Capítulo 12 - parte 3 (em revisão)
Arthur voltou para o seu lugar e, pouco depois, Anabela apareceu com alguns objetos dela e sentou-se na cadeira ao lado.
– Não pense que isso muda as coisas, Arthur – afirmou enérgica. São apenas ordens do chefe que só por acaso é meu pai.
O colega não se dignou a responder, apenas pousou o telefone em cima da mesa e abriu a pasta, voltando a ler. Anabela olhou o aparelho e exclamou:
– Caraca, você quebrou o vidro do telefone e ainda não arrumou? – perguntou. – Deixe de ser desleixado e conserte antes que entre água dentro.
– Eu não quebrei o meu telefone, Anabela – respondeu falando baixo enquanto olhava para a pasta. Ergueu os olhos direto nela e continuou. – Você quebrou, quando chutou o aparelho que estava no meu bolso. Você está cada vez mais parecida com a Cíntia, sabia? Definitivamente, se quer que eu me afaste não precisa fazer isso, basta dizer.
– Eu... eu... desculpe – balbuciou. – Precisamos...
– Vamos almoçar, Belinha? – perguntou Miguel, fazendo um carinho no seu cabelo. – Quer vir com a gente, Arthur?
– Não, acabei de perder o apetite – respondeu o delegado, seco.
– Eu vou ao banheiro e já volto, Miguel.
– Aguardo você lá fora, anjo. – O delegado mandou um beijo para o ar e saiu. Mal o viu na rua, Janjão sentou à frente do amigo.
– Olha, irmãozinho – disse Arthur com a voz triste. – Se você veio aqui para dar sermão, já tomei moral demais do Moisés e dela. Por hoje chega, ok?
– Eu não sou bom com essas coisas de moral, mano, e Moisés conhece você há bem mais tempo que eu – respondeu o amigo, bonachão. – Cara tá tudo errado por aqui e não entendo mais nada. Eu jurava que Belinha não ia muito com Miguel e agora isso!
– Ela deve estar se vingando de mim e acertou o alvo em cheio, bem na mosca. – Arthur suspirou. – Como você sabe, é uma atiradora nata. De qualquer forma, a culpa é toda minha.
– A questão é que eu acho que ela não namora com ele, apenas fica nas insinuações ou até flerta. Cara, eu não entendo nada e acho que ela usa aquele babaca com algum objetivo.
– Não é para entender mesmo – comentou Arthur. – E prefiro mudar de assunto. Como é, tá a fim de comer um churrasco? Eu pago.
– Churrasco zero oitocentos é tudo de bom, vamos nessa.
― ☼ ―
Entraram na churrascaria e Janjão, de olhos arregalados, disse:
– Eu, irmãozinho, esta churrascaria é a mais cara da região! Quem sabe vamos em algum lugar que seja em conta porque eu não quero ser responsável pela sua falência.
– Tô nem aí. – Arthur riu. – Vamos comer e que se dane. Eu já disse que pago.
– Que foi, a sua dama misteriosa encheu você de grana? – perguntou ele rindo. – Preciso arrumar uma dessas.
– Você pode não acreditar, mas foi exatamente isso que aconteceu, Eu que não gosto de ficar abusando – disse o amigo. Arthur sentou-se, olhou para o colega e continuou. – Você lembra quando me conheceu?
– Claro que lembro – respondeu Janjão. – Você andava mais murcho que planta no deserto por causa de uma garota. Moisés que vivia enchendo a sua paciência, dizendo que ela era uma magrela feiinha com aquele óculos. Não a conheci nem lembro o nome dela, mas você vivia falando dela.
– Ela não era feiinha porra nenhuma. Isso era provocação do Moisés – disse Arthur, rindo. – Ela tinha olhos mágicos e só eu enxergava isso porque eles mudavam de cor quando ela olhava para mim.
– Lembro de você dizendo isso – contou Janjão. – Mas o que esta conversa tem a ver com a grana?
– A minha dama misteriosa é ela – explicou Arthur.
– Caraca, meu! – exclamou o amigo. – Cê tá falando sério que aquele mulherão é sua primeira namorada? Você acertou na megassena!
– Talvez tenha acertado, Janjão – disse Arthur, triste. – Mas talvez não deva continuar.
– Por quê?
– Porque acabei de descobrir que eu amo loucamente a Anabela.
– Fodeu, meu. – Janjão olhou para ele. – Cara. Não vá se precipitar. Que você ama a Belinha, eu sempre soube. Você tinha que ver o seu desespero quando ela desmaiou, lá no clube.
– Nem me fale – disse, abatido. – Por que será que a gente sempre tem que fazer alguma merda na vida?
– Você tem que se acalmar, conversar com ela. Pense bem, que ainda vai acabar sem as duas.
– É, devo repensar toda a minha vida e as minhas cagadas. Se eu tivesse ouvido o meu pai, não tava agora nesta merda. Vai beber o quê?
― ☼ ―
Retornaram para a delegacia e o delegado voltou a ler a pasta sozinho porque Anabela ainda não retornara. Quando ela apareceu e sentou-se ao seu lado, ele não aguentou:
– Foi dormir no motel? – perguntou, azedo.
– Se eu tivesse ido, não seria mais problema seu, Arthur – respondeu, zangada. – Não foi você que disse que a boceta é minha?
– Eu já me desculpei – disse ele, triste. – Mas entendo que não aceite as minhas desculpas. Eu mereci.
– Não fui, Arthur – disse ela, arrependida. – Eu não faria com outro algo que me lembrasse você.
Após essa frase ambígua, Anabela suspirou e perguntou:
– O que apurou?
– Estou relendo tudo do início. A primeira pausa que fizeram, alegaram que foi para as festas do ano novo, mas será que haveria algum outro motivo? – pensou alto. – Teria acontecido aqui algo que mudasse o modus operandi dessa gente?
– A única coisa que aconteceu foi a surra exemplar no chefe da sua esposa e sua separação – comentou a delegada.
– E nós iniciamos um namoro. – Arthur procurou os olhos dela, mas Anabela desviou o olhar. – Só que isso não me parece relevante para eles. E, agora, mais um período estranho de inanição. Por que motivo teriam pausado nestas três semanas? O que aconteceu nelas?
– Você tirou férias...
– Mas eles atacaram no dia que você passou mal.
– Muito bem, eles atacaram uma vez e depois teve o atentado contra você.
– Exato. Após o atentado nada mais aconteceu. Por quê? – perguntou-se Arthur. – O que foi que fizemos?
– Você disse que ia passar a correr armado.
– O chefe não colocou vigilância em algumas pessoas?
– Em mim, na sua esposa e na empresa dela, que, por sinal, pertence à sua namorada. – Do jeito que ela usou a palavra namorada, Arthur sentiu uma ponta de ciúme e isso deixou-o feliz porque poderia haver uma chance.
– A vigilância continua? – perguntou Arthur, procurando os documentos das ordens.
– Sim. Ela fez um escarcéu dos infernos, mas meu pai foi irredutível.
– Será que existe uma ligação entre Cíntia e a gangue? – perguntou-se Arthur, incrédulo. – Não, não pode ser porque eu já teria descoberto!
Arthur olhou as datas dos ataques em uma planilha e começou a marcar alguns dias.
– Muitos dos dias dos ataques, lembro que ela chegou tarde em casa, mas em outros estava em São Paulo e outros ainda não me lembro, só que isso não faz sentido. Afinal também chegou tarde muitas vezes em que não houve ataques.
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