Capitulo 16 - parte 2 (em revisão)

No sexto dia após quase morrer, Arthur avisou o chefe que iria trabalhar no dia seguinte e, fiel à sua decisão, foi para a delegacia como definido, por mais que o Heitor insistisse que ele descansasse e melhorasse por alguns dias a extras. Combinado com a noiva, ela foi antes para continuarem a simulação de briga, embora o chefe tivesse vazado de propósito que ela, Janjão e Moisés foram escalados para serem a proteção diuturna do Arthur durante a internação hospitalar e a convalescença. Assim, estaria justificada a ausência deles nesse período.

Ele foi recebido de pé, com aplausos de todos e, no canto do salão junto à entrada, aguardavam-no o chefe, o subchefe e ninguém menos que o chefe de toda a polícia, sorridentes.

Para total surpresa, Arthur foi homenageado e condecorado ali mesmo em uma cerimônia discreta, mas isso apenas contribuiu para aumentar a sua tristeza. Quando lhe pediram que dissesse umas palavras, ele foi rápido e direto:

– Estive fora por motivos de força maior, como devem saber até porque as notícias aqui voam e retornei hoje, recebendo esta pequena homenagem que, infelizmente, apenas me entristece muito por um motivo que a maior parte de vocês não sabe. Bem, acredito que todos saibam que peguei, depois de dois árduos anos, a gangue da risada e que isso quase me custou a vida, mas o que não sabem é que eu acabei matando alguém que foi demasiado importante para mim no passado e isso dói muito porque ela era uma vítima de chantagem e não uma criminosa. Hoje, recebo uma homenagem por ter morto uma pessoa que eu amava demais e não me acho digno disso, mas, em memória a ela, declaro que vou pegar o verdadeiro criminoso e juro que ele não vai querer ter nascido quando isso acontecer, porque é um policial. E você que está aqui nesta sala assistindo, prepare-se para passar muitos anos na cana quando o encontrar.

Tanto Anabela quanto Arthur ficaram de olho nos presentes, mas nenhum dos colegas mostrou algo que não fosse espanto e indignação por haver um traidor entre eles. Quando os ânimos se acalmaram e voltaram ao trabalho, Arthur sentou-se na mesa dele com Anabela que precisou de fazer um grande esforço para manter a aparência de separada e brava.

Por mais de uma vez a delegada flagrou-se bem perto dele com a mão pousada na sua perna e teve sorte porque era difícil ver nesse ângulo. Quando se dava conta, retirava-a devagar e, às vezes, dava um sorriso sutil. Pegaram a pasta do caso e viram os últimos itens acrescentados.

Além das imagens da região do assalto, havia as fotografias que a perícia tirou de tudo, inclusive no gramado em frente à empresa. Arthur agradeceu a Deus não haver câmeras de vídeo na rua para não saberem antes da hora quem dirigia o carro. Não se abalou quando viu os mortos, tanto encapuzados quanto depois, já no necrotério, até que se deparou com o último cadáver e viu o rosto sem vida da Diana. Seus olhos, vítreos, estavam abertos e mais verdes do que nunca, parecendo e olhavam para Artur e lhe mandavam uma mensagem sutil.

Sentindo que a vista estava fora de foco e a garganta apertada, ele baixou a cabeça e lágrimas que não conseguia controlar correram da sua face. Ignorando a necessidade de manter as aparências, Anabela segurou seu ombro e puxou-o um pouco para si, enquanto ele secava os olhos com as costas das mãos.

– Não consigo me perdoar por tê-la morto, Belinha – disse ele com um tremor na voz, respirando fundo. – Eu sei que foi em legítima defesa, ao contrário dos outros, mas cada vez que me lembro dela agonizando na minha frente e pedindo perdão por ter atirado em mim eu sinto um pouco de vontade de morrer. Acho que se não fosse ter você ao meu lado eu estaria arrumado com policial.

– Talvez o ideal seja você fazer alguma sessão terapêutica, meu amor – disse a noiva. – Afinal esse choque é perfeitamente compreensível.

– É sim, mas primeiro vou cumprir a minha promessa que é o último desejo da Maria. Disse, calando-se por alguns segundos. Lembrou-se de algo importante e voltou a falar. – Vamos tomar um café que preciso de ar.

Ela levantou-se e os dois foram em silêncio para o bar, caminhando devagar para ele não sentir dores. Arthur acendeu um cigarro e pediu dois cafés.

– Amor – perguntou, compenetrado – foi você que me encontrou caído ao lado dela, não foi?

– Sim – respondeu, sentindo um arrepio. – Nem me lembre isso que quase infartei.

– O que fez? – quis saber o noivo.

– Peguei você e abracei, chorando muito. Logo depois veio Cíntia e colocamos você no carro.

