Capítulo 14 - parte 3 (em revisão)

Anabela sentia uma angústia incontrolável. Era a mais próxima dele e concluiu sem sombra de dúvida que Arthur não ouviu a ordem do pai. Assustada com o que podia acontecer com ele sozinho, acelerou a viatura e passou a berrar sem parar ao microfone, mas ele não a escutava. Tentou andar o mais rápido possível com a sirene ligada e abrindo caminho enquanto as suas mãos tremiam tanto que ela até se espantou de ainda não ter batido o carro.

Não estava muito longe, quando chegou a mensagem fatídica que quase lhe rendeu um colapso: Arthur pedia socorro porque estava muito ferido e era grave. Quando conseguiu encostar ao seu lado, viu-o caído no chão ao lado de um corpo.

– Arthur – gritou, quase histérica, correndo para ele. Ajoelhou-se ao seu lado e viu quem era o bandido, ficando pasma. – Arthur, por que não nos ouviu, desgraçado. E agora? Não se atreva a morrer, pelo amor de Deus.

– Eu a matei, Belinha, eu a matei – afirmou o delegado, com a voz num murmúrio de pura dor, um mero sussurro, já sem forças para nada.

Desesperada ela levantou-se para trazer a viatura para perto e tentar colocá-lo dentro. Antes de realizar o seu intento, ouviu o rugido de um motor de corrida sendo ligado. O motor acelerou de rompante, mas, em vez de se afastar, aproximava-se e ela deparou-se com o famoso Mustang preto vindo de ré. Passou por cima do cadáver do gigante e só parou perto deles. O piloto saiu e Anabela apontou a pistola sem hesitar, mas viu-se de frente para quem ela menos esperava. De olhos arregalados e queixo caído, ficou olhando.

– Vamos – resmungou Cíntia, com marcas de choro. – Esta é a única chance que ele tem de se salvar, então não a desperdice e me ajude.

Anabela levantou-se de soco e, com alguma dificuldade, as duas colocaram-no no banco de trás.

– O celular da Maria – sussurrou Arthur. Cíntia ouviu e olhou em volta. – A senha é... meu primeiro... beijo...

Amarraram-no com o cinto e Cíntia ia entrar no carro quando notou um tremor quase imperceptível na mão da Diana.

– Me ajude, Anabela – pediu. – Diana ainda está viva. Vamos colocá-la no banco da frente e você vai atrás, segurando Arthur.

Anabela viu duas armas no chão ao lado da Diana e pegou-as, colocando na cintura. A seguir, ajudou a levar a rival para o carro.

Assim que entraram no Mustang, Cíntia disparou feito uma louca para o hospital mais próximo. A delegada estava de tal forma nervosa que nem notava a velocidade absurda a que iam.

– Por quê? – perguntou após alguns segundos. – Como conseguiu enganá-lo todo este tempo e por que caiu nessa vida, se eram tão felizes?

– Chantagem – explicou. – E não pense que eu ganhava alguma coisa nisso. Quase todos os integrantes do grupo eram vítimas de chantagem. O meu prêmio era a vida dele, apenas isso. Dele e do meu filho. Primeiro, aquele desgraçado queria favores sexuais, mas eu não cedi até ao dia que Arthur me pegou em casa porque a chantagem virou coerção, só que vocês me salvaram. Usaram o passado da minha família como estratagema inicial e, depois, passaram a ameaçar de morte meu marido. Quando isso começou, tratei de desprezar Arthur para que eles pensassem que eu não me importava com ele e assim não o colocassem no foco. Eu quase morria de dor cada vez que o tratava mal e só suportava isso porque julgava que o protegia, mas tudo o que consegui foi perdê-lo para vocês duas. Quando Arthur separou-se, passaram a usar Pedrinho como alvo. Quando me rebelei um pouco, eles usaram a droga em mim como um aviso. Me perdoem, mas eu não podia fazer diferente. Além do mais, eu passei a ser cúmplice de roubo de uma quadrilha armada, mesmo que coagida.

– Podia sim, podia ter confiado nele – disse Anabela, um tanto acusadora. – Fizeram o mesmo comigo, mas contei para ele e agimos em conjunto, criando um grande teatrinho. Afinal, o que é que o passado da sua família tem de tão ruim?

