Capítulo 15 - parte 3 (em revisão)
Arthur continuava inconsciente e a angústia da Anabela crescia a olhos vistos porque já era o segundo dia de espera. Ela estava sentada ao lado da cama, segurando a mão dele e, no sofá, os dois amigos aguardavam, incansáveis.
A porta foi aberta e um homem entrou devagar, olhando um papel que tinha nas mãos. Ergueu o rosto para se deparar com os canos de três pistolas apontando diretamente para a sua cabeça. Apavorado, arregalou os olhos e deixou cair o papel. Com os joelhos tremendo sem parar, ergueu as mãos, devagar.
– Polícia – disse Anabela. – Quem é você?
– S... sou... advogado – respondeu. Os policiais viram que era inofensivo e baixaram as armas.
– O que deseja? – perguntou Janjão, cujo vozeirão assustou ainda mais o pobre homem, que se encolheu. – Calma, homem, não se preocupe que apenas tínhamos medo que fosse um atentado.
– Na delegacia me disseram que encontraria o delegado Arthur Delgado neste hospital e neste quarto – disse, visivelmente mais calmo. – Quem de vocês é o senhor Delgado.
– Ele. – Sem tirar os olhos do pretenso advogado, Anabela apontou a cama com o dedo. – O que deseja?
– Sou... era representante da senhora Palhares e estou aqui por causa do seu falecimento porque tenho que oficiar o testamento. O delegado figura como único herdeiro.
– Bem – disse Moisés –, como pode notar, nosso colega e amigo foi gravemente ferido. Já está fora de perigo, mas ainda não recuperou a consciência.
– Sim, sim, bem vejo – disse, estendendo um cartão. – Por favor, podem pedir que ele marque uma entrevista comigo assim que estiver em condições?
– Faremos isso, obrigada – disse Anabela pegando o cartão e colocando junto com a identificação e o distintivo. – Se não se importa, há um alto risco de assassinos quererem pegá-lo, logo preferimos que o senhor se mantenha longe por alguns dias até que a situação retorne ao normal.
― ☼ ―
Anabela fechou a porta do quarto e olhou para os amigos, triste e preocupada. Uma vertigem súbita tomou conta dela e o quarto começou a girar.
Moisés viu que a colega ia desmaiar e atirou-se a ela para agarrá-la, pegando-a antes que batesse no chão. Janjão aproximou-se e ajudou a deitar a moça no sofá. Nem trinta segundos depois voltou a si. Ergueu a mão para a cabeça:
– Faz quanto tempo você não come, garota – perguntou Moisés, preocupado e um pouco ríspido. – Quando foi que saiu daqui?
– Não muito – desconversou ela, sabendo que ia ouvir. – Ainda não saí daqui.
– Escute, Anabela – Moisés falou, zangado. – Você está grávida e precisa de se alimentar direito, que droga. Quer comprometer a formação do bebê?
– Jura? – Janjão arregalou os olhos. – Vai ser mamãe, Belinha?
– Linguarudo – disse Anabela, zangada com Moisés. – Sim, vou ser mãe.
– Sinto muito, Belinha, mas foi por causa da minha preocupação pelo seu bem-estar – desculpou-se Moisés. – Janjão, leve essa maluca para a lanchonete e force ela a comer alguma coisa nem que você precise de enfiar com um funil. Eu ficarei aqui de vigília e prometo que aviso se ele voltar a si.
― ☼ ―
Anabela tinha que admitir que a fraqueza diminuiu com o alimento, mas, em compensação, sentiu um sono infernal. Voltou para o quarto quase carregada pelo gigante que provou ser tão amigo dela quanto era do noivo. Quando abriu a porta e entrou, viu que o sofá estava transformado em uma simples mas agradável cama e obrigaram-na a deitar-se. Ela reclamou muito, mas acabou cedendo aos argumentos do Janjão que, usando o método atávico como era seu hábito, pegou-a ao colo e deitou à força.
– E vocês? – perguntou, preocupada. – Não podem ficar de pé todo o tempo!
– Tem uma cadeira ali, mocinha – disse Moisés, sério. – Janjão vai tirar uma folga e eu fico de plantão cuidando de vocês dois. Daqui a umas horas ele troca comigo, certo Janjão?
– É isso mesmo, parceiro. – Abaixou-se e beijou Anabela na testa. – O que acha que Arthur faria com a gente se deixássemos você à míngua?
– Arthur e meu pai, então, cuidado em dobro – disse ela, sorrindo. – Obrigada, vocês são os melhores amigos do mundo, mas ai de vocês se não me acordarem quando ele voltar a si. Vão desejar não ter nascido.
– O que disse para o general, Belinha?
– General? – perguntou ela. – Que general?
– O pai do Arthur – explicou Moisés, rindo. – Quando a gente era criança chamava ele de general e colou. Bem, agora é mesmo general, apesar de reformado. Você disse algo para ele e ele abraçou você cheio de felicidade. Falou do bebê?
– Não – respondeu a delegada. – Disse para ele que a gente ia casar e que a briga agora era uma farsa.
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Imagens retornaram de supetão para a sua memória, que voltou a formar uma lembrança coerente:
Heitor chegou e o casal abriu a porta. Quando viu ambos abraçados, sorriu, contente.
– Será que estou vendo coisas ou você parou com bobagens, filha?
– Pai, senta aí e escuta bem direitinho o que vou te contar – pediu Anabela, muito séria.
– Vou fazer café enquanto você explica o que tá acontecendo, amor – disse Arthur, afastando-se.
Anabela falou das ameaças todas que passou a receber e porque passou a hostilizar o namorado. Quando quase terminava, Arthur chegou com o café e serviu os três. Anabela, disse:
– Agora você explica a sua ideia para o plano B, amor, já que ainda não me contou.
– Chefe – começou Arthur. – Já que os criminosos tiveram tanto trabalho para me sacanear, vou participar do jogo deles. Amanhã e nos próximos dias, vou começar a ficar terrivelmente ciumento em relação à Belinha até que darei um jeito de arrumar confusão.
– E para quê isso?
– Para eles pensarem que estou ficando louco, que o plano deles deu certo – explicou o policial, encolhendo os ombros. – O senhor, nessa hora, vai me suspender ou simular a demissão e eu bancarei o rebelde. Eles andam tão confiantes que, com certeza, vão cometer um erro ou até mesmo se aproximar de mim para me aliciarem.
– Confesso que a ideia não é nada má, Arthur, mas suponho que você sabe que isso é um risco absurdo.
– É sim, chefe, mas precisamos de pôr um fim a isso. Por enquanto o alvo sou eu, mas nada os impedirá de atacarem a Belinha ou outra pessoa que eu ame.
– Tem razão – disse Heitor...
Sua memória voltou a se perder no acaso até que surgiram sons diferentes. Estava fresco e era escuro. Ele berrava, enérgico, e depois vieram os tiros e a dor atroz. A seguir, tornou-se silêncio total, privação, até que veio a luz. Ele via um rosto doce que o olhava com preocupação e muito amor. Devagar sua mente começou a ficar lúcida e reconheceu a pessoa. Seus olhos brilharam e o rosto abriu-se em um sorriso tênue. Dos seus lábios, surgiu uma simples frase, ainda fraca:
– Amo você, gaúchinha!
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