Capítulo 4 - parte 1 (em revisão)

"Se o corpo chamasse a alma perante a justiça, ele a convenceria facilmente de má administração."

Diógenes.


Arthur não sabia o porquê, mas acordou bem-disposto. Cíntia já tinha saído e ele foi tratar do filho, alegre.

No caminho para a escola, avisou-o que o avô iria pegá-lo na saída e ele dormiria lá. O pequenino adorava quando pernoitava nos avós e não reclamou, antes pelo contrário, ficou muito contente. Avisou a supervisora que o avô é que o pegaria e saiu, ligando para o pai.

Quando desligou, viu uma mensagem do amigo dizendo para ir na frente que precisava de chegar mais tarde.

Sozinho, foi para a delegacia e estacionou bem na hora que Anabela chegou. Ela aproximou-se e Arthur não resistiu a ficar observando tamanha beleza. Além dos olhos verdes e amendoados muito expressivos, era bem loira, mais do que ele, com o cabelo ondulado talvez uma mão travessa abaixo dos ombros. Os lábios eram delicados, sem serem muito carnudos e o nariz fino e na medida perfeita. O pescoço era longo e bem vertical, que lhe dava uma altivez natural. Ela devia ter perto de um metro e oitenta, como ele gostava e o seu corpo era de uma perfeição bastante rara de se encontrar. Como a sua dama misteriosa, Anabela tinha braços bem moldados e mãos finas de dedos longos. Sem esconder a admiração que sentia ao vê-la, deixou escapara um suspiro e Anabela sorriu quando notou isso. Assim que chegou perto, ofereceu um cigarro.

– Ontem fumei quase metade dos seus, então agora é a minha vez – disse a título de cumprimento. – Me diga, foi tudo tranquilo em casa?

Arthur aceitou a oferta e respondeu, rindo:

– É bom você fumar os meus. Assim eu fumo menos porque Miguel tem razão e eu ando exagerando. Em casa costuma ser tranquilo, da minha parte, pelo menos, mas ontem acabei ameaçando a minha esposa com o divórcio.

– Vejo muito bem que você é bastante infeliz com seu casamento; então, por que não toma logo uma atitude em relação a isso? – questionou Anabela, séria. – Desculpe, mas ninguém merece uma mulher como aquela!

– O motivo é uma criança de cinco anos que pode sofrer com isso tudo – explicou Arthur. Sonhador, continuou. – Sabe, Anabela, ela era o oposto daquilo que você viu. Era doce, pura meiguice. Ela era a minha alegria de viver. Eu ansiava por chegar em casa e receber um beijo dela. Ela era tudo para mim, mas então mudou de repente. Foi tão brusca e agressiva, essa mudança, que ela paulatinamente quebrou meu encanto e matou o meu amor a ponto de eu, de forma inconsciente, começar a procurar na rua o que não tenho em casa.

– Você é muito gato, Arthur – disse Anabela. – Bem vi que sua esposa também é uma linda mulher, mas sei que você não ficaria sozinho muito tempo. Eu acho que deve pensar na sua felicidade porque, se continuar usando seu filho como desculpa, pode ser que um dia o culpe ou pior, que o odeie, e isso não é nada bom.

– Você é psicóloga, Anabela?

– Minha primeira faculdade. – Ela riu. – Por quê? Tem medo de psicólogas?

– São um perigo – respondeu Arthur, rindo. – Em especial uma do seu calibre.

– Vou considerar isso um elogio – disse a delegada, olhando nos olhos dele de forma diferente e Arthur notou.

– Pode ter certeza – respondeu ele, piscando o olho. – Você é daquelas que me fazem pensar besteira, muita besteira.

Anabela riu, divertida, e pegou no seu braço, puxando o novo parceiro e amigo para dentro. Sentaram-se na sala de reuniões e Janjão veio logo dizendo enquanto se aproximava:

– Parceira nova, é? – deu uma risada. – Muito melhor que aquele paulista insípido. Pode ter a certeza. Como é, não vai apresentar?

– Oi, Janjão – disse Arthur, sorrindo. – Melhor mesmo, né? Esta é Anabela, de Petrópolis. Vai passar uns tempos aqui, comigo e com Miguel. Anabela, este é o Janjão; é grandalhão pra caramba, assusta com esse vozeirão todo, mas é uma mamãe com os amigos, ou vovó.

– Oi, Janjão, prazer. – Anabela sorriu e prestou atenção no colega do Arthur. Era um homem muito alto, talvez uns dois metros e dez, além de ter uma largura proporcional, que era tão grande ou maior do que dois homens lado a lado. A sua voz era potente e tinha as mãos tão grandes que a delegada achava que poderia cobrir o seu rosto com apenas uma delas. O rosto era redondo e muito bonachão, acompanhado de cabelos pretos e lisos, curtos. O seu olhar mostrava que era uma pessoa pacífica por natureza, mas também poderiam mostrar determinação e muita coragem. Ele era, de fato, um sujeito que seria um amigo muito leal. Seus devaneios foram interrompidos pelo gigante:

– O prazer é meu, Anaela – respondeu ele. Virou-se para o amigo e perguntou. – Qual é a de hoje?

– Vamos dar uns tirinhos no clube. Tá a fim?

– Claro, assim podemos ver como a nossa nova parceira manda bala – voltou a rir. – Afinal, um dia destes as nossas vidas podem depender dela.

– Nem imagina como – disse Anabela, debochada.

