Capítulo 2 - parte 2 (em revisão)
Os dois bateram à porta do chefe e aguardaram que mandasse entrar. Assim que entrou, fecharam a porta e sentaram-se muito sérios.
– Bem – disse ele com um sorriso gentil. – O que foi que aconteceu?
– Chefe – começou Arthur. – Imagino que o senhor sabe que Otávio me encarregou da investigação da gangue da risada.
– Sim, fui eu que mandei entregar o caso para você, algum problema?
– Achamos que há um traidor na corporação, chefe – continuou Miguel, enquanto Arthur estendia o telefone. – Veja essa troca de mensagens de ontem.
– Mas que barbaridade – disse o delegado, soltando um assobio longo. – Devíamos mandar periciar isso, mas tenho medo que vaze.
– O que faremos, chefe?
– Primeiro, vocês vão continuar com as investigações e não abrirão o bico para ninguém. Se cobrarem alguma coisa, digam que foi uma ordem minha e que venham falar comigo – exigiu o chefe, taxativo. – Em segundo lugar, vou falar com um amigo da corregedoria que vai destacar alguns agentes para agirem na surdina.
– Obrigado, chefe – disse Arthur, aliviado. – Eu não sabia o que fazer.
– No mínimo tu tavas com medo de mim – disse ele rindo da cara de Arthur. – Tudo bem, você é humano.
– Desculpe, chefe. No início fiquei desconfiado de todo mundo, mas, como pode ver, estamos aqui.
– E bom saber que vocês confiaram em mim, obrigado – disse ele sorrindo. – Bem, parece que vai rolar um ataque hoje, então fiquem de sobreaviso. Eu acho que eles cometeram um grave erro quando se gabaram contigo, Arthur, porque agora podemos filtrar a informação, entenderam?
– Sim, chefe – disse Miguel, sorrindo. – Passamos algumas informações falsas aqui dentro, mas confesso que me incomoda enganar os colegas.
– A mim também, mas é necessário. Agora vão que pretendo fazer umas ligações. Aliás, quem nos dias de hoje ainda fala "chupar o dedo"?
– Sei lá, chefe. – Arthur encolheu os ombrosa e riu. – Até mais.
Os dois levantaram-se e saíram mais tranquilos. Na sala de reuniões não falaram grande coisa do dia anterior, mas, quando Miguel contou do assaltante que Arthur ajudou a pegar, foi uma gargalhada geral.
― ☼ ―
O dia correu tranquilo enquanto os dois policiais faziam todo o tipo de investigação, mas a ansiedade que eles sentiam por causa das mensagens do dia anterior era tão grande que parecia que o tempo não passava. Pelas quatro horas da tarde, Arthur e Miguel saíram de forma a tentarem interceptar a eventual tentativa de assalto. Mapearam os alvos mais prováveis com base no histórico dos criminosos e Arthur mobilizou alguns colegas de confiança para posições estratégicas. Depois, lembrou-se de ligar para o pai pegar o filho.
Estacionados à frente de uma praça de Copacabana, Arthur saiu para fumar enquanto o amigo ficava atento ao rádio. Encostado no capô, olhava para as ruas ao seu redor. Não muito longe, viu um cabelo ruivo e pensou logo na mulher que o atraiu tanto. Para sua tristeza não era ela, mas, se fosse, também não ia adiantar grande coisa.
Deu um tapinha no vidro para chamar a atenção do colega e disse:
– Marque com o Janjão, Moisés e o Marcão para uma gelada no boteco, mais tarde.
– Boa ideia – respondeu Miguel. – Vou mandar um zap para eles.
― ☼ ―
Após apagar o cigarro, Arthur espreguiçou-se quando o rádio berrou.
– "Todas as viaturas que estejam em Copacabana, assalto em andamento na joelharia Marcondes na Barata Ribeiro com Raimundo Correia. Na escuta."
– Seis zero oito a caminho. Estamos bem perto, na Siqueira Campos – disse Miguel, enquanto Arthur corria e voava para dentro do assento.
Assim que entraram na Barata Ribeiro, o delegado começou a esbravejar.
– Mas que merda – gritou, irritado. – Isso é hora de ter todo esse trânsito? Se eu ligar a sirene, assusto a caça!
Sem aguentar mais, saltou do carro e gritou para Miguel.
– São só três quarterões. – Segurou a pistola na mão e pôs o distintivo pendurado ao pescoço. – Vou correndo e você me encontra lá.
– Vai lá, cara – disse o amigo, passando para o banco do motorista. – Já conheço essa sua lata de longa data e sei que nada vai impedir você de levar um tiro dos bandidos.