– Eu não tinha nada na mão?

– Acho que, quando puxei você, alguma coisa branca caiu no chão, mas eu estava em choque e só queria saber de salvar você, amor. Então nem olhei direito, por quê?

– Não havia nada no chão de acordo com as fotos e não figura na lista das provas recolhidas, mas Maria me deu o seu telefone porque poderia ajudar a pegá-lo. Eu falei alguma coisa?

– Você falou sim, mas Cíntia é que o estava pegando pelos ombros. Eu pegava as pernas e não entendi quase nada. A única coisa que ouvi direito foi "meu primeiro beijo".

– As senhas dela são todas assim, segundo me contou. Então eu falei e Cíntia ouviu. Mas ela não sabe o dia que eu e Maria nos beijamos pela primeira vez, felizmente, só que vai descobrir.

– Você sabe? – perguntou Anabela, franzindo a testa.

– Caraca! Você esqueceu o seu primeiro beijo? – Arthur riu da cara dela, sacudindo a cabeça. – Isso nunca se esquece, amor. Aquela sensação que o coração vai sair do nosso peito e a gente tremendo de nervoso. É claro que lembro e ela também lembrava, tanto que usava essa senha. Você não se lembra?

– Bah, Arthurzinho, do beijo eu lembro, mas o dia não – disse Anabela, emburrada. – Vai ver você é mais romântico que eu, mas do nosso beijo, eu lembro sim e também foi forte que nem o primeiro. Então você acha que ela tem o telefone da Diana e pode achar o chefe com ele, mas como ela vai descobrir a senha?

– Se ela concluir que as palavras "meu primeiro beijo" são a data do meu primeiro beijo, ela vai achar. Pode demorar bastante, mas vai.

– Como, meu amor?

– Eu escrevia um diário desde os dez anos e temos um quarto em casa onde está tudo guardado. Deve ter uns trinta cadernos de diários em uma caixa no fundo do quarto, mas tem a data porque eu sempre começava escrevendo o local e a data. É mais que óbvio que a primeira coisa que escrevi após isso, foi sobre o meu beijo. Precisamos de encontrá-la e pegar esse telefone para desmascarar o sujeito.

– Claro que não, meu amor – disse Anabela. – Esqueceu que Diana lhe deu o outro telefone dela para você não lhe ligar?

– Caraca, será que era esse o objetivo dela desde o início e eu não dei bola porque estava preocupado era com você? – perguntou-se Arthur. – Além do mais eu não gosto de invadir a privacidade dos outros. Depois ainda teve o assaltante que matei e que sabia que eu estava com dois telefones.

– Tentei olhar o telefone, mas não consegui e desisti – confessou Anabela. – É que estava um pouco... muito enciumada.

– Mesmo depois de termos conversado no dia anterior!? – brincou Arthur. – Que feio, amor. Vamos voltar que estou louco para abraçar você e não posso.

Atravessaram a rua e rumaram para a sala deles. Anabela foi direto para a gaveta pegar o celular, mas não o encontrou.

Merda – praguejou ela, falando alto. – Alguém pegou.

– Está no apartamento – disse Arthur. – Eu fiquei com medo que sumisse. Depois do almoço vamos embora e olhamos.

– Boa ideia – disse Anabela. Baixinho, continuou. – Tô louca para ficar sozinha com você e quero provar o meu perfume que ainda não experimentei.

– Que desculpa vamos inventar? – perguntou Arthur. – Se sairmos ambos e juntos, depois do almoço, acho que levantaremos suspeitas, amor.

– Eu desmaio de novo, ora – respondeu encolhendo os ombros e sorrindo. – Afinal, já me acostumei a pagar mico...

Anabela ficou séria, olhando para a frente. Curioso, Arthur ergueu o rosto e deparou-se com Miguel parado a cerca de pouco mais de um metro deles. A primeira preocupação do delegado foi certificar-se se o colega poderia ter ouvido, mas Anabela falou baixo demais.

– Sei que não me comportei condignamente – disse ele –, mas queria dizer que sinto muito pela sua perda, Arthur. Também estou arrependido de ter feito o que fiz com você, Anabela, mas não tive tempo de me desculpar, naquele dia.

– Tudo bem, Miguel – disse Arthur, desarmado. – Afinal, também não fui lá muito delicado. Deixe pra lá.

– Arthur pode perdoar você, Miguel, mas, se você tocar em mim outra vez, eu vou matá-lo, pode ter certeza – ameaçou Anabela, ainda zangada. – Afinal, o que teria feito se estivéssemos sozinhos e eu tivesse desmaiado mais tempo? Me estuprado? Lembre-se que não preciso de uma arma para matar um homem.

– Você tem razão, Anabela. – Miguel baixou os olhos. – Eu entendo e espero que um dia possa me redimir.

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