Capítulo 12 - parte 1 (em revisão)
"Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos."
Nietzsche.
As férias escoaram-se mais rápido do que Arthur gostaria e ele precisou de retornar ao trabalho. Não viu Anabela nessas quase três semanas finais, mas nunca deixou de falar com ela ou saber da sua saúde. A delegada respondia, mas parecia distanciar-se a cada dia que passava.
Em compensação, o relacionamento com a Maria Diana aparentava ser cada vez mais firme. Para infelicidade do delegado, apesar de toda a alegria de estar com a garota dos seus sonhos, bastava ficar a sós e seu coração atacava-o, impiedoso, martirizando os seus sentimentos e deixando-o sempre muito confuso. Nessas horas, descobria-se em forte nostalgia olhando fotos dele com a delegada no telefone e colocava a namorada para escanteio. Por causa disso, começou a cogitar a hipótese de terminar o seu romance com a Diana, mas, quando chegava perto dela, perdia a coragem e acabava envolto em uma confusão enorme.
No dia em que retornou ao trabalho, Anabela não estava. Os amigos receberam-no com abraços e sorrisos, mas os seus olhos, insistentes, procuravam por ela, varrendo cada centímetro quadrado daquela sala e das adjacentes.
– Foi ao médico – disse Moisés, rindo. – Heitor tá sempre em cima dela. Até parece que é pai da garota!
– Quem? – perguntou Arthur, fazendo-se de desentendido.
– Caraca, Arthur – Moisés riu, estendendo a chave. – Você acha que não vi seus olhos procurando a Belinha? O que tem de errado nisso, cara? Vai ficar sem perdoar a garota o resto da vida, meu? Não dá mole não que tá cheio de neguinho dando em cima daquele filé, cara. Acho que você vai ter uma surpresa muito desagradável.
– Eu e ela já conversamos, Moisés, e você me conhece bem demais para saber que a perdoei faz muito tempo, só que falei com ela ontem e pensei que já estava bem, mas agora você me diz que foi ao médico – devolveu a chave da viatura. – Vim com meu carro, então fique com ela por hoje.
– Ela disse que são apenas alguns exames de rotina – respondeu o amigo. – Vamos para a minha mesa que vou passar os detalhes do caso.
– Só um minuto.
Arthur não deu explicações, apenas saiu e foi para a sala do chefe. Bateu à porta e entrou, encontrando Heitor compenetrado a ler um documento. Ele ergueu os olhos e sorriu.
– Oi, filho – disse a título do cumprimento. – Vejo agora que você precisava mesmo das férias. Parece outra pessoa e andou ganhando massa muscular!
– É chefe, coloquei em dia os meus exercícios – disse Arthur, sorrindo gentil. – Acontece que vim aqui saber uma coisa do senhor: o que a Belinha tem de errado? Eu estou muito preocupado!
– Por que acha que tem algo errado com ela? – perguntou Heitor, fazendo cara de quem não entendeu.
– Ela tem ido ao médico mais vezes do que o usual para uma simples fraqueza, chefe.
– Olhe, filho, para mim ela tem uma fraqueza e problema de absorção de nutrientes que provocou isso. Se ela tem mais alguma coisa, terá de lhe perguntar, porque eu não sei lhe dizer.
– Obrigado, chefe – disse Arthur. – Desculpe incomodá-lo.
– De nada, filho. Bem-vindo de volta.
– Obrigado. – Arthur voltou para a mesa do amigo. – Bem, amigão, o que rolou nessas semanas depois do atentado?
Moisés olhou para o amigo, sorriu e disse, apontando a cadeira ao lado:
– Nada. Absolutamente nada. – Pouco depois ele irrompeu numa risada monstruosa e continuou. – Meu Deus, Arthur, a sua cara foi de cinema, mas é isso mesmo: nada aconteceu nestes dias todos. A propósito, conseguimos um vídeo nas redes sociais de outro ângulo do seu atentado e identificamos de onde veio a pessoa que filmou.
– Onde? – perguntou Arthur, curioso. Moisés acionou o vídeo no computador e mostrou.
