Capítulo 13 - parte 6 (em revisão)

Após falarem e mais uma vez Arthur tentar convencê-la a viver com ele ali, desceram e encontraram Moisés, que a esperava. Quando os dois se afastaram, Arthur atravessou a rua e foi correr antes que o sol ficasse demasiado forte. Passou o dia bancando o desocupado, em especial saindo com o filho, levando-o para a praia.

À noite, ele passeava a pé pelas ruas de Copacabana quando algo lhe chamou a atenção do outro lado da rua. Era um bar chique e tinha uma janela grande. Num canto, ele viu uma ruiva e podia jurar que se tratava da Diana, mas não havia a menor dúvida que aquele grandalhão era o chefe da ex-mulher. Curioso, atravessou a rua na esquina e retornou, andando cautelosamente.

Espreitou pelo canto da janela e viu que era mesmo a Diana. Além disso, ela tinha cara de quem não gostava nada da conversa que mantinha com o interlocutor. Os dois estavam em uma mesa mais reservada, no fundo do bar, e pareciam discutir baixo. Arthur notou os seus olhos baixos e rosto de preocupação e começou a se sentir zangado, muito zangado. Nesse momento, ele pegou o pulso dela e Diana fez cara de sofrimento, erguendo o rosto e deixando escapar uma pequena lágrima.

Arthur sentiu o sangue subir e, rubro de cólera, abriu a porta e entrou, sendo interpelado de imediato pelo gerente, que sorriu e disse:

– Desculpe, cavalheiro, mas para entrar aqui precisa de usar terno e gravata.

– Ainda existe essa babaquice? – perguntou Arthur, zangado. Estendeu o distintivo. – Assunto policial. Fique descansado que não demoro.

O homem saiu da frente e Arthur foi caminhando para o par com toda a calma que conseguiu reunir. Sílvio ainda segurava o braço dela e falava ríspido, enquanto Diana olhava para baixo. Ela sentiu um movimento de aproximação pelo canto do olho e ergueu os olhos que, para felicidade de Arthur estavam com as lentes transparentes, mas notando a sua coloração muito azul.

Ambos encararam-se e ele ergueu a mão, pedindo silêncio. Posicionou-se em um ângulo que não seria visto por ninguém mais, mas a sua fisionomia ao ver o ex mudou tanto que o grandalhão, desconfiado, começou a virar o rosto para ver o que se tratava. Arthur deu o último passo e pegou Sílvio pelo pescoço, usando tanta força que ele não conseguia nem se virar. Com a outra mão, encostou a pistola na têmpora do homem, que sentiu o seu hálito quente enquanto o delegado lhe dizia ao ouvido, bem baixo:

– Me dê um motivo, um só, e eu terei um prazer enorme em grudar seus miolos na parede do outro lado da sala. – Sílvio soltou Diana e Arthur sorriu, enquanto via os olhos dela ficarem todos verdes, como mais gostava. Soltou o homem e sentou-se ao lado da garota, colocando a arma nas costas. – Acho que assim está melhor. Você esqueceu o que eu lhe disse quando tentou forçar algo com a minha ex-mulher ou cansou de viver e pretende que eu faça o serviço completo? Quantos dentes sobraram nessa sua cara de jumento?

– A gente tava apenas falando – disse ele, assustado.

– Sabe – Arthur pegou a mão dela e mostrou o pulso marcado de hematomas. Deu-lhe um beijo nas marcas e continuou. – Sabe, a Maria aqui foi o meu grande e maior amor de toda a vida, o meu primeiro amor, o primeiro beijo, enfim, tudo de bom que eu tive na minha infância é espelhado nela e eu fico com o instinto assassino à flor da pele quando vejo a minha Mariazinha sendo machucada ou maltratada por alguém.

– De... de... desculpe.

