Capítulo 11 - parte 1 (em revisão)

"Jamais se deve proceder contra a justiça. Nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça, como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre inadmissível."

Platão.


Levou-a para o quarto e ajudou-a a se despir o que o deixou baratinado porque, ao contrário do que ocorreu com a ex-mulher, ele desejava muito a Anabela. Para piorar tudo, ela olhava para ele com um ar de quem queria brincar. Quando se levantou da cama, ficou tonta e Arthur teve medo que ela sofresse uma queda no boxe. Levou-a para o banheiro e sentou-a no banquinho que tinha ao lado da pia enquanto regulava a temperatura da água. A seguir despiu-se e puxou por ela para debaixo da água.

– Assim, você vai me deixar louca de vontade, Arthur – disse, sorrindo, olhando nos seus olhos e abraçando-o.

– Eu sei e também estou, mas não vai rolar.

– Desmancha prazeres.

– Caramba, Anabela. Você está passando mal e pode estar doente, que droga! – exclamou Arthur, preocupado. – Já pensou se lhe dá um troço no meio disso? Eu morreria de tristeza!

Ela calou-se e deixou-o banhá-la, aproveitando também para se lavar. Saíram do chuveiro e secaram-se. Anabela deitou-se e puxou a sua mão.

– Te garanto que minha doença passa com teus carinhos – disse ela, sedutora.

Arthur sentou-se na cama e, depois, deitou-se ao seu lado enquanto Anabela aconchegou-se no seu ombro.

– Amo você – disse.

– Eu também acho que a amo – respondeu, para sua surpresa.

Anabela arregalou os olhos e ergueu o rosto, olhando para ele. Devagar, buscou seus lábios e beijou-o. Voltou a deitar a cabeça no seu ombro e disse:

– Mas você disse que não sou digna do seu amor.

– Disse sim, mas parece que o meu coração não concorda com minha cabeça. Pascal estava certo: o coração tem razão própria.

– E a dama misteriosa, onde se encaixa ela?

– Esse é outro grande problema – respondeu. – Porque acho que também a amo. É como se ela fosse um recomeço.

– Uma cura para o seu passado?

– Não sei. Estaria mais para um retorno dele – respondeu Arthur. – Com certeza não sei explicar isso.

– Sua sinceridade dói um pouco.

– Eu sei, mas também sei que não gostaria de ser enganada, não é?

– E por que disse que acha que me ama?

– Porque penso em você toda hora, às vezes até mesmo quando estou com Diana. Já tentei negar isso a mim mesmo, mas não consigo.

– E por que será que o meu instinto me diz que, mesmo assim, você não vai voltar para mim?

– Porque não vou, pelo menos não agora – respondeu. – Eu fiz um juramento para o Pedrinho, bem na sua frente. Lembra o que foi?

– Jurou que nunca mais deixaria alguém tratá-lo mal – respondeu, triste. – E eu fiz bem isso.

– Você foi muito pior que a Cíntia, Anabela – disse ele. – E pior, não só não me deixou explicar o que aconteceu como estava sem razão. Eu era inocente.

– Por um deslize você pretende me crucificar, Arthur? E se eu lhe jurar que nunca mais farei isso?

– Acredito em você, Belinha, mas eu preciso saber o que se passa na minha cabeça com relação a tudo, em especial vocês as duas. Eu garanto a você que voltarei se souber de fato que é a mulher com quem quero partilhar a minha vida. Juro, ok?

– Então você me ama mesmo?

– O que acha? – Arthur riu. – Estou deitado na sua cama ao seu lado queimando em desejo e você sabe muito bem já que sua mão boba anda passeando por aí, sem falar que estou me segurando desesperado para poupar você por causa do mal-estar. E tudo isso depois de quase me matar com uma surra injusta!

– Então – disse ela, provocando mais ainda – diga no meu ouvido que me ama e não me poupe que é justamente isso que preciso para melhorar. Em troca eu prometo que espero até ao fim do mundo e me alimentarei bem.