– Agora já nada me importa, mas, se quer saber, tirando eu eram todos criminosos. Como eu corria de cart desde criança e ninguém dirigia bem, foi meio que obrigada a dirigir nas fugas desde os treze anos. Meus pais faziam assaltos espetaculares, dificílimos de serem apanhados ou detetados e o chefe da nossa gangue inspirou-se no meu pai para criar isto. Um dia conheci Arthur e tudo mudou. Eu nunca mais pude fazer aquilo para a minha família e ameacei meu pai de os entregar se não me deixassem em paz. Ele aceitou, mas ficou muito chateado porque era eu que garantia as fugas perfeitas. No final, morreram todos porque meu irmão dirigia o carro da última fuga e capotou. De brinde, acabei ficando com complexo de culpa por causa disso. O chefão da gangue, que é sócio do Sílvio, descobriu quem eram os criminosos e, sem eu saber como, que eu fui piloto de corridas e dirigia as fugas. Agora preciso de achar o chefe e matá-lo.

– Como você enganou Arthur, quando ele estava drogado na sua casa? – perguntou Anabela. – E por que a drogaram?

– Eu já lhe disse – respondeu Cíntia. – Eles me drogaram porque meio que rebelei e aquilo foi apenas um aviso "gentil". Quanto ao Arthur, recebi a ordem para agirmos de noite. Ele foi drogado porque queriam mandar um recado para mim, caso saísse da linha, mas não sabiam que Arthur chegou ainda capaz na minha casa. Ele me disse que melhorei com um banho e fiz o mesmo nele. Me perdoe o que vou dizer agora, mas se eu não fosse para o assalto as consequências seriam catastróficas e ao mesmo tempo não o podia deixar sozinho, doidão daquele jeito. Eu tinha deitado Arthur na minha cama e ele delirava pensando que estava com você, me agarrando toda hora. Eu deixei até que ele se cansou e desmaiou. Depois peguei as suas algemas e prendi-o na cama enquanto fui para o assalto. Quando voltei ele ainda dormia, então libertei-o e deitei do lado. Ele não sabe que fez isso, então não se zangue com ele. Desculpe por isso.

– Tenho certeza que não se arrependeu, né? – disse Anabela, encolhendo os ombros. – É justo, já que eu sacaneei você a primeira vez com ele.

– Eu imaginei, mas ele não me queria mais, na certa. Infelizmente, errei feio. Talvez ele ainda me amasse, se tivesse contado a verdade, mas também poderia estar morto. Agora, nunca saberemos.

– Mais rápido, Cíntia, pelo amor de deus. Arthur tá ficando muito pálido – implorou Anabela, voltando a chorar. – Ele deve ter perdido sangue demais e vai entrar em choque.

– Já estou a duzentos e trinta – berrou ela. – Aqui não dá mais. Faltam uns dez segundos. Olhe, não fale nada a meu respeito até eu pegar o chefe da gangue. Prometo que depois me entrego a você, desde que me prometa que cuidará dele e do Pedrinho como se fosse seu filho.

– Não precisa pedir que eu prometa isso, Cíntia, mas tem a minha palavra. Assim que eu sair com os dois, desapareça e vá pegá-lo. Me ligue, se precisar de ajuda.

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O carro preto entrou na emergência do hospital em Copacabana freando com as quatro rodas a derrapar e levantando fumaça.

Anabela saltou fora e gritou:

– Ajudem, ferimento grave à bala, duas vítimas. Policial ferido, ajudem.

Alguns enfermeiros correram imediatamente com as macas e colocaram o casal. Saíram a correr com Arthur, mas, quando viram Diana, taparam seu rosto.

– Sinto muito – disse um deles. – Deve ter falecido no caminho.

– Eu até queria ficar aliviada com isso, mas não consigo – pensou alto. Fez sinal para Cíntia ir, mas ela disse:

– Avise o Jorge que vão tentar matar a família dele a menos que a gente o pegue primeiro. – Acelerou e saiu dali, desaparecendo na noite enquanto a delegada ligava para o pai e o sogro.

Em pouco tempo havia bastante gente naquele hospital enquanto a polícia recolhia os corpos, as armas e os carros que ficaram no local do confronto.

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