Capítulo 13 - parte 1 (em revisão)
"Todo e qualquer sentimento que viaja nas asas da traição, por vergonha e por justiça jamais deveria proclamar-se amor!"
Reinaldo Ribeiro.
Já era noite quando Arthur foi para o Leblon encontrar Maria. Ele não sabia ao certo como lidar com ela e estava preocupado, mas, desde que descobriu o que sentia de fato por Anabela, sabia que não podia continuar com ela e fazer algo que a magoasse ou enganasse. Mesmo sabendo que amava a delegada, também amava Diana, só não mais como a namorada desejava dele, apesar de ainda significar muito para si.
Diana sentava-se na mesa mais afastada do bar, tomando um drink e parecendo bem séria. Respirou fundo e aproximou-se, sorrindo. O primeiro alerta soou quando Maria em vez de se levantar e o abraçar, apenas correspondeu ao beijo sem nem mesmo sorrir, embora parecesse que ela desejava que os seus lábios continuassem ali, até parecendo que estava em um conflito interno.
Arthur sentou-se à sua frente e pegou a mão da garota. Olhou para os seus olhos por onde sempre se perdia, ainda mais quando ela passou a usar lentes de contato transparentes. Para sua tristeza, Diana estava com as lentes cor de mel e a sua intuição mandou o segundo alerta.
– Você está bem, Mariazinha? – perguntou Arthur. – Algo me diz que tem coisa ruim pela frente.
– Vamos sair daqui e andar la fora? – pediu ela, levantando-se.
Saíram e, apesar de estar de mãos dadas com Arthur, parecia triste, perdida e desesperada. Andaram algum tempo até que ele viu o carro da moça e encostou-se a ele, puxando-a pela cintura e fazendo com que Diana acabasse colada a si. Fez um carinho na sua face e puxou uma pequena mecha dos seus cabelos cor de fogo para trás da orelha. Mesmo sabendo que não desejava mais ficar com ela, puxou seu rosto e beijou-a com doçura.
Diana apertou-se a ele e beijou Arthur com ardor e paixão, mas, a seguir, afastou-se e olhou nos seus olhos.
– O que houve, Mariazinha? – perguntou ele. – Você me parece aflita!
– Desculpe, Arthur, mas nós precisamos terminar nosso relacionamento aqui e agora.
– Posso saber o motivo, já que me beijou com tanta vontade há vinte segundos?
– Não pode – respondeu, taxativa. – Para o seu bem, você precisa me esquecer, Arthur. Não estava escrito que ficaríamos juntos.
– Mariazinha – Arthur olhou direto nos seus olhos. – Você está sofrendo algum tipo de coação? Seja sincera.
– Não posso contar mais nada, Thur, apenas isso. Precisamos de nos separar. Por favor, por tudo o que eu significo para você, acredite em mim e afaste-se; apenas aceite.
– Ultimamente tenho ouvido isso com alguma frequência. Primeiro foi a minha esposa, até eu me separar, porque depois passou a correr atrás de mim; a seguir, a minha ex-namorada e agora você!
– Desculpe, Arthur, mas...
– Tudo bem, já entendi – disse num suspiro. – Pelo jeito a minha sina é me ferrar com as mulheres que mais gosto.
– No fundo, acho que você ama a sua ex-namorada – afirmou Diana, muito séria. – Nós fomos apenas a consumação de um início covardemente interrompido e foi bom, bom até demais, mas agora preciso de pôr os pés no chão.
– Por que motivo pensa isso? – perguntou, espantado.
– Você sempre se preocupa com ela...
– Também me preocupo com você – interrompeu ele.
– Sejamos realistas, meu amor, nem com sua ex-mulher você tem essa preocupação toda. Não estou brava e não é por isso que quero terminar. Infelizmente, não posso explicar os motivos.
– Tudo bem, Maria – disse com um suspiro. – Amanhã trago de volta o seu carro e o cartão posso devolver já...
– Isso foi um presente meu, já lhe disse. Não se devolve presentes. São coisas que não me fazem falta e são boas para você. O carro, o cartão e o apartamento são seus. Se eu pudesse, me livrava de tudo e voltava a ser como fui aos treze anos, mas não posso.
– E o que vou fazer com tanto dinheiro? – perguntou Arthur enrugando a testa. – Eu aceitei por nós, anjo. O dinheiro não me interessa para nada.
– Você aprenderá a lidar com ele – respondeu Maria. – Na verdade, o valor é o dobro do que lhe disse antes, mas não quis contar porque sabia que não aceitaria. Eu instruí o gerente do banco a manter aplicado. Quando precisar, saberá o que fazer. Pense no que pode dar para o seu filho. Se um dia for viver no apartamento, lembre-se sempre de mim e que, depois das nossas casas da infância, foi ali que passei os melhores dias minha vida com você, então tenha muito carinho com ele. Melhor que lá, só a nossa infância roubada.
– Eu terei, Maria, eu terei, prometo. – Arthur não se esforçava muito, porque ela poupou-o de ter que fazer isso, mas sentia-se bem triste e, de certa forma, não entendia o motivo.
Diana pousou a cabeça no seu ombro por alguns segundos e afastou-se a seguir, abrindo a porta do carro e entrando. Arthur ficou parado à frente e a moça abriu a janela, pondo a cabeça para fora.
