Capítulo 15 - parte 4 (em revisão)
Anabela segurava a mão do noivo que permanecia inanimado pelo terceiro dia. Sem transição, sentiu que ele deu um apertão rápido, como se tivesse tomado um susto. Sofreu mais três pequenos espasmos e, do nada, Arthur abriu os olhos.
Ergueu-se e olhou para ele, preocupada se estaria ou não em choque pelos acontecimentos recentes, mas os olhos seguiram o seu rosto. Devagar, Arthur sorriu e disse, muito fraco:
– Amo você, gaúchinha!
– Você voltou, amor, você voltou – disse Anabela, debulhando-se em lágrimas e abraçando Arthur. – Como eu o amo!
– Venha aqui um pouquinho para o meu lado que preciso de sentir você, preciso de saber se estou mesmo vivo – pediu Arthur virando o rosto para a noiva e encarando Anabela nos olhos enquanto batia na cama com a mão.
A delegada obedeceu e sentou-se, devagar. Inclinou-se sobre ele e beijou-o com doçura, abraçando Arthur em seguida e ficando parada, quieta. Ao fim de uns segundos ergueu-se e voltou a beijá-lo.
– Quanto tempo passou? – perguntou o delegado, tentando erguer-se e fazendo uma careta de dor. – Ai... pelo jeito não foi muito, já que tá doendo pra caramba!
– Calma – disse Anabela, ajudando a ajeitá-lo e fazendo a cama subir. – Você está aqui faz três dias e quase me matou de desespero.
O sorriso de Arthur desapareceu e, para piorar tudo, ficou com a cara muito aflita.
– Eu a matei, meu amor – disse, abatido. – Eu matei uma das pessoas que foram mais importantes na minha vida e, para piorar tudo, outra delas tornou-se uma criminosa. O que vou dizer ao meu filho, Belinha, como vou explicar para ele o que a mãe dele fez?
– Acalme-se, Arthur. Quanto à Diana, eles atiraram em você e usavam máscaras. Não havia como saber e você não teve culpa disso. Bem sei que ela significou muito, mas estava cometendo um crime...
– Ela era uma vítima tanto quanto eu fui – disse Arthur, interrompendo. – O criminoso era o enteado e o maldito sócio dele, um policial corrupto, o que falta para ser apanhado e que nós não conseguimos nunca. Ela era forçada a fazer aquilo por chantagem, mas não sei como Cíntia conseguiu me enganar.
Anabela suspirou bem fundo, antes de falar. Ela tinha medo que ele mudasse ao saber a verdade, mas era necessário enfrentar isso. Tomou coragem e disse:
– Cíntia salvou a sua vida, Arthur, e também tentou salvar Diana porque ainda estava viva quando a colocamos no carro, mas ela morreu no caminho para cá. Cíntia é inocente e apenas não soube como contar para você que também era chantageada. Ela já me tinha dito a respeito da Diana e foi tão vítima quanto todos nós. Não contei para ninguém sobre isso, mas ela prometeu entregar-se a mim quando pegasse o chefe.
– Mas como foi que ela fez o último assalto se eu estava na casa dela sob efeito das drogas que me puseram no café?
– Só de pensar nisso, tenho vontade de furar você do outro lado, viu? – disse Anabela fingindo de brava. – Ela disse que você ficou agarrando ela, pensando que era eu. Como precisava ir ou as consequências seriam terríveis, acabou cedendo para que você ficasse cansado e apagasse. A safada se aproveitou.
– Pense no lado positivo, amor. Para mim devia ser você, já que eu não lembro nada mesmo. Tudo o que eu lembro é de acordar de madrugada muito enjoado, chamar você e dizer que não me sentia bem. Daí ela explicou e me deu um remédio para o estômago e voltei a dormir. Antes disso não lembro nada.
– É melhor que não lembre, viu? – comentou ela, zangada. Voltou a sorrir e beijou-o. – Amo você.
– O que vamos fazer quanto a ela? – Perguntou ele, suspirando preocupado. – O que será que usaram para a chantagear? Não consigo imaginar o que possa ter sido ou talvez até faça uma ideia, mas não seria motivo suficiente para esse sufoco todo, a meu ver.
– Não sei o que fazer, meu amor – respondeu Anabela. – Agora, a decisão é sua. Quanto à chantagem, quando falar com ela, você pergunta. Vou me sentir mal se for eu a falar porque é muito pessoal e deve ter sido bem doloroso enfrentar aquilo.
– Tudo bem – disse Arthur, voltando a respirar fundo. – Você nem sabe como é bom estar aqui pertinho de si, segurando suas mãos.
– E você não imagina a angústia que me deu vê-lo sangrando e depois dentro daquele carro que voava para o hospital, mas até parecia parado. Eu estava simplesmente apavorada que morresse no meu colo.
– Logo, logo, gaúchinha, estaremos correndo e treinando um pouco na praça que fica perto do nosso novo apê, na Barra.
– Acho, meu amor, que vai precisar esperar um pouco.
– Claro – disse ele, sorrindo –, mas depois que o bebê nascer, você volta a ficar em forma.
– Estou falando da sua recuper... – arregalou os olhos. – Mas que papo é esse de bebê que você está falando?