― ☼ ―
Arthur ignorou o comentário e começou a correr pela rua com bastante vontade. Àquela hora havia um movimento razoável de cidadãos e alguns transeuntes assustaram-se porque a arma era fácil de ver, mas o distintivo não e um homem correndo de arma na mão provocou pânico em algumas pessoas, felizmente poucas. Nem dois minutos depois chegou ao hotel Bandeirantes, quase ao lado da joelharia, e começou a andar em passo normal. Passou na frente da loja sem parar e não viu nada de estranho. Parou e voltou, olhando para todos os lados.
Dentro da loja, havia dois atendentes e um cliente.
Arthur entrou de arma na mão e mostrou o distintivo.
– Polícia – disse, autoritário. – Quero todo mundo com as mãos no balcão.
Assustados eles obedeceram e o delegado verificou se estavam armados. Quando viu que não, guardou a arma na cintura.
– Muito bem – começou. – Alguém disparou o alarme contra roubos?
– Não, senhor – respondeu um deles.
– Quem mais está na loja? – Perguntou ele.
Nesse momento alguém abriu a porta e Arthur virou-se rápido, voltando a empunhar a arma, mas era apenas Miguel que parou o carro na frente e vinha entrando, também de arma nas mãos.
– O gerente! – disse o funcionário, assustado.
– Certo. – Olhou para o amigo. – Você vai conferir o gerente, Miguel?
– Ok – confirmou o colega. Fez sinal para o funcionário, sorrindo para o acalmar. – Vamos lá, meu amigo?
O policial deu a volta ao balcão, enquanto Arthur dizia:
– Vocês perdoem este incômodo, mas o alarme silencioso contra roubos disparou aqui – explicou o delegado. – O senhor pode continuar a sua compra que já vimos que está tudo bem consigo.
Miguel e o funcionário chegaram a uma porta blindada. Ele apertou uma campainha e, pouco depois, uma voz perguntou:
– Quem vem com você, Rogério?
– A polícia, senhor.
– Apresente a identificação, policial, por favor.
Miguel obedeceu, colocando a identidade de frente para a objetiva da câmera. Logo ouviram o relé que destravava a porta, mas o gerente em pessoa aguardava do outro lado.
– O senhor está sozinho? – perguntou Miguel sem lhe dar tempo para nada. – Desculpe, mas preciso de ter certeza de que não está sob coação ou refém de alguém.
– Sinta-se à vontade, policial – disse ele, saindo do caminho para o delegado entrar. – Afinal o que aconteceu?
– O alarme disparou e recebemos um chamado pelo rádio da viatura – explicou Miguel, observando tudo com cuidado. – Notei que as coisas estão em ordem, então sugiro contatar a seguradora e ver o que tem o circuito do alarme.
Na loja, Arthur tomava nota do ocorrido e registrava a hora quando o gerente e o colega chegaram. Ele levantou o rosto e sorriu para o responsável pela loja:
– Desculpe este incômodo, mas é melhor isso que o assalto de verdade. Sugiro mandar verificar os circuitos do alarme.
– Faremos isso amanhã na primeira hora, senhor – disse o gerente com um aceno. – Agora é quase hora de fechar.
– Muito bem – disse Arthur, despedindo-se. – Mais uma vez desculpe este incômodo todo.
Já iam saindo quando um motoboy entrou com um pequeno pacote nas mãos. Ele disse:
– Alguém aqui é o... – olhou para o papel, procurando o nome e continuou –, delegado Arthur Delgado?
– Eu – disse Arthur, espantado e virando-se para ele. – Quem mandou você?
– Ontem um homem me contratou para entregar este pacote para o senhor aqui e nesta hora – respondeu o rapaz. – Na verdade um pouco mais cedo, só que eu atrasei por causa da entrega anterior. Eu até estranhei, mas pelo jeito o cara sabia mesmo que o senhor estaria aqui.
– Como é esse homem? – perguntou Miguel, ansioso.
– Ele falou comigo por telefone usando número privado e mandou por intermédio de outra pessoa. Tudo o que posso dizer é que pagou super bem.
– Como era essa pessoa?
– Como qualquer mendigo que tem nas ruas, sei lá – disse, encolhendo os ombros. Estendeu o pacote e continuou. – Olhe, delegado, o meu trabalho foi feito. Me desculpe se não posso ajudar o senhor, mas preciso de continuar as minhas entregas.
– Tá bom – respondeu Arthur, pegando o pacote. – Obrigado.
– Você não acha melhor chamarmos o esquadrão de bombas, Arthur? – perguntou Miguel, preocupado. – E se isso tiver uma...
– Não precisa – disse Arthur, irritado. – Ainda não descobriu o que tem aqui dentro?
Abriu o pacote e o saco começou a fazer as risadas que tanto o irritavam.
– Mais uma vez, fizeram-nos de palhaços – concluiu.
― ☼ ―
Zap é um diminuitivo de Whatsapp, um aplicativo gratuito de mensagens instantâneas.
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