Capítulo 2 - parte 3 (em revisão)

Dentro do carro, Arthur cobriu o rosto com as mãos e suspirou fundo. Sem falar nada, ligou o veículo e acelerou para a delegacia. No caminho o celular dele recebeu uma mensagem e abriu para ler no semáforo, achando que poderia ser o criminoso, mas era a esposa.

– "Tudo atrasado por causa do mau tempo aqui em São Paulo. Devo chegar tarde. E Pedrinho?"

– "Ok" – respondeu. – "Pedrinho está com meus pais porque também devo chegar tarde. Não se preocupe."

Largaram a prova na mesa do Arthur e voltaram a sair, daquela vez para um bar. Durante todo esse percurso, o delegado ficou calado, pensativo, e, após quatro anos de convivência, Miguel sabia que era melhor deixá-lo em paz.

Sentaram-se ao ar livre e a primeira coisa que o delegado fez foi acender um cigarro. Expeliu a fumaça e disse:

– Esses caras pegaram meu pé e o pior é que têm razão: estão sempre um passo à nossa frente.

– Mas de onde tiram as informações?

– Sei lá. – Arthur encolheu os ombros. – Eu não falo nada sobre trabalho nas redes sociais, então não é de lá. Não discuto trabalho da polícia em casa ainda menos agora. Só pode haver algum traidor no departamento.

– Faz sentido, mas quem poderia ser?

– Nem imagino, Miguel – respondeu Arthur, irritado. – Ao contrário do que você diz, nada disso faz sentido e esses demônios parecem até que assaltam por esporte. Toda essa porra tá me estressando muito. Tô precisando de férias.

– Você não tirou férias ano passado nem retrasado. Está com quase três meses acumulados.

– Tava sem clima, lá em casa – disse Arthur. Fumou mais um pouco e continuou. – Mas, se fosse aquela ruivinha de cinema nos meus braços, eu tirava férias de um ano.

– Pensando nela, é?

– Não paro mais de pensar nela, cara – respondeu o delegado, com um suspiro profundo. – Até parece um ímã que me atrai. Ela é tão familiar! É muito estranho.

– Também, com um mulherão daqueles!

― ☼ ―

Os amigos chegaram e a turma divertia-se bastante quando uma mulher entrou no bar. No caminho para a mesa dela, deixou todos calados a olharem-na, babando. O único que não viu foi Arthur, que tinha ido ao banheiro.

Assim que ela passou, eles começaram o fala, fala até que um dos policiais não resistiu e foi passar uma cantada na moça, voltando emburrado enquanto Miguel ria.

– Aposto o que vocês quiserem que Arthur chega nela e ganha pelo menos um sorriso. Cinquenta pratas.

– Duvido – disse Janjão, rindo. – Você não viu como ela foi curta e grossa com Moisés? Arthur pode ser um bom partido e toda a mulherada baba por ele, mas aquilo é muita areia até pro caminhãozinho do nosso amigo.

– Eu aposto – insistiu Miguel colocando cinquenta Reais em cima da mesa. – E por falar no Dom Juan, olha ele aí.

– Eu topo – disse Janjão colocando outra nota. – Vai ser o dindim mais fácil do ano.

Em pouco tempo, havia duzentos Reais na mesa.

– Vocês topam o quê? – perguntou Arthur, sem entender.

– Que você vai levantar da mesa e falar com aquela ruiva de enlouquecer ali na mesa ao lado da porta, mas precisa de arrancar, no mínimo, um sorriso dela – disse Moisés, rindo. – Esqueça, maninho, você vai quebrar a cara.

Quando Arthur viu a sua dama misteriosa até suspirou. Olhou para ela e levantou-se, sorrindo.

– Isso, meus amigos, eu faço questão de fazer, mas sem as apostas. – Feliz, aproximou-se dela e fez uma curta mesura, sorrindo. – Oi, vejo que nos encontramos outra vez. E agora, posso saber o seu nome? Para você não ficar em desvantagem, me chamo Arthur.

– Imagino – disse a moça, séria –, que fizerem algum tipo de aposta a meu respeito. Pessoalmente, acho isso uma atitude desprezível.

