariciando a mulher de alto a baixo.

– Como eu disse, facilita um pouco por saber o que os dois desejam. – Olhou-o sedutora, sussurando no ouvido. – Afinal eu disse a verdade quanto a saber mais que as duas mãos e, já que não tem pressa, que tal entrar para uma sessão terapêutica especial?

– É melhor a gente ir agora antes que eu caia na real e me arrependa.

― ☼ ―

No dia seguinte de manhã, Arthur passou na casa do pai para ver o filho e deixá-lo na escola. Após, pegou Miguel, que já tinha pedido carona e também notou que o amigo seguia por outro caminho.

– Você vai onde? – perguntou o delegado ele, espantado. – Por acaso decidiu mudar o percurso?

– Vamos para a Vila Isabel pegar a Belinha, logo ali na Boulevard 28 de Setembro – respondeu Arthur. – Ela tá com o carro quebrado e pediu carona ontem.

– Tá muito íntimo da moça hein?

– Que eu saiba, foi você que colocou o apelido.

– É, pode até ser, mas não a chamei de "terrivelmente sexy". Nossa, essa gaúchinha é tudo de bom. Pena que tem esse defeito horroroso que é fumar!

– Como é que você sabe que ela é gaúcha? – perguntou Arthur, muito espantado. – Virou pai de santo?

– Ela dá umas escorregadas bravas no sotaque. Estes dias, ela falou "bah", outra vez o "S" não saiu chiado, coisas pequenas. Por que nessa rua e não na casa dela? – perguntou Miguel, curioso.

– Tem razão. Agora que você falou, dei conta disso – comentou Arthur. – Ela toma café numa padaria que tem na 28 e achou mais fácil eu pegá-la lá. Vai ver, ficou com medo que eu desse uns amassos nela.

– Demorou! – disse Miguel, satisfeito. – Vamos aproveitar e também tomar um café. Mande mensagem para ela esperar lá.

– Boa ideia.

– Quanto aos amassos, tenho certeza de que ela ia fazer questão de uns e duvido que tivesse medo disso. O mais provável é que você fosse o atacado. Já notei como ela o olha. Fala sério, meu, vai dizer que você não topava traçar aquele filé.

– Não viaja, cara – disse Arthur, lacônico.

– Ei, o que foi que ela falou para você errar o tiro? – perguntou Miguel, curioso. – Eu não disse nada, mas vi direitinho que ela estava com a mão no seu ombro, então nem me fale nesse papo de apalpar a sua bunda. Você parecia um pimentão.

– Se você abrir a boca eu juro que uso você de alvo da próxima vez que formos ao clube – ameaçou Arthur. – Ela disse que sabia usar as duas mãos e tudo o resto. Me arrepiou da alma até ao saco. Daí errei o tiro.

Miguel não aguentou e explodiu em uma grande gargalhada.

― ☼ ―

A padaria ficava bem numa esquina e encontraram a delegada sentada no balcão, esperando. Miguel foi ao banheiro e Arthur sentou-se ao lado dela.

– E aí, gaúchinha? – deu-lhe um selinho e ela puxou-o para um beijo forte, deixando o delegado ofegante. – Caraca, você me deixou sem ar. Dormiu bem?

– Teria maravilhosas noites de sono todos os dias se fosse sempre como ontem. – Ela riu. – Como sabe que sou gaúcha? Moro aqui desde criança e meu sotaque é bem normal.

– Quem notou foi Miguel – respondeu Arthur. – Ainda apresenta pequenas nuances. Afinal, você continua uma criança. Deve ter apenas vinte aninhos muito bem-feitos.

Anabela deu uma risada muito alegre e disse:

– Que bobinho! Tenho vinte e nove.

– Então, acho melhor procurar os últimos nove que fugiram por aí – respondeu Arthur, brincalhão. – Aconselho a chamar a polícia.

– Que fofo – disse ela, voltando a rir.

Miguel chegou e olhou a moça nos olhos. Sacudiu a cabeça e disse, debochado.

– Sabe, Belinha, eu já fiz a besteira de me casar uma vez, mas garanto que, se você não fumasse, pediria você em casamento sem pensar duas vezes. Você costuma ser linda, mas hoje está deslumbrante. Parece que irradia luz.

Ela riu mais e deitou um olhar fugaz para o colega, olhar que Miguel captou e, por ser um investigador excepcional, sacudiu a cabeça rindo.

– É, já entendi tudo. Rica noitada né?

– Noitada? – perguntou ela. – Nada de noitada.

– Tá na cara que vocês dois ficaram a noite toda no maior auê...

– Sei – disse Arthur, sério. – E quem cuidou do meu filho?

– Tudo bem – Miguel fez um gesto de paz. – Mas a mim vocês não enganam.

― ☼ ―

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