O chefe entrou e o briefing iniciou. Ele apresentou Anabela, que recebeu uns assobios de alguns colegas e depois passou para a ordem do dia. No meio da reunião Miguel chegou e, no final, os três saíram para a sala trabalhar nas evidências que arrecadaram de todos os crimes da gangue da risada.

― ☼ ―

Ao meio dia foram almoçar em um restaurante próximo e começavam a ficar bons amigos. Anabela era uma mulher extrovertida e muito alegre, só que Miguel não lhe devia nada, nesse aspecto. Arthur era o mais quieto, em especial com estranhos, mas quando estava entre amigos, mudava um pouco e tornava-se bem comunicativo. Além disso, ele gostava da delegada e do seu jeito que lhe lembrava um pouco a esposa dos tempos antigos. Apesar de toda a quietude, era carismático por natureza e seu biotipo ajudava muito por ser bonito aos olhos das mulheres. Tinha os cabelos loiros e não demasiado curtos, lisos, e olhos penetrantes. Era alto e de físico atlético, com tronco em V. Depois do almoço, aproveitaram para relaxar um pouco e foram caminhar até à praia. Miguel acabou andando um pouco mais à frente, incomodado com a fumaça e cedendo espaço para os dois, que se tornavam mais íntimos. Na volta, enquanto Anabela fazia um tour na delegacia, atendendo em alguns setores como se fosse uma novata, além de aproveitar para analisar cada um dos colegas, Arthur e o amigo faziam levantamentos e colocavam dados no mapa da cidade.

― ☼ ―

No estande de tiro eram quatro disputando o direito de derrotar Arthur. Agora, mais relaxado, o policial esquecia um pouco os problemas, tanto profissionais quanto pessoais.

Ele e Anabela ficaram por último, enquanto Miguel, Janjão e Moisés aqueciam com dois disparos cada um. Arthur apontou para Anabela, sorrindo:

– Deseja aquecer um pouco? – perguntou.

– Você primeiro, Arthur – respondeu, divertida. – Assim, fico sabendo com quem eu lido, já que a sua fama o precede com vantagem.

O delegado pegou a folha de papel que representava um homem com tronco a partir da cintura. Apertou no botão e o alvo afastou-se até ao fim.

– Ok – comentou ele, pegando a sua pistola. Olhou para ela e continuou. – Escolha um lugar da sua preferência.

– Se você é tão bom assim, quero que acerte a orelha direita de raspão – respondeu a delegada à queima-roupa.

Arthur, que já ia mirar, baixou a arma e olhou para ela, erguendo a sobrancelha.

– Assim ele revida e eu morro, num caso real – retrucou, sério.

– Eu sei, mas aqui não é real e às vezes pode ser útil para intimidar o alvo. Nem sempre precisamos de atirar para matar.

– Tem razão – respondeu, virando o rosto, erguendo a arma e disparando tão rápido que ela se assustou.

– Bah, Arthur! – exclamou Anabela. – Você nem mirou. Na certa passou bem longe.

Ele deu-lhe espaço e disse, sorrindo:

– Se acha que faz melhor, mire na outra orelha e atire, mas também de raspão, ok? – sorriu-lhe com doçura. – Depois veremos o alvo.

– Tadinha da Belinha – disse Miguel, debochado. – Vai ficar traumatizada com Arthur.

A moça não se intimidou e sorriu, pegando a sua arma. Ergueu, fez uma cara de séria, que Arthur adorou, e disparou.

Moisés apertou no botão enquanto Arthur dizia para a delegada:

– Já lhe disseram que você fica irresistivelmente sexy quando está atirando?

Anabela deu uma gargalhada e sacudiu a cabeça, com os olhos brilhanes. O alvo voltou e Janjão pegou o papel, soltando um longo assobio e olhando para a delegada.

– Anabela, agora sei que posso entregar minha vida nas suas mãos sem medo: de raspão na orelha do jeito que foi combinado. Arthur, você encontrou seu par.

– Parabéns, atiradora sexy – disse Arthur rindo. – Gostei de ver.

– Viu – disse ela, pegando o papel. – Você nem mesmo tentou mirar no al... bah, puta que pariu!

O seu espanto ao olhar para o alvo com a marca da bala bem no local indicado foi hilário e o palavrão acentuava não só isso, mas também o respeito pelo novo amigo, só que causou uma gargalhada nos outros colegas, menos no Arthur.

– Bem galera, vamos aos desafios, mas Anabela e Arthur vão atirar com o alvo no fim do curso, senão é injusto.

– Já é injusto até se eu atirar com a mão esquerda – disse Arthur, debochado. – Você é boa assim com as duas mãos?

Arthur ia atirar quando ela respondeu, sussurrando no seu ouvido:

– Sou boa assim com as duas mãos e tudo o resto. Quer ver?

Não podia ser pior. Arthur tremeu e acertou fora do alvo, fazendo os amigos arregalarem os olhos para, logo a seguir, caírem na risada da cara dele.

– Ei, Belinha – perguntou Miguel –, o que foi que você disse para Arthur que ele ficou tão vermelho que até parece um pimentão, além de perder o rebolado?

– Apalpei a bunda dele – respondeu ela, mantendo a cara séria como se fosse um assunto delicado. – Não sabia que as mulheres adoram uma boa bunda de homem?

Miguel até se engasgou e os outros riram dele, mas Janjão acabou por interromper:

– Daí, galera, vamos começar que preciso sair cedo.

― ☼ ―

Briefing – pequena reunião de equipe para se discutir as estratégias de uma ação.

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