Capítulo 15 - parte 1 (em revisão)
"Se, na verdade, a justiça é sabedoria e virtude, julgo que facilmente se demonstrará que é mais forte do que a injustiça, uma vez que a injustiça é ignorância."
Platão.
Arthur tinha sensações estranhas e sentia-se fraco. Parecia que flutuava no meio do nada e ao mesmo tempo permanecia aconchegado em algo morno, mas era tudo escuridão e silêncio. Devagar, a sua consciência foi se firmando e lembranças do passado surgiram na memória. Agarrou-se firmemente a uma, usando tanta força quanto um náufrago pode para agarrar uma boia no momento de maior desespero e uma explosão de luzes e som entrou na sua mente:
Tinham acabado de treinar um pouco, uma vez que Arthur cultivava o hábito de lhe ensinar artes marciais. Diana olhava para o lado, sentada no banco do jardim da sua casa enquanto Arthur se perdia observando a menina, todo apaixonado. Extasiado, via os seus cabelos cor de fogo esvoaçando suavemente com a brisa daquela tarde ensolarada de primavera e que contrastavam com a sua pele muito clara e lisa. O nariz, arrebitado, tinha algumas sardas que lhe davam um ar sapeca e brincalhão, corroborados por um par de olhos muito azuis e vivos, além de sonhadores. Desde aquele dia que a sua Mariazinha correu apavorada para lhe pedir socorro por causa de um rato que apareceu no jardim, ele passou a olhar para ela de outro jeito, um jeito que o deixava trêmulo e com o coração aos pulos quando ela lhe sorria, especialmente no momento em que ela o encarava e os seus olhos, bem devagar, iam ficando verdes.
– Por que você tá me olhando assim com essa cara hein, Thur? – perguntou Diana.
– Assim como, Mariazinha? – Ele sorriu, sem jeito.
– Assim tipo cachorro perdido – respondeu a garota. Deu uma risada e continuou. – Você fica muito bobinho quando olha assim para mim, mas eu gosto tanto, principalmente dos seus olhos!
Arthur levantou-se e aproximou-se dela, sentando ao seu lado e tremendo um pouco. Os olhos da garota ficaram verdes na hora e ele sorriu, fazendo uma carícia no seu cabelo. Ela pegou a sua mão e parou de sorrir.
– Seus olhos são mágicos, Maria – disse ele, fascinado.
– Você que é mágico – respondeu Diana, beijando a mão do amigo com doçura. – Você está tremendo, Thurzinho. Está doente ou nervoso?
– Eu... eu... estou nervoso, sim – confessou.
– E posso saber o motivo? – perguntou, com doçura. – Às vezes, compartilhar ajuda.
– Você tem que saber o motivo – disse ele, pegando seu rosto outra vez. – Ma... Maria, eu, eu, eu, eu, eu amo você! Eu não consigo parar de pensar em você desde aquele dia do rato e não consigo mais segurar isso dentro de mim. Eu amo você.
– Arthur... – disse Diana com os olhos brilhantes. Levantou-se e sentou no seu colo, ofegante.
Aproximaram os rostos e o garoto achava que o seu coração tinha vida própria, ainda mais quando os lábios de ambos roçaram um no outro.
– Eu também, Thurzinho, eu amo você. – Voltaram a se beijar e, depois, abraçaram-se com ternura por um bom tempo, tanto que não viram a mãe dela chegar com o lanche.
– Os pombinhos demoraram a assumir essa paixão hein? – disse ela, debochada. – Que tal um lanchinho...
Suas lembranças desapareceram como um trovão e ele perdeu-se no tempo, voltando ver imagens difusas, agora muitos anos no futuro, voltando a se lembrar.
Ele dirigia o seu carro e ao lado estava a mulher da sua vida, danada e agressiva. Zangado, disse:
– ...mas que merda, Anabela, já vai provocar, caramba? – perguntou, irritado. – Pelo jeito está ficando boa outra vez, pra só mandar patada na gente.
