Capítulo 2 - parte 1 (em revisão)

"A base da sociedade é a justiça; o julgamento constitui a ordem da sociedade: ora o julgamento é a aplicação da justiça."

Aristóteles.

Arthur chegou a casa e espantou-se um pouco quando encontrou o carro da esposa bem estacionado. Como não podia deixar de ser, isso deixou-o desconfiado de alguma coisa. Ele entrou e estava tudo normal, como sempre, embora com ela calada e sem agressões.

Mais tarde, Cíntia disse, confirmando as suas suspeitas:

– Artur, amanhã você poderia levar e pegar o Pedrinho na escola? – pediu ela. – Eu vou cedo para São Paulo e o avião do retorno pode atrasar porque será mais tarde que o usual.

– Claro que posso – respondeu Arthur. – Problemas?

– Sim – disse a esposa. – Uma empresa grande solicitou um sinistro violento e nós vamos auditar para ver se não há fraudes.

– Tudo bem, pode contar comigo. Se houver algum impedimento eu peço para o meu pai pegar o garoto e também aviso você.

– Obrigada – disse Cíntia, que chegou a dar um sorriso.

– Escuta – pediu Arthur, tentando uma reaproximação, uma vez que ela parecia receptiva. – Por que motivo você ficou assim?

– Assim como? – perguntou Cíntia, já entrando em guarda.

– Há dois anos que você me trata tão mal que...

– Não tô a fim de discutir nada disso – cortou, grosseira. – Tem jantar pronto no micro-ondas. Eu vou dormir que saio cinco e meia.

Frustrado e pensando na sua dama misteriosa, Arthur foi para a cozinha. Que nome ela teria? Imaginou-a ali com ele, agarrando-a enquanto o jantar deles esquentava. Sentiu um calor na virilha e voltou para a realidade.

― ☼ ―

Arthur jantou e, ainda sem sono, sentou-se com o celular na mão, acessando o aplicativo da rede social para se distrair. Divertia-se com os comentários que apareciam, em especial as palhaçadas dos amigos, quando uma tela de comunicação privada surgiu e ele viu um saco de risadas... rindo!

Empertigado, saltou da cadeira e coçou a cabeça. Embaixo, apareceu uma mensagem escrita.

– "Sempre estaremos um passo à sua frente. Sua e de toda a polícia. Amanhã, prepare-se porque faremos um grande assalto e, como sempre, vocês ficarão chupando o dedo."

Empertigado, Arthur leu aquilo uma dúzia de vezes e sua cabeça passou a ser um turbilhão.

Primeiro, como a gangue podia saber que ele era policial se não constava na sua rede social! Segundo, como eles sabiam que Arthur era encarregado do caso da gangue da risada. Após pensar um pouco, optou por se fazer de desentendido e respondeu:

– "Acredito que vocês estão me confundindo com alguém. E, se são assaltantes, por favor, me esqueçam."

A resposta foi imediata:

– "Não se faça de idiota, delegado, que você é demasiado inteligente para isso! Mas não se preocupe: nem você nem sua família são alvos nossos. Nós não somos o tipo de criminoso que odeia a polícia e sai matando os policiais se encontramos um. Sabemos muito bem quem está errado nessa história."

Arthur respondeu:

– "Então espero que entendam que o nosso serviço exige que tentemos pegar e impedir vocês a todo o custo, mesmo se for necessário o uso da violência."

Mais uma vez o estranho manifestou-se de imediato:

– "Sim, sabemos e entendemos, mas não se iluda a nosso respeito porque sabemos o que fazemos e sabemos nos defender muito bem. Até qualquer dia destes, delegado."

Apesar de tudo, Arthur ficou demasiado preocupado a ponto de acordar a esposa e mostrar as mensagens. Ela olhou para ele e perguntou:

– Você acha que há risco para nós, Arthur – sacudiu a cabeça, pensativa. – Este mês eu vou precisar de fazer várias viagens para São Paulo e Minas. Como vai ser com Pedrinho?

