Capítulo 10 - parte 5 (em revisão)

Artur ia recomeçar a atirar com a venda quando ouviu um baque ao seu lado. Baixou a venda e olhou para trás. Ele não sabia com precisão o que sentiu na hora, apenas que seu coração disparou e a garganta contraiu-se em agonia, ao vê-la caída. Jogou a arma para o balcão e correu até ela.

– Anabela – chamou o seu nome com um berro enorme. – O que você tem?

Seus amigos ouviram o grito e também vieram correndo, mas ele foi o primeiro a tocar nela porque estava a menos de dois metros.

Pegou Anabela ao colo e levou-a para um dos grandes bancos de madeira encostados à parede. Deitou-a lá e ajoelhou-se, com as mãos tremendo. Auferiu o pulso, constatando que estava um pouco acelerado. Preocupado, ergueu o rosto para os amigos que ficaram à sua volta.

– Ela tomou alguma coisa? – perguntou. – Bebida, remédio?

– Não tomou nada – disse Moisés. – Passamos o dia juntos, Arthur.

– E comer, ela comeu alguma coisa forte? – voltou a perguntar, aflito. – Isso aqui não é normal, cara.

– Ela quase não comeu, Arthur, o que você acha, porra? – perguntou Moisés exaltado, mas ganhou um olhar tão gélido do delegado que se calou.

Anabela ergueu a mão até ao rosto, ainda de olhos fechados e Arthur voltou a dedicar atenção a ela, preocupado e angustiado. A gaúcha abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi ele.

– Oi, Arthur, estou melhor – disse ela, tentando erguer-se, mas o policial pousou a mão no seu peito, impedindo. – Sério, estou bem. Acho que foi uma queda de pressão. Que linda maneira de tentar falar com você.

– Isso não é natural, Anabela – disse ele, ajudando-a a sentar-se no banco. – Quer me matar de susto? Quedas de pressão são efeitos colaterais de muitas outras causas possíveis.

– Acho que não tenho comido direito, só isso.

Janjão foi o primeiro a reagir e disse para os amigos:

– Ela está bem, vamos.

– Mas... – começou Marcão. Janjão, com a sua tradicional sutileza, pegou cada um com uma mão, segurando pelo cangote e erguendo no ar, levando-os consigo que batiam os pés sem apoio.

– Ela está bem e tenho certeza que Arthur vai resolver – insistiu o grandalhão, autoritário. – Eles precisam de se resolver e nós estamos sobrando. Wowwww. Olha só o alvo dele!

Soltou os amigos e aproximou-se.

– Tenho que levar esse para a turma ver – disse, pegando o papel e enrolando, mas Arthur nem mesmo prestou atenção. O gigante da polícia deu um empurrão nos amigos. – Vamos, seus manés.

― ☼ ―

Anabela permaneceu sentada porque sabia que, se levantasse, voltaria a desmaiar, de tão estranha que estava.

Arthur olhou para ela com evidente preocupação e seus olhos transmitiram-lhe uma mensagem secreta, uma mensagem que lhe dizia que nem tudo estava perdido.

– O que foi que almoçou hoje? – perguntou com voz suave.

– Qualquer coisinha, sei lá – respondeu ela, evasiva.

– E o que jantou ontem?

– Não lembro direito – respondeu, para não mentir.

– Quer matar-se? – perguntou franzindo o sobrolho. Apontou para a pistola na mesa e continuou. – Há maneiras mais eficientes e menos dolorosas. Vamos, vou levá-la para jantar e depois deixo você em casa. Veio de carro?

– Não.

– Melhor assim. Você não pode dirigir nesse estado e eu não tenho como levar dois carros. Fique aqui que vou arrumar as coisas.

Ela ficou olhando o delegado guardar tudo com cuidado e colocar a pistola nas costas, passando a camisa para fora e por cima da arma, para ocultá-la. Aproximou-se dela e Anabela tentou levantar-se devagar, mas voltou a tontear, quase perdendo a consciência de novo. O delegado amparou-a e foram caminhando sem pressa. Quando chegaram à frente da baia dos amigos, pararam.

– Gente – disse-lhes. – Vou levar Anabela pra comer alguma coisa e depois para casa. Não se preocupem. Me dê a pistola dela, por favor, Janjão.

– Ok. Se cuidem – disse o amigo, entregando a arma da moça. Rindo, continuou. – Qualquer problema, basta chamar a polícia.

― ☼ ―

Arthur tentava não pensar nas ordens que seu coração ditava e continuava ajudando Anabela a andar. Ele queria tomá-la nos braços de forma arrebatadora, de enchê-la de beijos e esse desejo só aumentava com a proximidade. O delegado sabia que o seu maior inimigo era ele mesmo e, por isso, vinha evitando tudo o que se relacionava a ela, começando por rejeitar as suas ligações, mas agora não podia fugir e tinha que se enfrentar e ao seu coração, que o castigava sem perdão.

Vendo que a fraqueza da Anabela era demasiado grande, pegou nela ao colo e a delegada não cooperou nem um pouco com a sua razão, porque deitou a cabeça no ombro, encostada ao pescoço e ouvido do policial, enquanto um braço vinha pela frente e outro por trás, para ambos agarrarem-se ao pescoço do outro lado e tratarem de se manter assim.

