Capítulo 12 - parte 4 (em revisão)

– Isso poderia justificar a alteração de comportamento – comentou Anabela.

– Se eu seguisse essa premissa, Anabela, partiria do princípio que você também se envolveu com a gangue. – Arthur olhou nos seus olhos e ela arregalou-os.

– Você está maluco? – questionou, elevando a voz.

– Será? – perguntou Arthur, ainda sereno. – Depois de tudo o que conversamos a nosso respeito você passou a sair com Miguel sem me dizer nada, isso que um desconfiava do outro, sem falar que você tem sido agressiva comigo. Tá certo que fui grosseiro de forma imperdoável, mas, mesmo após me desculpar, você continuou agressiva.

– Olhe – disse ela, sem jeito. – Tem algo acontecendo...

– Cíntia disse uma coisa parecida.

– Arthur você precis...

– Confiar em você? – interrompeu, ele. – Ela também disse isso.

Anabela ficou calada e desarmada. Sua boca chegou a abrir e fechar duas ou três vezes, parecendo um peixe fora d'água, mas o próprio delegado veio em seu socorro.

– Acontece que eu tenho certeza que você não está envolvida nisso e poria a mão no fogo por você, mesmo se não tivesse provas disso e é por isso que o chefe nos colocou juntos no caso com sigilo total.

– Por quê? – perguntou a delegada, baixinho. – Ele não quis contar nada. Que provas são essas?

– Aqui, não quero mostrar nada para você.

– Se você acha que eu vou aceitar esse argumento para você poder sair comigo, está enganado – bradou ela, fazendo vários colegas levantarem a cabeça. – Esqueça, Arthur, esqueça.

Levantou-se e saiu da mesa. Arthur sacudiu a cabeça e viu que Miguel o observava de longe. Irritado, levantou-se e foi para a rua fumar. Aflito, ele deu-se conta que o dia estava a ser o pior da sua carreira. Ia sair para a rua quando foi interpelado por Moisés que chegou pelo lado.

– Vamos tomar um café, Arthur? – perguntou.

– Ia justamente fazer isso agora mesmo – respondeu com um suspiro profundo. – Vamos, antes que eu enlouqueça e meta uma bala em alguém.

Sentaram no barzinho, na rua para poderem fumar, e pediram os cafés. Moisés olhou para o amigo de longa data e sacudiu a cabeça.

– Irmãozinho – disse, pensativo. – Não sei o que está acontecendo com Belinha, mas aquilo não é normal com certeza.

– Faz quanto tempo aquele filho da puta tá dando em cima dela? – perguntou Arthur.

– Nem uma semana – respondeu. – Eu não entendi, juro que não entendi, mas o que eu disse antes ainda é verdade. E entendo menos ainda a súbita agressividade que vem apresentando contra você, cara. Cansei de a flagrar derretida olhando a sua foto no celular e agora isso!

– É, eu também não entendo. Sei que acabei ficando com a Maria, mas nós tínhamos conversado muito sobre tudo. Também sei que não sou dono dela, mas foi ela que fez a merda toda. Eu nem pensava mais na minha dama misteriosa até ela me agredir daquele jeito.

– Só posso dizer que ela está perturbada com alguma coisa que não sabemos, mas eu queria pedir a você para se acalmar e controlar, ainda mais agora que você falou em meter uma bala...

– Esqueça isso, foi apenas forma de falar e não era em relação a ela e sim no Miguel.

– Você tá corroído de ciúmes, cara – disse o amigo. – Controle-se.

– Tem razão.

– Arthur, você se importa se eu usar a viatura estes dias? É que meu carro pifou e moro longe pra caramba.

– Não se preocupe, mas diga isso para o Otávio. Eu uso o meu carro sem problema, até porque tenho rádio nele.

– Bem, vamos voltar para o batente. O melhor que tem a fazer é ficar frio.

– Me diga uma coisa – pediu Arthur, pensativo. – Você acha possível a Cíntia estar envolvida com a gangue da risada?

– Não diga bobagem, Arthur – disse Moisés, rindo. – Ela ficou piradinha com você, mas daí a ter mudado para o outro lado, não acredito.

– Eu também, não, mas sou obrigado a pensar em todas as possibilidades. – Olhou o relógio. – Acho que vou sair mais cedo e fazer uma visita surpresa para ela. Já deve estar em casa. Depois vou correr no Maraca.

– Vamos lá.

Retornaram à delegacia e Arthur foi para a sua mesa, encontrando a ex-namorada sentada ao lado lendo alguns documentos da pasta. Arrumou as coisas e desconectou o telefone do carregador, chaveando as gavetas e entregando uma cópia da chave para Anabela.

– Quando sair, guarde a pasta e tranque a gaveta, por favor. Vou fazer uma averiguação.

– Onde vai? – perguntou ela desconfiada. – O meu... chefe disse que era para resolvermos as coisas juntos e não estou a fim de ouvir outro esporro.

– Outro esporro?

– Ele me viu saindo da mesa há pouco – explicou, ela cabisbaixa. – Você não ouviu os gritos dele? Devem ter alcançado cada canto do prédio.

– Estava lá fora tomando um café com Moisés e não ouvi nada, mas, desta vez, acho melhor não vir – disse Arthur, sem dar explicação. Maldoso acrescentou. – Não pretendo levar outra surra.

Já estava na saída para o pátio quando ela puxou seu braço, irritada.

– Eu jurei que jamais voltaria a fazer aquilo, Arthur, então não me faça quebrar o meu juramento.

– Escuta aqui, o que deu em você, hein? – disse ele, também irritado. – Tá de TPM e pretende descontar em mim? O que foi que eu fiz para merecer isso, Anabela, amar você? – Mais baixo, continuou, severo. – Se quer saber, vou na minha ex-casa visitar a minha ex-mulher para poder investigar todas as probabilidades. Satisfeita? Acha que ela vai querer ver você ou as duas combinaram de ficarem iguais em relação a mim? Com ela, pelo menos, tive oito anos de felicidade antes de virar capacho.

– Se me amasse, não teria feito o que fez, Arthur.

– Engano seu. Você me jogou nos braços de outra mulher, uma que eu evitava pensar exceto quando nosso relacionamento passou a ser um namoro porque, nessa hora, eu só pensava em você... até você pôr tudo a perder.

– Você...

– Eu não sou seu dono, Anabela – continuou ele, interrompendo-a –, e demorei demais para descobrir a verdade para mim mesmo, a verdade que meu pai jogou na minha cara antes mesmo de eu pensar que era possível, mas eu nunca mais vou aceitar ser tratado assim por alguém, entendeu? Mesmo que eu a ame loucamente, não aceitarei isso de novo.

– Se você partiu para outra – continuou Arthur, com as nãos tremendo – tudo bem, eu perdi o direito a reclamar de seja o que for. Você tem razão, mas então não me trate desse jeito. Tenha um mínimo de respeito, se não pelo que rolou entre a gente, então pelo que sinto e pela dor que me está causando.

Arthur terminou de falar e virou as costas, saindo para que ela não visse que começava a ter lágrimas descontroladas a correr dos olhos. Secou-as com as costas da mão e pegou um cigarro, ainda tremendo. Após errar duas vezes o isqueiro, logrou acendê-lo e entrou no carro.

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