– Não me enrole que descobri no clube de tiro, amor quando desmaiou atrás de mim. Sintomas clássicos e lembrei que nenhum de nós se preocupou em qualquer prevenção. Considerando que eramos dois taradinhos durante mais de um mês... – encolheu o ombro e riu. – Eu apenas respeitei a sua vontade e queria ver quando ia decidir me contar.
– Quando isso acabasse e você decidisse ficar comigo porque me ama e não pelo nosso bebê.
– Eu disse que a amava porque é isso que sinto, meu amor, acho que já deve saber. – Arthur pegou sua mão e apertou gentil. Puxou-a para os lábios e beijou. – Aquela sua desculpa para eu não fumar que um dos remédios fazia você vomitar com certos cheiros foi tão hilária que quase me entreguei ali...
A porta abriu e Janjão entrou. Assim viu Arthur acordado e os dois de mãos dadas, sorriu abertamente e disse:
– Então basta eu ir almoçar e você decide se aproveitar da minha amiga – aproximou-se mais. – E você parou de vez com as bobagens de maltratar meu amigo, né, Belinha?
– A sua amiga é a minha noiva, Janjão – respondeu Arthur, sorrindo e estendendo a mão em um positivo. – E aí, como vão as coisas?
– Não sei, cara. A gente não sai daqui desde a noite que você internou! – respondeu, encolhendo os ombros. – Mas vou ligar para seu pai, o chefe, avisar a galera...
– Não – disse Anabela, quase berrando. – Só o meu pai e o pai dele. Há um traidor lá dentro que quer matar Arthur. Por isso eu tinha feito aquele teatrinho todo, Janjão, porque fui ameaçada.
– Agora entendo muitas coisas – disse ele, bonachão. – Bem, deixa só pôr a minha mão no filho de uma égua que ele vai ver o que é bom. Vou fazer que nem Arthur fez com Miguel.
– Isso ia ser engraçado de ver – disse Moisés que entrou sem que vissem. – Finalmente de volta para o mundo dos vivos. Como está, Arthur, e como se sente tendo sobrevivido a um tiro de ponto cinquenta? Com ou sem a porta no caminho, isso foi um milagre, irmãozinho.
– Um lado meu quer morrer, Moisa, mas o outro está feliz de ver vocês e ter Belinha de novo nas minhas mãos.
– Cara, você não teve culpa...
– Vamos esquecer essa ladainha de culpa e inocência, por favor, mano – disse Arthur. – Ela não mereceu e foi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não há como eu não me sentir arrasado, especialmente porque fui eu que a matei.
– O chefe está vindo – disse Janjão, desligando o telefone. – E seu pai está apenas aguardando a proteção que o Estado-Maior das Forças Armadas prometeu enviar para a sua casa ainda hoje. Assim que chegarem, ele vem para cá.
Alguém abriu a porta e a roupa não era de médico ou enfermeiro. Num ato reflexo, os três sacaram as pistolas ao mesmo tempo, apontando para o pobre coitado do advogado que tinha retornado. Assim que viram o rosto e o reconheceram, guardaram as armas e ele disse:
– De... de... desculpe, mas o senhor Delgado não me retornou e a minha obrigação é falar com ele.
– Ele acabou de recuperar a consciência, doutor – disse Anabela, feliz, apontando Arthur. – Ei-lo.
– Senhor Delgado, sou o representante legal da senhora Maria Diana Palhares e vim para lhe falar que tenho em meu poder o testamento dela onde o senhor consta como o único beneficiário. Contudo, ela me ligou recentemente para fazer uma alteração e disponibilizar uma quantia de quarenta milhões de Reais para um certo senhor "Moisa" como uma compensação pelas surras que ela lhe deu e pelo amor não correspondido. Ela pediu desculpas, mas seus olhos só ficavam verdes para uma pessoa e espera que o senhor "Moisa" a perdoe. Também disse que o senhor Delgado saberia me informar quem é o senhor "Moisa". Infelizmente, ela não assinou o documento, vindo a óbito antes disso, logo o critério agora é seu.
– O senhor "Moisa" – disse Arthur, rindo –, é esse maluquinho do seu lado que acabou de entrar em choque.
– Surras, é? – disse Janjão, caindo na gargalhada. – Você apanhava d a tal magrela?
– Claro, o veado do Arthur ensinava ela a lutar Kung-fu, porra. Mas nem se atreva a tirar sarro porque ainda lembro de você ter caído no chão com um só chute de uma certa gaúchinha e só não apagou porque o alvo não era você. Se tivesse levado o segundo, já era.
– Parem, pelo amor de Deus – disse Arthur, rindo. – Quando eu dou risada dói muito. Chega, Moisés.
– Então, delegado Arthur Delgado, como o senhor decide?
– Decido que a vontade da Maria deve ser respeitada. Se era isso que ela desejava, nada mais justo que seja feito, senhor. Eu faço questão disso.
– Obrigado – disse o advogado, inclinando-se num cumprimento cordial. – Podemos marcar para oficiar tudo em trinta dias?
– Combinado, doutor.
– Nesse caso, delegado Moisés, poderia ter o obséquio de me passar seus dados pessoais identidade e CPF?
Na posse das informações, o advogado saiu e Moisés olhou para o amigo.
– Bicho, isso é sério? – perguntou.
– Você ouviu, senhor "Moisa" – disse Arthur, rindo. – Agora você ficou milionário. A Mariazinha tinha mesmo senso de humor, não acha?
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