– Não é para mim que você tem que pedir desculpas, Sílvio. No dia que precisar de me pedir algo, você vai implorar por piedade, isso sim. E garanto que vou matar você bem devagar. Vou meter-lhe tanta porrada, mas tanta porrada que seus ossos vão ficar moles antes de morrer. Se a minha doce Maria aparecer com uma marca, por menor que seja, vou caçar você até no inferno, ainda mais agora que estou suspenso da polícia e não tenho obrigações morais para me impedirem, entendeu bem?

– S... s... sim, de... delegado.

– Ótimo, vejo que estamos conversados – disse Arthur, debochado. – Acontece que ainda não ouvi um pedido de desculpas muito bem-feito para a minha Mariazinha e, se não ouvir nos próximos cinco segundos, vou fazer uso da minha arma...

– Desculpe, Diana – interrompeu ele, desculpando-se mais do que assustado. – Eu fui grosseiro e prometo que isso não se repetirá.

– Perfeito – disse Arthur, sorrindo. – Agora, seja um bom menino e desapareça da minha frente que você me dá enjoo. Afinal, acabei de encontrar a mais perfeita companhia do mundo para jantar e você tá sobrando. Vai, rasga daqui. E lembre-se que você agora está jurado de morte, então tenha cuidado com os seus atos.

Os dois ficaram calados, vendo Sílvio sair. Assim que ele passou pela porta, Diana abraçou Arthur e procurou seus lábios, beijando-o com paixão. Ele notou logo que ela tremia bastante e ficou preocupado.

– Você já teve um gosto melhor para homens, meu amor – disse, brincalhão. – Bem melhor. Por que esse merda assusta tanto você e quem é ele de fato?

Apesar de já ter parado de beijar Arthur, ela permanecia abraçada a ele e ainda tremia, deixando a cabeça apoiada no seu ombro.

– Ele é meu enteado e sócio na companhia de seguros onde a sua esposa trabalha – respondeu, a dama misteriosa.

– Caramba, ele deve ser uns poucos anos mais velho que você.

– É sim, dez anos – disse ela. – O desgraçado vivia me assediando. Então foi você que o espancou ano passado? Não imagina a felicidade que me deu vê-lo morto de medo de você, Thurzinho. Ele é do mal. Se cuide, viu, que você arrumou um grande inimigo.

– Por que está tremendo, Mariazinha? – perguntou Arthur, aflito. – Que ameaças ele fazia para você? Eu juro que vou matá-lo com as próprias mãos se...

– Pare. Você está ficando alterado, amor – disse ela, olhando para os lados. – Acho que Sílvio não fará nada comigo, não agora que o ameaçou. As pessoas estão olhando.

– Tá bom, mas se ele lhe fizer algum mal...

– Cavalheiro – disse o gerente, aproximando-se. – Se o senhor pretende ficar aqui terá de pôr um terno. Tem uma excelente loja que ainda está aberta na galeria do outro lado da rua.

– Deve ser do mesmo dono, suponho – disse Arthur e Diana, riu, relaxando um pouco. – O que acha, Mariazinha, eu vou comprar um terno ali e volto para jantar com você ou vamos comer um cachorro-quente na rua como era meu objetivo inicial?

– O que prefere, meu amor?

– Tem a terceira opção – respondeu Arthur, estendendo o braço para ela. – Compro o restaurante, demito o gerente e proíbo a entrada com terno. Vamos comer um cachorro-quente?

Na rua, com Diana feliz e abraçada a ele, Arthur disse:

– Acho que vou mesmo aprender a usar a minha recente fortuna, meu amor. Você está bem?

– Estou sim, Thurzinho. – Ela riu. – Adorei a sugestão, mas vai ter que comer cachorro quente pra caramba, se quer gastar a sua fortuna com isso.

– Bem, quando fiz o comentário a ideia não era essa e sim a compra do restaurante para demitir o gerente.

Diana deu uma gargalhada alta e disse:

– Você viu como ele ficou pálido?

