Capítulo 3 - parte 1 (em revisão)
"A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo."
Blaise Pascal.
Eram mais de onze horas quando Arthur entrou em casa cansado, com sono e um pouco alto. Foi direto para debaixo do chuveiro e, depois, jantar uma coisa leve. A esposa chegou algum tempo depois, com a cara muito cansada. Gentil como sempre foi, Arthur preparou um jantar rápido para ela comer e foi-se deitar direto porque estava bastante cansado, deixando Cíntia na cozinha.
Adormeceu rápido e não soube quanto tempo dormiu quando foi acordado com a esposa encostada a ele, acariciando-o e insinuando-se. Carente como estava, reagiu no ato e entrou no clima.
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Após passar na casa do pai para pegar o filho e levar para a escola, além de explicar melhor algumas coisas que vinham acontecendo, Arthur passou no amigo de forma a irem juntos para a delegacia.
Arthur, em repetição aos últimos dias, estava em silêncio e pensativo, sendo o Miguel quem começou a falar.
– Então, o que foi agora? – perguntou, olhando para ele. – Ao contrário de mim você não aparenta ter ressaca, parece mais leve e seu rosto apresenta profunda reflexão em vez de preocupação. Seria, por acaso, uma certa dama misteriosa o motivo?
– Você também a chama de dama misteriosa? – perguntou Arthur, rindo e abrindo a janela para acender um cigarro. Aumentou o ar-condicionado e continuou. – É mesmo um mistério, aquela ruivinha, e ela mexeu muito comigo, mas não é por isso que estou pensativo.
– Posso saber o motivo? – perguntou Miguel, enrugando a testa e puxando a boca para um lado, que lhe dava um aspecto bem peculiar.
– Bem – disse Arthur, meio sem jeito. – Ontem de noite a minha mulher literalmente me comeu. Cara, foi a melhor bimbada que tive nos últimos cinco anos!
– E isso não seria para se comemorar? – perguntou Miguel, espantado. – Afinal, você disse que quase não rola sexo há uns dois anos e depois ela te mete uma trepada diabólica. É o que os casais fazem, não é?
– Há dois fatores no meio disso tudo.
– Putz, lá vai o sujeitinho tentando complicar o que é "incomplicável". – Miguel riu e sacudiu a cabeça em uma negativa. – O que foi agora?
– De certa forma, constatei uma coisa triste e, ao mesmo tempo, de alívio – respondeu, pensativo. – Nestes dois anos, ela foi matando o meu amor de tal forma que não senti aquela paixão de antes, aquelas carícias, o chamego. Foi como se tivesse suprido o corpo, apenas isso. O beijo de ontem à noite com aquela princesa ruiva foi muito mais intenso que a minha mulher. Mas a segunda coisa é que me deixou encucado.
– O que foi?
– Ela tava exausta quando terminamos e me abraçou, adormecendo quase que de imediato. Só que, enquanto adormecia, resmungou: "você nem tem ideia do quanto eu o amo. Amo mais que tudo no mundo, mas as coisas não podem ser assim."
– Caraca!
– Pois é, eu tentei acordá-la para conversar, mas não deu. Depois da transa, ela apagou e tinha lágrimas nos olhos. Cara, eu cada vez entendo menos aquela mulher.
– E de manhã?
– De manhã ela agiu como se nada tivesse acontecido. Quando perguntei, negou que tivesse feito isso e me chamou de louco.
– Cê tá ferrado, mano – disse Miguel. – Sinto muito, mas essa é a verdade. E acho que Cíntia andou perdendo uns parafusos por aí.
– Também acho – comentou Arthur com um suspiro, apagando o cigarro e fechando a janela.
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Os dois entraram na delegacia e foram para a sala de reuniões porque já estavam em cima da hora. Otávio, um dos chefes dali, entrou e foi para a frente. Tratava-se de um homem robusto talvez de um metro e setenta e cabelos negros. Possuía o olhar inteligente, com olhos profundos, mas a maior parte das pessoas achava-o antipático, embora não fosse. Naquela manhã, estava mais sério que o usual.
– Então, senhores, o saldo de ontem foi forte – começou a reunião, dizendo. – Um assalto que começou com um alarme falso e terminou com uma fuga espetacular.
– Que história é essa? – perguntou Arthur, sussurrando para o amigo. – Cê tá sabendo alguma coisa?
– Não! – Miguel sussurrou de volta.
– Delegado Delgado – disse Otávio, que gostava de brincar com o seu sobrenome. – Já sabe do incidente?
– Não, Otávio – respondeu Arthur. – Chegamos faz poucos minutos e perguntava a mim mesmo o que teria acontecido.
– Bem, uma hora depois de vocês terminarem o expediente, o alarma da joelharia Marcondes disparou de novo – explicou o delegado e Arthur voltou a cobrir a testa com a mão, abanando a cabeça. – O pessoal não quis ir porque estavam no maior sarro, dizendo que deu falso alarme de novo e que não queriam pagar mico como lhe aconteceu, mas o inspetor Jair achou que seria prudente ver e flagrou a gangue da risada saindo do local do assalto. Eles entraram no carro e fugiram em uma perseguição de deixar os filmes americanos com inveja da gente. Depois da reunião, você vê com Jair o filme da perseguição e as informações que ele e o parceiro levantaram. Por último, vai para a joelharia ver o resto.
A reunião continuou mais algum tempo, mas Arthur já não ouvia nada dela porque a sua mente fervilhava, analisando tudo. Eles fizeram a polícia de idiota com o falso alarme, calculando que na segunda ocorrência ninguém olharia. Contudo, ainda assim cometeram o crime bem calculado para o caso de alguma viatura ir lá para conferir.
Quando o delegado deu por si, já estavam todos de pé, saindo da sala e Miguel chamando por si. Jair aproximou-se dos dois com um pendrive e estendeu ao colega.
– Vamos lá olhar, doutor Arthur? – disse.
– Oh, irmãozinho, já disse que não sou doutor – afirmou o delegado levantando-se e dando um tapinha no ombro. – Apenas bacharel, um mísero bacharel. Me chame só de Arthur.
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