Capítulo 13 - parte 3 (em revisão)

Moisés sentava-se perto deles e ouviu tudo, ficando um pouco irado com a estupidez da colega. Anabela olhava Arthur sair da sala quando ele parou na sua frente.

– O que deu em você, mulher? – perguntou, sacudindo a cabeça. – O que foi que ele lhe fez para ser tratado assim?

– Acho que isso não é da sua conta, Moisés.

– Quando você não está bem, ele é sempre o primeiro a correr para si e tentar ajudá-la. Eu já o vi largar tudo para cuidar de você e mais de uma vez, inclusive ontem. Eu vi o desespero dele pegando você e a colocando no carro porque estava entrando bem nessa hora e assisti toda aquela dedicação e carinho. Você acha que alguma vez vai encontrar outra pessoa como ele? E daí, é assim que você agradece? Você é desprezível, Anabela.

– Não se meta – resmungou a garota, ameaçadora.

– E eu que achava você perfeita para ele, principalmente para acabar com a vida de sofrimento que ele levava. Como eu me enganei, cara.

– Bah, quanto sofrimento, tendo três mulheres a seus pés. Acha que tenho cara de ser mais uma?

– Isso não é verdade e nunca imaginei que fosse ficar tão decepcionado com você – disse Moisés. – Basta estalar os dedos e ele faz tudo o que você quiser ou é cega?

Irritado, virou as costas e saiu para encontrar o amigo. Assim que se viu sozinha, Anabela abriu a gaveta a tentou entrar no telefone da Diana, mas errou a senha e desistiu, voltando ao trabalho. Arthur, assim que se acalmou, retornou para a sua mesa. Observou os relatórios da vigilância e viu que o chefe seguiu seu conselho, retirando os guardas da esposa. Decidiu passar lá mais tarde para discutir os papéis do divórcio. Ele não gostava da ideia, mas a discussão com Anabela levou-o a pensar que poderia haver uma relação entre a mudança de comportamento e a situação toda, porque aconteceram em épocas próximas. Seu sangue voltou a ferver quando Miguel apareceu por trás dela e abraçou-a, chamando-a para almoçar. Para ficar mais furioso ainda, o colega convidou-o a ir junto, usando um sorriso tão cínico que Arthur esforçou-se para para se manter no lugar e não lhe rebentar o nariz.

Quando o par saiu, ele ligou para o especialista em computação gráfica, mas informaram que Rodrigo sofrera um acidente e estava em repouso, mas retornaria em um ou dois dias. Sentia-se deprimido por causa da delegada e não tinha fome, mas forçou-se a comer um sanduíche e um refrigerante na lanchonete, retornando sem demora. Ele estranhou bastante quando Anabela voltou bem rápido do almoço, além de estar quieta e sozinha. Calculou, pelo tempo que ela levou, que não deve ter comido grande coisa. Além disso, ao contrário das provocações que vinha fazendo, falou pouco e notava-se que estava zangada, muio zangada e não parecia ser consigo. Arthur não pretendia entrar em mais discussões como as que ela vinha promovendo e preferiu ficar quieto.

― ☼ ―

A delegada, sentada na sua mesa, parecia uma caldeira com a válvula de escape emperrada e prestes a explodir de tão furiosa que ficou com ninguém menos que Miguel. Mais uma vez remoía na memória os acontecimentos no restaurante, um estabelecimento frequentado por diversos colegas pela proximidade e preço, sem falar que a qualidade da comida era muito boa.

Depois de pesados os pratos, foram para a mesa e comiam calmamente até que ela teve uma pequena vertigem e encostou a cabeça no banco antes de perder a consciência por uns poucos segundos. Solícito, Miguel apoiou-a, mas aproveitou para puxar seu rosto e beijá-la com vontade enquanto uma mão estava perto demais do seio, chegando a roçar nele.