– Nada é o que parece. Pode ter a certeza. Desculpe, mas também tenho ciúme.
Isso desarmou o colega que olhou para ela assim que parou no sinal. Viu seus olhos tão doces fixos nele e, sem pensar, perguntou-lhe:
– Está melhor, meu amor?
– Sim, estou – respondeu ela. – Eu senti apenas uma pequena vertigem. O resto foi teatrinho para podermos enganar eventuais observadores.
– Tem certeza? – perguntou ele, bem mais aliviado. – Mesmo assim, morro de preocupação por você. Então você chegou às mesmas conclusões que eu? Precisava me maltratar desse jeito?
– Sim, e antes que entre em desespero ou fale mais bobagens que a sua cabeça dura venha a se arrepender depois, como a de ontem, Arthur, eu nunca deixei de amar você. Se eu levei seis anos para encontrar alguém e amá-lo, acha que mudaria de opinião em três semanas? Além disso, você mereceu esse susto.
Arthur demorou a digerir a informação, mas seus olhos começaram a brilhar de felicidade e um sorriso estampou-se de orelha a orelha. Parou no sinal e ia beijá-la, mas ela repeliu o delegado.
– Nem se atreva – disse, ameaçadora. – Continue dirigindo com cara de preocupado e tente descobrir se estamos sendo seguidos.
– Sim, senhora, delegada – disse ele, feliz. – A senhora manda e eu obedeço.
– Ótimo – disse Anabela que apoiou a sua mão na perna dele, carinhosa. – Vá aprendendo e treinando.
Era difícil para o policial fazer cara de preocupado, mas acabou conseguindo. Apesar de achar que despistou eventuais perseguidores, Arthur e Anabela jogaram pelo mais seguro e, na casa da moça, ele pegou nela ao colo.
Inclinado sobre Anabela para a erguer, deu-lhe um pequeno beijo nos lábios e disse:
– Eu amo você, Belinha, e não tenho mais qualquer dúvida. Demorei a decidir, mas agora sei direitinho o que eu quero da minha vida.
Ela não respondeu, mas enlaçou o seu pescoço para o ajudar a carregar. Safada, encostou os lábios e foi roçando pescoço acima com pequenos beijos enquanto soltava o hálito quente, provocando arrepios por todo o corpo do Arthur. Finalmente parou no seu ouvido e sussurrou, sensual e provocante:
– Também o amo e estou morrendo de saudades.
Ele quase que a deixou cair, mas controlou-se a tempo e levou-a para a sala, deixando-a na poltrona. Após, pegou a pasta do caso e trancou o carro, voltando para dentro. Quando fechou a porta, Anabela levantou-se e beijou-o, sorrindo. Arthur não se aguentou mais e pegou a delegada ao colo, beijando-a sem parar e levando-a para o quarto dela.
Enquanto um despia o outro aos beijos e abraços, Arthur dizia, ofegante:
– Amo você, gaúchinha, sou louco por você e não sei como demorei tanto a descobrir o óbvio. Case comigo, Belinha.
– Que tal você se divorciar primeiro, hein, carioquinha? – respondeu Anabela, deitando na cama, convidativa. – Não sabe como estou necessitada disso, meu amor.
– Amanhã mesmo vou providenciar os papéis do divórcio, Belinha – disse ele, subindo nela e beijando seu pescoço...
Estavam deitados lado a lado, muito abraçados, e Anabela disse:
– Isto que aconteceu precisa ficar em silêncio ou você será morto.
– Por quê?
– Porque recebi muitas ameaças em relação a si, meu amor. Acha que eu teria feito tudo aquilo sem um bom motivo? Para contar pra você, eu precisava de um estratagema e nada melhor que unir o útil ao agradável. Eu passei a receber ameaças com o saco de risadas e acho que a intenção deles é desestabilizar você. Por algum motivo desconhecido para mim, eles morrem de medo de você, amor. Ou medo ou outra coisa similar, sei lá, talvez ódio ou inveja. Assim sendo, vamos providenciar um grande teatro com uma mistura de amor e ódio onde passarei a desprezar você, entendeu?