– Um carro com vidros polarizados e mais comum impossível. Foi isso que os especialistas em computação disseram ao comparar os ângulos formados pelas duas imagens.
– Por falar em especialista, tenho que conversar com um certo especialista – disse Arthur. – Agora precisamos de analis...
O delegado parou de falar e ergueu os olhos. Devagar, abriu um sorriso grande. Moisés ergueu o rosto e viu Anabela chegando de semblante sério. Arthur levantou-se e pegou nas suas mãos.
– Vejo que está mesmo melhor, Belinha – disse, alegre.
– Obrigada – respondeu ela. Arthur achou que a sua voz saiu bastante seca. – O que faziam?
– Colocava Arthur a par da situação – disse o amigo.
– Ok – comentou Anabela, saindo da sala. – Então não precisam de mim. Eu vou resolver umas coisas.
Sem esperar resposta, ela saiu e deixou Arthur de boca aberta.
– Caramba – comentou. – Como ela foi seca! Nem parecia a mesma pessoa!
– Você pediu, cara – disse o colega. – Queria que ela esperasse para sempre?
– Não fui eu que a enchi de porrada, Moisés, além do mais, nós conversamos bast...
– E daí? – perguntou o amigo encolhendo os ombros. – Você não lhe deu mais abertura nenhuma e ficou com aquele baita avião de cabelos vermelhos. Daí ela parou de fumar e bastou isso para Miguel dar em cima dela. Se deu mal, cara.
– Miguel deu em cima dela? – perguntou incrédulo. – Não posso acreditar!
– Cara, vamos trabalhar?
– Mas eles... deixa pra lá, continue – pediu Arthur, desanimado. Soltou um longo suspiro.
Moisés começou a falar, mas o delegado não conseguia concentrar-se e só pensava na Anabela, imaginando-a e ao amigo juntos, coisa que lhe custava a aceitar, ainda mais depois de tudo o que conversaram. Mas o amigo tinha razão: ele não podia cobrar nada dela, já que estava com Maria. Suspirou, sacudiu a cabeça e olhou para Moisés.
– Entendeu? – perguntou ele.
– Entendi o quê? – quis saber Arthur. – Por acaso você disse alguma coisa?
– Porra, Arthur – esbravejou o colega. – Você não ouviu nada do que eu disse!
– Desculpe, Moisés. Apenas me dê a pasta que vou para a minha mesa tentar ler. É que fiquei muito surpreso, chocado talvez fosse a palavra mais correta.
– Vou dizer na sua cara porque eu não sou de mandar recado, Arthur. Eu não tenho pena de você. Você mereceu.
– À tá, muito obrigado – ripostou Arthur, zangado, pegando a pasta e levantando-se. – Quem sabe você aproveita e também vai dar em cima dela?
– Eu não me importava nem um pouquinho de sair com ela, cara, mas sei muito bem que por trás dessa sua casca grossa você é louco por aquela mulher e eu jamais daria em cima da mulher que um amigo meu ama, porque EU sou seu amigo de verdade.
A resposta ácida do colega fez Arthur parar. Arrependido, virou-se e encarou Moisés nos olhos.
– Desculpe a minha estupidez – respondeu, comovido e muito abatido. – Você tem razão e eu sou mesmo um idiota de casca grossa. Pelo jeito, agora deve ser tarde.
– Pense no lado positivo, você ainda tem aquela ruiva de acordar defunto.
– É, tenho. – Arthur suspirou. – Desde os treze anos, mas...
– Você tá dizendo que aquela Deusa... aquele mulherão de arrancar suspiro em padre é a magrela da Maria? – perguntou ele, de olhos arregalados. – Cara eu nem lembrava mais dela, mas bem que a achei parecida! Vocês dois eram loucos um pelo outro. Então, o que é esse mas?
– É ela mesmo, Moisa – respondeu ele, abatido. – Esqueça o mas. Eu não ando bem da cabeça desde o final de Novembro, apenas isso.
– Vá analisar o caso com calma e conversamos depois – disse Moisés com um sorriso cortês.
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