– Arthurzinho, abaixe-se – pediu.
– O que foi, Maria? – perguntou ele, obedecendo.
Ela pegou sua nuca e puxou para si, beijando-o com todo o ardor e deixando o delegado ofegante. Afastou o rosto apenas alguns centímetros e sussurrou:
– Nada é mais doce do que ouvir sua voz dizendo Maria, nada. Sempre amei muito ouvir esse nome da sua boca, mesmo antes de descobrir que era apaixonada por você. Quando eu dizia que não gostava de Maria, era porque detestava que os outros falassem, mas nunca você. Vou sentir muita falta.
– Então... – balbuciou Arthur, mas ela interrompeu.
– Não me procure, por favor. – Ligou o carro e entregou uma coisa para Arthur. – Assim, não poderá nem me ligar. É melhor dessa forma, acredite.
– Adeus, Mariazinha – murmurou para o vazio enquanto ela se afastava. – Apesar de tudo, amo você e vou sentir saudades.
Não disse mais nada e olhou para as mãos, vendo o telefone dela. Colocou o aparelho no bolso e saiu andando pela rua, pensativo. Sentia-se muito triste e isso deixava-o confuso, já que foi vê-la na intenção de se afastar ou terminar. O mais provável era que ela tivesse razão e aquele curto relacionamento tivesse sido como uma volta aos quatorze anos, quando estavam prestes a descobrir o sexo, mas Arthur tinha a certeza de que, se ela não tivesse ido embora, estariam casados há muito tempo, tamanho era o amor deles na época.
No final, quem mais o queria era quem ele não desejava mais, apesar de também sentir algo bom pela Cíntia. Pensativo, Arthur começou a sentir fome e decidiu que ia comer alguma coisa que o agradasse muito. Com os problemas que vinha passando, era o mínimo que poderia fazer por si mesmo.
Entrou na rua seguinte, um tanto escura e vazia por causa da grande quantidade de árvores que cobriam a iluminação pública. Percorreu uns poucos metros em direção ao carro e viu um homem de preto, muito perto e suspeito. Logo a seguir foi interpelado e ameaçado por uma arma.
– Trate logo de esvaziar os bolsos e nada vai acontecer – disse, ameaçador. – Eu quero os celulares.
O delegado fez cara de assustado e isso deu confiança ao assaltante, que relaxou a vigilância. Em um reflexo tão rápido que os olhos comuns não acompanhavam, ele segurou o revólver pelo tambor e girou a mão do criminoso, fazendo a arma apontar para a cabeça dele. Com a mão livre, agarrou-lhe o pulso e apertou com força, ao mesmo tempo que liberou o tambor e usou essa mão para pressionar os dedos, provocando o disparo da arma na cara do criminoso que morreu sem nem saber como isso aconteceu. O policial pegou a arma pelo cano e colocou no bolso, voltando a andar e deixando o bandido no chão.
– Imbecil – resmungou. – Atacou o cara errado e agora vai aprender a assaltar no inferno.
Entrou no carro e foi para a Barra da Tijuca, jantando em uma churrascaria famosa. Enquanto comia, concluiu que o assaltante não podia ser qualquer um porque sabia que ele tinha mais de um celular, mas nem pensou em retornar para o Leblon porque a homicídios já devia estar lá e ele não pretendia ficar dando explicações desnecessárias pelo resto da noite, uma vez que era impossível ligá-lo à morte do marginal.
Como disse ao pai que não dormiria em casa, foi para o seu apartamento ali da Barra e meteu-se debaixo do chuveiro de forma a clarear as ideias. Olhou o que havia na cozinha e encontrou café instantâneo mais umas poucas coisas, mas nada que lhe interessasse. Pensou em ir fumar na grande varanda que cercava a sala e ficava de frente para o mar, mas para isso precisaria de se vestir e estava com preguiça e mais ainda para subir para a cobertura. Por causa do cansaço, foi para o quarto e deitou-se. Não demorou a adormecer, de novo um sono confuso envolvendo a si, Anabela, Cíntia e Maria em um quarteto com uma mistura alucinada de sexo, traição e crime, até que acordou assustado porque sentiu alguém com ele na cama, alguém que o agarrava e beijava de todos os jeitos.
Acendeu a luz e olhou, encontrando Maria abraçada a si, provocante.
– Caraca, Maria, tava sonhando consigo e daí acordo com você me agarrando ou ainda estou sonhando? – perguntou, meio desorientado.
– Vai fazer diferença se esta despedida for pouco mais que um sonho louco? – perguntou Diana.
– Mariazinha, você é maluquinha, sabia? – perguntou ele que acabou sucumbindo aos seus carinhos.
– Sou e você não me ajuda a ficar certa das ideias – sussurrou no seu ouvido. – Antes pelo contrário.
Quando acabaram, Diana acabou adormecendo nos seus braços, aconchegada ao seu ombro, mas Arthur pensava no ocorrido e ao mesmo tempo na Anabela, sentindo a consciência pesada por ter feito isso após ter dito que a amava. Decidiu ser mais coerente com a própria consciência, mas restava apenas saber se era capaz. Se Anabela soubesse daquilo o mais provável era que nunca mais o quisesse. Foi com esses pensamentos que acabou adormecendo,
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