Capítulo 11 - parte 5 (em revisão)
O delegado dirigia de volta para a Tijuca, pensativo. Agora ele entendia com clareza o seu sentimento desde que a viu naquele restaurante. Num repente, uma luz acendeu-se na cabeça e ele disse para si mesmo, em voz alta:
– Burro... ela sabia que você estava lá. Ela fez de propósito para o despertar. Ela seguia você há muito mais tempo.
Continuou a pensar nela e, devagar, a imagem da delegada apareceu na sua cabeça. A primeira coisa que sentiu foi saudades, mas depois pensou se ela estaria melhor. Arthur começou a achar que perdia o controle da sua vida e sentimentos por completo. Suspirou fundo.
Chegou a casa e entrou. A primeira coisa que fez, após colocar a roupa para lavar, foi sentar na piscina a fumar. Seu semblante estava tão carregado que o pai viu e aproximou-se devagar, enquanto Arthur pegava o telefone e ligava para o chefe. Jorge parou de andar a aguardou.
– Oi, chefe, sou eu, Arthur... sim, chefe. Me diga como a Belinha está? Tenho andado muito preocupado com ela e acho que não foi sincera comigo... Tem certeza que é só fraqueza e stress?... Tá bom, chefe, obrigado.
– Merda, o que vou fazer agora? – disse em voz alta, passando as mãos na cabeça.
O pai sorriu, voltou a aproximar-se e sentou ao seu lado. Olhou para o filho, sacudindo a cabeça.
– Você está muito confuso, filho.
– Pai, é possível amar duas mulheres? – perguntou ele, exasperado.
– Mulher não é que nem roupa, que você troca de vez em quando para variar, Arthur. Mulher é para se amar e cultivar de forma única e pura. O que aconteceu?
– Diana me deixava louco, alucinado, desde a primeira vez que a vi, mas depois veio a gaúcha e eu traí a Cíntia pela primeira vez na vida. Só que também mandei ver com a Diana, meio que por acaso, por sinal. Porém, quando estou perto dela, não quero ficar perto de mais nada. É forte, explosivo e hoje descobri um segredo.
– Que ela é Maria? – O pai riu da cara do Arthur. – Não me venha com papo de olhos diferentes que lentes de contato resolvem isso, ou não se deu conta? Ontem eu e sua mãe conversamos e ela lembrou que Maria era Maria Diana.
– Pois é isso mesmo, pai. Ela é a minha Maria e hoje senti alguma coisa tão forte que até doeu. Mas, no meio do caminho de volta em quem eu começo a pensar?
– Anabela.
– Merda. E pior, hipoteticamente traí Maria com Anabela anteontem de noite porque não me segurei. E daí, hoje de manhã, após correr o que faço? Passo o resto da manhã na cama com ela e descubro a verdade.
– Eu pensei que era o rei da sacanagem antes de me casar, mas você ganhou disparado – disse o pai, rindo. Mais sério, colocou a mão no seu ombro e perguntou. – Em quem apostaria as suas fichas?
– Droga, pai, você não ajuda nem um pouco. Sei lá em quem apostaria. Diga você.
– Eu aposto o que você quiser que você vai acabar escolhendo Anabela e vou ficar muito feliz, se fizer isso.
– Posso saber o motivo?
– Maria Diana é o seu passado, Arthur. Uma lembrança de um forte amor infantil mal resolvido. Isso que você sente é pura paixão e encanto, talvez uma consumação, enquanto Anabela é o seu presente real e cheio de afinidades. O que você demonstra pensando nela é muito mais que paixão; é amor e é maduro. Negue se for capaz, mas lembre-se que estará mentindo a si mesmo. Eu confesso que sempre adorei a Maria e como ela sempre deixava você feliz, mas Anabela é algo diferente, apaixonante. Ela é especial e admito que gostei ainda mais dela. Ela tem tudo a ver com você, filho, e muito mais afinidades que qualquer outra mulher que você já conheceu.
Arthur ficou calado, ouvindo o pai. Quando Jorge calou-se, ele permaneceu em silêncio.
– O que pretende fazer, filho?
– Eu disse para Anabela que achava que a amava e que voltaria para ela, mas apenas depois que eu resolver toda esta bagunça na minha cabeça e tiver a certeza dos meus sentimentos.
– Em outras palavras...
– Vou continuar com Diana até estar convencido.
– Me conte o que aconteceu com ela desde que saiu daqui do lado – pediu o pai, mudando de assunto. – Sempre adorei a moça e tive muita pena por você.
Arthur contou o que sabia e o pai ficou escandalizado.
– Pelo amor de Deus. Esse cara devia ser fuzilado. Nunca fui com a cara dele que era esnobe até não poder mais e também sabia que ele não gostava de você, mas a mãe dela acobertava tudo porque adorava você. Confesso que não entendi a reação dela perante a filha.
– Nem eu, pai. – Arthur olhou o relógio. – Bem, vou buscar o Pedrinho.
– É cedo.