Anabela demorou um pouco a voltar a si, não muito, mas quando viu o que ele fazia surtou em uma ira enorme. Apesar do mal-estar e de se sentir fraca, emendou-lhe um soco tão forte que ele quase foi a nocaute. Após, levantou-se e deu o segundo, dessa vez fazendo Miguel cair no chão, tonto.

Pegou o papel e foi para o caixa pagar, saindo sem dizer uma única palavra e caminhando ainda trôpega sob o olhar de quase todos no estabelecimento.

Agora, zangada e com fome, sentava-se ao lado do Arthur e discutiam as coisas com calma. Ele tinha acabado de dizer que ia à casa da ex-mulher falar sobre o divórcio e talvez correr depois disso. Anabela teve que sorrir porque, mesmo sendo rejeitado, ele era sempre muito gentil e isso dava-lhe um certo remorso, só que achava que ele não podia ter feito o que fez e Arthur merecia esse castigo. Às vezes, perguntava-se se não foi a sua atitude que fez com que ele se decidisse de uma vez para o lado dela e o seu lado estratégico gritava que sim. No fundo, sentia-se feliz com isso e talvez em breve mudasse de atitude, quando fosse oportuno. Sem se dar conta, olhava para ele com devoção, derretida.

Nesse momento apareceu Miguel com um hematoma em um dos lados do rosto, ficando um pouco de perfil para disfarçar e Arthur não ver. O policial ia dizer alguma coisa com relação à investigação quando um bipe no celular chamou-lhe a atenção. Abriu a mensagem, procurando ignorar Miguel, que aproveitou a situação e começou a dizer:

– Olhe, acho que me precipit...

No momento em que Anabela se deu conta do que o Arthur lia e viu a imagem na tela do telefone pelo canto do olho, já foi tarde para Miguel ou para que ela impedisse o ataque.

Com um surto de fúria descontrolada, Arthur soltou algo que lembrava um rugido de assustar e saltou da cadeira como se tivesse molas nos pés ou fosse catapultado por ela. Voou por cima da mesa e a sua mão acertou o nariz do Miguel em cheio que se quebrou e começou a jorrar sangue. Irado, Arthur pegou-o pelo pescoço e só não o matou porque Janjão estava perto e correu a impedir o amigo enquanto Anabela metia-se na frente dos dois, afastando um do outro com os braços bem abertos.

– Canalha aproveitador – vociferou Arthur. – Eu vou te ma...

– Eu não lhe pedi que me defendesse, Arthur – berrou a garota, irada. – Pare imediatamente com isso...

Apesar de não haver muita gente na delegacia por causa do horário, algumas pessoas estavam por lá e viram tudo. Para azar do delegado, o chefe foi uma delas.

– O que vem a ser isso? – berrou ele. – Vocês, para a minha sala, agora. Inclusive o senhor, João.

Anabela achou bem heterogêneo o grupo que entrou no gabinete do pai. Miguel sangrava sem parar e ainda estava zonzo porque o colega era dono de uma força absurda, apesar de não parecer; Arthur estava tão irado que até bufava e, entre eles, um dos maiores amigos do ex-namorado, Janjão, que se mantinha atento a um possível descontrole do delegado e que poderia acontecer se Miguel abrisse o bico. Por último ela, cujo rosto não devia ser dos mais serenos, uma vez que também tinha ganas de matar o Miguel.

Heitor fechou a porta e, mal sentou na sua cadeira, começou a berrar:

– Vocês acham que isto aqui é um jardim de infância ou uma delegacia de polícia, porra? – Anabela sempre achou o pai exagerado ao dar as broncas, mas, daquela vez, ele esmerava-se. – Já pensaram o que a população ia pensar da gente se vissem uma cena absurda daquelas? Que palhaçada foi essa?

Janjão sabia que a coisa ia acabar muito mal se qualquer deles falasse e não teve dúvidas: com uma mão apertando firmemente o braço de cada um a ponto de Miguel fazer uma careta de dor e soltar um pequeno gemido, ele disse:

– Desculpe, chefe. Foi algo bem-merecido e também resolvido, mas sei que não acontecerá de novo, não é, Miguel?