– Entender eu entendi, mas faça Miguel entender que ninguém atira melhor que eu, nem mesmo você. Se acerto uma orelha de raspão apenas com um vislumbre do alvo, pode ter certeza que sou capaz de arrancar o saco dele fora com a ponto quarenta e quatro a cinquenta metros... sem mirar.
– Não se preocupe. Preciso dele para os meus planos, mas nunca deixo chegar perto o suficiente para algo mais que um flerte. Ele também não deve saber de nada. Não confie em ninguém até ter certeza que a pessoa está fora dos suspeitos.
– E Maria? – perguntou ele. – Eu pretendia terminar hoje porque desde ontem não posso ficar com ela, enganando-a. Querendo ou não, ela representou o meu grande amor da infância e ainda sinto muita coisa boa por ela para fazer qualquer maldade.
– Não sei, mas é melhor encenar um teatrinho aí, também. Se você é observado na polícia, é em todo lado. Uma alteração de comportamento com ela pode ser fatal. Finja alguma coisa, sei lá. – Anabela encolheu os ombros. – Você pode ter certeza que não me agrada nada ver ou imaginar você nos braços dela ou da Cíntia, que também não seria má ideia deixar no teatrinho. Só não se atreva a fazer mais do que o absolutamente necessário, já que também sou uma atiradora nata.
– Nós dois somos atiradores natos, amor. Já pensou como será nosso filho, ou filha, segundo a vontade do seu pai?
– O quê? – perguntou Anabela, assustada. – Que filho?
– Ora, o filho que um dia vamos fazer. Você não gostaria de ter um bebê bem sapeca? Você que disse isso!
– À... sim... v... verdade.
– Cê tá nervosa, amor?
– Não, é que lembrei de outra coisa – respondeu, despistando o namorado. – Temos que seguir esse plano, mesmo que não gostemos. Em algum lugar, descobriremos o mistério que você tem com eles.
– Lembra no motel que você disse que sou homem de uma mulher só? – perguntou Arthur. – E eu sou mesmo, amor. Eu nem quero mais ter outra nos meus braços. Mesmo com todo o desespero que me deu ontem e a carência que bateu, eu não consegui avançar com Cíntia. Você sabe.
– Elas são seu departamento, então vire-se, meu amorzinho – disse Anabela rindo. – Já disse que pode fazer o que for preciso, mas não passe dos limites. Eu já tenho muito trabalho para cuidar do Miguel e quase metade da delegacia dando em cima de mim. É imperativo que não desconfiem de nada.
– Assim, eu viro serial killer – brincou ele e a namorada riu. – E se Cíntia também foi coagida e por isso agiu daquele jeito? Não... não faz sentido. Bem, amor, você pode confiar em Moisés, viu?
– Por que acha isso? – perguntou e Arthur explicou que Moisés também apareceu nas imagens fotografadas enviadas para ele, além de que eram amigos desde os dez anos. Após conversarem sobre isso, ficaram calados por um tempo até que Anabela se espreguiçou com vontade e abraçou Arthur, provocante. Beijou seus ombros e perguntou:
– Agora, você vai levar sua noivinha para tomar banho, mas também podemos fazer mais outra coisa antes do banho.
– Noivinha, é? – perguntou todo animado e desperto.
– Pensei ter ouvido você me pedir em casamento, então acho que me tornei sua noiva.
– Mas eu não ouvi um sim...
– Está ouvindo agora – disse ela, beijando-o e rindo. – Sim, sim, sim, mas divorcie-se primeiro. Amo você, Arthurzinho.
– E se usássemos mais de uma possível tática, caso esta falhe?
– Explique.
– Teríamos que envolver seu pai nisso, amor. Mas criamos duas formas de agir conforme os fatos ocorrerem...
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