– Não se preocupe que vou falar com meus pais para cuidarem dele. Afinal, o foco devo ser sempre eu, mas acho melhor ele ficar com meus pais se você viajar – respondeu. – Desculpe acordá-la, mas achei importante você saber. Também estou pensando em levar você para o aeroporto.

– Não se preocupe quanto a isso – disse ela. – Meu chefe e mais uma colega vão me pegar aqui na frente e o carro dele é blindado.

– Nesse caso fico mais tranquilo. Bem, volte a dormir e boa viagem.

― ☼ ―

Arthur foi tomar um banho para relaxar, mas a sua cabeça não parava de pensar no ocorrido, tentando entender tudo e concluindo que de alguma forma teria de haver um traidor no departamento. Foi ao quarto do filho dar-lhe um beijo e deitou-se.

Na cama, virou-se e revirou-se várias vezes e custou muito a dormir. Quando acordou de manhã, a esposa já havia saído e Arthur ficou alguns minutos saboreando o sonho maravilhoso que teve com a sua dama misteriosa até que a lembrança da noite anterior voltou a ficar forte.

Saltou da cama, fez a higiene e desceu para a cozinha, colocando café para fazer na máquina. Retornou para cima e acordou o filho, que sorriu e o abraçou com força.

– Oi, papai – quase berrou, feliz. – Você demorou pra chegar e dormi, mas mamãe disse que hoje você que me levava e buscava na escola.

– Oi, Pedrinho – o pai sorriu. – Vou levá-lo sim, mas dependendo da hora você vai ficar com o vovô e a vovó na volta da escola porque mamãe está viajando.

– Ela vai embora, papai? – perguntou o menino, sério. – Vai deixar a gente?

– Não, meu amor – respondeu Arthur, preocupado com o filho e lembrando o que Miguel disse. – Sua mãe está trabalhando.

– Mas ela anda tão ruim com você, papai – disse o pequeno, abraçando Arthur que teve vontade de bater na mulher. – Eu não gosto quando mamãe faz isso. Se ela ir embora, eu fico com o senhor, papai.

– Não é ir embora, é for embora, amor – corrigiu o pai. – Ela não vai embora, ok? Vai viajar algumas vezes, só isso. Eu prometo.

O delegado terminou de vestir o filho e pegar as coisas da escola e preparou o café da manhã para os dois. Olhou a hora e lembrou-se que esqueceu de informar o colega que ia sair mais tarde. Mandou uma mensagem rápida porque tinha combinado de o pegar na casa dele e pôs o filho no carro, deixando-o na escola e avisando que talvez o avô ou avó fossem pegá-lo.

Após, rumou para a casa do Miguel, que era a meio do caminho.

― ☼ ―

Os dois iam em silêncio para a delegacia até que Miguel começou dizendo:

– Muito bem, qual é a treta?

– Hein? – perguntou Arthur, sem entender.

– Meu caro, você está calado faz quase meia hora, seu porongo tá até largando fumaça de tanto que pensa e vejo rugas de preocupação, logo, trate de compartilhar os seus problemas para não ter uma úlcera antes dos quarenta.

– À, tá – disse Arthur. Olhou para o amigo e sorriu. – Pois é, estou mesmo preocupado. E se eu lhe disser que tem que haver um traidor na nossa delegacia?

– Eu vou responder que você andou bebendo. Arthur.

Aproveitando o sinal, o delegado pegou no telefone, abriu na conversa da noite anterior e mostrou.

Puta que pariu! – exclamou o colega. – Isso agora faz sentido. Desculpe pelo que disse antes. Mas quem diabo usa "chupar o dedo" nos dias de hoje?

– Sei lá, por quê? – perguntou o delegado. – Não se fala mais isso?

– Eu, pelo menos, não me lembro de ter ouvido falar isso nos últimos tempos.

– Bem, o que acha que devemos fazer? – perguntou Arthur.

– Falar com o chefe em primeiro lugar.

– E se for ele o traidor? – perguntou Arthur. – Apesar que não acredito que seja.

– Também acho que não é e precisamos de respaldo.

― ☼ ―

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