– Vamos caminhar um pouco na praia? – perguntou Arthur, puxando por ela para a rua perpendicular. Baixinho disse. – Tem um cara seguindo a gente. Quando estivermos na próxima esquina, vou largar você e continue andando que vou surpreendê-lo.

– Você está me assustando, Thurzinho – disse, voltando a tremer.

– Confie em mim e não se preocupe, mas prepare-se. Faltam dez metros.

Na esquina, assim que ela dobrou, Arthur encostou-se no prédio em um ponto escuro. Não precisou de esperar nem dez segundos para ouvir os passos sorrateiros entrando na via. Quando amigo do alheio viu a mulher sozinha, parou e olhou para os lados, mas o cano da pistola já estava na sua cara.

– Sua vida vai depender do que disser nos próximos dez segundos, então tenha muito cuidado e responda: o que fazia me seguindo? – Ameaçou-o, enquanto Diana aproximava-se assim que se viu segura.

– Um homem me mandou fotografar o senhor e a mulher. Ele me deu uma máquina especial para tirar foto de noite e me prometeu mil conto se eu levar as foto de vocês se atracando – respondeu, apavorado. Tratava-se de um sujeito baixo e maltrapilho.

– Como ele era?

– Ele tava num carrão com vidro escuro e não deu pra vê muito bem. Tinha cabelo preto e curto... e usava umas luna escura. Divia di ter o seu tamanho para menos.

– Entregue-me a máquina – ordenou Arthur. Quando o sujeito obedeceu, ele disse. – Vou fazer o seguinte: vou largar você e contar até dez. Depois disso vou atirar, então quanto mais rápido você correr, maiores são as chances de sobreviver. Um...

Arthur soltou o meliante que começou a correr feito um louco. Dez segundos depois, o delegado deu um tiro para o ar e riu.

– Se esse diabo ao menos sonhasse que eu não erraria naquela distância, morreria de ataque cardíaco mesmo que eu não desejasse acertar – afirmou e Diana riu. O delegado mostrou a máquina e começaram a ver as fotos, que começavam com ele no restaurante preparando-se para sair com moça. Havia muitas, mas nenhuma que fosse comprometedora até porque o máximo que ela fez foi andar agarrada no seu braço e dar-lhe alguns beijos no rosto.

– Dianinha – disse Arthur, muito sério. – Você sabe que pode confiar em mim, não sabe?

– Sempre que você falava o meu segundo nome, na nossa infância, nunca foi boa coisa, Arthurzinho – resmungou a dama misteriosa. – Prefiro Mariazinha. É claro que confio em você, que pergunta tola.

– Então me conte o que estão fazendo com você e eu juro que destruirei o Rio de Janeiro, se for necessário, mas darei um jeito de a proteger e ajudar.

– Não quero dizer nada, meu amor – disse ela. – Eu confio em você, mas também tem que confiar em mim.

– Eu não gosto de ver você sofrer, meu anjo. Você foi e será para sempre a minha Mariazinha e mulher nenhuma no mundo mudará o que aconteceu.

– Acredito em você Arthur, mas agora você tem outra no topo da lista do seu coração. Eu estou em segundo lugar e sei disso.

– Por que disse isso, anjo?

– Porque conheço você desde os quatro anos, Arthur – respondeu, encolhendo os ombros. – Sei que não costuma mentir, então me diga. Quem você pediu em casamento?

– Quem lhe falou isso? – perguntou Arthur. – Moisés? Só ele sabe que eu pedi!

– E você pediu para a loira lambida, não foi? – Diana riu, mas ele notou uma tristeza nas suas palavras. – O Moisa não se lembra direito de mim e só sabia me chamar de magrela feiosa.

– É verdade. Chama até hoje, mas você deu uma surra nele depois que lhe ensinei uns golpes de kung-fu. Cê nunca se deu conta que ele era apaixonado por você, Mariazinha? Ele afastava-se porque via que nós nos amávamos muito.