Arthur tremeu um pouco, não se aguentando mais. Virou-se de lado e beijou-a, falando no seu ouvido:

– Amo você, gaúchinha.

― ☼ ―

Arthur acordou bem cedo. Ficou deitado lembrando da noite anterior e a consciência pesada não o perdoou. Ouviu a respiração regular da Anabela e olhou para o lado. Ela estava deitada e linda, toda sensual pela sua natureza. Sorriu e beijou de leve os seus lábios, erguendo-se. Tomou um banho rápido e foi fazer café. Não muito depois, ela apareceu secando os cabelos e irradiando beleza. Aproximou-se dele e beijou Arthur, que sorriu e disse:

– Você parece bem melhor, gaúchinha. Vá se vestir que o café tá quase pronto.

– Tá. – Virou-se e teve mais uma vertigem, apoiando-se na parede. Arthur viu e voltou a ficar preocupado.

– Você vai ao médico hoje.

– Claro que não – respondeu Anabela. – Já estou bem melhor.

– Uma pinoia que está. – Arthur pegou o telefone. Quando atenderam, disse. – Chefe, sou eu, Arthur.

Anabela fez uma cara de furiosa e ele riu, mas continuou:

– Chefe. Ontem a Belinha passou muito mal no clube de tiro e eu a trouxe para casa dela. Achei que era apenas stress e falta de alimentação, mas ela ainda não está bem, apesar de melhor. Como ela não me escuta, gostaria que o senhor viesse levá-la para o médico. Estou com medo por ela... ok, obrigado.

Desligou e virou-se para a garota que o fuzilava com o olhar.

– Desculpe, Belinha, mas você é demasiado preciosa para que eu não me preocupe. Seu pai chega em meia hora, então vou ajudar a se arrumar e depois você toma café. Mais tarde você me liga e conta o que foi. Eu vou correr na Barra.

Resignada, ela deixou-o ajudar a se arrumar e, depois, serviu-lhe café.

– Você ainda me ama ou foi só ontem?

– Se eu disse que a amo, pode acreditar, mas já sabe tudo o resto. Então, me deixe saber de fato o que quero. Afinal, a culpa é toda sua.

Heitor bateu à porta e Arthur ajudou a colocá-la no carro. Ele estendeu a mão e disse:

– Obrigado, filho.

– De nada, chefe. – Virou-se para ela. – Eu vou limpar a cozinha e depois vou correr. Me ligue, por favor. Não me deixe preocupado.

Arthur arrumou a casa e deixou tudo limpo antes de sair. Quando chegou à casa dos pais, eles queriam saber.

– Parecia ser fraqueza por não se alimentar direito, mãe, mas falei com o pai dela e ele foi buscá-la para a levar ao hospital e fazer alguns exames. Afinal, não custa nada ser precavido.

― ☼ ―

Arthur estacionou na Barra e foi correr. Daquela vez correu mais do que o habitual, pensando na bagunça que sentia. Ele não gostou de trair a Diana, mas também não se arrependeu. Não sabia o que ia acontecer, mas sabia que em breve precisava de tomar uma decisão, uma decisão que seria para toda a sua vida e isso era o que mais o deixava desorientado.

O sol da manhã e o vento fresco do mar revigoravam-no e ele sentia-se bem, apesar da preocupação com a Anabela. Na sua opinião ela devia ter labirintite ou algo parecido e ainda bem que isso era fácil de resolver. Pensou na Diana com aquele sorriso e seu hálito de hortelã que o desmontavam por inteiro e suspirou.

– "Que rica merda você foi arrumar, cara" – pensou ele coçando a cabeça. – "Seria possível amar duas mulheres? Eu devia ter nascido árabe."

Mão pôde deixar de dar um sorriso com esse pensamento, imaginando-se casado com duas belas mulheres, mas de forma inconsciente acabou voltando as suas atenções para a Anabela e a sua saúde.

― ☼ ―

Blaise Pascal, filósofo francês que disse: "O coração tem razões que a própria razão desconhece."

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