– Eu vou caminhar, para pensar melhor.
Enquanto andava, o telefone de Arthur tocou e viu que era a ex-esposa.
– "Oi, Arthur. Importa-se se eu pegar Pedrinho e passar a noite com ele? Até já estou na frente da escola."
– Claro que não me importo. Só me espere chegar que estou perto e quero dar um beijo nele. Ontem não o vi. Chego em cinco minutos.
― ☼ ―
Pedrinho estava com a mãe na frente da escola quando Arthur atravessou a rua. Ao vê-lo, o pequeno correu para os seus braços, alegre, e Cíntia sorriu. Arthur parou na frente dela.
– Oi, Cíntia, obrigado por esperar.
– Tudo bem? – perguntou, beijando seu rosto. – Você parece preocupado.
– Um pouco, mas já passa.
– Papai, você vai voltar pra tia Bela? – perguntou. – Vovô disse que você tava cuidando dela porque tava doente. Vocês não tão mais brigados?
– Não sei, filho – respondeu Arthur. – Hoje você fica com mamãe que ela tá com saudade.
– Arthur, o que houve? – perguntou a ex, preocupada. – Foi por minha causa, não é? Eu pensei que já se tinha resolvido! Meu Deus, me perdoe, Arthur, eu não sabia o que fazia!
– Esqueça, Cíntia – respondeu ele. – Pedrinho, me dê um beijo que vou indo.
– Quer carona? – perguntou ela. – Me sinto mal deixando você a pé quando o carro é seu.
– Não se preocupe. Eu vim a pé porque desejava relaxar, mas estou com um carro que uma amiga emprestou.
– É um baita carro, mamãe – disse Pedrinho, entusiasmado e abrindo as mãos em mímica. – Vovô chegou a falar uma palavra feia quando viu ele na garagem. Papai ontem passeou comigo nele.
– É mesmo? – Cíntia enrugou a testa. – Bem, Arthur, o seguro já liberou o sinistro e devo comprar outro carro semana que vem, daí devolvo o seu. Nem tenho como agradecer essa ajuda porque ir de ônibus para a Barra é um parto.
― ☼ ―
De noite, o delegado encontrou Maria e foram ao cinema. Quando o filme acabou, ficaram aos beijos no escuro, lembrando as primeiras descobertas e só saíram quando a última sessão já ia começar. No corredor vazio, Diana passou em frente ao banheiro de deficientes e não teve dúvida: sorrindo maliciosa, olhou para os lados e entrou com ele...
– Você é mais maluca do que eu, meu amor – disse Arthur, no restaurante. – Pelo menos hoje estava com esse vestido que a deixa ainda mais gostosa.
– Gosto de ficar gostosa para você, Arthurzinho.
– Algum dia imaginou que fossemos fazer uma loucura dessas?
– Meu Thurzinho, acho que comecei a sonhar com você e a pensar nessas loucuras bem antes de você. Quantas vezes desejei e fantasiei naquela idade até que você criou coragem e falou comigo lá no pátio de casa. Foi tão doce! E como acha que aguentei meu marido? Eu imaginava você no lugar dele!
– Caraca! – disse, sem jeito. – Você é taradinha!
Ela riu, sedutora.
– Por que não veio de carro, amor? – perguntou, enquanto andavam na rua.
– Eu estava caminhando ao acaso, quando você ligou. Por coincidência, nessa hora, estava bem na frente do metrô. Daí eu entrei e vim.
– Então vou levar você para casa – disse Diana. – E vamos cedo porque minhas pernas estão meio bambas por sua culpa.
– Quando um não quer, dois não brigam, amor – disse Arthur, rindo. Foram andando e ela parou na frente do carro. – Fala sério, Maria, isso é uma Ferrari!
– Quer dirigir? – perguntou com um sorriso travesso e estendendo a chave. – Vamos?
Arthur encostou o carro na frente da casa do pai e viu as luzes acessas, uma vez que era cedo.
– Venha dar oi para eles – pediu. – Eram loucos por você e vão adorar revê-la.
– Também gostava eles – afirmou Diana, saindo do carro. Parou e olhou por algum tempo para a casa ao lado, suspirando. – Eu fui tão feliz aqui! O único lugar da minha vida onde era feliz de verdade. Ainda existe aquele buraco na cerca, lá nos fundos, lembra? A nossa passagem secreta?
– Não, o dono fechou.
– Então vou comprar essa casa e mandar fazer o buraco. E talvez more nela só para voltar a invadir seu quarto no meio da noite, só que agora com outras intenções.
Arthur riu e puxou o seu braço.
– Não pretendo morar aqui muito tempo, anjo. – Entraram em casa e o delegado elevou a voz. – Pai, mãe, venham ver quem veio dar oi.
– Maria! – disse Sara, levantando-se emocionada. Abraçou a mulher que não via há mais de dezesseis anos. – Que bom vê-la, minha filha. Você está deslumbrante!
– Também tinha saudade de vocês – disse ela...
― ☼ ―
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