Capítulo 3 - parte 2 (em revisão)
Debruçados sobre a tela do computador observaram a viatura chegar ao local do crime e os bandidos correndo para fora. Vestiam as roupas pretas de sempre, folgadas, máscaras de esquiador, também pretas e calçavam tênis sem marca aparente.
– Câmera na viatura? – perguntou Arthur. – A minha ainda não tem.
– Existe o lado bom e o lado mau – disse Jair. – Às vezes a gente sente que tá sendo observado e a sensação é que fazem isso para nos pegarem.
– Imagino – comentou Miguel. – não sei se gostaria, mas, em breve, todas terão, se bem que a sua é paisana, Arthur.
– Vamos prestar atenção aos detalhes – censurou o delegado, concentrado. – Afinal qualquer coisinha pode ajudar. Olhem como o carro estava preparado na esquina. O motorista sabe muito bem o que faz. Ainda por cima é um ponto sem iluminação para ver seu rosto. Que carro é esse?
– É da pesada, Arthur – disse Jair. – Um Mustang e do jeito que arrancava devia ser turbinado. Olhe que verá por si.
Os criminosos correram para o carro e atiraram-se nos bancos, em especial os de trás porque eram quatro. Antes mesmo das portas serem fechadas, o motorista acelerou sem aviso e desviou do policial que vinha correndo em perseguição, derrubando-o. A viatura aproximou-se, o parceiro do Jair entrou e eles iniciaram a perseguição. Arthur notava muito bem que os criminosos não aceleravam tudo, mas, em uma curva para entrar na orla, o carro fez aquilo com um estilo que até entusiasmou Miguel.
– Caraca, meu – disse ele. – Pode ser bandido e o escambau a quatro, mas vai dirigir bem assim no raio que o parta. Ângulo reto a quase cem por hora!
– Pois é, até parece minha esposa dirigindo – disse Arthur, absorto. – Impressionante!
– Tá louco, meu, esse cara aí pilota pra cacete! – ripostou Miguel, rindo. – Bem que sua esposa ia gostar de saber metade disso.
– Cíntia é melhor que isso, muito melhor – disse Arthur, rindo da cara do amigo. – Ela era piloto antes da gente casar. Depois entrou para a faculdade e largou.
– Sério?! – perguntou Miguel. Assistiu mais algumas cenas, cada vez mais impressionado e perguntou. – Escuta aqui, Arthur, o que foi que sua esposa fez ontem de noite?
– Esqueça, Miguel – Arthur riu. – Primeiro ela estava em Sampa e mandou mensagem que os voos atrasaram todos. Só chegou depois de mim em casa. Em segundo lugar, acho que teria descoberto se ela vivesse no crime. Com o sucesso dessa gangue, Cíntia já estaria ostentando pra cacete e mantemos o mesmo padrão de sempre.
– Imagina, mané. – Miguel riu. – Eu tava tirando uma da sua cara. É obvio que você já teria descoberto.
– Mas esse maluco dirige pra caralho, meu – disse Arthur. – Eu me considero um bom motorista e não seria capaz de o perseguir nem em sonhos.
– Nem eu, mano. Afinal ele nos deu um baile furioso – disse Jair, encolhendo os ombros. – Quem sabe você fala com Otávio ou Heitor para contratarem sua mulher.
Deu uma risada da própria piada, mas Arthur disse, sério.
– Ela trabalha em uma seguradora, avaliação de sinistros e disse que a empresa deles tá perdendo uma grana alta por causa dos assaltos. Um dia ela alegou que, se fosse ela a perseguir esses caras, eles já não estavam nas ruas. Você chegou a verificar a placa?
– Fria – respondeu Jair. – Já checamos durante a perseguição.
– Eu imaginei – comentou Arthur. – Por favor, passe um alerta para a PM e a guarda municipal a respeito de Mustangs pretos.
Viram o vídeo até ao fim sem achar qualquer informação que ajudasse.
– Vamos para a joelharia – comandou Arthur, com um longo suspiro. – Esses bandidos ainda me deixam doente.
Quando iam sair, Arthur foi interceptado por uma mulher muito bonita, mas com o rosto bastante sério. Miguel já ia fazer piada quando viu o distintivo no pescoço e ficou quieto porque não sabia os riscos que poderia correr.