Para piorar tudo, ela sussurrou no seu ouvido:

– Eu te amo demais; me perdoa, por favor, me perdoa – disse, finalizando com um pequeno beijo.

Arthur ficou todo arrepiado e não respondeu porque tinha até medo do que ia falar. Tudo o que sabia era que o pai dele estava coberto de razão.

Chegaram ao carro e ele pousou a moça, que mantinha os olhos fechados e continuava agarrada ao seu ombro. Abriu a porta e ajudou-a a sentar. Deu a volta e sentou-se ao seu lado, olhando para a ela que permanecia de olhos fechados.

– Estou achando melhor levar você para um hospital – disse após observá-la por algum tempo.

– Não – respondeu Anabela, taxativa, virando-se e olhando para ele. – Me leve para casa. Tem sopa instantânea e acho que vou melhorar se tomar uma sopinha. Depois algo mais consistente, mas agora me leve, meu amor, não me deixe. Tem um cigarro?

Ele ia estender o maço quando pensou melhor e mudou de opinião.

– Nada disso. Você precisa de alimento e não de cigarro. Além do mais o carro não é meu, então nada de fumar aqui dentro.

– Tá bom, respondeu com a voz sumida.

Arthur ligou o carro e sentiu-se satisfeito ao dar conta que fumou apenas três cigarros o dia todo, coisa que ele considerava uma conquista, mas sabia que o mérito era da Diana, já que ele não fumava quando estava com ela.

– A gente precisa parar de fumar, meu amor – disse, distraído. Pegou o telefone e ligou para o pai. – Pai, encontrei Anabela no clube de tiro e ela passou muito mal. Eu vou cuidar dela, então não sei a que horas chego. Se for preciso, levem o Pedrinho para a escolinha, por favor... obrigado, pai.

― ☼ ―

Encostou o carro à frente da casa dela e disse-lhe que esperasse enquanto ia à porta abri-la. Voltou para o carro e pegou Anabela ao colo, trancando-o e entrando em casa. Acendeu a luz e colocou-a na sala, deitada no sofá.

– Céus, como você está fraca! – disse preocupado. – Vamos ao hospital, meu amor, vamos?

– Por favor, não – respondeu com a voz sumida. – Apenas me deixe ficar perto de você um pouco. É só fraqueza, tenho a certeza.

– Está bem – disse Arthur, cedendo. Levantou-se e continuou, bem sério. – Vou fazer uma sopa e esperamos para ver se melhora. Mas, se não melhorar, você vai para o hospital nem que seja de arrasto.

Não esperou resposta e foi para a cozinha. Encontrou vários pacotes de sopa instantânea e pegou um. Esquentou uma xícara de água no micro-ondas e misturou tudo, Voltou para a sala e Anabela permanecia quietinha, olhando para ele.

Ajudou-a a levantar-se e deu-lhe a sopa.

– Beba devagar que está quente. Deixe o seu estômago assimilar isso devagar. – Ele notou que a mão dela tremia de fraqueza e ajudou-a a firmar. – Vamos, com calma. Isso mesmo, meu amor, isso mesmo.

Quando ela terminou, Arthur pousou a xícara na mesa, mas Anabela não o deixou levantar-se. Segurou seu braço, e aconchegou-se no seu ombro, quase no seu colo. Fechou os olhos e Arthur passou o braço em volta dela, protetor.

― ☼ ―

Anabela foi a primeira a romper o silêncio:

– Eu pedi perdão para você, mas não me respondeu nada, Arthur. O que me diz?

– Eu já perdoei você faz muito tempo, Anabela.

– Então por que rejeitou as minhas ligações? – perguntou ela, chorando. – Se soubesse o quanto eu precisei de ouvir isso de você.

– O fato de eu a perdoar, não implica em que você não mereça ser castigada, Belinha – disse ele. – Se eu fosse um homem normal, você me teria morto, no mínimo aleijado.

– Eu sei – disse, apertando-o contra si. – Me desculpe. Eu nem sei por que fiz aquilo. Garanto que não sei o que me aconteceu; você pode ter certeza que eu não sou assim, amor.

– Você descontrolou-se e pessoas como nós nunca podem ficar descontroladas, nunca – respondeu. – Olhe o que aconteceu com o chefe da Cíntia. E isso que eu nem estava perto do que você ficou.

– Estou achando que o psicólogo é você, meu amor.

– Isso é bom-senso e não psicologia, Belinha.

– Vai me castigar muito tempo?

– Não, não vou mais – respondeu, Arthur, tranquilo. – Afinal, estou aqui cuidando de você. Mas acho que você anda sensível demais. Com toda a certeza você está muito estranha.

– Não é que eu sou sensível, sei lá. Vai ver sou mesmo. Na verdade nem pareço eu... esqueça – disse com uma lágrima no olho, fungando. – Você cumpre as suas promessas. Prometeu que ficaria ao meu lado.

– Sim, prometi – respondeu lacônico.

– Queria tomar um banho, mas ainda estou fraca. Você me ajuda?

– Deve ser a minha sina. – Arthur levantou-se, suspirou e ajudou Anabela a se erguer.

― ☼ ―

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top