– Concordo consigo, mas eu lhes disse que viria falar com você mesmo sem apostar pelo simples motivo que você me chama demais a atenção desde aquele dia no restaurante.

– E isso é uma cantada? – perguntou ela.

– Não. Não sou bom em cantadas e essa seria fraca demais, não acha? – Arthur sacudiu a cabeça, sorrindo. – É apenas o que senti. Você me desarma com muita facilidade.

– E o que apostaram?

– Eles apostaram, note bem o "eles", que eu arrancaria um sorriso do seu rosto. Se bem que, até séria como está agora, você é deslumbrante.

– Eu até riria, em especial desse seu último comentário, mas não sei se concordo com essa atitude. E lembre aos seus amigos que eu atiro muito bem, como já viu.

– É verdade, bela Dama Misteriosa, você atira como poucos. Enfim, tudo bem – disse ele, encolhendo os ombros. – Para mim é irrelevante, visto que não apostei nada, mas sou eu que saio perdendo por causa deles, uma vez que continuo sem saber o seu nome e também sem ver um lindo sorriso nesse rosto que é tudo de bom, só que você está certa, embora eu não tenha vindo pela aposta.

O delegado ia retornar para a mesa enquanto Miguel sacudia a cabeça, chateado, quando ela o chamou, fazendo-o virar-se de volta:

– Arthur – fez sinal com a mão para que o delegado se aproximasse mais. – Venha cá que eu não mordo, mais perto.

Arthur aproximou-se mais, tão perto que sentia o seu hálito inebriante e que tinha cheiro de hortelã, talvez por causa da bebida. Ela pegou o seu rosto com as mãos e beijou-o nos lábios de forma sensual enquanto o pobre policial arregalava os olhos. A mulher afastou-se um pouco e disse, baixinho:

– Agora você não está no prejuízo e eles ficaram a ver navios, mas não pense que vamos repetir isso porque você é casado, entendeu?

– Que pena! – respondeu ele, ofegante. – E o seu nome?

– O meu nome é outra história – finalizou ela, dando um sorriso tão angelical que seria capaz de arrancar suspiros até a um defunto. – Agora vá.

Arthur sentou-se de volta na sua mesa onde imperavam o silêncio e os olhos arregalados. Rindo, Miguel arrecadou o dinheiro, enquanto Moisés dizia:

– Caraca, Arthur. Qual é a receita desse mel todo? Você só arruma mulher bonita, cara!

– Nem me pergunte – disse ele, acendendo um cigarro com as mãos a tremer. – Eu precisava mesmo desse beijo. Foi indescritível, mas também parecia que eu já tinha feito isso. Será déjà vu?

– Deve ser porque ela lembra uma certa magrela ruiva do tempo do colégio – disse Moisés, rindo da careta do amigo.

― ☼ ―

Os delegados continuaram bebendo e se divertindo, mas Arthur sentia-se nas nuvens. Por vezes sem conta apanhou-se a observar a mulher sem nome, louco por algo mais do que um simples beijo. Ela notava e eventualmente correspondia ao olhar e sorria.

Cerca de uma hora depois, ela olhou uma mensagem no telefone e levantou-se. Ao sair, passou perto deles e parou ao lado do Arthur. Deu-lhe um papel na mão e outro pequeno beijo nos lábios.

– Até outra ocasião, Arthur – disse. Após, virou-se para os amigos e sorriu para todos. – Senhores, é muito feio fazer apostas em relação a quem leva a dama. Adeus.

Sem esperar resposta, ela deu-lhes as costas e saiu. O primeiro a se recuperar da surpresa inesperada foi Miguel, que deu uma risada.

– Viram? – comentou, ainda rindo. – Isso é prá gente não bancar o besta. Arthur ganhou a aquela gata sensacional só pra ela sacanear e tirar uma onda com a nossa cara. Ei, o que tá nesse papel, o telefone dela?

Arthur riu e leu. Quando terminou, riu mais ainda:

– Você tem o melhor beijo que eu já recebi na vida, o melhor beijo do mundo – disse, relendo em voz alta –, mas esse gosto de cigarro não combina muito bem.

– Demorou! – disse Janjão que também não gostava de cigarros. – Agora o bom delegado para de vez de fumar.

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