– Delegado Arthur Delgado?
– Sim? – respondeu Arthur.
– Sou Anabela Santos, da Corregedoria – apresentou a identificação. – Tem uma hora?
– Faz jus ao seu nome, Anabela – disse ele sorrindo. – Em que posso ajudar?
– Precisamos de falar a sós – respondeu com outro sorriso pelo elogio discreto. – O seu chefe contatou-nos...
– À, sim – interrompeu Miguel –, porque nós levamos para ele certas informações.
– Exato, eu preciso de falar com vocês a sós. Suponho que você é Miguel Zonnato.
– O próprio.
– Você dispõe de tempo para nos acompanhar até ao local do último crime, Anabela? – perguntou Arthur. – Podemos conversar no caminho.
– Excelente – respondeu ela, sorrindo e passando a andar ao lado dos dois. – Assim tenho um apanhado geral de tudo.
Quando passaram à frente dos sanitários, Anabela afastou-se, pedindo que a aguardassem uns minutos.
– Nossa senhora – sussurrou Miguel baixinho, cutucando o amigo e apontando as pernas dela. – Que gata mais linda e gostosa!
– Tremenda gata, ainda por cima de olhos verdes, que eu adoro, mas fico com a ruiva. Sou louco por ruivas.
– Eu levo as duas, porra. – Miguel riu. – Mas essa aí parece bem mais gostosa que a ruiva.
– Ela não parece mais gostosa, ela é bem mais – respondeu Arthur debochado. – Muito mais, mas e daí?
A delegada foi rápida e, quando saiu, perguntou:
– Preciso de comprar cigarros. Algum de vocês sabe onde se vende aqui perto?
– No caminho paramos – disse Arthur, estendendo o seu maço, gentil. – Fume um dos meus, se a marca não a desagradar.
– Obrigada – disse Anabela, pegando o cigarro e sorrindo mais uma vez. – É a minha marca.
– Estragou – murmurou Miguel, decepcionado.
Foram para o carro sem perder tempo e Miguel preferiu ir atrás, por causa da fumaça.
– Que tal irem contando o que sabem do caso? – pediu ela, enquanto entrava na viatura.
Durante o percurso, foram explicando tudo o que sabiam dos criminosos. Arthur achou um bom lugar para estacionar e foram os últimos cem metros a pé. Quando entraram na joelharia, deram de cara com os agentes da seguradora, um deles a Cíntia e outro um homem muito alto.
Arthur aproximou-se e disse:
– Oi, Cíntia – apontou a joelharia. – São seus segurados?
Ela virou-se para os três e enrugou a testa quando viu o marido ao lado de uma mulher loira muito bonita, demais até para o seu gosto e com o exato tipo físico que Arthur gostava. Sem cumprimentar disse:
– Sim, mais um segurado que é roubado por essa gangue e vocês não os conseguem prender – disse ela, irada. – Só aqui foram cinco milhões surrupiados. Afinal, o que vocês andam fazendo, brincando de polícia?
– Ei, calminha aí mocinha – disse Anabela, irritada porque estava habituada a ser respeitada. – Você está falando com três delegados, então tenha o devido respeito se não quer acabar presa por desacato.
– Desacato? – Cíntia mediu a mulher de alto a baixo, exalando desprezo. – Não aconteceu nenhum desacato aqui. O que eu disse foi a mais pura verdade: vocês são incompetentes...
– Chega – disse Anabela, erguendo a voz. Pegou um par de algemas e continuou. – Você está presa...
– Calminha aí, Anabela – pediu Arthur, suando frio e segurando a delegada pelo pulso. – Deixe assim, por favor. Cíntia, quer fazer o favor de se acalmar? Nem todos aqui têm a mesma paciência que eu.
O homem que estava com Cíntia aproximou-se e pegou no seu braço. Era muito alto, bem mais que Arthur que já era alto, e tinha uma voz grave. Olhou para ele, com olhos bem azuis, e disse:
– Já terminamos, Cíntia. Vamos embora e esqueça deles. Que brinquem de polícia e ladrão o quanto quiserem.