– E como sabe disso? – perguntou ela, curiosa. – Imagino que ele não lhe contou.

– Não, nunca me contou, mas, uma vez, uns dois meses depois que você se foi embora, ele ficou muito doente, muito mesmo. A febre estava tão alta que ele começou a delirar e gritava por você, pedia desculpa e jurava amor eterno. No dia seguinte, quando fui visitá-lo, a mãe dele queria saber quem era essa tal de Diana e me contou tudo.

– Tadinho, dele – disse, ela. – Quem sabe eu dou um jeito nele como prêmio de consolação para mim. Você fugiu do assunto. Pediu ou não pediu?

– Pedi Anabela em casamento sim – respondeu com um suspiro profundo. – Desculpe.

– Vi Moisés e a loira lambida hoje no seu apartamento. Estava perto e vi-o saindo do prédio sozinho. Você e ela vieram pouco depois e ele ficou cheirando vocês dois!

– Queria saber se a gente se agarrou lá em cima – respondeu Arthur. – Tava tirando onda da gente porque Anabela tá muito brava comigo.

– Por quê?

– Por sua causa, o que acha? – perguntou ele rindo. – Só faltou eu apanhar quando a pedi em casamento. Ela disse que era muita cara de pau da minha parte pedi-la em casamento no apartamento que foi da rival. A única coisa que ela adora de você é o perfume. O resto, ela quer ver morto e enterrado, inclusive eu.

– Desculpe ter bagunçado a sua vida, meu amor, mas eu seria a rainha das hipócritas se dissesse que estava arrependida. Não só não estou como faria tudo de novo exceto se você, na época, estivesse feliz no casamento.

– Esqueça. Isso é passado.

– Só queria saber por que as coisas têm que ser tão complicadas.

– Você não é a única, anjo. Quer que a acompanhe até em casa?

– Se me levar lá eu ficaria feliz porque estou sem lentes – respondeu ela. – Hoje, senti uma irritação forte nos olhos.

– Vai ter que me mostrar o endereço.

― ☼ ―

Rodavam para Copacabana e ela disse:

– Não quis usar o outro carro?

– Acho que ainda não me acostumei muito com esse negócio de alto luxo.

Diana, riu e disse:

– Mas para comprar um restaurante só pra demitir o gerente chato, você já se acostumou.

– Você bem sabe que eu não teria coragem de tanta safadeza, não é, Mariazinha? – perguntou Arthur rindo.

– Entre naquela rua – disse, apontando com o dedo.

Começaram a subir o morro em um local tão bonito quanto a Estrada das Canoas em São Conrado, com casas lindas e riquíssimas cercadas por muros altos e muitas árvores. Diana apontou uma mansão e disse:

– Ali, amor. – Quando Arthur encostou continuou. – Entre e vamos passar alguns momentos bons, quem sabe uma hidro que você tanto gosta.

– Terminamos, lembra? – perguntou ele. – Talvez seja mesmo melhor não seguirmos adiante, pelo menos enquanto os dois tivermos problemas.

– Tem razão – disse Diana, sorrindo com amargura. – Lembre-se que, apesar de tudo, amo você como jamais amei alguém.

– Eu sei – disse ele, estendendo os braços para um abraço carinhoso. – Seus olhos estão bem verdes.

– Nem que eu quisesse enganaria você, não é? – perguntou Maria, rindo. – Meu próprio corpo me traindo. Por isso usei as outras lentes anteontem.

Ela colou os lábios nele e sorriu de novo.

– Se nós não ficarmos juntos, Arthur, quero que me dê um filho nosso para eu amar e ter um herdeiro além de você.

– Eu prometo, mas quero ver explicar isso para a loira lambida, Mariazinha – disse ele rindo.

Diana saiu e Arthur foi para a Barra dormir no seu apartamento. Tinha combinado com Anabela e Moisés que se encontrariam todos os dias lá.

― ☼ ―

Luna escura: óculos escuros.

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