– S... sim, senhor – disse Miguel, confirmando.

– E você, Arthur? – insistiu Janjão. – Vai ficar na paz, certo?

– Não voltarei a fazer assim – resmungou, furioso. – Da próxima eu vou matá-lo na primeira porrada.

Miguel engoliu em seco e Janjão até chiou como uma chaleira antiga quando a água fervia, mas Heitor arregalou os olhos e começou a ficar muito vermelho. Respirou fundo e olhou para Miguel:

– Você, vá limpar essa cara e que fique bem claro que não quero brigas dentro do meu departamento, ouviu? Agora suma-se.

Assim que o delegado fechou a porta, Heitor olhou para Arthur e para a filha, muito sério.

– Anabela, sente-se ali e o senhor, João, pode retornar, mas mande Moisés para a minha sala o quanto antes.

Assim que Janjão saiu, Heitor olhou para Arthur.

– Custa-me a crer que ouvi isso da sua boca, mas parece que eu ouvi, Arthur, e trata-se de uma coisa muito séria que nunca vou admitir aqui dentro, nem mesmo de você que aprecio muito. Justamente por eu considerá-lo o meu melhor agente, não o expulsarei da corporação, mas você vai levar quinze dias de suspensão sem salário para pensar melhor nas besteiras que anda fazendo.

Arthur não disse nada. Apenas saiu da sala e voltou para a mesa dele. No caminho, encontrou Moisés e disse:

– Passe no café quando terminar, por favor.

– Beleza – respondeu o amigo. Chegou à sala do chefe e aquilo que já desconfiava consumou-se logo nas primeiras palavras de Heitor.

– Moisés, Arthur foi suspenso por problemas disciplinares, como deve ter visto antes. Eu decidi que você vai continuar com Anabela no caso e...

– Desculpe, chefe, mas com essa mulher eu não trabalho mais. O melhor que o senhor tinha a fazer era mandá-la de volta para Petrópolis. Ela é o pivô de toda a discórdia e prefiro também ser suspenso a...

– Eu não gosto que me interrompam quando estou a falar, especialmente uma coisa destas – berrou Heitor, irado. – Agora, sente-se aí e fique calado.

Assustado, Moisés obedeceu, imaginando que o berreiro foi ouvido no prédio inteiro, se não no quarteirão. Assim que se encostou na poltrona, por sinal bem confortável, Heitor olhou para Anabela e perguntou, falando baixo:

– Tem mesmo a certeza de que ele é confiável, filha? – Olhou mais uma vez para o subordinado. – Os riscos são bastante elevados!

– Sim, pai – respondeu ela, inabalável. – Arthur põe a mão no fogo por ele e são amigos de infância. Eu gosto muito dele e Janjão também é de confiança. Eu confio cegamente na opinião do Arthur.

– Pai?! – exclamou, o delegado arregalando os olhos. – Eu ouvi direito?

– Janjão não lhe contou? – perguntou ela, sorrindo. – Ele cumpre mesmo as suas promessas de manter segredo. Bah, Moisés, você não devia ter mandado aquela imagem para o Arthur, mas Miguel mereceu a...

– Belinha, agora eu assumo com ele. Você fica na mesa do Arthur, anjo.

– Tá, pai – disse ela levantando-se. – Vou ver se como alguma coisa que aquele merda do Miguel estragou meu almoço.

Moisés voltou quinze minutos depois e aproximou-se da garota, apoiando-se na mesa e sorrindo. Pegou a sua mão e deu um pequeno beijo.

– Desculpe-me o que lhe disse antes – pediu.

– Deixe pra lá, mas tenha muito cuidado.

– Terei. Vou ali no bar fumar um cigarro e tomar café com Arthur – disse ele. – Mas agora, por favor, não o trate tão mal quando ele gosta tanto de você. Ele não merece isso, não depois do que a esposa o fez passar por dois anos.

– Você é delegado ou advogado de defesa, Moisés? – perguntou Anabela, rindo. – Vou tentar pegar mais leve, ok?

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