Anabela bufou furiosa, mas Arthur, mais uma vez, segurou-a. Virou-se para o par que saía e disse:
– Ei, grandalhão, espero que você saiba muito bem com quem está brincando – ameaçou de dedo em riste. – Caso não saiba, pergunte para a sua coleguinha que ela me conhece como ninguém, pelo menos tem obrigação de conhecer. Você vai ficar surpreso e desdentado... isso se sobreviver, porque, em geral, eu não deixo testemunhas.
– Seu idiota – respondeu o gigante, rindo e saindo com a Cíntia, enquanto os policiais falavam com o gerente e os funcionários. Olharam as gravações e fizeram todos os levantamentos possíveis. No carro, Anabela foi a primeira a falar:
– Você ameaçou de morte aquele imbecil, Arthur! – exclamou ela, um pouco exaltada. – Sabia que se pode incomodar muito com isso e que eu até devia deter você?
– Sei, mas não fui com a cara dele e tenho certeza que não me denunciará. De qualquer forma, eu não o mataria; só passaria no moedor de carne para ficar bem amaciado.
– Eu tomaria mais cuidado – disse ela e Miguel riu. – Quem é aquela piranha metida a besta que pensa que é nossa chefe para falar daquele jeito? Você não me devia ter impedido de a prender que ela precisava de uma lição bem aplicada. E você disse que ela o conhece muito bem. Já a prendeu e deu uns tapas na cara da anta?
– Embora ela agora pareça merecer uns bons tapas, se isso aconteceu só pode ter sido na bunda durante uma diversão bem quente – disse Miguel intrometendo-se e rindo à socapa. – É esposa dele e ficou morrendo de ciúme de você, Anabela.
– E às vezes penso mesmo em me separar de uma vez – disse Arthur, irritado e triste.
– Bah, se você é marido dela tenho até pena de si porque acho que não merece aquilo. Me perdoe pelo que disse a respeito dela, mas eu sou meio esquentada mesmo, na verdade bem mais do que meio, segundo o meu pai. – Estendeu a mão e pediu. – Me dás mais um cigarro?
– Ela nem sempre foi assim – disse Arthur, estendendo-lhe o maço. – Era meiga, doce e muito gentil. Não sei que bicho lhe mordeu nos últimos anos.
Anabela acendeu o cigarro e deu uma longa baforada. Depois disse:
– Desculpe de novo, acho que o magoei. – Mais enérgica, continuou para os dois, mudando de assunto. – A partir de hoje, serei a nova parceira de vocês e ninguém deve saber quem sou de verdade. Pretendo ver como o pessoal age dentro e fora da delegacia. O delegado Heitor vai me anunciar como vindo de Petrópolis. Para todos os efeitos, estou entrando no caso da risada como se fosse uma novata com vocês os veteranos, compreenderam?
– Sim – disse Miguel –, mas antes vamos estipular uma regrinha básica, senhorita novata: nada de cigarro dentro do carro. A gente para, toma um café e vocês fumam como sempre foi, tirando algumas exceções, senão eu caio fora.
– É justo – disse Anabela, jogando o dela no cinzeiro. – Eu não me atinei que você não fumava. Agora entendi o "estragou".
– Vai escutar bem assim na puta que o pariu – resmungou Miguel, indignado e Arthur deu uma gargalhada, acompanhado pela moça. – Já que você vai nos acompanhar, hoje vamos para o boteco curar a ressaca de ontem.
– Boa ideia, assim confraternizo com vocês – comentou a delegada. – Como é o esquema?
– Nós sentamos no bar e bebemos cerveja – disse Miguel, debochado.
– Engraçadinho.
– Em geral, nós tomamos alguma coisa, ou vamos ao clube de tiro ou treinar na academia – explicou Arthur. – Fim de semana também corro, mas Miguel é preguiçoso.
– Pelo menos não detono os meus pulmões com fumaça e nicotina – resmungou o amigo. – Às vezes somos só nós e outras com alguns colegas. Semana que vem vai ter a confraternização de fim de ano e você vai ter a oportunidade de conhecer toda a galera do departamento junta.
– Bacana. – Anabela sorriu. – Já vi que vocês têm uma turma legal e espero não encontrar corruptos.
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